Tal Mãe, Tal Filha escrita por Candidamente


Capítulo 17
Confiança


Notas iniciais do capítulo

OI, GENTEEEEE
Eu sei lá por que estou tão animada... Mas, então, essas três semanas passaram rápido, né?
Eu precisava de tempo e calma pra escrever, demorou mas está aqui u-u

Espero que vocês gostem *-*
Boa leitura!



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Aquele domingo estava sendo particularmente agitado para Rose. Devia fazer aproximadamente duas horas que ela estava sentada em uma das mesas do salão comunal rabiscando em um pergaminho vazio que deveria estar se transformando numa carta descente para ser enviada a Hermione no dia de seu aniversário e não numa “tela” para os círculos aleatórios de Rose.

Apesar de fazer todo aquele tempo que a garota estava ali plantada — era o que diria —, ela passara a manhã toda tentando organizar perfeitamente o presente de sua mãe na caixa. Estava nervosa e insegura. O embrulho seria destinado a alguém que era especial demais para Rose, de tal forma que ela jamais saberia descrever, era para quem havia cuidado dela por doze anos desde quando Rose não era nem um feto devidamente formado e mais alguns verões e feriados de Páscoa e de Natal. Hermione estava com Rose desde a primeira vez em que o ar invadiu os seus pulmões e ela sabia que sempre estariam próximas de algum jeito, independente do tamanho da distância matemática que houvesse entre elas.

Hermione faria quarenta e três anos no dia seguinte e não era como se ela estivesse fazendo cinquenta, por isso passaria o dia como em um aniversário típico. Era apenas um quatro e um três, dois números que, quando juntos pareciam discriminados pelas pessoas, para falar a verdade. E assim, Rose decidiu que deveria presentear a mãe com algo realmente importante e nem comunicou sua ideia a Hugo até que os dois fossem, de fato, comprar o presente.

Os dois irmãos caprichavam nos presentes todos os anos, sempre apostando em escolhas diversas. Eles definitivamente faziam de tudo para agradar Hermione das melhores maneiras possíveis. Ron costumava dizer que ela sempre sorria mais largo nas manhãs de dezenove de setembro depois de abrir o presente de Hugo e Rose.

Quando Rose disse ao irmão mais novo o que tinha em mente, ele achou a ideia meio estúpida e clichê, expressando isso sem dó nem piedade com todas as letras. Porém nem sequer deixara que Rose terminasse de explicar qual era a ideia do presente. Depois disso Hugo concordou e pareceu gostar bastante, mas se esqueceu de pedir desculpas pelo julgamento precipitado.

De qualquer forma, na manhã do dia dezoito, Rose começou a se questionar sobre aquela ser de fato a escolha certa. Detestava ser tão insegura, porém simplesmente não conseguia controlar isso.

Depois de passar um bom tempo intercalando entre sentar-se na cama observando a bela flor de brilho anormal e multicolorido dentro da caixa e andar de um lado para o outro no dormitório, ela finalmente precisou descer para o Salão Principal, pois já era hora do almoço. E esse foi o único jeito que Rose encontrou de conseguir deixar a caixa de lado, fechada e mais do que perfeitamente arrumada da maneira que estava e que só ela não conseguia engolir.

Quase discutira com Hugo após o almoço, já na sala comunal. Ele deixava claro que se preocupava com a falta de confiança de Rose e que queria o bem dela, mas fazia isso do jeito errado. Hugo acabava se irritando por não conseguir fazer a irmã enxergar certas coisas que lhe eram bloqueadas por causa de sua insegurança.

Por fim, o garoto desceu para os jardins ao lado de Jim Marsotto, que era o seu único amigo também do quarto ano além de Lily e Louis — que, por sinal, Hugo sequer mencionara onde estavam. E então Rose sentou-se à mesa onde ainda estaria duas horas depois, com apenas “Querida mamãe”, o que estava considerando realmente horrível, escrito no pergaminho novo em meio a rabiscos de círculos e mais círculos.

O que fazia Rose se sentir mal de verdade era olhar em volta e ver aquela imagem não muito comum: cinco alunos conversando sentados a um canto, perto da saída da sala comunal. Na verdade, aquele grupo, composto por Bernard Dupin, Paul Daily, Jesse Wynne, Sarah Finnigan e Michael Kirke — a maioria do sexto ano, com exceção do último, o batedor reserva do time, que estava no quinto —, não era algo incomum, afinal eles costumavam mesmo se juntar com frequência para falar de quadribol e fossem lá quais fossem os seus outros interesses em comum. O lado atípico da situação era que não havia absolutamente mais ninguém ali a não ser eles e Rose, que estava sentada do outro lado da sala, com a bochecha apoiada no próprio punho para evitar cair de cara na mesa e morrer de tédio antes mesmo de passar das quatro horas da tarde.

