Tal Mãe, Tal Filha escrita por Candidamente


Capítulo 6
Palidez invernal


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amoreeeees
De verdade, senti saudades.
Enfim, boa leitura!



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A primeira semana de janeiro daquele ano fora mais fria que nunca, a neve caía com frequência e os dias eram nublados e cinzentos. Na sexta-feira, o sétimo dia do mês, véspera do primeiro passeio a Hogsmeade daquele novo ano, houve uma forte nevasca e Rose pensou muito seriamente — e preguiçosamente — em cancelar com Scorpius para ficar deitada debaixo das cobertas após o almoço. No entanto, Alice e Joanne convenceram-na a levantar-se da cama, deixar a preguiça de lado e ir ao encontro do garoto.

— Rosie, sinceramente — murmurou a Longbottom. — Não posso deixar você ficar aqui o dia todo. Eu imagino o esforço que Malfoy deve ter feito para conseguir te convencer... E você vai pôr isso a perder.

— Alice, por favor — resmungou Joanne por cima da armação dos óculos quadrados. — Não precisa de desculpas. Você bem sabe que Rose não aguentaria deixá-lo esperando. Ela se sentiria culpada e não conseguiria olhar na cara de Scorpius por um bom tempo. — Ela fitou Rose, sorrindo. — Ainda mais depois que eles ficaram mais próximos.

Joanne falava como se já tivesse passado por aquilo. Entretanto, talvez tivesse mesmo razão, Rose sabia que ela tinha razão. De um jeito ou de outro acabaria obrigando-se a levantar; não que fosse admitir isso na frente das amigas enquanto elas ainda tentavam convencê-la.

— Mais próximos, sim — confirmou Rose. — Mas ainda não significa que sejamos amigos. — Ela fez uma careta. — Scorpius é extremamente irritante às vezes.

— Conversaremos sobre isso quando você voltar. Ou quando eu voltar. — falou Alice, checando os próprios bolsos, provavelmente para ver se tinha esquecido alguma coisa. — Daniel está a minha espera, e eu não vou lhe dar um bolo.

Joanne e Rose se entreolharam enquanto a amiga saía do dormitório. A indireta ainda pairava no ar, como se voz de Alice não fosse parar de ecoar enquanto Rose não estivesse em Hogsmeade.

— Claro, até porque ela gosta do Nott, seria impossível deixa-lo esperando. — murmurou Rose, desviando o assunto.

Joanne apenas riu da amiga, pegou sua mochila — que estava sempre pronta — e saiu do dormitório também. Iria à biblioteca, provavelmente, passar a tarde inteira absorta nos livros empoeirados ou escrevendo ao pai. Em geral, era isso o que ela fazia nos fins de semana.

Rose, sozinha no dormitório iluminado pela luz cinzenta das janelas, continuou sentada na cama. Bocejou, pensou, bocejou, pensou, esfregou os olhos e pensou. Preguiçosa e cambaleante, ela pôs-se a procurar um jeans limpo, uma blusa, e alguns blusões. Após trocar de roupas, pegou a varinha na mesinha de cabeceira, guardou-a no bolso interno da capa e desceu para a sala comunal.

Scorpius esperava parado embaixo de um dos javalis alados dos grandes portões dos terrenos de Hogwarts. Quando viu que Rose estava vindo, sorriu como forma de cumprimento, o que ele costumava fazer com frequência. Estava muito frio fora do castelo e tudo estava pálido e coberto de neve; Scorpius não era exceção, pois estava ainda mais branco do que de praxe.

— Desculpe a demora, eu estava pensando em não vir, não fosse por Joanne e Alice, acho que teria ficado debaixo das cobertas. — justificou-se Rose, alcançando-o.

— Bem, vou agradecer a elas depois. — comentou Scorpius quando eles começaram a andar em direção ao vilarejo.

— De qualquer forma, acho que eu não teria coragem de deixar você aqui esperando sem nem saber o porquê de eu acabar sendo tão estúpida a ponto de fazer isso... Ou seja, eu não conseguiria ser estúpida o suficiente para te deixar esperando sem sequer avisar antes.

— Agora eu devo agradecer à sua consideração. Obrigado por lembrar que está frio e que não é legal levar um bolo.

