Invisíveis como Borboletas Azuis escrita por BeaTSam, tehkookiehosh


Capítulo 27
Verso 26: Throw Away




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Stella’s POV

Já chega.

Não aguento mais essa meia-luz de dias nublados. Nem está tarde o suficiente para estar tão escuro assim! Faz com que o nosso quarto que já é pequeno pareça ainda menor. Esses tons cinzentos são sufocantes.

Devem fazer alguns minutos que estou deitada na minha cama. É o meu dia de “folga”, elas não estão aqui. Só eu, eu só. Desde de manhã estive arrumando malas para a viagem. Estou cansada demais. Meus braços doem, minhas costas doem, meu coração dói demais. Só um intervalo, um breve intervalo. É só isso que quero.

Deixo que um rock qualquer ilumine o quarto. Com a minha cabeça pendendo da cama, tenho visão privilegiada das primeiras gotas de chuva que riscam a janela. Poderia ter ficado nessa pose pelo resto da minha vida se não fosse o enjoo que ela me causa.

Se não fosse por isso, eu com certeza não voltaria a arrumar as malas. Eu só queria não ter que continuar fazendo isso.

Tenho bem pouca coisa aqui no dormitório. Quando vim do Brasil, só trouxe blusas de bandas das que gosto e calças rasgadas. Não tenho muitas roupas. Separo poucas, as mais frescas. Mal me lembro da quentura do calor do Rio, mas lembro-me dessa cidade me queimar como o inferno. São tão poucos dias lá... Dá vontade até de não ir. Mas continuo dobrando as blusas, afastada daquela caixa, aquela maldita caixa.

Vai ser uma viagem rápida, não preciso levar mais do que uma bagagem de mão. No entanto, não sei se aguentarei esses infinitos três dias sem algo que me lembre da Coreia, de tudo, de todos os que me aguardam depois. Levo algumas recordações.

O caderno de música que o Jungkook me deu no meu aniversário. Ele passou dias sem conversar muito só desenhando algo. Pensei que estivesse chateado comigo, então quando fui tirar satisfações, ele me surpreendeu com um caderno com um desenho de mim na capa. Feito à mão, com um traço bem detalhado, eu estou mais bonita ali do que realmente sou. Até hoje, ainda não tive coragem de usá-lo, manchar suas páginas imaculadas.

O casaco do Taehyung de algumas noites atrás, que eu esqueci de devolver. Por mais que eu não vá precisar disso no Rio de Janeiro, o calor desse casaco me faz lembrar da gentileza do Tae, que me consolou tantas vezes. Com certeza vou precisar disso. Ele vai estar viajando, não vai nem sentir falta. Quando ele voltar, eu devolvo.

A foto emoldurada que tirei assim que cheguei no dormitório. De todas as lembranças, essa é a que me traz mais nostalgia.

Tinha acabado de passar no teste da Big Hit. Estava com medo de cair num grupo com garotas chatas, afinal, eu iria morar anos junto a elas. Sabe, até hoje não sei se tive sorte. Assim que terminei a minha apresentação para elas (bem formal, por sinal), elas tiveram um ataque histérico. Apertavam as minhas bochechas e diziam que era fofo eu ter tantos sonhos, que eu definitivamente iria alcança-los. Para falar a verdade, fiquei surpresa de elas terem prestado atenção em algumas palavras da tal apresentação (por mais que tenham esquecido todo o resto). Tiramos essa foto para nós nos lembrarmos de quando nos conhecemos. E, atrás, cada uma de nós escreveu seus próprios objetivos, para que, segundo palavras da Chae,  nos lembrarmos disso mesmo quando formos super hiper mega famosas.

Nunca fui tão positiva quanto ela.

Guardo-a entre as roupas, para não correr o perigo que quebrar o vidro. Agora só falta aquela maldita caixa.

Não queria levar nada dali, mas algo ainda me impede de queimá-la. Acho que o nome disso é sangue. Desenterro-a de debaixo da cama e a abro depois de mais de um ano.

Já começamos mal. Logo salta aos meus olhos uma camiseta antiga que minha mãe havia me dado há muito tempo. Ela é azul acinzentado, tem duas nuvens brancas, na primeira há um violão pendurado e na segunda uma nota musical. Sinto meus olhos marejarem contra a minha vontade. Afasto sentimento com a cabeça imediatamente. Não, eu não vou chorar por pessoas que não me fizeram bem, são memórias que ficam melhores enterradas debaixo da cama.

