Pra Não Dizer que Não Falei das Flores escrita por Sona


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Por conta de estar atolada de textos e trabalhos da faculdade, esta história não saiu da forma como eu queria, Gostaria de ter tempo para desenvolvê-la mais, mas infelizmente não consegui. Por conta disso, eu não almejo o "prêmio máximo". Fico contente pela minha participação. Consegui expressar a ideia mínima que queria e já fico feliz por isso. Por conta de tudo isso, a história não pôde passar pelo processo de betagem, mas foi revisado por mim e pela Helena.

ATENÇÃO:

Quando vocês virem este sinal:** eu gostaria que abrissem este link: https://www.youtube.com/watch?v=6oGlRrJLiiY



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O velho acordou assustado. O ruído estrondoso de algo colidindo contra sua janela o fez dar um pequeno pulo e resmungar enquanto empurrava sua cadeira até a ventana.

Nos desculpe, Sr. Roberto. – Algum dos garotos que pulavam o muro em busca de uma bola gritou. Assim que o objeto foi achado, eles rapidamente pularam o portão para fora novamente.

— Malditos garotos! – Ele rosnou para si mesmo. – Têm sorte que eu estou preso nesta cadeira, senão eu estouraria cada uma dessas bolas que jogam para o meu quintal, não sobraria uma para contar história...

— Vovô! – A voz angelical de um pequeno garoto foi ouvida no quarto. Roberto se virou em direção à ela.

O dono se encontrava parado na divisória da sala, com sua boca completamente manchada de molho de tomate, assim como sua camisa de uniforme. Não podia ter mais de treze anos.

— O senhor não respondeu a nossa pergunta.

— Respondi, sim. – Deu os ombros, se ajeitando novamente na cadeira para retornar ao costumeiro cochilo pós almoço.

— Nós te perguntamos como foi a ditadura, e você respondeu: foi ruim. Não era isso que queríamos saber.

E como resposta, o garoto recebeu apenas um bocejo vindo de seu avô.

— Rafa, venha... – Sua vó o chamou, puxando-o pelos ombros. – Vamos comer a sobremesa, deixe seu vô descansar.

Somente quando não houve mais indícios de que havia alguém presente na sala, Roberto abriu os olhos e espreguiçou-se, estalando todos os ossos possível.

Deslizou com sua cadeira para fora da sala e começou a atravessar um enorme corredor para chegar em seu quarto, evitando fazer barulho para que seus netos e sua esposa não soubesse que ele estava acordado. Como a casa possuía uma boa acústica, as conversas da cozinha ecoavam por ali.

— Por que o vovô não gosta de falar disso? Ele sempre fica bravo quando alguém entra no assunto.

— Você sabe!

— Eu não sei!

— É por causa da perna dele, Rafa...

— Foi naquela época que ele ficou aleijado.

— Não fala assim, Gui!

— Ora, mas ele está certo.

— Sim, mas aleijado é um termo muito pejorativo.

— Meu Deus, Samantha! Então, Rafa, ele não gosta do assunto, pois foi naquela época em que ele se tornou deficiente.

— Crianças! Por favor, estamos na mesa.

— Vovó, você não acha que se o vovô falasse com alguém sobre isso, ele se sentiria melhor?

— Sammy, seu avô é impossível. Já tentei abordar o assunto várias vezes, de várias maneiras...

— Eu precisava fazer um trabalho sobre isso. Seria bom ouvir a história dele.

Roberto tentou não se sensibilizar com aquilo. Claro que conversar com alguém o faria se sentir melhor, mas foram momentos difíceis. Episódios tenebrosos, os quais ele tem pesadelos até os dias de hoje. Não era uma história simples ou fácil de se contar, e nem era algo bonito. Inspirador, talvez...

Quando ele entrou no quarto, seguiu em direção à cama, pegando seu travesseiro para poder colocá-lo em suas costas, deixando a cadeira mais confortável para seu cochilo. Começou a tateá-lo em busca daquele objeto, cujo o mantinha ali, sem que ninguém visse. Não queria que alguém visse, e não era por medo ou vergonha, é porque nem mesmo ele entendia o – real – motivo de tê-lo.

E foi quando pegou o pequeno objeto de latão folheado em ouro, que um lapso de intensas emoções o infestou por inteiro.

Seus dedos enrugados e trêmulos percorreram levemente a superfície do material, que possuía dois ramos em relevo, juntos de uma inscrição no meio: Honra ao Mérito.

Qual a honra? Qual o seu mérito? Ele também não sabia.

Apertou a medalha entre a palma de sua mão e a levou até seu peito, respirando fundo.

