Trinta e Uma Pétalas escrita por Pandora Imperatrix
Disclaimer: Sailor Moon é da titia Naoko.
Fic escrita para o Outubro VK! Dia: 1. Tema: Girassol
Essa fic é um extra da Série A Outra Chance e se passa antes de “Harmonia”.
I Girasoli
- Só um minuto enquanto eu me livro da mochila e troco de roupa – disse ele fechando a porta depois que ela entrou.
Minako riu, os olhos brilhando marotamente.
- Você vai trocar de roupa sem tomar banho seu porquinho? – ela se aproximou levemente o cheirando e então franziu o nariz, fazendo uma cômica cara feia.
- Ué? Mas não era você quem estava com pressa? –perguntou ele levantando uma de suas sobrancelhas louras.
- Eu? Com pressa? Jamais! – ela tirou o casaco e pendurou no gancho de entrada que, embora não tivesse ocupado pela jaqueta de couro de Masato ou o blazer do ainda ausente Izou, segurava um longo sobretudo cinza que exalava um perfume que Minako reconheceria em qualquer lugar. – Sem falar que chegar atrasada é melhor do que andar com alguém que passou o dia todo revirando cadáveres.
- Credo! Do jeito que você fala, me sinto como aquelas pessoas “impuras” da Índia em vez de um jovem promissor médico lindo de morrer...
Ela gargalhou e o empurrou em direção ao quarto.
- Anda logo, Mi!
Ele lhe deu às costas, mas subitamente parou em vez de prosseguir pelo corredor em direção aos quartos, surpreendendo Minako que deu um encontrão de leve com o amigo que pareceu não notar, já que estava ocupado demais fazendo uma reverência exagerada. Minako, que tinha seguido com os olhos os movimentos do loiro, ergueu o olhar e deu de cara com Kotei na sala de estar. Ele ainda vestia o terno que usara no escritório, mas a gravata estava desfeita e os primeiros botões da camisa abertos. Carregava uma taça de vinho na mão e um maço de papeis na outra. Como Minako bem se lembrava, a janela na outra extremidade do aposento tomava inteiramente a parede e os raios rosados e dourados do crepúsculo atrás dele davam ao líder do Shitennou uma aparência quase angelical.
- Boa noite, excelência – disse Midori tirando Minako de seus pensamentos e ainda fazendo um floreio ridículo com a mão, o irritante.
Minako revirou os olhos, Kotei apenas ergueu uma sobrancelha, imperturbado pelo comportamento de Midori ou, ao que parecia, a presença da loira.
Minako chutou a canela do universitário que rapidamente se empertigou soltando um uivo de dor.
- Mina!
- Midori, porque você é assim, ein? – e saindo de trás do loiro ela se voltou para o outro homem. – Boa noite, Kotei-san.
Ela fez uma pequena reverência e que ele reciprocou, ainda não se dando o trabalho de falar com nenhum dos dois, e continuou com o que estava fazendo.
Minako voltou a empurrar Midori para que ambos também seguissem seus rumos e os dois discutiram e riram em suas costumeiras bobeiras até que o loiro, finalmente, entrou no banheiro. Mas Minako, já bem familiarizada com o quarto do amigo – e já tento o provocado o bastante por causa da coleção de action figures e mangás em outras ocasiões – achou melhor voltar para a sala. Ela estava caminhando pelo corredor quando ouviu as primeiras notas de piano e sorriu.
Ela continuou seu caminho até o aposento, cantarolando baixinho junto com a música, até chegar ao portal que separava a sala do corredor, apoiando seu corpo à parede para apreciar a cena com cuidado.
Ele tinha o cenho franzido em concentração, já não mais vestia o paletó e os cabelos prateados lhe caiam pelos ombros enquanto ele se movimentava com fluidez pelas teclas do piano de cauda cinza.
Quando a canção terminou, ela se aproximou batendo palmas, ele ergueu o rosto surpreso. Havia mesmo ele não percebido sua presença? Ele parecia sempre tão alerta.
- Não sabia que tocava piano, Kotei-san.
- Não é algo que eu costume fazer – ele disse abaixando os olhos para olhar no maço de papéis que ela agora sabia serem partituras – esse piano é do Izou.
- Mesmo? Pois por mim você poderia ter seguido carreira.
Ele sorriu levemente e lhe lançou um breve olhar por debaixo da cortina de cabelos platinados.
- Você só me viu tocar uma música.
Ela escorou o corpo no piano e sorriu matreira.
- Isso pode ser facilmente resolvido se você tocar outra música.
Ele lançou a ela um olhar intrigado, mas o sorriso continuou a brincar em seus lábios quando ele finalmente pareceu se decidir entre as parturas.
- Certo – e tomou um gole da taça de vinho fazendo um gesto educado de oferecimento a ela que negou com a cabeça – vou tocar mais uma então.
Quando as primeiras notas encheram a sala ela sentiu como se o ar tivesse sido roubado de seus pulmões e Minako o olhou quase como se ele a tivesse ferido.
- I Girasoli – disse ela com a voz fraca, sem desviar o olhar ele que ergueu os olhos para encará-la.
- Tinha certeza que você reconheceria.