Vasculho mais algumas coisas dentro da caixa, acho um porta-retrato. Meu pai sorria brilhantemente na foto carregando um pequeno bebê nos braços. Reconheço os cabelos onduladinhos da criança. Eu tenho certeza que quem me visse agora não iria saber dizer se eu estou triste ou feliz, nem eu sei. Queria poder dizer com propriedade “eu fico triste ao ver essa foto”, mas por que sou tão relutante em deixar que uma fagulha de afeto escape do ódio que nutro por essa pessoa. Isso facilitaria tanto as coisas. Não tenho ideia do porquê eu guardei essa foto, provavelmente devo gostar de sofrer.

Guardo o porta-retrato junto a camisa que ganhei de minha mãe. Apesar de tudo, acho que eles vão me cobrar que eu tenha guardado algumas memórias deles, por mais que elas pesem mais nas minhas costas que todas essas outras coisas na mala. Surge na caixa, encostado num canto, um pote cheio de conchinhas , todas catadas na praia.

Naquele dia, a areia estava macia, porém tão quente que queimava meus pés. Eu e Isadora andávamos atabalhoadamente rápido para fugirmos da quentura abrasante na sola dos nossos pés. Éramos tão pequenas que me surpreendo ao lembrar de tanto detalhes.

Cheguei perto da areia molhada, levantando um pouco a minha calça para não sujá-la de areia ou molhá-la. Decidi começar ali a minha ingênua busca por conchinhas do mar.

“O que você está fazendo, Tellinha?” A memória da voz embolada, tipicamente infantil da minha irmã é tão vívida na minha mente que posso escutá-la. Consigo visualizar a sua cabeça tombada para o lado e o sol projetando em seus fios castanhos um brilho loiro.

Lembro-me muito bem daquela época. Ainda era pequena demais. “Stellinha” era difícil demais para sua língua, por isso me chamava de “Tellinha”.

“Estou catando conchinhas” respondi.

“Mas elas não são as casas de alguns seres do mar? Você está roubando a casa deles?” Ela reclamou, a ativista ambiental aos 4 anos.

“Não tem mais bichos aqui dentro. Quando as conchas chegam na areia, os bichinhos vão embora” expliquei, com toda a minha autoridade e sabedoria de irmã mais velha não muito mais velha.

As coisas deveriam ter continuado tão simples quanto eram naquela época.

Suspiro em desânimo, eu devia ter me livrado dessas bugigangas logo quando vim para a Coreia do Sul. Tenho que continuar isso logo ou não vou terminar de arrumar tudo até a hora do voo, infelizmente. Tento desviar de mais algumas bugigangas, mas no meio das tralhas que me lembram de quem não quero lembrar, vejo um joia brilhar.

É claro que não é uma joia mesmo, como se eu fosse ter uma coisa dessas. É uma pulseira da amizade muito barata, toda gasta pelo tempo, que  vale muito mais que uma joia. Pelo menos para mim. Não sei se a irmã gêmea dela tem todo esse valor hoje em dia.

Nem faz tanto tempo, mas me sinto nostálgica ao lembrar. Lembro dos seus cabelos lisos e castanhos pendendo de seu coque mal feito. Lembro da pintinha que tem perto do olho esquerdo. Lembro do fantasma de covinha que cismava em aparecer quando ela sorria.

Principalmente, lembro do quão lindo estava o céu naquele dia, por mais que odeie o verão do Rio. O  usual azul queimava em tons de vermelho e laranja. A beleza do céu me encantou naquele fim de tarde. Ainda não tinham recomeçado as brigas. Naquela época, sem saber, eu desfrutava dos meus últimos meses de calmaria. Mesmo assim, não queria chegar em casa tão cedo. Nunca gostei muito daquele lugar, mas naquela tarde em especial eu o odiava. Eu odiava qualquer lugar que não me deixasse ver aquele céu magnífico.

Talvez, se eu simplesmente tivesse voado aquela tarde, riscando o céu junto às gaivotas, se eu fosse um pássaro livre, nada disso tivesse acontecido.

