Presas de Prata escrita por Rogerio Sampaio


Capítulo 2
I. Sofia




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A garota contava os minutos para o fim da aula, seus olhos castanhos rodavam a sala esperando o sinal tocar. Seu olhar cruzou com o do professor, que parecia lhe questionar algo.

– Pode repetir, professor? - perguntou, levemente envergonhada ao notar outros olhares em sua direção.

– Eu perguntei se você sabe quais eram os principais centros comerciais durante o Renascimento Cultural - disse o professor, esperando que a garota errasse e assim fosse punida por sua falta de atenção na aula.

– Se você estiver apenas se referindo apenas a Europa, seriam as cidades italianas de Gênova e Veneza, não? - respondeu com um sorriso triunfante.

– Muito bem, Sofia - elogiou o professor e iria fazer mais algum comentário, mas foi interrompido pelo sinal tocando. - Bem turma, estão dispensados, mas para nossa próxima aula, não esqueçam de ler as páginas 30 e 31 do livro de história.

Sofia rapidamente apanhou sua mochila e guardou o material, antes de sair apressada. Ela achava tedioso estudar, mas seu tio Leo fazia questão que ela o fizesse. No portão, Lucas esperava por ela. Sofia lhe deu um forte abraço, mas não pode evitar reparar eu seus batimentos cardíacos, que para ela eram como uma sedutora música.

– Sofia... - disse Lucas levemente desconfortável sentindo a respiração da amiga em seu pescoço.

– Desculpa Lu! - disse se afastando rapidamente para se recompôr. - O que iremos fazer hoje? - perguntou a morena, agora mais calma.

– Bem, você lembra quando eu disse que conheço alguém que pode conseguir qualquer coisa? - perguntou Lucas, sendo respondido com um aceno de cabeça. - Então, ele conseguiu aquela prata que você queria, por um preço baixinho. Ele quer que nos encontremos daqui a algumas horas na praia do Arpoador.

– E o que estamos esperando? - perguntou a menina com um brilho nos olhos - Vamos agora mesmo!

A praia do Arpoador, localizada no bairro de Ipanema é uma das praias mais bonitas da Zona Sul do Rio de Janeiro. Famosa pela pedra do Arpoador, onde muitos banhistas pulam no mar aberto, essa praia todo dia recebe centenas de pessoas. Lucas estacionou seu fusca o mais próximo que conseguiu da praia, antes de eles juntos seguirem até o mar.

Os amigos esperaram no calçadão, até que um homem com uma mochila azul fez sinal para que fosse seguido até a pedra, que não estava muito movimentada por ser um dia cinzento. Chegando num ponto pouco movimentado, o homem entregou a mochila para Lucas.

– Tá aí, como combinamo. Tu tá com o pacote? - perguntou o homem se dirigindo para Lucas.

– Aqui, tudo que você pediu - disse o garoto lhe entregando um papel pardo.

Enquanto observava essa conversa, Sofia pensava no quanto os humanos do século XXI eram bem estranhos.

••••

Sofia se lembrava do passado, na noite que conhecera seu tio. Ele usava vestes características de um artista vitoriano, tal como seu pai. Era noite, e a lua cheia brilhava bela no céu. Sofia tinha apenas nove anos.

– Senhor, cadê o papai? - perguntou com voz chorosa ao acordar e se deparar com o homem de cabelos castanhos.

– Seu pai está bem, criança. Sou seu tio Leo, ele disse para eu te levar para um passeio, ele em breve se juntará à nós - disse, enquanto a garota permitia que ele a pegasse no colo.

Leo pulou a janela do quarto da garota e começou a correr numa velocidade sobre humana. Seu rosto estava enterrado no gélido peito do homem, mas não conseguia ouvir seu batimento cardíaco, ou sentir sua respiração.

– Estais bem, senhor Leo? - perguntou preocupada, sabendo que havia algo errado.

–Estou sim, por quê? - perguntou ele interrompendo sua corrida.

A menina apontou para o peito do homem, indicando que havia algo errado com seu coração e este abriu um leve sorriso.

– Criança, você ainda tem muito o que aprender sobre a vida ainda, quando for mais velha um novo mundo irá se abrir para você - disse o homem antes de voltar a correr.

O temor da menina, deu lugar para sua curiosidade. Ela se sentia em parte frustrada, por sentir que não conseguiria nada de seu tio tão cedo. Parte dela se lembrava da mãe ao estar nos braços do homem e, se sentindo segura, ela adormeceu.

Sofia acordou em uma cama macia e enorme, como pertencente à um nobre. Ela pode ouvir duas vozes no corredor fora do quarto, uma ela reconheceu como a de Leo.

– ... ela é filha de Camila, não posso... - disse a voz de Leo.

– ... vagalumes. Isso pode atrair a ira dele. Yasmin nunca aprovaria - disse a segunda voz, pertencia a um homem com um sotaque escocês.

–... e acordar a menina. Ela é minha família, eu vou protege-la. - a voz de Leo se aproximava ao longo dessa fala.

Quando a porta se abriu, Leo vestia um sobretudo negro com calças combinando. Seu pálido tronco exibia algumas cicatrizes, como arranhões. O segundo homem, o escocês, vestia-se como a aristocracia e possuía uma pele tão pálida quanto à de Leo.

– Sofia, quero que você conheça uma amiga de sua mãe - disse ele com um sorriso para a sobrinha. - Yasmin era muito amiga de Camila, e quer te conhecer.

Ao ouvir o nome da mãe, ela ficou ansiosa. Seu pai não gostava muito de falar sobre a falecida esposa, o que deixava muitas de suas perguntas sem respostas. Seu olhar cruzou com o do escocês e ela ficou levemente intimidada pelo seu severo olhar.

O trio percorreu os corredores do casarão, até chegarem na sala de jantar. Sentada na cabeceira de uma comprida mesa, uma mulher de cabelos castanho-escuros bebia o que Sofia julgou que fosse vinho.

– Leonardo Rivera... Ficou muito tempo longe - a mulher se levantou da cadeira, pousando sua taça sobre a mesa. - E volta com uma criança? O que quer que eu pense sobre isso?

– Essa é a filha da Camila - respondeu com voz baixa, enquanto a mulher caminhava em sua direção.

– A filha de Camila com o vagalume? - perguntou ela irritada, se voltando então para o escocês. - Alistair, nos deixe a sós!

Alistair saiu com um sorriso triunfante, esperando que a mulher brigasse com Leo, porém, quando a porta se fechou atrás dele, aconteceu algo que impressionou até Sofia.

A mulher chegou bem perto de Leo, até que, quando a distância deles era mínima, ela puxou o homem pela nuca subitamente, lhe dando um intenso beijo. Como Sofia descobriu mais tarde, Leo e Yasmin eram amantes.


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