Marcelo ficou esperando no carro enquanto Bianca subia pegar a menina, estava se sentindo frustrado pela noite inacabada, mas sabia que não podia fazer algo diferente a não ser ter paciência, esse seria o primeiro contato com a pequena desde o aeroporto, onde ela mal tinha olhado para ele, vinha lendo site sobre crianças filhas de pais solteiros, separados e viúvos, e num deles tinha lido sobre a importância de ser amigo da criança, e não concorrente, ele tinha entendido bem com essa noite o que isso queria dizer, não existia disputa Bianca era da filha, era obvio que ela estaria sempre em primeiro lugar, mas precisava estabelecer uma maneira de tornar Juliana um elo entre os dois e não uma força contrária que era o que estava sendo. Cada vez que Juju entrava em cena era para afastar os dois. Havia sido assim a semana toda. Então esse encontro podia significar muito.

Prendeu os olhos na entrada do edifício e ficou esperando.

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–Me conta o que aconteceu filha?

No elevador Bianca com a filha no colo, ainda vestida com seu pijama favorito à blusa azul com a branca de neve estampada bem no centro e a calça amarela com milhares de mini maçãs espalhadas no tecido e nos pés uma pantufa da Minnie que ela não tirava nunca. Os cabelos curtos como os da mãe, grudados nas marcas das lágrimas.

–Tive um sonho muito ruim.

–Juju você tomou refrigerante antes de dormir?

–Não mamãe eu juro!

–E não ficaram lendo histórias de terror né?

–Não, assistimos um DVD do filme da Frozen e eu tomei leite com bolacha recheada, mesmo assim eu sonhei coisas ruins...

Bianca já nem lembrava há quanto tempo à filha não tinha pesadelos, mas houve uma época que isso era recorrente.

–Tudo bem, amanhã conversamos sobre isso... Agora vamos que o Marcelo está esperando a gente.

–O Marcelo? – Elas já estavam no hall de entrada do prédio.

Bianca parou e olhou no rostinho da filha.

–Filha a mamãe tem umas coisas para te contar, mas quero que você mostre que é uma menina educada, o tio Marcelo fez questão de vim me trazer aqui te buscar, se não fosse ele eu iria chegar só mais tarde.

–Mas porque não veio no nosso carro?

–Juliana... – falou em forma de suplica.

–Tá bom... Vou ser educada. – falou resignada.

–Ótimo...

Quando chegaram no carro, Marcelo saiu para ajudar com a mochila que Bianca segurava em uma das mãos.

–Oi Juju, nossa parece uma princesa com esse pijama.

–Oi. – ela disse sem muita vontade.

–Marcelo eu vou com ela atrás que é melhor.

–Sim, claro, deixa que eu seguro a mochila.

Bianca colocou a menina no banco e sentou ao seu lado.

–Vocês não querem ir tomar um chocolate quente? Tem uma lanchonete muito boa que eu conheço aqui perto. – falou virando para trás já dentro do carro.

–Quero ir para casa mãe... – choramingou a menina.

–Acho melhor deixarmos para outro dia, ainda mais ela de pijama.

–Claro, então vamos.

–Obrigada Marcelo. – falou trocando um olhar confidente pelo espelho.

–Imagina... Sabe Juju quando eu era pequeno eu gostava de ir a festas de pijama, meu pijama não era tão legal quanto o seu, mas era divertido.

A menina se aconchegou na mãe e fingiu não escutar nada.

–E posso saber o que era divertido? –Bianca questionou.

–Era do Pateta.

–Pateta? – Bianca riu. – Gostamos do Pateta né filha?

Juju fechou os olhos como se tivesse dormindo.

–Mas meu pijama era o mais legal da época, era o corpo do Pateta mesmo, todo marrom.

–Não acredito! Você sabe que meu pai tem um pijama assim, inteiro todo marrom com o corpo do pateta desenhado...

–Sério?

–Acho que foi seu pai que deu para ele...

–Ah só podia, meu pai dá os melhores presentes.