As mágoas e lembranças o sufocaram, sentindo leve espasmos no pescoço. Mas não deixou as lágrimas caírem. Não podia deixa-las. Seu pai sempre o alertava: meninos não choram, pois lágrimas são os sinais visíveis de fraqueza e a fraqueza não é permitida nesta família. E ele nunca chorou.

Exceto por uma única situação. A única em que foi fraco de várias maneiras em que essa palavra pode ser aplicada.

Osasco, São Paulo, 1968.

Era sexta feira. Ninguém mais podia acreditar naquilo. Uma semana intensa para os estudantes da faculdade local, que haviam passado por um pesado período de provas e trabalhos.

Roberto e mais três amigos decidiram jantar em um restaurante após as aulas e depois seguiram para casa, todos juntos, pois moravam consideravelmente perto, à noite. O único problema é que acabaram se animando demais durante a refeição e ultrapassaram um pouco o limite do horário em que deveriam permanecer na rua.

— Rapaz, meu coroa vai me dar uma bronca enorme. Quero nem ver, vai ficar até horas falando. Ele odeia quando eu chego tarde em casa, e da última vez que aconteceu eu prometi que não ia mais dar mancada. – Daniel, um rapaz de cabelos castanhos bem penteados para os lados e olhos da mesma cor, lamentou-se, usando uma voz trêmula para expressar sua frustração.

— Há, sifu! – Roberto debochou, tirando algumas risadas dos amigos e um olhar de reprovação de Daniel.

— Dan, não se preocupe. Pelo menos você não irá terminar o dia solteiro como o Léo. – Pedro deu um pequeno tapa nas costas de Daniel, zombando de um outro amigo deles.

— Calma, cara! – Léo exclamou, sorrindo. – A Julia não tem ciúmes de vocês, ela irá entender perfeitamente.

Léo era um típico “deus grego” daquela época. Seus cabelos pretos, impregnados de brilhantina e laquê, brilhavam por conta da alta quantidade de produtos utilizados. Seus olhos eram de um azul celeste e se destacavam em seu rosto. Outro ponto alto de sua aparência é seu sorriso perfeito, que exibia suas covinhas. Leonardo era um cara que dava inveja em todos, incluindo Roberto – que também tinha uma aparência “dentro dos padrões”, com seus cabelos enrolados e louros. – e arrancava suspiros e olhares das garotas.

— Julia? Quem é ela? – Roberto perguntou.

— A boazuda da Pedagogia. – Pedro respondeu maliciosamente, dando uma leve cotovelada no loiro.

— Qual é, cara! – Léo esbravejou, empurrando suas mãos violentamente contra o peito do garoto, que deu alguns passos pra trás e gargalhou em seguida. – Respeito é bom, certo? Se falar assim da minha garota novamente...

— Relaxe, Leonardo! Não se exalte, jovem. Eu tenho meu broto também, lembra?

— Então ao menos demonstre algum respeito por ela, seu paspalho.

— Léo, ele quer provocar. Deixe-o quieto. – Roberto se espremeu entre os dois, empurrando o amigo para frente. Pedro continuava com seu sorriso provocativo. Era prazeroso ver que alguma provocação sua havia dado certo.

O grupo estava pronto para esquecer a pequena confusão de segundos atrás e retomar o seu caminho, quando o costumeiro som agudo foi ouvido atrás deles. O barulho fez com que todos se arrepiassem completamente.

— Meu Deus do céu! – Daniel exclamou com a voz completamente trêmula. Seu rosto ficou pálido em questão de segundos, deixando várias veias expostas por ali.

— Fica calmo, não fizemos nada errado. – Léo tentou o acalmar. Ele não estava nem um pouco abalado. Pelo contrário, sua grossa e rouca voz demonstrava raiva.

— Não fizemos, mas o Brigadeiro Carvalho está com eles. Só de respirarmos já estamos fazendo algo errado. – Roberto alertou.

Na medida em que as viaturas de aproximavam, todos, exceto Léo, ficavam mais apreensivos ainda. Nem sempre quando um grupo era parado por policiais no meio da noite, eles voltavam para casa.

— E o que ele está fazendo por aqui? Férias do exército? – Pedro perguntou.

—Militar de merda. – Léo sussurrou.

Duas viaturas encostaram na guia da calçada e delas saíram quatro policiais de cada e o Brigadeiro de uma.

— Na parede. Agora! – Falou o militar, embravecido. Seu grave tom de voz ecoava pelo lugar, fazendo todos darem uma rápida resposta.

Todos deram um passo para trás, mas atordoados não conseguiram processar a informação de forma correta.

— Eu disse para encostarem na parede! – Ele bateu os pés no chão enquanto berrava. Os policiais empurraram os garotos com uma forte violência contra a parede e Daniel gemeu de dor quando sua cabeça bateu de forma bruta contra a parede.

