Em seus olhos escrita por Hawtrey


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi oi gente! Primeiro: mil desculpas pela demora :3. Segundo: desculpa por não ter respondido os comentários, eu sempre respondo quando posto o novo capítulo, mas dessa vez esqueci.
Espero que gostem desse!



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Estava andando de um lado para o outro a pelo menos cinco minutos, nervosa, temerosa. Uma carta estava em uma de suas mãos, completamente amassada. Lágrimas ameaçaram cair ao se lembras dela. Mas não iria chorar, nem mesmo de raiva. Parou subitamente e respirou fundo, precisa permanecer calma. Inexpressível. Indecifrável. Mas tudo estava mais difícil que um monte de crianças a fitando, confusas.

― Droga! ― praguejou baixo.

Tinha acabado de receber a carta, Voldemort fizera questão de usar um método trouxa para deixar a situação bem clara. Amber não compreendia porque ele decidira ameaçar pessoas inocentes para garantir que ela cumprisse a maldita missão. O Lord das Trevas sempre demonstrava uma cega confiança em relação a ela, acreditava em sua lealdade, seu potencial e em sua insensibilidade, afinal, ele a criara assim. Por que justamente agora ele achou necessário ameaçar mesmo sabendo que ela fora treinada para não ceder a nenhuma?

Era um truque, um jogo onde Voldemort era o expert e Amber a novata sem jeito. A ruiva não sabia o que fazer. Como deveria prosseguir? Não queria ser responsável pela morte de ninguém, não queria ajudar a alimentar uma guerra, não queria trair ninguém, não queria estar ao lado de quem nem tinha o trabalho de ser sincero com ela, não queria carregar uma maldita marca no braço e principalmente: não queria ser filha de Lord Voldemort!

O que deveria fazer, afinal?

Bufou e amassou ainda mais a carta, queimando-a em seguida sem se importar com o olhar assustado das crianças que faziam companhia a ela. Provavelmente não tinha outra escolha senão respondê-la mais tarde.

Um dos lados da porta do salão principal se abriu, revelando uma mulher de idade com expressões severas e roupas dignas de uma bruxa poderosa. Amber procurou esconder tudo o que estava sentindo e fitou a professora McGonagall.

― Professora?

― Podem vim crianças ― chamou a professora ― Senhorita Evans, venha. A seleção já irá começar.

Quando as portas se abriram ela não conseguiu reparar no famoso Salão Principal. Apenas notou como todos a fitavam e logo escutou os murmúrios se espalhando. Sentiu vontade azarar cada um deles, mas se limitou a revirar os olhos. Ninguém notava que havia outras crianças com ela?

Procurou por Harry, Rony e Hermione e os encontrou, obviamente, na mesa da Grifinória, bem ao lado de onde estava passando. Eles também sussurravam, mas não com os outros e sim entre eles mesmos. Olhou em volta e encontrou a mesa dos professores bem a sua frente, Dumbledore esboçava um sorriso sereno como se tudo estivesse bem e Snape parecia uma estátua: pálido, inexpressivo, paralisado. Amber começava a desconfiar que ele era pálido naturalmente e não somente sob o efeito de um susto.

Não olhou para os outros professores, a reação deles não a interessava. Mas deviam estar como todos os outros do salão: surpresos e presos nos sussurros.

― Será a primeira ― McGonagall sussurrou para ela antes de afastar e segurar o Chapéu Seletor alguns metros acima do banco.

Nem nisso Amber tinha reparado. E havia um chapéu com olhos e boca bem a sua frente.

― Quando eu chamar seus nomes, sentem no banco e eu colocarei o Chapéu Seletor sobre suas cabeças ― a professora anunciou fazendo todos se calaram. Um pergaminho surgiu em sua mão desocupada, provavelmente com os nomes dos novatos, mas ela já sabia quem seria a primeira ― Amber Evans.

O salão voltou a mergulhar nos murmúrios nem tão baixos dessa vez. Parecia que todos ali sabiam perfeitamente quem era Lilian Potter e faziam suas próprias comparações. Amber manteve a cabeça erguida e ignorou tudo até chegar ao banco. Quando o chapéu tocou sua cabeça, todos voltaram a se calar.

Por um momento houve apenas o silêncio, fazendo Amber pensar que nada sairia do velho chapéu.

