Moulin Rouge - O Show Deve Continuar. escrita por Tris Baudelaire


Capítulo 2
Havia um Menino.


Notas iniciais do capítulo

A música título do capítulo ( There Was a Boy, em tradução livre, Havia um Menino) é do David Bowie e foi especialmente composta para o filme. Tem no YouTube pra quem quiser ouvi-la:
http://bit.ly/1LVIRwm

Bom, espero que gostem e me perdoem por qualquer erro.



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There was a boy. A very strange, enchanted boy. They say he wandered very far, very far, over land and sea.
A little shy and sad of eye, but very wise was he.
And then one day, one magic day he passed my way. While we spoke of many things, about Fools and Kings, this he said to me: “The greatest thing you'll ever learn, is just to love and be loved in return”.

[...]

O jovem saltou do trem, tratou de arregaçar as mangas da camisa que vestia e de ajeitar o chapéu que lhe enfeitava a cabeça. Apanhou a mala de couro grosseiro que trazia suas roupas e a maleta lustrosa que portava seu bem mais precioso, a máquina de escrever que ganhara do pai. Acenou para um rapaz esguio de descendência italiana que lhe fizera companhia durante a viagem no Expresso Europeen. Franccesco. Se identificara com o companheiro de vagão, também cheio de sonhos, o italiano viajava para o Sul da França, onde pretendia abrir um restaurante com as receitas e massas da família. Ele o convidara para seu negócio, e ainda lhe rabiscara um endereço em letras garrafais num jornal desatualizado. Dissera que se tratava de um hotel simples e aconchegante, repleto de artistas hospedados e administrado por uma velha boêmia, que mais que tudo, acreditava na revolução. Ele suspirou aliaviado. As coisas estavam dando certo, finalmente.
Atravessou a passos largos a estação e desceu os degraus que o levavam para uma nova etapa de sua vida. A rua era movimentada e cheia de carruagens, ricos e pobres se fundindo numa mistura de classes sociais. Um grupo de jovens garotas se arremeteu no seu caminho, usavando vestidos pomposos e sombrinhas rendadas cobrindo suas cabeças. Lançaram risinhos indiscretos ao garoto e começaram a balançar seus lencinhos para ele. Poseidon, galante como era, sorriu largamente para elas, e desajeitou o cabelo enquanto piscava para as garotas. Por esse motivo, não notou a figura encapuzada que se esgueirava pelas sombras da Basílica de Sacré Cœur¹. Acenou cavalheiramente paras moças e se despediu com um aceno de cabeça, e então, continuou a subir o morro de Montmartre.

Acabou encontrando no caminho todo o tipo de coisa. Passou em frente a uma charcuteria repleta dos mais variados tipos de carnes e especiarias artesanais. Recebeu o sermão de um macabro líder religioso que esbravejava. “Não se deixem enganar pelo demônio” e “Saiam já dessa aldeia do pecado”, dizia o homem com toda sua força. Ele ignorou o olhar acusador do velho e seguiu caminho, se animando ao ver pintores e atores caminhando, rindo e se expressando. Viu prostitutas e charlatões se afundando em bares e enchendo seus canecos de Absinto. Ouviu donos de pensões ofertando quartos em seus prédios decadentes e recitando as qualidades de alugar um quarto no “Centro do Mundo Boêmio”.

