Ela teria se apaixonado por aquele homem de qualquer forma.

Mesmo se eles não tivessem um passado tão fatídico em comum. Ela teria se apaixonado pelo homem que parece sempre tão ocupado, mas sempre está livre para ajudar a quem precisa. Ela amaria o homem de ombros largos e sempre disponíveis para servir de descanso ou consolo, o homem que podia ficar em silêncio por horas, somente segurando sua mão quando tudo que ela precisava era esvaziar seu coração pesado e que, quando não tinha alguma solução para os problemas de aparência insolúvel que ela trazia, apenas a abraçava forte fazendo com que ela se sentisse amada e segura até que o mundo não parecesse tão assustador.

Ela com certeza amaria o homem que tinha quase obsessão por camisas brancas, a ponto de ter ficado responsável pela lavagem das roupas quando eles resolveram morar juntos, mas não ligava de a abraçar depois de uma apresentação, quando o rosto dela ainda estava repleto de maquiagem. O homem que sempre acordava bem cedo, mas voltava para a cama perto do horário dela acordar somente para que ele fosse a primeira coisa que ela visse. O homem que sempre jurava não estar cansado depois de um dia longo de trabalho, mas sempre acabava cochilando no sofá com um livro em cima do peito e a ponte dos óculos na ponta do nariz. E por falar em livro, como não amar o homem que lia e relia tantas vezes “La Morte D’Arthur” que sua edição já estava bem surrada – “meu livro é bem-amado, Minako” dizia ele quando ela implicava – com páginas soltas, espinha quebrada e somente uma boa quantidade de fita durex mantendo tudo junto, mas quando ela o presenteou com uma versão nova de luxo, ele, mesmo encantado com o presente – que ele colou na prateleira envolvido com plástico protetor – preferia continuar lendo seu volume cansado de guerra.

Ela amaria o homem que ainda tomava o café bem preto, como era o jeito que se tomava café em sua terra natal. O homem que embora a levasse para jantar fora com frequência, ainda teimava em cozinhar para ela em ocasiões especiais ou simplesmente porque havia tempo livre. Ela amaria o homem que a levava para dançar, mesmo não sendo bom dançarino, o homem que gostava de ficar na cama com ela o dia inteiro se tivessem o tempo livre, o homem que ficava pessoalmente ofendido quando ela via um episódio sozinha da série que eles estavam acompanhando juntos, o homem com todo aquele tamanho e cara de machão, mas que se recusava a matar as aranhas que apareciam no banheiro.

Ela amaria o homem que raramente levantava a voz, o homem que somente com um olhar lhe podia tirar o fôlego, o homem que quando a beijava podia fazer o beijo durar vários minutos até que seus lábios estivessem inchados e todos que a vissem saberiam eu ela tão “bem-amada” quanto aquela edição velha de contos artuianos que ele gostava tanto.

Mas principalmente, ela amaria o homem que apesar te tudo conspirar contra sempre a se apaixonava por ela.