Grifinória? O Chapéu questionou em sua mente. Mas Amber tentou manter até a própria mente calada. Não iria sugerir nada. Não iria sugerir nada.

― Que pena... ― o Chapéu lamentou, dessa vez para que todos ouvissem.

E ali Amber já descobriu sua casa.

― Sonserina!

Ouviu muitos arquejarem pela surpresa e os murmúrios voltarem. Agora havia uma Evans na Sonserina.

Fechou os olhos desanimada quando McGonagall retirou o chapéu de sua cabeça. Só havia uma coisa a fazer agora. Levantou-se e virou-se parar encarar Dumbledore.

― Posso me sentar com os grifinórios?

Ouviu exclamações e o barulho aumentar.

― Por que, senhorita Evans? ― questionou Dumbledore fazendo sua voz se sobrepor às outras.

― Tenho amigos lá e não sei se me darei muito bem na mesa da Sonserina ― ela lançou um olhar fingindo a temeroso para a mesa das cobras onde muitos a olhavam com nojo.

― Hoje não, minha cara ― negou Dumbledore surpreendendo-a ― Podemos conversar sobre isso outro dia. Até lá, dê uma chance para os seus novos colegas de casa.

Ela concordou ainda surpresa e virou-se para sentar na mesa da Sonserina. Ele havia negado, Dumbledore havia mesmo negado o seu pedido sem pensar duas vezes. Onde estava a maldita sorte de mais cedo?

A seleção prosseguiu normalmente, mas assim que Amber sentou, notou os olhares maldosos direcionados a ela, e tudo piorou quando o jantar foi servido. Estava sentada entre Draco que apenas a lançara um olhar indecifrável e um garoto moreno que nem se deu ao trabalho de olhá-la. Encontrou o olhar do trio sobre ela e esboçou um sorriso mínimo, recebendo três bem maiores de volta. Infelizmente alguém mais notou.

― Tinha que ser amiguinha do Santo Potter ― debochou a garota que estava a sua frente.

― Pansy, por favor ― Draco repreendeu impaciente.

Amber decidiu ignorar e começar a se servir. No entanto, os Sonserinos estavam determinados a fazer o pior de sua vida.

― O que pensa que está fazendo? ― guinchou uma loira sentada ao lado de Pansy, a garota rapidamente arrancou o prato das mãos de Amber ― Não, não. Você não vai comer na nossa mesa depois daquela cena patética com o diretor.

A ruiva franziu o cenho, descrente.

― Está falando sério?

Mas a loira desconhecida apenas fingiu que Amber não existia.

Como isso era possível? Como tudo estava indo contra ela de uma hora para outra? Seu estomago resmungou de fome porque engolira uma simples maça naquele dia e não podia comer absolutamente nada porque todos na sua casa a odiavam. Tinha como piorar?

Encarou a comida aparentemente deliciosa que estava bem a sua frente e se imaginou quebrando o pescoço daquelas duas garotas com as próprias mãos e quando o cheiro invadiu seu nariz imaginou tudo mais lento e doloroso para elas. Bufou e em seguida se levantou. Não ficaria ali nem mais um minuto.

***

O Salão Comunal da Sonserina era tão frio e sombrio quanto o resto das masmorras, o que não a surpreendeu. A única coisa que a surpreendera ali foi o fato de não ter precisado de uma senha, a parede literalmente abriu passagem para ela. Novamente ela não fez questão de guardar detalhes, simplesmente passou direto para o que imaginou ser o dormitório feminino. Abriu a porta e notou que estava no lugar errado ao encontrar uma cueca jogada perto de uma das camas. Deu meia volta e praticamente se jogou para dentro do outro dormitório.

Suas coisas já estavam arrumadas ao lado de uma das camas, tudo o que estava em cima da cadeira tinha a cor ou o brasão da Sonserina. Respirou fundo. Não poderia ser tão ruim. Passara a vida inteira a mercê de Voldemort e ainda estava ali, viva. Não seria uma simples casa que a derrubaria. Daria um jeito para comer, invadiria a cozinha se fosse necessário. Não precisava ter apoio de seus colegas Sonserinos, querendo ou não, Draco estaria ao seu lado mesmo que fosse por ordem de seu pai.

Amber sempre encontrava um jeito de superar e não iria falhar justo nisso agora.