O Brigadeiro parou para observar os quatro, encolhidos na parede. Daniel já não conseguia mais prender as lágrimas e Pedro e Roberto evitavam fazer contato visual com qualquer um, e tremiam sem parar. Leonardo era o único que parecia controlado. Encarava o homem com tanta raiva, que suas pálpebras chegavam a dar espasmos.

Arthur de Bragança Carvalho era o nome completo do temido homem. Aparentava ter quase cinquenta anos e tinha um grande porte físico, que dava a ele um ar mais rígido ainda. Seu rosto era completamente marcado por várias cicatrizes, adquiridas com orgulho em sua profissão. Seus cabelos loiros já ganhavam tom desbotado, tendo diversos fios completamente brancos. Ele era completamente carrancudo e traços finos. Quem olhasse para ele, mesmo sem reparar nas fardas, medalhas e distintivo, já saberia que era alguém que precisava ser respeitado. Era uma autoridade máxima.

— O que as quatro bonecas estão fazendo a esta hora fora de casa? – Perguntou num tom provocativo. – Puxa, estão encrencados.

Caminhou em linha, com os braços para trás do corpo e encarando cada um dos rapazes. Deu uma atenção especial à Daniel, que suava frio e ainda estava trêmulo.

— Identidades!

Novamente, sua ordem não fora atendida no exato momento.

— Eu disse IDENTIDADES! Vocês são surdos? – Gritou.

Roberto mal teve tempo de respirar. Quando se preparou para pegar sua carteira no bolso de sua jaqueta, foi atingido em cheio em seu estômago. Tentou puxar o fôlego uma vez, mas nada vinha. Olhou para os lados desesperados e viu que seus amigos estavam em condições parecidas. Os policiais sacaram os cassetetes e bateram neles.

Um dos policiais ameaçou bater novamente em Roberto, mas ele conseguiu pegar a identidade mais rápido, entregando ao policial.

Daniel tateava seus bolsos, tanto da jaqueta quanto das calças, de forma desesperada. Suas pernas bambearam ao perceber que se esquecera do documento em casa.

— Eu esqueci! Eu esqueci! Merda! – Ele gritou. Começou a chorar desesperadamente.

Num piscar de olhos, ele estava caído na calçada, com três policiais se revezando entre chutes, socos e apunhaladas com os cassetetes. Seus gritos eram ouvidos, mas se misturavam com os barulhos dos murros que levava.

— Deixe-o. – Leonardo tentou penetrar na roda que fizeram acerca do amigo, mas fora puxado pela blusa. Arthur descera-lhe dois socos no rosto e um na barriga como punição por ter tentado se meter em assunto que não era dele.

— Está bem rapazes, parem.

Dada a ordem, os policiais cessaram imediatamente com as agressões. Daniel chorava e soluçava encolhido.

O homem se aproximou do jovem e agachou-se, segurando o queixo do rapaz para que pudesse olhá-lo no olho.

—Da próxima vez que esquecer o documento, vai ser muito pior. – Ameaçou. – E quanto ao resto de vocês... Eu fui bonzinho. Eu poderia ter feito pior. Eu poderia ter revistado... E podem ter certeza que eu acharia algo. Espero não pegar as moças comunistas mais uma vez na calada da noite.

Deu um olhar severo para cada um dos rapazes e um especial para Leonardo, que ofegava de raiva e estava vermelho de ódio. Junto com os policiais, retornou na viatura que saiu dali em instantes e sumiu no horizonte.

— Vão se foder! - Leonardo berrou, pegando uma pedra da calçada e atirando em direção ao carro, que já estava distante demais para ser acertado. – Vocês disseram que seria uma intervenção temporária, seus malditos.

Roberto correu até Daniel, que continuava na mesma posição.

— Você está bem?

Pedro o ajudou a levantá-lo e sentiram um aperto no coração ao ver a situação do amigo.

Daniel estava completamente ensanguentado. Sua camisa branca por debaixo da jaqueta estava completamente vermelha. Cortes no rosto eram visíveis, assim com os lábios inchados e olhos roxos. Uma imensa mancha escura em seu jeans indicava que o rapaz não conseguira segurar a bexiga.

— Precisamos fazer algo. – Leonardo estava completamente agitado. Cuspia enquanto praguejava e xingava todos que vieram em sua mente: militares e policiais. Castelo Branco, ex-presidente, e Costa e Silva, atual presidente, eram as suas “vítimas” preferidas daquele momento.

— Leonardo, vamos embora. – Pedro pediu.

O garoto andava de um lado para o outro, transtornado com tudo aquilo.

— Como podem ficar calmos perante a isso?

— Ninguém está calmo, mas temos coisas importantes no momento. – O garoto respondeu impaciente.

Leonardo respirou fundo e se juntou ao grupo, passando um dos braços de Daniel em seu pescoço, ajudando Pedro e Roberto a carrega-lo.