Rose riu. A partir daí, o silêncio pôs-se entre eles, que seguiram assim até Hogsmeade; aquilo não era agradável. Os dois sentiam-se tentados a falar alguma coisa, puxar assunto de algum jeito, mas não era exatamente a coisa mais fácil do mundo.

Quem quebrou o silêncio, enfim, foi a própria Rose; pensando que, se havia aceitado sair com Scorpius, eles deveriam pelo menos conversar, nem que fosse sobre o tipo de tecido das capas de ambos. Alguma coisa teria de sair de sua boca. Ela respirou mais devagar por alguns instantes, mordeu de leve a língua, respirou mais um pouco; então disse:

— Então... Como você está?

— Congelando. Porém, bem. — respondeu Scorpius. — E você?

— Não sinto a ponta do meu nariz, nem as minhas bochechas. — reclamou Rose, enrugando e torcendo o nariz, com a boca coberta pelo cachecol vermelho e dourado.

— Que, por sinal, estão vermelhos. — informou o garoto, fitando-a de frente. — Faça assim, veja só... — Eles pararam um de frente para o outro e Scorpius puxou o cachecol de Rose, de modo que este tapou o nariz e as bochechas da garota.

Seguiram andando.

— Obrigada. — disse Rose, a voz abafada pelo cachecol, que escondia o sorriso em seus lábios.

O silêncio predominou mais uma vez, enquanto os dois andavam com dificuldade em meio ao vento cortante e a neve fofa e espessa na rua principal de Hogsmeade. Quando eles entraram no Três Vassouras, fora impossível deixar de demonstrar o alívio que o calor aconchegante do estabelecimento trazia a seus corpos.

Enquanto Rose, depois de muito insistir ao garoto, pagava à Madame Rosmerta por duas cervejas amanteigadas, Scorpius achou uma mesa vazia no fundo do pub. Logo os dois já estavam sentados, bebericando suas cervejas e ainda em silêncio.

Scorpius soltou uma risada de repente. Rose tomou um grande gole de sua bebida, depois pousou o copo na mesa e inclinou-se para frente. Fitando-o em busca de um motivo para rir também, ela colocou o cabelo para trás da orelha no lado direito. Ele percebeu sua reação e logo disse:

— É o Albus, lá do outro lado. — Scorpius limpou o lábio superior que havia ficado sujo com a espuma da cerveja amanteigada. — Achei que eles estivessem no Salão de Chá de Madame Pudifoot — Pronunciou o nome do estabelecimento em voz de falsete, era perceptível o seu desgosto acerca do local. Ele não era o único, sem dúvidas. — Não sei porque a Mary parece ser do tipo que arrasta os garotos para lá.

Rose virou o mais discretamente possível para ver o que o primo e Mary estavam fazendo. Eles conversavam e riam gostosamente, principalmente a garota, que apoiava o maxilar no punho direito e dirigia um olhar meigo a Albus. Ele parecia hipnotizado fitando-a.

Era uma imagem bonita, um futuro casal que parecia se gostar e tudo o mais. Mas aquele era Albus, era o primo de Rose, seu melhor amigo desde quando podia lembrar. Isso tudo tornava a coisa toda completamente cômica, era impossível não sentir vontade de rir.

Depois que se recuperou do ataque silencioso de riso, Rose conseguiu ficar séria e seguiu bebendo a cerveja amanteigada de seu copo. Scorpius apenas observava.

— Eu acho que o Al merece, sabe? — comentou a garota. — Ele merece alguém que goste dele de verdade. Acho que talvez a Mary possa ser a garota certa. — Suspirou. — Temo tanto por ele... Ficou arrasado com aquela história da Addie.

— Lembro-me bem disso. — falou Scorpius. — Nunca o vi tão mal quanto naqueles dias. Ele ficou abatido por uma semana inteira e sempre respondia resmungando quando lhe diziam alguma coisa. Foram dias deprimentes com Al naquele estado...

Rose assentiu, deitando a cabeça sobre os braços cruzados em cima da mesa, enquanto observava uma das paredes laterais do Três Vassouras.

Silêncio de novo.