Retirou a capa de Hogwarts e já estava à procura de um pergaminho quando escutou um barulho da janela. Uma coruja marrom bicava o vidro tentando entrar. Revirou os olhos, agora ela sabia que uma pessoa em especial estava gostando de enviar cartas. Agarrou a carta e deixou a coruja onde estava, sabendo que ela esperaria uma resposta.

"Querida Amber."

Ela franziu o cenho, confusa. Aquele tratamento parecia intimo demais para os dois.

"Como foi sua seleção? Sonserina, eu espero. O filho dos Malfoy permaneceu do seu lado como ordenei? E Snape foi gentil com você? Eu dei ordens claras para que ele cuidasse de você durante a missão. Espero suas notícias sobre Hogwarts.

Papai."

Virou a carta só para ter certeza de que não era uma brincadeira. Mas de quem seria se quase ninguém tinha conhecimento para escrever aquelas palavras? Sua intuição se remexeu inquieta. Havia algo errado ali. Voldemort nunca a tratou tão informalmente e não começaria a fazê-lo em uma carta. E como assim ele ordenou que Snape cuidasse dela? Se aquilo era mesmo uma carta do seu pai então ela tinha certeza de duas coisas: Voldemort era completamente bipolar e com certeza estava aprontando alguma coisa.

Rapidamente encontrou outro pergaminho e se apressou em responder, tentando soar o mais “filha de Voldemort” que conseguira:

Pai, não entendi sua penúltima carta. Sabe que eu não me importo com ameaças e não me curvo a elas, o senhor mesmo me criou assim. Então por que? Eu não preciso disso como motivação para cumprir minha missão. Eu a cumprirei como fiz com todas as outras ordens que o senhor já me deu. E como espera que Snape cumpra sua ordem com perfeição se nem ao menos contou a ele quem eu sou? Pensei que ele fosse seu mais fiel seguidor e acredito que ele se sentirá bem mais motivado se souber a verdade, espero que me dê autorização para contar a ele.

"Como o esperado eu estou na Sonserina, no dormitório nesse momento. Já pode imaginar o quanto os Sonserinos estão me odiando depois da cena que eu fiz com Dumbledore. Quanto a Draco, decidimos começar com essa amizade devagar, conclui que será meio confuso ser amigo de Malfoy e Potter ao mesmo tempo, parece que há uma rivalidade bem maior entre as casas como o senhor já deve saber. Já consegui a amizade de Potter, não foi tão difícil, usei a Granger como porta de entrada, achei que seria mais fácil começar pelo coração mais aberto.

Espero suas novas ordens.

P.S. Por que está usando métodos trouxas de comunicação? Sempre entrou na minha mente para passar mensagens.

Amber."

Fim. Não havia nada demonstrando preocupação, nem curiosidade. Aquela última frase o faria ter certeza de que ainda era a mesma garota que ele criara. Porém, achou melhor ser sincera quanto ao Trio de Ouro, temia que ele soubesse por outras pessoas e isso não seria bom. Mas só por garantia, enfeitiçou o pergaminho para que queimasse assim que Voldemort terminasse de ler, ele acharia que era apenas um truque dela para que a carta não caísse em mãos erradas, mas na verdade Amber estava cuidando para que ele não usasse a carta contra ela. Em algum momento contaria a verdade para os seus novos amigos e não gostaria que seu pai fosse mais rápido.

Entregou sua resposta para a coruja e a observou indo embora. Ainda não tinha certeza sobre o que deveria fazer, o plano já estava indo bem a partir do momento em que se tornara amiga de Potter e entrara para a Sonserina, mas ainda procurava uma saída, alguma que não a obrigasse a ficar do lado de Voldemort.

Não dormira aquela noite, apenas fechara as cortinas de sua cama e escutou todas garotas entrarem e se arrumarem para dormir. Passou a noite inteira sentada, agarrando as próprias pernas e praguejando a própria mente. Nenhuma ideia útil lhe surgia. A melhor que tivera foi sair correndo, contar tudo a Dumbledore e depois se jogar de alguma das torres, pois sabia que o castigo que Voldemort guardava para ela seria bem pior do que a morte. Mas o que contaria a Dumbledore? Que era uma espiã? Não sabia nenhum plano completo, nem o nome de todos os seguidores. Nada do que poderia dizer seria útil, portanto, morreria em vão. E a essa ideia não lhe agradava em nada, não depois de tudo o que passou.