— Vamos, Dan!

Daniel mal conseguia andar. Seus passos, mesmo com auxílio, eram lentos e ele gemia a cada movimento de seu joelho. As lamúrias eram constantes e todos se empenharam ao máximo para tentar ajuda-lo. Mas estava todos tão abalado quanto ele. Apanharam simplesmente por estarem juntos durante a noite e Daniel fora espancado por esquecer-se de carregar a identidade. De fato, aquela intervenção “democrática” e temporária já havia saído do controle.

(...)

Arthur estava relaxado em sua poltrona. Tinha seu charuto na boca e uma dose de uísque ao seu alcance. O jornal do dia terminava de completar suas satisfações e o mantinha calmo depois de uma noite “de diversão”.

Lia as costumeiras notícias. Algumas tão repetitivas que ele já se irritara completamente de lê-las. Outras eram cuidadosamente escritas para não serem mal interpretadas e seus autores acabarem tendo um trágico fim.

Uma das notícias chamou a sua atenção. Ela falava sobre algumas agremiações estudantis, que eram comuns nas faculdades do Brasil, e acabara citando uma que se encontrava numa faculdade perto de Osasco. Havia pequena fotinho no centro da matéria.

Arthur riu. Retirou o charuto da boca e expirou a fumaça, colocando-o sobre uma mesinha ao seu lado. Pegou o copo de uísque e virou a dose inteira na boca. Levou o jornal para mais perto do rosto, onde pode confirmar suas suspeitas: ao fundo da foto, um garoto de cabelos completamente penteados para trás. Ele reconheceu como um dos garotos que abordara hoje. Havia até pego a identidade dele. Seu nome, se ele não se enganava, era Pedro.

— Eu sabia que estavam metidos com comunismo... – Sussurrou.

— Papai! – Uma voz angelical o chamou.

Uma garota de mais ou menos vinte anos estava ali, parada a sua frente. Usava um vestido florido que ia até o joelho. Sua pele era levemente bronzeada e seus olhos, verdes. Os cabelos louros e ondulados faziam contraste com sua pele e olhos.

— Diga!

— Irei me deitar. Vim apenas desejar uma boa noite. – Ela respondeu docilmente, com um sorriso leve no rosto. Segurou uma das mãos do homem e a beijou, num típico gesto de “benção”. – Boa Noite, Papai!

— Boa Noite! – Ele retribuiu o sorriso. – Julia!

(...)

— Não acredito que papai fez isso com você. – Julia sussurrou, enquanto a ponta de seu dedo deslizava suavemente pela pele roxeada ao redor dos olhos de Leonardo.

— Não se preocupe com isso, ele é só um pelego.

— Léo! – Repreendeu.

— Mas é verdade, ok? Olhe, ele só faz o que mandam ele fazer. E por isso você não irá amanhã, está me ouvindo?

— Não! Eu vou! – Ela insistiu, mantendo sua voz normal, mas com indícios de que iria aumenta-la caso o garoto persistisse naquilo.

— Julia, acredite em nós... A forma como nos trataram foi só uma prévia do que vai ser naquele protesto. – Roberto suspirou, fitando o horizonte.

Estavam todos reunidos numa pequena praça local, já nos limites de Osasco e um pouco afastados da faculdade. O sol começava a se colocar no horizonte, dando um ar mais leve por ali.

Conversavam sobre o protesto dos estudantes que aconteceria no dia seguinte, na grande São Paulo. Leonardo convencera Pedro e Roberto a irem. Daniel ainda estava abalado e fraco demais para participar. Julia, que não saía de perto de Leonardo e era adepta à causa, também quis ir.

— Eu não me importo. Se é pela democracia, eu quero estar lá. Daqui um tempo eu já terei filhos. Preciso que eles saibam que eu me esforcei o máximo para coloca-los numa situação melhor que essa. – Ela novamente insistiu, mas com sua voz já irritada.

— Julia, você não irá! – Leonardo falou impaciente.

— Quem você pensa que é para me dar ordens?

— Eu sou o seu namorado.

— Mas não o meu dono. – Ela gritou. – Não pode me forçar a nada. Se não vai me deixar juntar a você, não tem problema. Vários amigos vão, não é?

— Meu amor, eu só quero te proteger... – Leonardo a segurou pela cintura, roçando seus lábios nos lábios dela.

— Eu sei... Mas dessa forma não estará ajudando. – Ela deu um rápido selinho no garoto. – Tenho que ir agora, a gente se vê amanhã.