A garota recostou-se na cadeira e Scorpius fitou-a. Ela não percebeu de imediato, pois estava absorta observando os pés de Madame Rosmerta indo de lá para cá por entre pés de mesas, de cadeiras e de pessoas.

De repente, Rose parou os olhos no garoto à sua frente. Intrigada e sem graça, perguntou:

— O que foi?

Scorpius piscou duas vezes, rapidamente.

— Acho que são as cores. — Ele apontou o cachecol. — Ficam bem em você. — acrescentou, sorrindo. Ele também parecia estar um tanto... corado.

— Obrigada. — agradeceu Rose, sorrindo ainda mais sem graça.

Mais uma vez o incômodo silêncio se estabeleceu entre Scorpius e Rose. Eles observavam as paredes e as pessoas, um evitando o olhar do outro e, consequentemente, uma situação constrangedora. Porém, mais constrangedor ainda era fazer parte daquele silêncio irritante.

Rose logo engoliu o último gole de sua cerveja amanteigada e, notando que o seu companheiro já estava com o copo vazio havia algum tempo, levantou-se e seguiu na direção da porta. Certa de que Scorpius a seguiria, não estava a fim de quebrar o silêncio e, portanto, decidira que o melhor a fazer era conversar em outro lugar.

O Três Vassouras estava sempre muito cheio.

— Está tudo bem? — perguntou o garoto, quando alcançou Rose, já no meio da rua principal. Ele quase gritava, pois o vento estava tão forte que era difícil fazer-se ouvir.

Ao seu lado, ela assentiu com a cabeça; os lábios crispados debaixo do cachecol que, seguindo o conselho de Scorpius, Rose havia feito com que tapasse seu rosto até encostar às leves olheiras debaixo de seus olhos azuis.

— Você quer ir embora? — insistiu Scorpius, aflito. — Se for isso... Não tem problema, podemos voltar...

Rose puxou-o para um beco aonde o vento não podia alcançar, para que pudesse falar direito.

— Olhe, Malfoy — Ela o interrompeu. O garoto estremeceu à menção do sobrenome; achava que ela tinha ficado menos arisca com ele. — Não quero ir embora, o.k.? É só que... aquele lugar... está cheio demais. Entende o que digo? Pessoas por todos os lados. — Rose suspirou. — Sufocante.

Scorpius pigarreou, aliviado, levantando o dedo indicador da mão direita no ar.

— É Scorpius. Malfoy, não. Certo?

— Certo, Scorpius. — Rose sorriu.

O garoto tocou as bochechas dela, agora à mostra, com as costas das mãos.

— Nem o cachecol adianta. Você está congelando!

— Não estou com frio. — replicou Rose, tirando a longa trança ruiva de dentro das vestes e deixando que esta repousasse sobre seu ombro direito.

Scorpius pôs as mãos nos bolsos da capa e ficou parado de frente para a garota, pensando o que fazer a seguir. Ela, no entanto, segurou seu braço na região do cotovelo e puxou-o para adiante no beco. Os dois adolescentes seguiram caminhando pelas ruas menos movimentadas de Hogsmeade, onde o vento não era tão forte.

— Acho que concordo com você. — comentou Scorpius. — O Três Vassouras às vezes é irritante com todas aquelas pessoas falando ao mesmo tempo. Mas lá eu estava aquecido. — Dando-se por conta do que dissera, acrescentou: — Claro, eu não quero voltar, até porque, bem, nem está tão frio.

Rose ficou em silêncio. Ela começou a pensar em uma possibilidade bem desagradável acerca daquele passeio. Houve vários minutos de silêncio até ela decidir que realmente deveria começar a falar.

— Você deve estar fazendo um grande esforço, não é? — Rose encarou o garoto ao seu lado com uma expressão nada passiva. — Ter me convencido a aceitar seu convite... me aturado até aqui...

— O que você está querendo dizer com isso, Rose? — Scorpius parou no meio da rua estreita, obrigando a garota a parar também, pois a última coisa que ela queria naquele momento era evitar enfrentá-lo.

Rose julgou-o ousado por chamá-la pelo primeiro nome naquela tensa situação, porém apenas tentou esclarecer as coisas.