“Teh! Teh!” Bia chamou meu nome de humana, tirando-me dos meus pensamentos fantasiosos.

 “O que foi?” Virei-me em sua direção, tentando engolir toda a sua agitação que transpassou a minha tranquilidade.

“Olha o que eu comprei ontem!” Ela disse mostrando duas pulseiras trançadas com as cores do arco-íris para mim.

“Está apoiando a causa LGBT agora é?!” Satirizei.

“Você sabe que sim.” Ela piscou para mim. “Agora vem aqui me dar um beijo, sua linda!” Bia brincou.

Permiti-me rir um pouco das suas palhaçadas. Naquela época eu ainda estava de bom humor. Tentei desviar de seus beijos lançados no ar, mas acabei sendo pega por cosquinhas.

“Agora, voltando ao assunto, essas são pulseiras da amizade!” Ela se animava ao falar.

“Na verdade, são pulseiras de praia sem significado algum. “

“Estraga-prazeres” Bia me deu a língua. “O significado delas varia de pessoa para pessoa. Agora deixa de ser chata e me dá o seu pulso.”

Retribuí sorrindo e revirando meus olhos para ela. Estendi o meu pulso em sua direção para que ela amarrasse a tal pulseira firmemente no meu pulso.

“A partir de hoje essa pulseira simboliza a nossa amizade” Bia finalizou.

“Não sabia que nós tínhamos uma amizade colorida.” Falei sorrindo com falsa malícia.

“Nossa, Teh, hoje você está querendo mesmo, hein! Quer que eu saia te pegando aqui na frente de todo mundo?”

Lembro que ri tanto desse comentário. Ri tão alto, algo que não faço há muito tempo. Me arrependo tanto de tê-la magoado. A única pessoa que realmente  se importava comigo no Rio e fui machucar logo ela. A outra pulseira já deve ter ido para o lixo faz tempo, ou queimado. Sei lá, eu que eu teria feito no lugar dela. Se eu não tivesse sido tão covarde...

Essa era para ser uma lembrança feliz, mas por que lágrimas transbordam dos meus olhos? Apesar de toda a felicidade daquele dia de sol, seu calor me queima no presente. Quero esquecer a minha culpa, os meus erros, os meus defeitos, todas as coisas que me separaram dela. Quero esquece-la.

Meu coração pesa demais para continuar a arrumar as malas, preciso sentar para descansar. Não quero chorar. Não vou chorar. Isso tudo já está no passado, não há como consertar. Arranco meu violão do apoio e começo a dedilhar uma melodia conhecida por mim desde muito tempo, With Eyes To See And Ears To Hear, do Sleeping With Sirens , na tentativa de afastar memórias que não quero.

True friends lie underneath,

(Os verdadeiros amigos encontram-se por baixo)

These witty words I don't believe

(Dessas palavras espirituosas, eu não acredito)

I can't believe a damn thing they say, anymore

(Eu não consigo acreditar em mais nada do que eles me dizem)

 Lie! Lie! Liar! Liar you'll pay for your sins

(Mentira! Mentira! Mentiroso! Mentiroso, você pagará por seus pecados)

Lie! Lie! Liar! Liar you'll pay for your sins

(Mentira! Mentira! Mentiroso! Mentiroso, você pagará por seus pecados)

So, tell me how does it feel,

(Então, me diga como é)

How does it feel to be like you?

(Como é ser como você?)

I think your mouth should be quiet

(Eu acho que a sua boca deveria ficar calada)

Cause it never tells the truth

(Porque ela nunca diz a verdade)

Seria um pouco reconfortante se a letra fosse um indireta para alguém que não fosse eu. Me sentiria bem melhor sem toda essa culpa. Mesmo com todo o meu esforço, meu rosto continua molhado de lágrimas quando dois braços me envolvem.

— Por que choras, pequena gafanhoto? – Jazzie diz em um tom sereno, afagando a minha cabeça. Nem ouvi quando elas chegaram.

— Muitas memórias felizes que eu preferia não lembrar. – Falo forçando um sorriso por entre os filetes de lágrimas.

— E por que você gostaria de esquecê-las, Teh? – Chae pergunta.