Julia não deu tempo para que algum dos garotos pudesse protestar. Saiu da praça apressada e ignorando todas as vozes que ouvia deles. Sabia que havia irritado Leo, mas aquilo não importava muito. Ela queria estar lá e ela estaria lá. E eles precisavam entender que uma luta como aquela necessitava da participação de todos. Faltar por medo não era e nunca seria uma opção, pois o seu medo não era o de morrer ali, mas de continuar vivendo na ditadura diária em que vivia. E o castigo que sofria por ter um pai militar.

No jantar, certificou-se de ouvir atentamente a conversa de seu pai com seus irmãos e sua mãe. Queria ter certeza de que ele não estava ciente de nada que iria acontecer. Ela sairia de casa somente após ele ser chamado para ajudar a conter a multidão que formaria. Por sorte tudo ocorreu normal, e o assunto “faculdade” não chegou na mesa. Ela pôde dormir aliviada.

E no dia seguinte ela se preparou. Não levaria nenhum cartaz, pois alguém da sua casa poderia ver. Como seus dois irmãos são aspirantes a militares e suas três irmãs são extremamente fofoqueiras, era melhor evitar.

O rádio já noticiava tudo que estava acontecendo. E por enquanto nada saíra do controle. Nenhum conflito e nenhuma briga. Foi o sinal para que ela saísse de casa e seguisse para a praça.

Desceu as escadas com cuidado para não ser ouvida e com cautela. Na sala não havia ninguém e o escritório de seu pai estava vazio. Sua mãe estava ocupada na sala de costura e não havia sinal se seus irmãos.

Da ponta da escada, ela foi correndo até a porta.

— Aonde pensa que vai? – A grossa voz de seu pai ecoou sobre suas costas. Ela se arrepiou toda.

—Vou à casa de Michele, papai. Vamos estudar. – A mentira escapou-lhe.

O homem arqueou uma sobrancelha e pigarreou.

— Estudar? Sem livros?

Ela abriu a boca, mas não conseguiu elaborar uma resposta rápida. Seu coração já estava disparado e ela sequer podia perguntar a ele o porquê de não estar a caminho do protesto, pois ele já sacaria.

Respirou fundo pensando numa desculpa, mas não foi capaz de expressá-la.

PAF

Uma lágrima escorreu de seu rosto enquanto sua mão repousava na bochecha onde levara o tapa.

— Não pense que eu não te vi ontem na praça com aqueles lixos comunistas. Você? Uma guerrilheira? Sempre soube que falhei como um pai... – Ele falava bem baixinho de forma assustadora. Seus olhos de predadores se fixaram nos olhos dela. Desprezo e ódio era o que transitava entre os dois naquele momento.

— Vá! – Ela simplesmente disse.

— O que?

— Vai em frente. Dê um tapa no outro lado. Não é isso que a bíblia fala que deve fazer? – Ela desafiou.

E teve o desafio aceito, num tapa mais forte ainda.

— Você me envergonha, sua vagabunda. Pensou o que? Que iria conseguir o quê indo até lá?

— Liberdade! Democracia! – Ela peitando seu pai e percebia que ele ficava vermelho de ódio a cada momento em que passava. – O fim dessa exploração que estamos submetidos. É covardia. Você faz parte disso... Você é um covarde, papai...

Sem dizer nada, Arthur agarrou os cabelos da garota e a puxou. Ela não ousou gritar. Não iria dar esse gostinho a ele.

Subiu as escadas, ainda com as mãos grudadas no cabelo dela, a puxando de forma bruta e a jogou em seu quarto.

— Mas nunca que irei deixar você me envergonhar.

Fechou a porta com força, batendo-a. Passou a chave nela e guardou em seu bolso.

(...)

3 meses depois...

Poucos eram os rádios, televisões e jornais que transmitiam, de forma sincera, o que foi o AI-5. Todos estavam com medo. Todos estavam assustados. As ondas de protestos estudantis acarretaram numa visível violência da polícia. Ninguém mais se sentia seguro. Ninguém mais se sentia confortável.

Obviamente, o AI-5 é uma apunhalada nas costas de todo cidadão brasileiro. Redigido nesta semana, mais precisamente no dia 13 de dezembro de 1968, é o mais repressivo e mais opressor Ato Institucional de todos já feitos até agora. É como se pegassem nossa constituição e a usassem como papel higiênico. Dar à Artur Costa e Silva, e qualquer presidente posterior, o poder de cassar mandatos sem as limitações devidas é um golpe duro. E não só isso, é do conhecimento de todos os inúmeros protestos que estudantes andam fazendo. Isso proíbe qualquer protesto de cunho político. É isso que eles querem. Nos calar, nos silenciar. Vão atacar qualquer um que ir contra. Na minha opinião, sentiram-se ameaçados após Márcio Moreira Alves pedir o boicote ao desfile nacional, há três meses. E não acaba aí... A exclusão de partidos políticos? Apenas dois ativos? Castelo Branco não era a favor da Democracia? Bem... Sei os riscos que estou correndo me expondo desta forma e aqui. Mas eu prefiro morrer. Prefiro morrer do que a contar aos meus filhos sobre tudo isso. Sobre essa história suja de nosso país...

