“O amor abre o seu peito e abre o seu coração e isso significa que qualquer um pode entrar em você e bagunçar tudo. Você ergue todas essas defesas. Constrói essa armadura inteira, durante anos, para que nada possa lhe causar mal. Aí uma pessoa idiota, igualzinha a qualquer outro idiota, entra em sua vida.”

Neil Gaiman

Minako às vezes se pegava pensando no dourado e etéreo castelo de fumaça tóxica no qual havia nascido em sua vida passada, pensava na influência que aquele lugar magnífico, mas, de certa forma, aterrorizante, havia influenciado na construção da pessoa que havia sido.

Helena, como a reencarnação de uma das deusas mais terríveis do panteão cósmico, quiçá a mais terrível, havia sido muito como seu primeiro lar.

Também era distante das coisas humanas em sua natureza divina. Assim como as paredes douradas de Magellan, sua beleza também era armadilha mortal.

Mas ambos, castelo e deusa, mesmo com toda sua grandeza, haviam vindo a baixo, desabados, virado pó.

E mesmo após seu renascimento, Minako não havia perdido seu vínculo com castelos, de fato, ainda se utilizava deles para se defender como seus antepassados haviam feito.

Em sua adolescência havia construído um castelo de pedra em volta de seu coração. Não era belo ou letal como as paredes gasosas de Magellan, mas foram seu refúgio seguro na época em que havia se sentido mais vulnerável.

E, embora as janelas desse castelo estivessem abertas para as amizades que havia feito, é verdade que também havia a isolado para o amor, que a definia em tantos aspectos, as portas estavam trancadas.

Depois de tanto tempo encarcerada em seu próprio coração, Minako havia se acostumado com a solidão e, há tanto tempo não conhecendo nada diferente, havia tomado sua realidade a melhor possível, se orgulhava de sua independência, de como se bastava a si só. Nunca pensou que algo poderia abalar as estruturas que havia fincado tão firmes.

Então, quanto o milênio mudou e ele renasceu dos mortos, não soube como reagir ao assistir sua fortaleza, outrora inabalável, vir ao chão como frágil castelo de cartas.