— Porque elas não me fazem bem. É como se elas quisessem destruir o que eu lutei para odiar. Elas me lembram de erros meus quando tudo o que eu quero é por a culpa nos outros. Eu sei que é errado, mas seus ombros não doem quando você aponta para outra pessoa. Não aguento lembrar de tudo o que eu perdi, não por causa dos outros, mas por mim mesma. Dói demais, eu poderia ter tudo isso se não fosse pela minha covardia... – Tenho tanto para falar, mas o soluço vem antes. Todas as minhas palavras ficam presas na garganta.

Chae me abraça também. Os dois pares de braços que me rodeiam me apertam com uma força escondida em sua magreza. Tento retribuir, mas no momento não tenho essa força toda. As palavras tão dolorosas continuam voltando a minha boca tão insistentemente que acabo vomitando-as:

— Eu não quero ir! Estou morrendo de medo! Eu não sei o que vai ser, quem vou encontrar, que palavras vou ouvir! Eu estou com muito medo!

— Mas você escolheu ir nessa viagem por algum motivo, não? – Chae sussurra suavemente, contrastando com meus gritos. – Lembre-se dele. Você é mais forte que tudo isso.

— Já não tenho certeza. A verdade é que tenho medo só vê-lo de novo num caixão.

— Quem? – Jazzie pergunta, assustada.

— Meu pai. Ele está no hospital, lembra? A situação dele só piora. Apesar de tudo o que ele fez, eu ainda volto. Nunca disse isso antes, nem para mim mesma, mas uma parte de mm ainda o ama. Tenho muita, muita vergonha disso... Queria poder simplesmente cortar esses laços, me desfazer de tudo isso que me persegue todos os dias. Mas eu não consigo! Merda, eu não consigo! Tudo culpa desse maldito sangue! Esse maldito sangue que nós compartilhamos! EU SÓ QUERIA SER FELIZ! Eu só queria... – As lágrimas me interrompem.

Ainda tento entender o que acabei de falar. Só disse o que vinha a minha mente, sem nem filtrar. Palavras são tão mais assustadoras que pensamentos... Elas são reais... Nunca, em toda a minha vida, eu desejei tanto para estar errada! Eu sempre estive errada o tempo todo, por que não poderia continuar os odiando? Eu não fiz nada de errado! Eu só... nasci desse jeito. Por que eles não conseguem entender isso? Afinal, querendo ou não querendo, foram eles que me fizeram! É por culpa deles que eu nasci assim! Por que eu não posso simplesmente odiá-los se os únicos que erraram foram eles? Por que essa merda de amor ainda tem que me prender a eles? Não é amor... é só sangue.

Talvez assim seja menos doloroso de pensar.

— Stella... – Assusto-me ao ouvir meu nome completo ser chamado por Jazzie. Fiquei tão presa aos meus problemas que nem ouvi que Chae havia começado a chorar junto comigo. – Por mais que você odeie essa palavra, nós somos uma família. Não somos ligadas por esse sangue que te prende, mas por nossos corações.

— Nossa,  que clichê. – Meu riso sai abafado entre meus soluços e o calor das duas.

— Eu sei. – Ela responde com um sorriso de lado. – Mas não consigo pensar em outra maneira de falar isso. Foi mal, não sou tão boa com as palavras quanto você. O que eu quero é que você entenda que nós estamos aqui por você. Sua tristeza é a nossa tristeza. Por isso, quando precisar, liga para a gente. Ou manda mensagem, sei lá. Nós vamos responder na hora. Pode ligar até de madrugada! Você sabe que a gente não dorme tão cedo!

Na verdade, elas dormem como uma pedra quando chegam do treino, mas prefiro não dizer nada para não estragar o momento. Elas são as melhores amigas que alguém poderia ter. Ou melhor, família.

— Então, vai lavar o rosto antes que seu avô chegue para te levar ao aeroporto! O velhinho não vai quere te ver desse jeito!

Realmente, Jazzie está certa.

Lavo meu rosto e ajeito novamente meu cabelo. Passo os próximos minutos ouvindo-as tentando me consolar ou sei lá. Só sei que ri demais quando não deveria rir. Stella, para! Essa era para ser uma conversa séria e emocionante! Pare de rir!

Não preciso nem dizer que não adiantou. Afinal, elas começaram a rir também! Mas não durou muito. Logo a campainha toca.

