Trinta e Uma Pétalas escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 3
Dia 3 - Cidade de Vidro




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Disclaimer: Sailor Moon é da titia Naoko a Lenda da Rainha Nada pertence a Neil Gaiman.

Fic escrita para o Outubro VK! Dia: 3 Tema: Deserto

Cidade de Vidro

Eram seus olhos mesmo tão acinzentados? Ela ainda se lembrava de fazer graça de seu deslumbramento por eles, aqueles “olhos antigos”.

– Seus olhos, eles são mais velhos que seu rosto, á te disseram isso?

Ele a olhou com curiosidade e ela pode jurar ter visto o breve lampejo de um sorriso.

– Meus olhos? Juro que já os tinha quando saí do ventre de minha Senhora Mãe. Como poderiam meus olhos ser mais velhos que o resto de meu corpo, Senhora?

Era seu ar mesmo sempre tão próprio e sério? Conseguia ela mesmo rir livremente diante de tanta dignidade?

– “Cuidado com aquele dotado de olhos mais velhos que a própria face” é o que meu povo diz.

– Cuidado? Posso inquirir por qual motivo?

Ela sorriu, uma nota de malícia no rodopiar de sua saia quando ela passou a andar de costas e na frente dele.

– Porque ter os olhos mais antigos que a própria face, significa que aqueles olhos não pertencem a aquela face e, sendo os olhos as janelas para a alma, significa que a alma não pertence.

Se ele pareceu ofendido não demonstrou de imediato. Venus voltou a caminhar ao lado dele.

– Conhece a história da Rainha Nada, Senhora?

– Creio que não, caro Senhor, as bibliotecas da Aliança de Prata são terrivelmente pobres em mitologia terrestre e sinceramente não sou a maior fã de bibliotecas entre minhas irmãs.

– Oh... Pois bem. É sobre uma rainha muito bela que governava com sabedoria este deserto, mas, naquela época, este lugar não era somente o deserto que você vê agora – ele fez uma pausa enquanto os dois pararam para correr o olhar pela imensidão de tons ocre que os rodeava sem nunca perder de vista o casal a frente deles, é claro – mas um oásis no qual se erguia uma cidade feita de prédios imensamente altos que faiscavam sob o sol como se fossem feitos de vidro. A rainha sempre conseguia o que quisesse de seus aliados e opositores, pois era amada por todos. Esse era seu segredo: ela despertava amor.

Ele olhou para ela pelo canto dos olhos, a princesa feita guerreira revirou os olhos, mas sorriu.

– Então, um dia, ela despertou amor em quem não deveria, em alguém que não iria se dobrar às suas vontades – a voz dele a acariciava como uma brisa gentil, ela sentia os pelos em seu corpo se arrepiarem e se permitiu fechar os olhos apreciando a sensação, confiando nele completamente – ele era um deus. E, embora Nada reciprocasse seus sentimentos, ela sabia que o amor entre deuses e humanos é proibido e temia as consequências. Mas o deus não deu atenção aos avisos dela, porque deveria? Mesmo sendo sua amada, Nada ainda era apenas humana. Ele a seduziu com palavras, promessas, tanto insistiu que Nada cedeu.

Ele parou.

Ela abriu os olhos.

– E então, o que aconteceu?

Ele tinha o cenho franzido.

– Quando ela acordou na manhã seguinte sua cidade de vidro havia sido transformada em pilhas de cacos.

Venus engoliu em seco.

– Isso é somente uma estória para crianças, Senhor – disse ela num tom seco.

– Verdade – ele expirou num tom cansado – não há registros de que Rainha Nada e sua cidade de vidro tenha realmente existido, mas – ele se virou para ela, meneando um pouco a cabeça para olhá-la nos olhos – quem me garante que, se eu ceder a seus charmes, Senhora, não vou acordar com a minha cidade de vidro em pedaços?

Minako inspirou profundamente o ar seco do deserto, o calor tão forte que lhe levou lágrimas aos olhos, lágrimas não derramadas.

Apesar de si mesma, ela sorriu e acenou para uma animada Usagi ao longe, encantada com um cacto mais alto que ela, a ponto de fazer sombra em sua cabeça de odango. Pelo menos ela estava aproveitando bem a viagem custeada pela gravadora de Minako para gravar o clipe novo.

E Minako se permitiu fantasiar com um mundo no qual, no passado, ela não tivesse tentado Kunzite com tanto afinco, que ele não tivesse sido tão suscetível a ela ou a qualquer outra bruxa. Um mundo no qual sua cidade de vidro não tivesse sido feita em pedaços e seus estilhaços causado dano irreparável a seu coração.

Neste mundo, talvez, no presente, o deserto não fosse a única coisa que ela teria para se lembrar do amante que fora seu oásis há uma vida inteira atrás.

N/A: O cenário dessa fic foi baseado num sonho que eu tive. Eu nunca consigo trazer meus sonhos para a minha escrita, mas na tentativa acabei me lembrando dos queridos Soinho e Rainha Nada da Estação das Brumas AKA Melhor Arco De Sandman Ever.

Reviews são especialmente apreciados quando minha autoestima tem andado nas mesmas profundezas do inferno (literalmente) para onde Morpheus, aquela não-pessoa maravilhosa, mandou Nada quando ela disse que não queria mais nada com ele.

Bye.


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