Um pouco antes do sol nascer ela se levantou, tomando cuidado para não acordar ninguém. Havia uma coruja na janela, com mais uma carta.

"Querida Amber, não contei nada a Snape porque achei que você fosse querer assim, ele pode trata-la de forma diferente por ser minha filha e você pode não gostar de tal atenção. Mas caso queira contar, tem a minha autorização. Estou orgulhoso do seu progresso, rápido e direto. Espero que continue assim. Eu já esperava por essa reação dos alunos e quero se aproveite dela. Quero que mostre aos alunos de Hogwarts o quão fraca pode ser, seja uma típica garota que foi lançada para a casa errada. Faça eles sentirem pena. Acho que alguns dias de insônia e com menos comida farão de você a nova protegida de Potter e Dumbledore. Quero que se empenhe nisso, você é a minha principal arma contra eles.

A doce e frágil Amber se tornando o pesadelo deles.

Treine sempre que possível e não se preocupe com sua força vital, obviamente não quero que morra por questões tão fúteis, mas reconheço que seu corpo humano pode sofrer com a falta de cuidados como qualquer outro, então ordenei e Snape que lhe entregue pelo menos duas poções fortalecedoras por semana.

Sempre que sua marca queimar é um aviso: deve voltar para a Mansão imediatamente depois de senti-la. Consiga uma forma de sair e entrar em Hogwarts sem ser notada, obviamente. Poderia pedir ajuda a Snape, mas soube que Dumbledore está mantendo-o ocupado.

P.S. Não estou invadindo sua mente para não deixar rastros caso Dumbledore consiga penetrá-la. E estou gostando desse método trouxa, há anos eu não escrevia. Sinta-se especial.

Papai."

Sinta-se especial. A frase ecoou em sua mente como uma maldição, um alerta, fazendo-a ter, pela primeira vez, total certeza de que Voldemort era seu pai. Não pelo significado daquelas exatas palavras e sim por lhe alertar sobre as mudanças. Naquela carta novamente não havia palavras de um Voldemort que conhecia e sim de um que tentava soar como um pai, forçava-se a isso. Duas opções surgiram em sua mente: ou ele enlouquecera e decidira bancar o pai bondoso depois de quinze anos ou estava aprontando. A última opção era mais provável, mas a primeira a preocupava, porque a jogava em um caminho desconhecido e maluco onde o Lord das Trevas realmente se importava com ela e àquela altura era o que menos queria.

Sendo a primeira a se levantar, apressou-se para ser também a primeira a sair dali. Imaginou como seria dali em diante. Claramente devia continuar obedecendo as ordens de Voldemort e o mesmo não ter, em sua última carta, comentado sobre as ameaças que fizera significava que ainda estavam de pé. Ela alegando lealdade ou não, ele queria garantias.

O uniforme da Sonserina não lhe caiu bem, era o mesmo que usara no dia anterior, apenas adicionaram o brasão e as cores da casa, mas por algum motivo ela sentiu que o verde da roupa não combinava com o vermelho dos seus cabelos. Sem outra escolha parou em frente a porta do Salão Principal, ainda estava fechada. Era cedo demais para o café da manhã. Para onde iria?

Deu meia volta e foi procurar a cozinha. Não demorou muito, mas quando já ia aceitando o prato de um elfo, lembrou-se das ordens de Voldemort: comer menos, sofrer mais. Revirou os olhos. Achava tudo aquilo ridículo, não queria demonstrar fraqueza alguma, não queria a pena de ninguém. Bufou e aceitou apenas uma maça concluindo que até demonstrar fraqueza seria difícil, estava acostumada a lidar com a fome e a ficar noites sem dormir, fazia parte do seu treinamento. Não era fácil, mas ficar sem comer ou dormir não daria um efeito tão rápido em seu corpo como nos das outras pessoas, infelizmente.

Mas ela já passara um dia inteiro com um pouco mais que uma maça, mais do que isso e poderia não aguentar até a terceira aula.

Então bateu a porta de Snape assim que o sol nasceu.

― Senhorita Evans, o que faz acordada tão cedo? ― ele questionou ao abrir a porta.

Snape já estava pronto e parecia ter acordado bem antes que ela.

― Imagino que já tenha a poção ― ela concluiu ignorando a pergunta dele.

Não era preciso explicar mais nada.

― Entre.