Como esperado, é o meu avô, em suas roupas humildes. Apesar de não ter muito dinheiro, ele sempre se esforçou para dar o melhor para mim. Seu sonho sempre foi ter uma neta, por isso pegava no pé da minha mãe para ela me ensinar a falar coreano em casa. Foi útil no fim das contas. Ele só um senhorzinho já bem idoso, nunca sei se essa será a última vez que irei encontrá-lo. Por isso faço todas as vezes valerem a pena. Afinal, ele foi quem me acolheu quando soube que eu não era feliz em casa e foi o primeiro a acreditar no meu sonho de fazer música, mais até do que eu.

Despeço-me de Jazzie e Chae com um abraço longo e apertado. Não quero largá-las.

— Para que isso tudo? – Jazzie brinca. – Não é como se nós não fôssemos nos ver nunca mais! Mais alguns dias e você já tem que nos aturar de novo!

— Eu sei. – Dessa vez, não brinco. – Eu amo muito vocês duas.

Meu avô me dá o tempo necessário para criar coragem para ir ao aeroporto. Antes de sair, ponho o sobretudo do Taehyung sobre os ombros para me dar coragem. Não preciso temer com amigos desses.

Não pegamos engarrafamento na ida, já que está bem tarde. Não preciso perder tempo com check-in porque só tenho uma bagagem de mão, o que torna o processo bem mais rápido do que eu gostaria. Só falta ir para os portões... Quando estou quase indo para a fila, meu avô segura meu pulso. A partir daqui, teremos que nos separar.

— Stella, minha querida. – Ele pronuncia meu nome com um sotaque puxado misturado ao seu jeito antigo de falar. É fofo. – Desculpe por não poder te ajudar mais. Desculpe por ter criado mal a minha filha  e por isso ela ter virado uma mãe tão ruim para você. Acima de tudo, eu só quero que você seja feliz, tá? Posso já estar com um pé na cova, mas ainda consigo me virar. Tudo o que você precisar de ajuda, não se sinta acanhada em falar comigo. Eu te amo de mais, Stella. Eu só quero que você cresça feliz.

Observo para suas roupas gastas, um pouco furadas. Seu corpo magro, cansado de tanto viver. A rugas debaixo dos olhos, mas, principalmente, o sorriso que ainda se mantém no seu rosto apesar dos músculos cansados.

Apesar de ser tão humilde, ele sempre eu tudo para mim. Não estou no direito de receber mais nada dele. Ele é o único orgulho que sinto ao saber que seu sangue corre em minhas veias. Puxo-o para perto com cuidado, como se ele pudesse quebrar a um toque descuidado, e o abraço.

— Eu te amo demais, vovô. Minha felicidade é a sua.

— Oh, querida, não precisa se importar com um velhinho já morto como eu. Ao contrário de mim, você ainda tem muita vida pela frente. Quero que você seja muito mais feliz do que eu já fui.

— Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo. Eu te amo.

— Obrigado. Mas calma que eu ainda tenho um presente para você!

— Não precisava...

— Precisava sim! Eu perguntei para aquelas suas amigas e comprei isso. Como é o nome mesmo? Ah, é! Headphone! Elas me disseram que esse é o melhor!

Ele tira de sua mochilinha uma caixa grande. É o headphone que eu sonhava em comprar, de fato. É da melhor qualidade. Só que ele é tão caro que nunca pude.

— Não posso aceitar.

— Nem venha com essas palhaçadas de não aceitar! Comprei só para você, se não aceitar, vira lixo! Eu sei que você gosta desses trecos de música! Toma logo isso! Vai fazer desfeita com o presente que eu dei tanto duro para comprar.

— Obrigada. - Finalmente, aceito o presente. – Eu te amo demais.

— Eu sei. Agora vai, não quero te atrasar para o seu voo.

Tento seguir em frente, mas quero voltar a cada passo. Lá está ele, sempre que me viro, encorajando-me para ir. Quando não posso mais voltar atrás por causa da impaciência das pessoas na fila, finalmente atravesso o controle de segurança. Demorei tanto que meu voo começou a chamar, “última chamada para o voo 1713 com destino a Dubai e conexão no Rio de Janeiro”. Só me resta ir para o avião.

É, chegou a hora.

Até mais, Coreia!


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Notas finais do capítulo

Votação encerrada!

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