Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 34
Verso 33: Hold me Tight


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO!!!!!
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Jungkook P.O.V.

Mais uma vez, são as mesmas mensagens que estão no meu celular. Não sei se ela faz isso para eu ficar preocupado ou louco.

Argh, o que eu estou pensando?! Essa diferença de fuso-horário mal nos deixa trocar duas mensagens consecutivas. Falta de notícias é a pior notícia que posso receber. Por que está tudo tão quieto? Por que nada acontece? Por que não há nada de errado nas mensagens da Stella?

Há sim. Essa falta de coisas ruins que ela me conta já é ruim por si só. É claro que eu torço para que nada a machuque, mas se eu esperasse arco-íris, estaria sendo irreal. Sei que aconteceu alguma coisa, por aquelas ligações há um tempo atrás, não teria como não acontecer. Mas por que há essa falta de informações?

Forço-me a por toda a culpa no fuso-horário. Sim, qual outro motivo ela teria para não contar essas coisas para mim? Por acaso, ela não confiaria em mim? Ou acha que sou inútil por não ter ido com ela e ter vindo para a Tailândia? Eu sabia que deveria ter ido para o Brasil! Ou será que ela não precisa mais de mim, já que estou tão distante?

Ela não pensaria isso. Pensaria?

Ah, não, não, não. Eu já estou ficando paranoico, não é? Isso é tudo coisa da minha cabeça, não é? Isso não vai acontecer, não é? Por que estou perguntando se sei que ninguém vai responder?

Por que...

estou perguntando se...

bem no fundo...

já sei a resposta?

— Jungkook.

— Hã? – Demoro alguns segundos procurando quem me chamou.

— Aqui. – Sejin hyung está bem na minha frente, não muito feliz. Também não estou.

Taehyung dá um cutucão forte no meu braço, como se eu devesse falar alguma coisa. Que raiva!

— O quê?! – esbravejo.

— Eu só estava avisando que já vamos nos arrumar para o fansign – o agente continua com aquele tom de bronca que se usa com uma criança.  Já estou perdendo a minha paciência. – Espero que você não fique grudado no celular lá. Ou vou ter que tirar de você assim como fazem no maternal. Ser o mais novo não é desculpa para agir assim.

“Vai se fuder! Você não sabe do que eu sei sobre a Stella! Eu vou sair dessa merda de qualquer maneira! Por que eu deveria me importar?!” Quando estou prestes a cuspir isso tudo na cara do Sejin, Taehyung aperta o meu braço, um sinal silencioso para eu ficar quieto, e se intromete:

— Não precisa disso tudo. Você sabe que o nosso Jungkook é um garoto responsável. Ele só está passando por um tempo difícil. Vou ficar de olho para ele não ficar mexendo no celular enquanto as fãs vêm falar com ele. Vai ficar tudo bem! Deixa comigo! – ele termina com seu sorriso mais confiável.

Normalmente, ninguém do staff confiaria no hyung para qualquer tarefa que exigisse... ehrm... responsabilidade. Mas o Sejin hyung deve estar cansado demais para comprar briga comigo, então ele só deixa passar.

— Por que você não me deixou falar?! Eu teria dito umas poucas e boas para ele!

— Você acha que ficaria com o celular dessa forma? Você acha que isso é coisa que deveria falar para o agente?! – Ele dá um tapa (forte até demais) na minha cabeça ao me repreender. – Eu entendo que você está preocupado com a Stella e que você gosta dela, mas você não deve tratar o Sejin hyung assim. Ele não tem culpa de nada!

— Mas...

— Nada de “mas”! Você não acha que já está passando dos limites? Você está arranjando briga com todo mundo! A Stella não quer isso!

— Quem você pensa que é para dizer o que ela quer?! – berro.