Ele deu às costas enquanto Amber entrava e fechava a porta. O professor vasculhou um dos armários do seu escritório até encontrar o que procurava.

― Esse é o seu café da manhã? ― questionou arqueando uma sobrancelha ao se aproximar e notando a maça na mão dela.

― É por isso que preciso disso ― ela respondeu apontando para a poção na mão dele.

― O que comeu ontem?

Em resposta Amber apenas ergueu a maça até a altura da cabeça, fitando-o impaciente.

― Não vi você comendo nada no jantar. Está tentando se matar, senhorita Evans?

Ela o fitou descrente:

― Professor, caso ainda não tenha notado, estou cumprindo ordens. E eu não vou morrer, porque o trabalho disto ― ela arrancou o frasco de poção da mão dele ― É me manter de pé pelo tempo que for necessário.

― A poção não manterá você viva com o estômago vazio ― Snape retorquiu seco.

― É para isso que as frutas servem, são ótimas fontes de vitaminas, sabia? ― ela devolveu sarcástica.

Qual era o problema de Snape? Estava preocupado ou o quê? Ambos estavam na mesma situação: cumprindo ordens de Voldemort. Então por que tanto questionamento? O espião duplo era ele!

― Mais alguma coisa?

― Não. Venha buscar uma poção toda segunda e quarta antes do café ― avisou em tom sério ― Pode ir.

― Não posso simplesmente pegar as duas poções em um único dia?

― Não quero minhas poções espalhadas por aí, senhorita Evans ― Snape esclareceu entre dentes.

Ela lançou um olhar irritado a ele e bufou, virando-se para ir embora em seguida.

Era isso que a fome lhe causava: mau-humor.

***

― Oi, Amber ― Harry saudou animado quando a mesma se sentou ao seu lado.

― Oi ― foi só o que ela respondeu sem encará-lo.

― O que aconteceu? ― o moreno questionou perdendo o sorriso.

― Snape.

Achou que aquela era uma resposta suficientemente explicativa para tudo o que se passava em sua mente agora. Por que além de Snape ter conseguido acordar seu mau-humor, as três primeiras aulas da terça-feira eram de Poções. Pelo menos as dividiria com a Grifinória.

E parecia que Harry compartilhava da mesma raiva.

― Ah... entendo. Snape tem mesmo a capacidade de acabar com a calma de qualquer um.

Amber apenas acenou a cabeça enquanto arrumava suas coisas sobre a bancada.

― Não vi você no salão principal hoje, onde estava? ― ele questionou subitamente.

― Os Sonserinos não me deixam comer na mesa depois daquela cena que eu fiz com Dumbledore ― ela explicou pacientemente ― E eu não consegui chegar antes deles.

― Por que não avisou ao Dumbledore ou conversou com a gente? ― Harry parecia indignado ― Eles não podem fazer isso!

― Harry, calma. Não tem importância, sério ― Amber insistiu e tentou convencê-lo ― Sempre que eu sentir fome, roubarei algo da cozinha.

― Tem certeza? Podemos ir na sala do diretor depois e pedir de novo para você sentar com a gente na mesa da Grifinória.

― É o meu primeiro dia, não quero criar mais confusão e fazer as cobras me odiarem ainda mais. Lembre-se que eu divido o dormitório com elas.

Ouviu-se um estrondo. Snape havia entrado quase derrubando a porta. Ele ficou de frente para turma e lançou um olhar raivoso a Amber antes de se dirigir aos outros:

― Hoje irão preparar a Poção do Gary, alguém sabe do que estou falando?

Imediatamente a mão de Hermione se levantou, mas Snape simplesmente a ignorou

― Ninguém?

Amber o fuzilou com o olhar e levantou a mão, dizendo:

― Eu, professor.

Já imaginava o que fazer com aquele cabelo se ele a ignorasse, mas infelizmente, ela não foi ignorada dessa vez.

― Senhorita Evans?

― A Poção Gary é conhecida como um antídoto da Amortentia, tem um efeito imediato.

― Exato ― o professor concordou a contragosto ― Tudo o que precisam está no livro. É uma tarefa individual. Os ingredientes estão no armário. Quero dois frascos de cada um em no máximo quarenta minutos. Comecem.

Amber empertigou-se. A poção precisava de pelo menos meia hora para ficar pronta, caso errassem no final seria quase impossível recomeçar. Mas eram quarenta minutos e eram três tempos de aula. O que fariam depois?