— Eu estou dizendo que Albus deve ter, no mínimo, subornado você para estar aqui. — Sua voz elevou-se um pouco. Se o que estava pensando era verdade, ela já tinha em mente todas as longas semanas que passaria sem falar com o primo e o Malfoy.

Este último apenas riu, como se Rose tivesse acabado de contar-lhe uma piada. Depois de recuperar-se da crise de riso e de ter deixado a garota rubra de raiva, Scorpius finalmente disse, tentando não se alterar:

— Olhe, Rose, eu estou tentando acabar com as diferenças entre nós. Se você não percebeu, eu quero ser seu amigo e Albus não tem nada a ver com isso.

Rose riu com escárnio.

— Ora, Malfoy! Francamente, você não tem motivos para querer ser meu amigo! — A expressão de Scorpius suavizou e ele deu um passo para trás. — Não fuja! — exclamou Rose. — Quer dizer então que você decidiu que queria ser meu amigo de uma hora para outra?

— Pergunte a Albus — disse Scorpius, levemente. — Pergunte a ele quanto tempo faz que eu parei de participar dos seus joguinhos de rivalidade nas aulas de poções. Pergunte a ele há quanto tempo venho tentando ser mais educado com você. E, por fim, pergunte a ele quando foi que você parou de perceber as coisas que estão à sua volta para viver isolada na biblioteca.

As palavras atingiram Rose como se todos os dardos do pacote atingissem o alvo ao mesmo tempo. O pior de tudo para ela era que Scorpius tinha razão. Só naquele momento ela estava conseguindo ser capaz de perceber e ainda sim precisara que alguém lhe abrisse os olhos para a vida.

Ela queria perguntar o porquê de Scorpius querer aproximar-se, quando se deu conta de que ele sempre havia tentado ser bom para ela, ser amigo. Desde o dia em que se conheceram no trem. Ela o interpretara mal por quase cinco anos, achara que ele tinha problemas com ela assim como ela tinha com ele desde sempre. Estivera errada desde sempre.

O mais irônico de tudo era perceber tudo ali, debaixo do seu nariz, depois daquelas palavras que mais soaram como um tapa em cada lado de sua face. Até poderia não ser aquilo o que Rose refletira nos segundos após Scorpius ter parado de falar. Contudo, enquanto ele a observava, parado à sua frente, com o cenho franzido, ela decidiu que talvez não se sentisse melhor com o que faria a seguir; mas que era o certo a fazer.

Rose abraçou Scorpius mais rápido do que ele poderia prever. O garoto quase caiu para trás ao ser pego desprevenido, resvalou na neve, porém conseguiu manter-se de pé. Fora surpreendido pelo abraço que conseguiu aquecê-lo parcialmente enquanto a garota não ficava sem graça.

— Obrigada — murmurou Rose.

E ela estava realmente agradecida, mesmo sabendo que nada daquilo fazia sentido, mesmo consciente de que se sentiria uma idiota e de que se arrependeria amargamente horas depois, quando chegasse ao dormitório feminino da Grifinória e tentasse dormir. Ficaria se culpando por ter tido uma atitude tão estúpida.

Mas não importava. Realmente não importava.

Atendendo às expectativas de Scorpius, o calor que aquecera seu corpo por alguns segundos deu lugar ao vento frio novamente, pois Rose ficara com vergonha e soltara-se dele.

— Olhe — disse ele. — Não precisa agradecer. Eu sei que você não gostou do que ouviu.

— Calado, Malfoy. — resmungou Rose, embora sorrisse. — Você acaba de conquistar uma nova amiga. Apenas cale a boca e vamos andar.

Scorpius deu um sorriso largo. Num movimento rápido, aproximou-se e depositou um beijo na testa de Rose, que corou fortemente, embora tenha fingido que nada aconteceu. Ela saiu andando na frente e ele a seguiu, correu para alcançá-la e conseguir caminhar ao seu lado pelas ruelas nevadas.


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Notas finais do capítulo

Sim, eles estão se aproximando DE VERDADE.
E pode crer que o sexto ano vai dar o que falar.
Digam o que acharam e me façam feliz. Obrigada. De nada.
Realmente espero que tenham gostado



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