— Desligue esse rádio, Leonardo! – Roberto pediu. Ambos estavam desanimados. O locutor era o favorito dos dois e eles sabiam que, talvez, esta teria sido a última apresentação dele.

— Ele foi corajoso... Esse é um rapaz que merece uma medalha por morrer pelo bem do país. Não esses militares... – Leonardo rosnava e cuspia de ódio. Não desligou o rádio, apenas o pegou e o tacou contra a parede.

— Hey! Isso foi caro! – Roberto protestou.

— Dane-se o rádio. Pedro sumiu há dias e você preocupado com um radinho vagabundo? – Léo gritou.

— Eu estou preocupado com Pedro também, mas sair quebrando as coisas dos outros não irá fazer ele aparecer, seu pastelão. – Roberto gritou de volta.

Pedro saiu da faculdade há uns três dias e não voltou para casa. Não apareceu para a aula no dia seguinte e nem foi ao encontro com a namorada.

Seus pais o procuram por todos os lugares, junto com amigos e familiares. A polícia apenas se fingia de interessada no caso, mas era visível que estavam indiferentes quanto a isso. E essa antipatia fazia Roberto e Leonardo presumirem o lugar onde Pedro poderia estar e estremeciam só de pensar naquilo.

(...)

Outra pancada com um bastão de madeira. Seu rosto ardeu e ele cuspiu o sangue para fora.

Estava ofegante, sentado numa cadeira e completamente amarrado a ela. Estava usando somente uma cueca branca, que a esta altura já estava completamente avermelhada pelo tanto de sangue que escorria de diversas partes de seu corpo.

— Moleque, você está começando a me irritar. – O Brigadeiro Carvalho disse num tom presunçoso.

Pedro respirou fundo, tentando achar um fôlego para poder responder.

— Eu já disse que não sei de nada. – Ele respondeu choramingando. Sua boca estava completamente inchada e sangrando.

— Pois eu acho que você sabe muito.

— Está enganado. É uma matéria de três meses, Sr. Carvalho. Por que tudo isso? Eu nem faço parte daquela agremiação. Eu saí na foto sem querer.

— Sem querer? Faça-me rir, garoto. Eu me lembro de ter visto você com aquele bando de comunistas naquele dia. Sei que estão tramando algo contra o governo.

— Não somos comunistas. Não estávamos fazendo nada. Somos só estudantes, que poder teríamos para executar um plano, caso estivéssemos fazendo um?

Arthur nada respondeu. Apenas respirou fundo de raiva.

Ele empurrou a cadeira com o pé, fazendo o garoto cair. Nisso, ele pegou um pano e cobriu o rosto dele, despejando um galão de água em seguida.

Após se sentir satisfeito, colocou a cadeira novamente em seu estado normal. O garoto tossia, engasgado com a água que fora forçado a tomar.

Fez um sinal com o rosto para dois rapazes que estavam presentes na sala.

Enquanto Pedro chorava e se contorcia, diversos fios eram presos em várias partes de seu corpo. Cabeça, peito, barriga, braços e até mesmo em seu órgão íntimo.

— Eu não serei tão legal da próxima vez. – Ameaçou. – Responda logo... O que estão tramando?

— Por favor... Não estávamos fazendo nada. – Ele suplicou, soluçando em seguida.

— Faça! – Ordenou a um dos homens.

Em segundos, Pedro começara a se contorcer na cadeira, gemendo. As descargas elétricas que recebia eram extremamente fortes.

— Pare!

O corpo do garoto foi jogado para frente quando parou de receber os choques. Sua respiração diminuíra e ele visivelmente ficou mais fraco após.

O Brigadeiro se aproximou do jovem e agachou.

— Vai falar agora? – Perguntou.

— Poderia ser sua filha... – Pedro sussurrou. Arthur não entendera de primeira, mas arqueou as sobrancelhas.

— Como é? – Sussurrou de volta.

— Está fazendo isso comigo... Por... Porque acha que sou comunista... Porque eu estava com amigos. Por-porque eu fui em protesto. – Ele falava fracamente, gaguejando e se perdendo nas palavras. – Mas Julia fez o mesmo. Não somos comunistas. Só queremos uma democracia. Só queremos um país em que não recebemos choque só porque saímos numa foto em uma matéria sobre agremiação. – Ele respirou fundo e deixou algumas lágrimas caírem. Nisso, criou forças para olhar o militar nos olhos. – Hoje, você faz isso comigo. Amanhã, alguém pode fazer isso com sua filha. Você consegue dormir assim?