— JUNGKOOK! – ele grita tão alto que levo um susto. Que merda, todos estão olhando para a gente agora. – Tem uma fila enorme de armys esperando lá fora! É o melhor dia da vida de muitas delas. Talvez a única chance de ver seus ídolos pessoalmente. Elas usaram o dinheiro delas para virem aqui, nós não estamos fazendo um favor. Foram ELAS que te colocaram aqui. SEUS CHILIQUES E PARANOIAS NÃO SÃO MAIS IMPORTANTES QUE A FELICIDADE DESSAS PESSOAS QUE ESPERAM POR NÓS! Eu não ligo se você quiser sair, mas por enquanto você ainda está sendo pago pelas armys. Nem sei mais se você se importa com os sentimentos delas ou com tudo o que elas fizerem por você. Mas, pelo menos, respeite o dinheiro que elas gastaram. Você é um empregado aqui. São elas que estão te pagando. Entenda isso.

— Eu pensei que pelo menos você, Taehyung hyung, ficaria do meu lado. Eu estava errado.

— Você está tão cego... Eu estou mais do seu lado do que você mesmo! Eu estive aturando isso há muito tempo, esperando que você melhorasse. Eu não ligo para esses seus chiliques comigo, com os outros membros ou os staffs, por mais que eu saiba que isso tudo está errado. Mas, as armys não... Não, as armys não. Não vou aturar você as tratando desse jeito. Pensei que, com o tempo, você iria se tocar do que está fazendo de errado. Dessa vez, sou eu que estava errado. Olha só que merda que você se tornou.

Levanto-me da cadeira quase a derrubando. Não estou com cabeça para ficar aturando esses desaforos.

— Você vai me bater, é? – Ele debocha. Nossa, como eu tenho vontade de arrancar um ou dois daqueles dentes perfeitos com um soco. – Vá em frente. Confirme o que eu acabei de dizer. Desculpe, mas eu tenho coisas mais importantes para fazer, como um fansign para as armys da Tailândia.

Ele vai junto com os outros para seus respectivos lugares. Nenhum fica para me consolar. Tenho que ir à contragosto para o meu lugar antes que o Sejin apareça e tire o celular de mim.

Ainda não sei porque considerei qualquer um deles um amigo. Está óbvio que eles são só colegas de trabalho. Quando atrapalha com as fãs, eles facilmente me põem de lado.

A única pessoa que sempre esteve verdadeiramente ao meu lado foi a Stella.

Os fãs começam a chegar, mas só falo um “oi” e assino o pôster. Nem dou muita atenção às perguntas que me fazem. O Taehyung fica me advertindo cada vez mais para sair do celular, mas, quanto mais ele insiste, mais continuo relendo as mensagens antigas, aguardando por uma nova. Os minutos voam e nada de resposta.

Estranhamente, o Taehyung insiste ainda mais em me repreender, porém não dou a mínima. Quando será que a Stella irá responder?

— JEON JUNGKOOK! LARGA O CELULAR!

Ele berra tão alto que todo o salão ouve. Ainda bem que elas (provavelmente) não entendem coreano. Ele conseguiu me forçar a olhar em sua direção. No entanto, há algo em seus olhos além de raiva: pena.

Todos pararam o que estavam fazendo e acompanham cada movimento meu. Viro-me para quem estava esperando a minha atenção. É só mais uma mãe com uma criança de nove, dez anos. Não sou o melhor em aturar pirralhas quando estou de mal humor.

Contudo, logo percebo que há algo de diferente. Pelo jeito que seu braço está entrelaçado ao da mãe, pelos seus óculos escuros e pela sua bengala alternada de branco e laranja: ela é cega.

— Você é o Jungkook? – A mãe me pergunta.

— Sim. – num esforço descomunal, consigo soltar a tal palavra monossilábica. Todo o resto do meu corpo paralisou de vergonha.

— É claro que sim! – A garotinha afirma muito confiante de si. – Conheço muito bem essa voz!

— A minha filha é uma grande fã sua! Ela vive me dizendo que quer ser cantora por sua causa!