Rose simplesmente não sabia o que escrever ou como começar... Claro que havia uma ideia, lá no fundo, mas que não emergia de maneira alguma. Provavelmente sufocada e sendo empurrada cada vez mais para o fundo pelo tédio insuportável. Além de tudo, ela se considerava uma péssima escritora. Quando eram trabalhos sobre determinados assuntos absolutamente nada aleatórios e cartas destinadas a sua casa, contando basicamente o que acontecera nos últimos dias, Rose se virava e as coisas não saiam tão mal assim.

O problema naquele momento era que ela queria escrever algo que tocasse sua mãe, de modo que pudesse lhe desejar feliz aniversário a distância da melhor maneira possível. Além disso, não conseguia funcionar direito quando estava nervosa ou sob pressão. Ela nem ao menos podia contar com a ajuda de Hugo... E não era justo que não pudesse estar lá com Hermione nos últimos cinco dezenove de setembro, nem no atual e nem no próximo. Queria, verdadeiramente, poder abraça-la e dizer o quanto fazia falta; às vezes, Rose precisava conversar sobre coisas que somente Hermione entenderia. Era complicado.

Continuava perdida, pensando, sob o seu torpor preguiçoso e tedioso. Então, pelo canto do olho, viu a entrada para a sala comunal se abrir, revelando os dois garotos que haviam saído aproximadamente três horas atrás.

O da direita, Jim, de pele negra e cabelo castanho-claro, com os olhos assustadoramente escuros — Rose notara outro dia — estreitados numa risada contínua enquanto ele mantinha o cotovelo apoiado no ombro do amigo ao seu lado. Hugo ria também, com a mão sobre o estômago e respirando com dificuldade como era de praxe durante as suas típicas risadas escandalosamente longas. Rose controlou a vontade de perguntar do que era que os garotos estavam rindo e fingiu que escrevia em seu pergaminho rabiscado, até que eles sentaram-se à mesa, junto a ela, enquanto recuperavam-se do riso.

— Você está usando algum novo estilo de escrita ou...? — indagou Hugo, inclinando-se para o lado, a fim de ver o que havia no papel abaixo da mão de Rose. Ele riu brevemente. — Isso é o quê, um código alienígena? — debochou.

Rose revirou os olhos prontamente. Jim apenas observava, recostado na cadeira, e ela não se deu ao trabalho de cumprimenta-lo, pois já o tinha feito antes. Um momento em silêncio se passou, Rose fez mais dez círculos no pergaminho.

— Você ao menos começou a escrever? — perguntou Hugo, com uma sobrancelha erguida.

— Não. — murmurou Rose, finalmente levantando os olhos para encarar o irmão e mordendo dolorosamente o lábio inferior.

— Ótimo — resmungou o garoto. — Então, o que você vai fazer? Daqui a pouco já é amanhã e você nem viu...

Rose olhou entediada para Hugo.

— Eu sei disso — resmungou também. Então começou a arrumar lentamente suas coisas espalhadas pela mesa. Enrolou o pergaminho, juntou as penas e o tinteiro e levantou-se da cadeira. Enquanto se concentrava em ajeitar seu material de escrita nos próprios braços cobertos por um suéter fino azul-marinho, disse: — Mas quer saber? Deixe para lá Hugo. Mesmo que eu ache que o certo seria você me ajudar com isso, afinal, é só essa carta que vamos enviar à mamãe com o presente. — Rose subiu os olhos para o rosto do irmão, seu olhar era inquisitivo. — Não é?

Hugo sacudiu a cabeça em negativa, normalmente.

— Não... Eu escrevi a minha ontem à noite. Lily me ajudou bastante, inclusive.

Rose arregalou os olhos.

— Você não está falando sério — Ela soava bastante indignada. — Por que diabos você não me avisou?

— Eu sei lá, Rosie! — O garoto deu de ombros, indiferente. — Era preciso?

A outra bufou.

Hugo — Ela fez um grande esforço para se manter calma e centrada. — Eu passei todo esse tempo aqui achando que teria de escrever algo que falasse por nós dois de um jeito sincero, sem a sua ajuda, porque você estava zanzando por aí. Já teria sido de grande ajuda se você tivesse comentado sobre isso comigo!