Mas Arthur não respondeu. Não porque estava abalado com aquilo, mas porque os olhos do garoto se fecharam e seus músculos relaxaram.

O silêncio domara a sala.

Arthur se ergueu, fitando o nada. Tentou processar tudo o que acontecera. Tudo o que Pedro disse. E ele engoliu seco.

— Livrem-se do corpo.

E esta fora a última coisa que falou antes de deixar a sala.

(...)

“Léo, você não entende. As coisas mudaram muito em três meses. E principalmente com esse AI-5. Papai está muito mais agressivo, muito mais perigoso. Ficar em casa ou ir à uma passeata dá no mesmo. Por favor, pare com essa coisa de querer me proteger. Eu não estou segura em nenhum lugar mais. Chame Daniel, Roberto e mais alguns amigos. Eu sei um caminho para chegarmos na praça mais rápido e evitarmos polícia e multidão. Meu pai me ensinou uma vez, quando eu era pequena. Vamos até lá... Vamos lutar por nós... Por Pedro...”

— Não estou entendo suas ordens, Senhor. – A voz penetrante de um dos policiais soou em seus ouvidos. Arthur fitava a paisagem de sua janela. Reparava apenas num prédio ao fundo, com uma bandeira nacional balançando. – O lugar que está pedindo para irmos é diferente...

— De onde o protesto está marcado para acontecer. Eu sei. – Sua voz estava diferente. Mais serena do que costumava ser e não dava mais um tom de autoridade.

Arthur pegou um charuto e tragou um pouco, aténs de tirá-lo da boca e voltar a falar.

— Vocês vão numa operação especial comigo. E tudo ficará entre nós. Está certo?

— Sim, Senhor!

— Conseguiu o que pedi?

— Sim! – Ele ergueu um envelope pardo e bem estufado.

— Ótimo... Deixe-o aí e tome sua posição. Escolhe quatro para irem comigo no carro.

Não muito longe dali, Julia corria. Estava aliviada por ter conseguido sair de casa sem ser pega ou ser vista. Mas ainda assim precisava ter cautela.

Se encontraria com Leonardo, Roberto, Daniel e mais três colegas em um beco, perto da praça. Se enrolava numa enorme bandeira verde e amarela. Uma pequena rosa estava em suas mãos.

— Psiu! Julia! – Leonardo a chamou de dentro do beco. – Tem certeza de que ninguém a viu?

— Sim! – Ela respondeu ofegante. Leonardo se abaixou para beijá-la e foi retribuído.

— Quer mesmo fazer isso?

— Tenho!

Eles se encararam por um tempo. Não sabia o motivo, mas sentiram uma necessidade especial de se abraçarem. Estariam juntos naquilo, desse certo ou desse errado.

— Por onde vamos? – Daniel perguntou.

— Por aquele lado do beco. – Ela apontou. – Tem uma rua que seguindo ela sai na parte de trás da praça.

— Vamos! – Roberto ordenou.

O grupo seguiu em cautela, mas rápidos ao mesmo tempo. Seus corações disparados de ansiedade e medo.

Saíram do beco e entraram numa rua completamente deserta. De fato, ela possuía pouco acesso. Só precisavam seguir ela até o fim e sairiam atrás da praça.

Os ruídos de uma multidão já eram ouvidos ali, ecoado.

Julia segurou na mão de Leonardo e todos começaram a correr. Sentiram uma chama viva acender dentro de seus corpos.

Era o espírito. A vontade. A luta.

Eram todos heróis naquele momento.

E quando achavam que conseguiriam chegar na praça sem muitos empecilhos, tiveram a surpresa.

Um carro preto parou bruscamente na frente deles e quatro policiais desceram.

Como aquilo deu errado? Como?

Acuados, eles deram passos para trás. Estavam estremecidos. Principalmente Daniel.

O Brigadeiro Carvalho desceu em seguida. Com sua farda. Seu quepe. Seu distintivo. E uma pequena pistola na mão.

— De novo, Julia? – Perguntou.

— Papai! – Ela sussurrou.

— Vocês não cansam disso? – Ele perguntou a todos, que não demonstraram nenhuma reação no momento.

— Papai... Saia da frente. – Julia falou firme. – Nós iremos fazer isso. Me prender no quarto não irá me parar mais. Eu vou lutar. Somente a morte iria me impedir.

O homem não respondeu. Todos estranharam essa calma dele. Apenas respirou fundo.

— Eu sei, minha pequena.

A arma foi erguida. O cano apontava para eles.

Vários outros policiais saíram de pontos estratégicos da rua, formando um círculo entre eles. Todos armados. Era uma emboscada.

— Entendo! – Julia falou.

Ela começou a caminhar lentamente.

Arthur elevou a mão, pedindo para que ninguém atirasse.