Ignorando a estranha dor em seu coração, Minako sorriu alegremente.
- Eu amo o filme, mas é tão triste!
- Acho que ser triste é o que faz o filme ser tão marcante, não?
Ela revirou os olhos.
- Verdade, mas mesmo assim. Não faz seu coração doer?
- Mas é exatamente isso que eu quero dizer. Esse é o intuito. Deixar as pessoas tristes.
Ela riu, apoiou os braços cruzados na tampa do piano e deitou a cabeça deles, fechando os olhos enquanto deixava as vibrações da música atingir seu corpo como ondas.
- É um modo de se pensar... mas...
- Mas?
Ela abriu um olho.
- A romântica em mim odeia essa ideia. Não te faz sentir um certo grau de desespero? Ou sou só eu? Não sei, mas a ideia de um amor interrompido daquela forma parte meu coração. Porque diabos ele tinha que ir praquela guerra?
- Na verdade essa não é a parte mais triste do filme.
- Não? – ela abriu o outro olho para o encarar com choque.
- A parte mais triste é quando eles se reencontram – ele inspirou longamente antes de terminar o pensamento – e percebem que o tempo passou.
- Mas eles ainda se amavam.
Ele sorriu de lado.
- O tempo pode não ter dissolvido o amor deles, mas criou empecilhos, dos quais estes eram impossíveis de transpor. Por isso, essa é a parte mais triste.
- Vocês acha que eles teriam vivido felizes para sempre se eles não tivessem se visto nunca mais? Ela nem sabia se ele estava vivo ou morto!
- Não saber não a impediu de criar uma vida para si própria...
- Você a condena, então?
- Não. Mas nunca entendi o porquê ela continuou o procurando mesmo depois de ter um filho com outra pessoa.
- Por vários motivos, ué! E mesmo assim ela o amava. Motivo o suficiente pra mim.
Kotei não respondeu nada.
- Eu nunca entendi muito o motivo pelo nome do filme, sabe? Porque I Girasoli?
Ele lançou a ela um olhar divertido.
- Acho que você acabou de explicar.
- Como assim?
- Ela, e depois ele também, continuavam buscando algo que não podiam ter até que, finalmente, depois de atravessar todos aqueles obstáculos, tempo, guerra, falta de notícias até mesmo o inverso russo, terem que dar as costas a aquilo que tanto almejaram. Não é exatamente isso que girassóis fazem? Giram em direção ao sol e no final de suas vidas morrem virados para direção oposta a este?
- Parabéns, agora eu sempre vou me sentir um tanto triste quando olhar para um girassol e eles sempre forma minha flor preferida.
Ele sorriu de leve e tomou outro gole da bebida depois de terminar a música.
- Qual seu veredicto?
- O que?
- Sobre meus talentos como músico.
- Quer saber? Você, apesar de toda aura baixo-astral, toca muito bem. Devia largar o emprego de CEO e virar pianista de bar. Aliás, eu preciso se um pra próxima turnê e você está contratado, vou mandar minha agente de ligar uma hora dessas.
Ele riu e ela o acompanhou, mais para sufocar a sensação de nervosismo em seu estômago do que porque havia visto graça em suas palavras.
- Minako! – ela se virou instantaneamente em direção a voz horrorizada de Midori – o que você fez? Não sabia que Kunbot era capaz de expressar emoções humanas como riso!
Ela revirou os olhos.
- Mi, suas piadas estão ficando ruins – disse ela com uma mão na cintura – além do mais, não é porque Kotei-san não é uma drama queen como você que ele não sabe se expressar.
- Nossa! Depois dessa defesa vou me lembrar de medir minhas palavras antes de me referir ao nosso chefe dramaturgo, eloquente, parrudo e majestoso na sua frente.
Não conseguindo se controlar, Minako gargalhou, dessa vez com vontade.
- Eu sinceramente não sei como vocês aturam essa pessoa – disse ela se voltando momentaneamente para Kotei. – Bem, já que você já lavou o rabinho, vamos indo. Até mais Kotei-san, continue refinando seu talento, um dia o mundo o reconhecerá!
- Obrigado, eu acho. Até, Aino-san – respondeu ele escolhendo outra partitura. – Midori, não se esqueça que tem treino amanhã bem cedo.
Midori grunhiu em frustração já de costas, indo em direção à saída.
- Sim, mamãe.
- Ele é tão bobo.
Minako lançou um último olhar para o homem ao piano antes de seguir o amigo.
No dia seguinte, havia um vaso de girassóis em seu camarim e um cartão explicando que era um pedido de desculpas pela recusa a oferta de trabalho.
N/A: Mas é claro que eu iria usar esse filme e a música para essa fic. Eles são tão VK! Toda aquela história de um amor interrompido, mas que se recusa a ser esquecido e é claro, girassóis que são as flores preferidas da nossa V-chan. E para quem não sabe, pois não passam tanto tempo quanto eu pesquisando sobre significados de planta, girassol significa adoração, o que combina mais com um outro ship meu que tem como flor os danados dos girassóis, mas todo mundo sabe que a Minako provavelmente passou a adolescência cantando I Wanna Be Adored do The Stone Roses a planos pulmões até Artemis ou a mãe dela tomar alguma providência hehe.
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