— Ei, mãe! Eu quero explicar por mim mesma! Essa é uma chance única que vou ter de falar com ele!

Por mais que ela não possa nem ver, a mãe apenas assente.

— Eu adoro muito você! Quando ouvi a sua voz pela primeira vez, já sabia que você era especial. Você canta com tanta paixão! Ao ver alguém amando tanto o trabalho e seus fãs, pensei: quero ser assim quando crescer! Obrigada, muito obrigada mesmo! Ouvir a sua voz me encoraja todos os dias! Agora, me desculpe, mas queria te pedir um favor. Eu sei que é pedir muito, mas eu poderia tocar no seu rosto? É que eu sempre ouvia a sua voz e imaginava como você é. Tenho certeza de que você é muito bonito. Queria te ver pelo menos uma vez – ela abre um largo sorriso.

Não respondo. Apenas agarro aquelas pequenas mãozinhas que largaram a bengala e as grudo nas minhas bochechas. São tão pequenas que as minhas podem envolve-las completamente.

— Hã? Por que o seu rosto está molhado? Eu te fiz chorar? Desculpa, desculpa! Eu não queria isso! Me desculpa!

Finalmente me dou conta da minha própria situação. Não parei de chorar desde que a vi. No entanto, tudo o que eu sentia era uma tristeza enorme. Não conseguia agir direito, não conseguia falar direito, até a minha mente ficou um branco imaculado, mistura de todas as cores de pensamentos que fervilhavam na minha cabeça. Eram tantos que não consegui computar nenhum.

Apenas palavras tão ingênuas fazem com que tudo isso pareça real.

— Não é sua culpa. É minha. Eu não mereço isso, eu não mereço nada disso.

— Não! Por favor, não diga isso! Eu não queria que você ficasse chateado. Mas eu vim mesmo sabendo que as pessoas reagem assim quando veem a minha deficiência. Desculpa, desculpa! Eu não quero que você chore! Isso é tudo culpa minha...

— Não é isso. Esses dias, eu fiz tantas coisas ruins... Não mereço essa admiração toda. Desculpa, eu queria ser um ídolo melhor para você. Não sou tudo que isso que você pensa que eu sou.

— Por favor, não seja tão modesto! Não quero te ver triste!

Quem me dera que fosse modéstia... Tudo o que eu fiz esses dias, as palavras, as ações... isso está errado. Não é esse o ídolo o qual essa garotinha adora tanto.

— Você é tão bonito! Não estrague seu rosto chorando!

— Não, minha querida. Sou muito, muito feio.

Sim, muito feio. Como pude ignorar tantas pessoas que me amam? Sou um monstro. Debruçada sobre o balcão, suas mãos percorrem todo meu rosto com calma, memorizando cada detalhe, todas as imperfeições. Os olhos da garotinha brilham em cristais de lágrimas.

— Por que está chorando? Por favor, não faça isso.

— Só se você também parar de chorar! Eu não quero te fazer infeliz... – Ela replica

Como eu fui egoísta. Todas essas ações, em algum momento, pareceram justificáveis para mim? Essa garotinha bem na minha frente, magrinha que só. Eu sou o sonho dela. Está na hora de eu dar motivos para ela acreditar no seu sonho – e em mim.

— Eu estou sorrindo, viu? – Aproximo suas mãos da minha boca.

— Você está fazendo isso só para me acalmar. Você está chateado por minha culpa.

— Acho que você não está entendendo.

Abraço-a bem forte, como se o resto de esperança que me resta dependesse disso. Finalmente tomei coragem e levantei da cadeira. Foi o mínimo que pude fazer para retribuir todo esse amor. Olhando por cima de seu ombro, percebo a mãe soluçando baixinho.

— Você acredita em fadas?

— Hã? – Pego-a de surpresa. – Sim.

— Então posso te contar uma história sobre a fada que conheci?