O lugar estava silencioso. Ninguém falou nada. O único som era o do sapato da garota em atrito com o asfalto.

Ao fim da caminhada, ela ficou frente a frente com seu pai. Uma arma apontada para a sua cabeça. Mas ela não temeu. Seu único medo era de permanecer naquela ditadura.

Ela elevou seu braço, colocando a rosa cuidadosamente no cano da arma. Foi um encaixe perfeito.

Os olhos de seu pai estremeciam e ela via algumas lágrimas querendo cair. Mas ele não iria permitir aquilo.

Pelas ruas marchando indecisos cordões

Ainda fazem da flor seu mais forte refrão

E acreditam nas flores vencendo canhões

A garota começou a traçar o caminho de volta, andando mais rapidamente. Postura firme e ereta.

Não estava trêmula e nem emocionada. Era como se ela já soubesse...

Apertou a bandeira contra o seu corpo. E ouviu o estopim.

Estava na frente de Leonardo quando sua visão escureceu.

Leonardo recebeu o corpo de sua amada em seus braços. Seus olhos arregalados e completamente surpreso. Ela havia sido apunhalada pelas costas.

Pelo seu próprio pai.

— Julia! – Ele berrou, agarrando-se a ela.

Arthur marchou até o encontro do rapaz. Ele abraçava sua filha e chorava. Chorava de uma forma que nenhum homem choraria na frente de outros.

— Você irá entender o porquê de eu ter feito isso... – Falou passando a mão nos cabelos do garoto, que estava de costas para ele. – O mundo que vocês querem jamais existirá... Não posso deixá-los sofrendo neste.

Agarrou os cabelos de Leonardo e os puxou para trás. Sua arma foi ao encontro da testa do rapaz e sem hesitar, apertou o gatilho.

A confusão se instalou em questão de segundos.

Roberto não teve tempo de pensar. Não conseguiu ver nada. Só conseguiu sentir uma dor imensa nas costas e cair no chão aos berros. Em sua volta, todos caídos. Um mar de sangue se alastrava por ali. E somente ele estava consciente.

— Vão cuidar da multidão. Eu fico aqui. – Ordenou o militar.

Assim que sua ordem foi atendida ele tentou relaxar.

Era ele, um rapaz gritando e um banho de sangue.

**

Sem fazer muitas cerimônias, ele caminhou entre os corpos. Virando-os. Todos de barriga para cima. De seu bolso, ele retirou uma pequena medalha e pregou-a em cada um.

Quando pegou a de Roberto, olhou no fundo dos olhos dele:

— Conte esta história um dia. Conte os dias de horror que foram tudo isso.

Roberto já estava pronto para aceitar a morte que não viria.

O homem se levantou e caminhou até a sua filha. Ela e Leonardo ainda estavam abraçados e custou a separá-los.

A bandeira, machada de sangue de luta, foi usada para cobri-los.

Ele caiu ajoelhado no chão e pela primeira vez em sua vida ele se permitiu chorar.

Chorou por tudo e, principalmente, por Julia.

Levantou-se, olhando para o alto. Em sua frente, o enorme prédio que vira de sua casa. Uma bandeira reluzia por ali.

Ele a saudou, como um bom soldado.

E a pistola que reluzia em sua mão fez um novo caminho: o cano agora estava dentro de sua boca.

Há soldados armados, amados ou não

Quase todos perdidos por armas na mão.

Nos quartéis lhe ensinam uma antiga lição:

De morrer pela Pátria e viver sem razão.

Ainda em dores, Roberto conseguiu segurar sua medalha para ver o que era aquilo. E se surpreendera ao lê-la.

Honra ao Mérito.

Qual a honra? Qual o mérito?

De lutar para tentar mudar o país? Ele nem foi capaz de lutar. Não o deixaram.

E nunca deixariam.

(...)

— Eu me recusei a participar de algo em relação à tudo isso. Eu tentei fingir que estava tudo bem. Tudo bem uma ditadura, pois mesmo estando numa cadeira de rodas, eu estava vivo. – Ele falou baixinho.

Rosa, sua esposa, e seus netos lhe encaravam. Lágrimas escorriam por todos ali.

— Como sabem, a ditadura permaneceu ali até 1985. O único protesto que participei depois disso foi na “Diretas Já”. E ainda assim, fiz de forma acovardada. Agora já sabem tudo que queriam... Espero que tenham aprendido a maior lição.

— Devemos sempre lutar? – Rafa perguntou.

— Não! Façam das flores o seu mais forte refrão. E acreditem nas flores vencendo canhões.

Ninguém compreendera. Mas Roberto sabia o que aquilo significava. O gesto de Julia amoleceu Arthur.

A flor o derrotou.

A flor era a história que deveria ser contada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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