Hugo baixou os olhos para a mesa e coçou a nuca, desconfortável.

Rose, tentando manter em mente a ideia de que não era necessário se estressar por causa daquilo, virou-se na direção das escadas em formato de caracol. Ela já pensava em como sua cama lhe deveria ser confortável àquela hora.

Antes de pôr o pé no primeiro degrau, Rose deu meia volta.

— Olhe, eu vou subir e tentar escrever — começou, baixando a guarda. — Mas você poderia... por favor, ler e me dizer o que acha depois?

Hugo a encarou, impassível, e assentiu.

Ela sorriu minimamente. Deu-lhe as costas, mais calma, e subiu a escada, entrando no dormitório e fechando a porta logo atrás de si enquanto ouvia o som das vozes de Jim e Hugo que haviam começado a conversar assim que ela desaparecera nos degraus íngremes. Rose largou o que carregava em cima de sua cama e pegou um caderno velho dentro de seu malão para por sob o pergaminho e facilitar a escrita. Deitou de bruços, apoiando-se nos travesseiros na cabeceira da cama.

Sabia que precisava terminar aquilo logo. Ela não era de hesitar diante das responsabilidades que se impunha. Não era assim e era autocrítica o suficiente para que não faltasse consigo mesma. Mas agora, sabendo que o remetente daquela carta era somente ela, talvez fosse mais fácil.

Rose fechou os olhos e tentou não pensar em nada, esquecer-se de tudo, como se sua mente tornasse a um salão branco, vazio. As paredes eram grossas e fortes, erguidas por tudo o que ela varrera para o lado na intenção de deixar o centro intocado e livre.

Quando abriu os olhos novamente, livrou-se da parte rabiscada do pergaminho e começou a escrever. E daí em diante foram-se mais quarenta minutos, até que ela largasse a pena e finalmente corresse os olhos pela carta que estava aparentemente pronta.

Rose acabou riscando algumas palavras, obviamente, conforme acrescentava outras. Chegou a mudar frases inteiras, debochando de si mesma em alguns pontos por ter escrito algo tão estranho aqui e ali. No fim, o pergaminho com a carta de aniversário para Hermione estava mais rabiscado que o cheio de círculos. Ela copiou para outro pedaço de pergaminho, desta vez caprichando o máximo em sua caligrafia pequena e meio desajeitada.

Achava, sinceramente, que havia feito um bom trabalho, agora que já estava pronto. Ela releu mais duas vezes antes de sair do dormitório.

“Mãe,

Espero que você saiba que eu estou morrendo de saudades. Queria poder voar para casa para passar o seu aniversário com você. Mas como eu não posso, espero que o presente e a menção de um abraço cheguem perto do suficiente.

Eu sei que pode parecer nada demais, é a apenas uma flor, afinal... Bem, na verdade, eu acho que você deve conhecê-la. Ela não é uma flor qualquer. Percebe o brilho diferente? Merlin, eu não me atreveria a pôr uma flor comum dentro de uma caixa como essa.

Veja, ela tem um significado grande. Quem a recebe passa, de certa forma, suas emoções, seus vínculos, suas esperanças, angústias, tudo, a ela. É uma “flor da confiança”, acho que posso chamá-la assim, sendo que ela sequer tem um nome. Quero dizer que tal tipo de planta mágica é importante; essa flor em especial simboliza coisas ligadas à família.

Logo, ela simboliza nosso vínculo, mamãe. Nosso quarteto, seus amores, sua vida e sua ligação com a família que você construiu.

Caso você não aceite algo assim para si, a ligação com a flor não será estabelecida, segundo o que li. Assim como ela não adotará uma única cor específica e sólida em suas pétalas. Então, não se preocupe, ela só representará tudo o que eu disse, se você aceitar que o faça.

Então, eu digo pela milésima vez, pois jamais cansarei de repetir: eu te amo, mãe. Com todas as minhas forças. Muito, muito, muito, muito.

Espero que esteja tudo bem com você, com papai... Logo nos encontraremos e você vai receber o abraço mais apertado de todos os meus abraços atrasados de aniversário, certo?

Não há nada de genial nesta mensagem, mas é que eu só queria que você sentisse como se eu estivesse lhe abraçando enquanto a lê.

Feliz aniversário.

Com amor,

Rose G. Weasley.”

Quando desceu a escada, viu que os garotos continuavam sentados no mesmo lugar, conversando. Havia mais alunos do que antes na sala comunal, porém não muitos estavam de volta. Rose foi se aproximando, mas Hugo e Jim não pareciam tê-la notado.