Ela assente com a cabeça.

— Há algum tempo atrás, eu era um monstro muito feio, por dentro e por fora. Esse monstro tinha perdido toda esperança, toda a alegria e todos os sentimentos bons se transformaram em ruins – seguro insistentemente o choro para não atrapalhar a história. – Foi então que essa fada surgiu. Ela ainda era jovem, mas, em um vislumbre de sua curiosidade infantil, suas mãos tocaram o rosto do monstro. Então ele lembrou de sua paixão e motivação. A magia daquelas pequenas mãos era tão forte que transformaram o monstro num príncipe. Um príncipe que sempre amará as fadas.

— Você não é um monstro.

— Não, eu sou um príncipe. Você me curou.

O pequeno corpo ao qual estou abraçado se irrompe em soluço, subindo e descendo sob os meus braços. Aos poucos, percebo que nem todos os soluços vêm dela. O diafragma que tanto uso para cantar foge do meu controle, expondo todo meu remorso.

Todos pararam. As armys na fila choram com câmeras na mão; as que estavam conversando com os outros membros, tiraram sua prioridade de vista e olham compadecidas para nós; Taehyung, Jimin, Hoseok e todo o Bangtan também têm os olhos – vermelhos – fixos em mim.

Sei que não posso continuar com isso por mais tempo. Devo soltá-la, mas meus braços não correspondem. Quero ficar aqui até que suas mãos purifiquem cada pensamento ruim que tive esses dias. No entanto, não posso decepcionar mais armys. Elas estão me esperando pacientemente, deixando-me fazer as coisas no meu tempo. Também quero me desculpar com elas, mas antes resolvo fazer um pedido:

— Sei que já fez muito para mim, mas ainda preciso te pedir um favor.

— O quê?

— Você poderia tirar uma foto comigo? Quero lembrar desse momento pelo resto da minha vida. Afinal, não é todo dia que encontro uma fada.

Ela assente com a cabeça ao enxugar as lágrimas com as costas da mão. Enquanto o celular liga, afasto os fios de cabelo presos em seu rosto. Passo o meu braço sobre se ombro e sorrio para a câmera. Apesar do rosto molhado e dos olhos vermelhos, seu sorriso é o mais bonito que existe.

— Diga xis! – E clico a foto.

Antes que elas vão embora, chamo:

—Senhora! Antes que ir, pode escrever nesse papel o seu número de telefone? Vai ter um grande show daqui a algumas semanas e eu queria muito que vocês fossem. Não se preocupe, nós vamos cobrir todas as despesas.

É uma proposta ousada e sei que vou ter que conversar muito para conseguir isso, porém sei que vale a pena. Pelo rosto da mãe, percebo que ela pensou em responder “não precisa”, no entanto, ao olhar para a filha, ela anotou o telefone sem remorso. Mesmo a idade já talhando seu corpo, a senhora repete várias reverências junto com a palavra “obrigada”. Sou eu que devo agradecer. Sinceramente.

Antes de sair, a garotinha dispara:

— Eu te amo, Jeon Jungkook.

— Eu te amo, Fada. Obrigado.

“Obrigado”? Eu não poderia ter pensado em coisa melhor? Ela merece muito mais. Nem tenho muito tempo de repensar as minhas palavras, já que a visão de suas costas se afastando me faz chorar torrencialmente.

Obrigado por tudo, Fada. Até.


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Notas finais do capítulo

Mais uma vez, tenho que me desculpar pelos comentários. Sei que estou deixando muito a desejar, mas acredito que num breve futuro vou conseguir retomar a qualidade da fanfic. Obrigada por todos os comentários, vou tentar responder essa semana todos os de semana passada e retrasada (meu deus, eu deixei muito comentário acumular).
Muito obrigada por comentarem mesmo assim! Por mais que demore para responder, eu leio cada um assim que são mandados. Vocês me inspiram a escrever capítulos melhores! Obrigada!