Aspirou a mistura de aromas do lugar, uma combinação curiosa de tabaco, solvente, colônia francesa e de declínio. O cheiro da revolução. E sorriu aliviado ao ver havia chegado pousada que lhe fora indicada, e percebeu que não haveria lugar melhor para se hospedar do que a construção de tintura lascada adornada com um letreiro escrito l’amour em um rosa incandescente. Empurrou a porta de madeira e entrou na recepção abafada. O interior era pintado de amarelo e possuía uma infinidade de quadros depravados de mulheres. Uma poltrona encardida estava acomodada e cinzeiros eram vistos por toda a parte. Havia um homem de bigode cômico encenando uma peça de teatro com seu reflexo numa placa de metal. E ao fundo, a velha corpulenta e enrugada, que ele supos ser a dona do local, organizando um molho de chaves, tão entretida em sua atividade que precisou de um pigarreio para notar o rapaz que lhe encarava com expectativa.
—Hum, ahn, será que a Senhora teria um quarto disponível?
—Não me chame de Senhora, rapaz. Não sou casada.—Disse enquanto agitava a mão sem aliança. — E tenho sim. Só preciso do seu nome para o registro.
—Poseidon Montcriff.—Rabiscou o nome dele numa caderneta amarelada e apanhou uma chave.
—É um prazer conhecer você, Poseidon. —Disse a velha com uma piscadela sugestiva e um sorriso banguelo. — Sou Greta. Só peço que não esqueça de fazer bom uso do quarto, querido.
Encabulado, Poseidon apanhou a chave que a Senhora lhe estendera e subiu as escadas.
Ajeitou os poucos pertences na hospedagem singela e se encaminhou para a janela, apreciando a vista—do que o que viria a ser sua perdição—oferecia.
Sentou-se de frente a máquina de escrever e arrumou a fita, esperando a inspiração que faria com que seus sentimentos se traduzissem em palavras. Ele saira de Londres, contrariando tudo que seu pai acreditava, para viver sem dinheiro e escrever sobre a Beleza, Liberdade, Verdade e sobretudo, e todas as causas, o Amor. Poseidon, então, lembrou-se repentinamente das palavras de seu pai, Cronos.
“Sempre essa ridícula obsessão pelo Amor!”.

O que era verdade, aquela era a causa que ele mais acreditava, era tudo o que ele queria. Ainda que nunca tivesse tido muito mais do que o flerte com algumas garotas. Ele daria de tudo para ter amor, para ter alguém por quem pudesse se apaixonar. Como se atendendo aos seus pedidos, um argentino inconsciente despencou de seu teto. Mal sabia ele, que aquele seria o estopim para todas as desventuras que viriam a seguir.

[...]

Horas antes...

Atena apertou as barras do manto de tecido grotesco e remendado. A colcha retalhada era usada, não por falta de recursos, mas sim por ser um apropriado disfarce para o corpo voluptuoso que escondia. Ela sempre andava temerosa pelas ruas de Montmartre, temia que algum daqueles cafajestes inescrupulosos se aproveitasse de seu corpo. Apressou ainda mais o passo quando ouviu o barulho de cascalho se quebrar atrás de si.
Atravessou uma portinhola bem escondida e adentrou o Moulin Rouge. O cheiro de cigarrettes fundido a perfumes agridoces lhe arremeteu, e ela sorriu para as colegas que andavam de um lado ao outro, provando figurinos, ensaiando passos de dança e tagarelando apressadamente sobre o filme que estava sendo exibido no centro da cidade. Ela chacoalhou a cabeça e sorriu, sentindo-se animada ao ver Afrodite. Correu até a ruiva, mostrando-a o pôster que comprara de Sarah Bernhardt². A amiga lhe lançou um olhar cúmplice e perguntou:
—Perdeu a tarde inteira comprando isso?
—Claro que não! —Disse na defensiva. — Fui entregar o dinheiro para Euríale. —Seu tom de repente se tornara triste e seus olhos vagaram perdidos pelo cômodo.
Afrodite, percebendo a mudança, sorriu encorajadora e disse:
—Ei, não fique assim, você vai ser a estrela do espetáculo! As coisas vão mudar, e você será como a Grande Sarah, e não vai precisar mais disso.

Atena sorriu em resposta, sem saber que seria a protagonista da história arrebatadora que viria a seguir.


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Notas finais do capítulo

Basílica de Sacré Cœur¹: http://bit.ly/1iDJlj0

Sarah Bernhardt²: http://bit.ly/1Fuy2oh

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~Bjs



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