— ...estava pensando em convidar a Boot, da Corvinal. Lembra aquele dia em que eu fiz dupla com ela na aula de Feitiços? Ela é adorável, cara. E...

— Certo, Hugo, depois você termina de contar ao Jim o quão incrível Caroline é. O primeiro passeio a Hogsmeade é daqui a mais de um mês e acredito eu que você esteja enxergando bem o suficiente para conseguir ver com clareza o grande vinte e nove de outubro no quadro de avisos. Ainda tem tempo, irmãozinho. — interrompeu Rose, então sorriu largo, praticamente esfregando o pergaminho na cara do irmão. — Eu terminei. Leia! — informou animada. Seu humor estava estranho naquele dia, ela tinha de admitir.

De imediato, Hugo pareceu confuso, pois provavelmente levara um susto com a aparição repentina de Rose. Ele pegou o pergaminho das mãos dela e começou a ler, aparentemente concentrado.

A garota puxou uma cadeira e sentou-se. Estava intrigada. Podia jurar ter visto a expressão de riso de Jim fechar-se imediatamente segundos antes de ela interromper Hugo. Rose perguntou-se porque. Jim agora tamborilava os dedos silenciosamente na mesa, encarando-os com os lábios franzidos.

Rose quase perguntou se ele estava bem, porém desistiu, visto que Jim responderia que sim de qualquer maneira. E, além disso, talvez estivesse apenas distraído.

Hugo devolveu o pergaminho a Rose.

— Está ótimo — Ele sorria. — De verdade.

— Posso ler a sua? — perguntou Rose, sorrindo também.

Hugo negou com a cabeça e ela assentiu, controlando-se para não fazer uma careta.

— Certo. Você envia. — disse.

— Achei que Elle fosse sua — replicou o garoto.

— Ela é uma coruja amigável, Hugo, você sabe disso. Elle gosta de você. — Rose sorriu mais ainda. — Você poderia fazer isso por mim, não poderia?

Hugo suspirou, mas assentiu e Rose voltou ao dormitório para pegar a caixa com o presente. Lacrou sua carta dentro de um envelope, pôs cuidadosamente dentro da caixa, ao lado da flor e entregou-a ao irmão. Dizendo-lhe para colocar a sua própria carta com o máximo de delicadeza que conseguisse ali dentro.

Rose decidiu descer para dar uma volta e talvez encontrar Roxanne em algum lugar. Desceu correndo as escadas que mudavam de lugar, atrapalhando-se diversas vezes, o que só fez com que demorasse mais ainda para chegar aos portões de Hogwarts.

Finalmente sentindo-se livre de deveres a parte, enquanto absorvia o clima agradável do ar que começava a esfriar com a chegada iminente do outono, Rose pensou que estaria mentindo se dissesse, mesmo que somente para si mesma, que havia esquecido a insanidade do dia anterior.

Enquanto andava na direção das estufas — só porque não tinha nada para fazer —, debaixo daquele sol fraco e quase sem vida devido às nuvens que o cobriam, não conseguiu evitar o sorriso que lhe escapara dos lábios. Ela só não queria admitir tudo o que estava se embrulhando na boca de seu estômago desde sábado.

Havia visto Scorpius no café da manhã e no almoço; também cruzara com ele depois deste, enquanto voltava para o salão comunal. O garoto lhe dirigira um sorriso na única vez em que seus olhos se encontraram naquele dia, ela teve vontade de fugir, ou derreter. Não sabia ao certo, na verdade.

O grande problema eram os seus batimentos cardíacos aumentando tanto depois disso. Ela mal conseguira retribuir... Esperava que não estivesse assim tão óbvio que estava fugindo de Scorpius.

Precisava encontrar Roxanne o mais rápido possível. Não que fosse contar tudo a alguém, é claro. Porém às vezes a necessidade de uma conversa fazia-se tão presente que poderia chegar a ser insuportável.


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Notas finais do capítulo

Na outra versão da fic, eu tinha feito o capítulo que se passava do dia dezoito para o dezenove de setembro, no ponto de vista da Hermione, em Londres (e foi no cap.16, não no 17). Eu acho que não vai mais haver capítulos pelo ponto de vista da Hermione, pelo menos não por enquanto. Isso não importa, na verdade.

Digam o que acharam (e me avisem se acharem algum errinho ou qualquer coisa desagradável aí em cima, tá?), por favor. Obrigada. De nada. *--*

Até o próximo capítulo!
xx



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