–Minha mãe tem um pijama igual o meu! – Juju falou de repente para espanto de Bianca.

–Tem é? Essa eu não sabia...

–Na verdade temos vários iguais, né filha.

–É...

–A gente podia fazer uma festa de pijama então, nós três. – Marcelo arriscou.

–Só se você usar o pijama de pateta né Juju?

–Não quero nunca mais ir numa festa de pijama... Não quero! – a menina recomeçou a chorar.

–Que isso filha... Marcelo desculpa ela teve um sonho ruim e agora está assim, toda manteiga derretida.

–Tudo bem. Vou colocar uma música para acalmar.

Ele colocou uma música e seguiram sem conversar até chegar na frente na casa delas.

–Chegamos.

–Vou precisar da tua ajuda, ela dormiu...

Marcelo foi até o banco de trás.

–Segura a mochila que eu saio com ela.

–Não deixa que eu levo...

Bianca ficou um minuto olhando para ele, estava tentando de todas as formas ser legal com ela e a filha, e a mãe tinha razão ela precisa ajudar os dois a ter mais chances de conviverem.

–Tudo bem, mas ela é pesada, parece um chumbinho quando está dormindo.

–Acho que dou conta. – ele piscou enquanto pegava a menina e a aconchegava em seu peito.

Subiram um pequeno lance de escada e Bianca abriu a porta.

–Entre, que pena que a primeira vez que venha aqui, seja assim...

–Eu não estou reclamando. Até estou gostando parece que já faço parte da família.

–Eu sei, na verdade acho que você já faz... Da minha vida pelo menos... Vem vou te mostrar o quarto dela. – Bianca tentou ocultar a declaração no meio das suas palavras.

Seguiram por um corredor iluminado e nas paredes muitos porta retratos, Marcelo viu um com um rapaz segurando um bebê, devia ser o pai da Juju, imaginou.

O quarto da menina era todo em tons rosa, e diversas bonecas, ursinhos e livros se espalhavam em prateleiras organizadas.

Bianca afastou as cobertas e ele colocou a menina na cama.

–Mãe?

–Estou aqui meu amor, tudo bem, durma está bem?

–Fica comigo? – disse de voz manhosa e meio dormindo.

–Fico sim, só um minuto. – deu um beijo na testa da menina. –Eu já volto!

Fez sinal para Marcelo a acompanhar de volta para sala.

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–Eu nem sei como me desculpar e muito menos como agradecer.

–Não precisa se desculpar não foi culpa sua, nem de ninguém... E agradecer menos ainda, estou aqui por que quero você, sabe disso.

–Eu sei. – ela se deixou ser abraçada. –Eu também te quero, mas a minha vida é assim um melodrama com nuances de filme infantil...

–Estou achando divertido fazer parte disso, particularmente prefiro filme de ação, mas não nego que sempre é bom ver uma comédia romântica... Podemos juntas todos esses gêneros de filmes não é mesmo?

Ela sorriu puxando o rosto dele para um beijo que começou suave e em poucos minutos estava ardente, as mãos dele já se espalhando pelo corpo dela.

–Não... Marcelo...

Ela falou entre um beijo e outro e ele se afastou entendendo o recado.

–Certo... Me desculpe eu não resto quando estou assim tão perto de você. – falou colocando um mecha de cabelo atrás da orelha.

–Seu bobo... Eu preciso ir lá ficar com a Juju... Mamãe está organizando um jantar, vai poder ficar mais próximo dela e eu vou contar sobre a gente...

–Não atropele as coisas, faça no seu tempo.

–Pode deixar, vai dar tudo certo.

Trocaram mais alguns beijos antes dele sair pela porta. Bianca voltou até o quarto da filha que dormia tranquila. Tirou os sapatos e deitou ao lado dela era seu porto seguro e sabia que toda os últimos acontecimentos estavam mexendo com a menina precisa ter cautela por mais que quisesse viver o relacionamento com Marcelo por completo.