Abriu o livro apenas por garantia, ainda lembrava como fazer aquela poção. Levantou-se para pegar os ingredientes.

― Senhorita Evans onde está seu livro? ― questionou Snape arqueando uma das sobrancelhas.

― Na mesa ― ela respondeu sem entender.

― E como vai saber quais são os ingredientes corretos sem atrapalhar os seus colegas com passeios pela sala?

Amber fechou os olhos e pediu a Merlin por calma. Muita calma. E quando voltou a olhar para o professor, exibia um dos seus sorrisos mais falsos.

― Eles irão me olhar somente se quiserem, o foco deles deveria ser a poção ― ela virou-se para o armário e pegou os potes que precisava ― E além do mais, eu sei fazer uma poção simples como essa. E mesmo que não soubesse, sou perfeitamente capaz de lembrar quatro, meros, ingredientes professor.

Snape permaneceu calado enquanto a ruiva voltava para o lugar já com os ingredientes na mão, separando-os em seguida. Amber preencheu o caldeirão com água e começou a fatiar os três fungos de Ditamno que a poção pedia, tomando cuidado para não ficarem muito grandes.

― O que diabus é um Chizácaro? ― sussurrou Harry impaciente ao seu lado.

― É um parasita Harry, é atraído pela magia e infesta os pelos ou penas dos animais mágicos, imagine que é um carrapato, só que maior e com presas ― ela resumiu em um sussurro, logo depois entregando o pote a ele ― Aqui estão os ovos deles que o livro pede. Só pegue quando for colocar no caldeirão, não pode deixar que descongelem.

― A tarefa é individual Evans ― repreendeu Snape sem encará-la.

Harry o ignorou e a fitou surpreso, concordando com um aceno.

Amber despejou os pedaços de fungo no caldeirão e começou a mexer a poção em sentindo horário, quando a mesma começou a atingir um tom vermelho Snape parou a sua frente:

― Está adiantada Evans, vá com mais calma. Não quero que nada exploda na minha aula.

Foi só ele terminar de falar que algo explodiu. Todas as cabeças se viraram para Simas Finnigan que acabara de explodir o próprio caldeirão. O grifinório estava com o rosto e as vestes sujos de um liquido cinza gosmento, o seu parceiro, Dino Thomas, estava parcialmente sujo, mas olhava para o outro com raiva. Finnigan abaixou a cabeça constrangido quando os Sonserinos começaram a rir dele e Snape se aproximou sustentando um olhar letal:

― Será que é incapaz de fazer uma simples poção sem destruir algo senhor Finnigan? ― rosnou ― Menos vinte pontos para Grifinória pela sua total falta de preparo e pela bagunça que fez.

Os grifinórios exclamaram e protestaram audivelmente.

― Querem menos cinquenta pontos? ― ameaçou Snape fazendo-os se calar ― Finnigan, Thomas, saiam da minha sala imediatamente e só voltem quando estiverem devidamente limpos.

Os dois saíram da sala murmurando pragas para Snape suficientes por toda a eternidade enquanto o professor limpava tudo com um aceno de varinha.

― Voltem ao trabalho!

Amber se apressou em aumentar o fogo do seu caldeirão e depositar os ovos de Chizácaro ainda congelados. E esperou.

― Por quanto tempo precisa cozinhar? ― questionou Harry descansando as mãos sobre o balcão.

― Dez minutos.

― Será que é difícil para ambos entenderem que a tarefa é individual e que eu não tolero conversas paralelas? ― ralhou Snape lhes lançando um de seus piores olhares.

Amber apenas revirou os olhos, achando-o infantil e irritante. Quando finalmente os ovos de Chizácaro eclodiram, ela derramou o sangue de salamandra e mexeu no sentindo anti-horário até a poção sair do vermelho para o amarelo. E esperou. Alguns, como Hermione e Draco, estavam tão adiantados quanto ela, mas outros, como Rony, ainda estavam completamente perdidos. Mas todos, em exceção apenas dos Sonserinos, lançavam olhares raivosos na direção de Snape. Amber sorriu e balançou a cabeça, negando a si mesma a graça da situação.

Snape deveria ser o professor mais odiado da história de Hogwarts e justamente ele havia sido escolhido para cuidar dela.

O que mais o destino guardava para ela?


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