Trinta e Uma Pétalas escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 33
Dia 5 – Duas Horas




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— Você se importa em dividir o taxi?

Na verdade, ele se importava sim, a ideia de ter que fazer aquela viagem com um completo estranho – além do taxista, é claro – não lhe apetecia nenhum pouco, mas os números que brilhavam no painel do carro haviam acabado de anunciar que haviam entrado na segunda hora da madrugada e, estampado nos olhos do motorista, estava sua intenção de terminar aquela noite de trabalho o mais em breve o possível. Afinal, ele imaginava, trabalhar como taxista naquele inverno – o mais frio em dez anos! – não deveria ser fácil, de forma que dois passageiros ao mesmo tempo deveria soar como um milagre de natal. Além disso, Jun viva o acusando se ser um babaca egoísta em diversas ocasiões. Ele não era egoísta! E que outra forma de provar seu bom-mocismo quanto fazer aquela boa ação?

— De forma alguma.

A mulher que entrou era linda, mesmo por debaixo de uma boa camada de maquiagem borrada. Maquiagem, aliás, que a envelhecia uns bons dez anos, mas o que mais o chocou na aparência dela foi o fato de que ela de forma alguma estava vestida para a tempestade de neve que castigava Tóquio naquela madrugada.

— Boa noite! – disse ela alegremente apesar das linhas pretas em seu rosto e dos olhos obviamente inchados. – Obrigada por parar, está congelante lá fora. Oh! Já estava cheio! Desculpe.

Ela gesticulou em direção a saída, mas Kazuo a impediu.

— Pode ficar. A menos é claro, que não queira dividir a viagem.

— Não! Não ligo – ela riu, e ele não pode se impedir de reparar que ela tinha uma risada muito vivaz para alguém com as feições tão tristes. – Na verdade fico muito agradecida, para onde estão indo?

— Shibuya.

— Ah que bom! Não vou desviar você muito do caminho, então. Eu vou ficar em Juuban.

Ele apenas fez uma breve reverência com a cabeça em direção a ela, mas não pode deixar de notar que havia se sentindo um tanto decepcionado, afinal, não estavam muito longe de onde ela riria descer. De alguma forma, a ideia de se separar daquela completa estranha tão cedo o perturbava.

Kazuo se chutou internamente pelos pensamentos sem sentido que estava tendo.

Mas foi interrompido de suas discussões interiores quando o telefone dela começou a tocar.

Seria uma ocorrência normal – apesar do toque extremamente animado e barulhento – afinal, estava bem tarde e ela deveria ter alguém que se preocupava com ela, mas ela não atendeu e continuou com o rosto virado para janela.

— Er, com licença... Seu telefone...

— Oh, desculpe – ela respondeu com uma voz estranha, como se tivesse sido pega de surpresa, mas mesmo assim não atendeu o telefone, percebeu ele pelo canto do olho, ela havia apenas recusado a ligação.

Mas o silêncio não durou muito, alguns segundos depois a música feliz voltou a soar e ele pode ver que ela trem ia quando recusou a ligação mais uma vez. Quando o telefone tocou pela terceira vez, ela atendeu.

— Não me ligue mais! – e arrancou a bateria do celular com um gesto irritado.

Kazuo sabia que não deveria se meter, afinal, apesar de ter sido ela a entrar no carro depois, ele se sentia como um intruso naquela cena. Mas havia qualquer coisa sobre aquela estranha que ele não conseguia ignorar e quando ele viu pelo reflexo do vidro da janela que ela chorava, foi a gota d’água.

— Com licença... você está bem?

— Estou. Desculpe por isso.

— Sem problemas – ele ofereceu o lenço de seu paletó para ela, sabendo muito bem que aquelas manchas de maquiagem nunca mais iriam sair. Mas isso era bom, algo nele disse internamente, assim ele teria algo dela para sempre.

— Obrigada – ela olhou o nome dele bordado na margem do lenço – Kuran-san?

— Kuran Kazuo.

Ela sorriu em meio as lágrimas.

— Prazer, Aino Minako.

Anos e algumas revelações depois, ele iria descobrir que o motivo pelo estado dela naquela noite havia sido uma briga com um namorado ciumento, iria descobrir que ela não chorava fácil, mas que era ainda mais difícil arrancar dela um sorriso verdadeiro. Iria descobrir mil coisas sobre ela e ele mesmo e o passado que há muitos milênios compartilharam, o modo como sempre se reencontravam em suas diversas vidas e os juramentos que fizeram às pessoas que queria proteger, mas em meio a tantos encontros e despedidas, sempre haveria um lugar especial para aquele encontro em especial às duas da manhã, num táxi.

 


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Notas finais do capítulo

N/A: E essa foi a fic mais bosta que eu escrevi até agora 8D

Acho que dá até pra sentir durante a narrativa minha vontade de terminar logo com ela.

Mas o tema foi inspirado no episódio “Father’s Day” de Doctor Who, onde o casal que estava se casando havia se conhecido às duas horas da manhã e dividiram um táxi.



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