Étreser escrita por LittlePercy, Rosalie Potter


Capítulo 2
2. Sou fadado a ficar com a gnomo anão ruiva


Notas iniciais do capítulo

~Percy~
*Desviando de maldições, avada kedavras, socos e travesseiros*
Pois é gente. Depois de taaaantos dias finalmente posto o segundo capítulo. Xô explicar: tia Rose escreveu ( com muita demora) o segundo capítulo. Mandou para eu revisar e acreditem *rufem os tambores* meu computador deu pau. Siiiim, deu pau. Eu já tinha escrito minhas considerações e já ia mandar para a betagem. Mas por causa das festas de fim de ano e essas coisas, não deu. Acabei de revisar o capítulo e aqui está. Uhuuul. Tomara que gostem, escrevemos com muita alegria. E se preparem pro que virá. Hehehehehe.
~Abraço,
Tio Percy



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II                                                                                                    Tyrion

Não havia nada pior do que um maldito teletransporte. Parecia que tudo em você se desfazia em mil pedacinhos e depois se refazia novamente. Era tudo, menos agradável. Pelo menos era rápido porque quando eu abri os olhos novamente estava em outro recinto. Pisquei duas vezes para acertar a visão. “U-a-u”-  pensei. Provavelmente com uma feição estúpida.

A parte que nos recepcionou parecia um local de transição entre o Reino da Água e os outros reinos. Atrás de mim, o gelo ia singelamente dominando os pilares e, abaixo, a vegetação. Parecia destacar-se. Como se não pertencesse àquela terra. A área era toda aberta, limitada apenas por arcos que se assemelhavam a janelas nas bordas, o que abria a visão para a paisagem ao redor.

Ao sul, reluzia uma planície de grandes árvores que se estendiam até onde os olhos podiam alcançar. A leste, colinas azul prateadas que se impunham poderosas. E por fim, a oeste, um lago congelado. Todos similares a minha terra natal.

No centro do salão, tremeluzia o que seria a joia dos mares. Mas a mesma não encontrava-se lá, apenas um vulto, uma aura. Atrás, no extremo da sala, bruxuleava um estandarte com o brasão do Reino de Mistion. Estampava um cristal de gelo ao centro, nuvens acima e ondas abaixo, representando os estados da água.

À cima de nós, em três pontos, formavam-se três formas diferentes, das quais pareciam estátuas, todas com traços femininos, contudo as semelhanças acabavam aí.

A figura do centro, mantinha uma forma neutra, uma expressão serena, como se estivesse avulsa a tudo. Suas vestes pareciam escorrer de seu corpo, como se este fosse uma fonte. Tinha seus cabelos presos a um coque, com uma tiara sobressaltando-se em sua cabeça. E em sua mão, segurava uma balança.

A estátua da direita tinha o semblante fechado. Parecia zangada, como se algo a estivesse irritado por muito tempo. Mantinha-se carrancuda. Ao contrário de sua réplica neutra, esta vestia uma armadura prateada com um cristal de gelo reluzindo em seu cinto. Em sua mão destacava-se uma forma alongada, como uma lança. Sua ponta cintilava.

A esquerda, a forma tinha os olhos amorosos, como se fosse abraçar-me. Tinha uma feição bondosa, quase materna. Os cabelos estavam soltos, permeados por uma trança quase perfeita, Um topázio brilhava em sua testa. Seu vestido era alongado, volumoso, alvo. Em mãos, carregava uma lira.

Sabia muito bem quem era a mulher das estátuas: Arya, protetora de Mistion, rainha das águas, senhora da mudança. Àquela que dominava os três estados da água, que mantinha suas três formas, suas três personalidades.

—- É incrível, não é? –- A voz da minha mãe me tirou dos devaneios e das diversas observações. –- Isso é só o começo. Precisa conhecer o resto da estação. Isso aqui é apenas um dos quatro pontos de convergência. E o centro… –- revirou os olhos dando um suspiro entusiasmado. –- Precisa apenas prestar atenção na riqueza de detalhes.

—- Como se fosse muito difícil. Estão explícitos. Pelo menos aqui.

—-Você não é a pessoa mais esperta pra detalhes, filho. – seu sorriso malicioso indicou o tom brincalhão, mas sabia que não era mentira. Sempre fui um pouco lerdo, uma ameba na verdade. Não sei de onde puxei isso, afinal, minha mãe era muito detalhista e meu pai não chegava ao ponto de ser lerdo.

—- Poxa mãe… Estou deixando o lar e essa é a mensagem de apoio?

—- Poderia ser pior. Além disso… Tenho fé que você voltará para Mistion. –Senti seus lábios pressionados contra a minha testa e já previ que seriam os momentos finais. –Fique bem. Mantenha seus pensamentos na água e volte pra casa. Amo você.

—- Sem lágrimas? –- indaguei. –- Cadê o drama?

—-Oras, eu lá tenho cara de quem vai chorar na sua frente?

—Amo você também mãe. – Mando-lhe um sorriso tremido e a vejo movimentar suas mãos em torno da aura que reluzia embaçada. Fiquei me perguntando que bruxaria era aquela quando seu corpo inteiro tremeu e deixou apenas um brilho arroxeado para trás. Tenho a leve impressão de ela ter falado “se você for para o fogo vou te matar”, mas não tenho certeza. Acho que não. Espero que não. Do jeito que sou azarado acho que consigo mesmo despertar a afinidade para o fogo.

Meus olhos procuraram os detalhes e veio a confirmação de que eu era mesmo lerdo. Não havia percebido até o momento o largo corredor a minha frente, no qual todos os outros adolescentes seguiam.

À medida que ia me aprofundando, via o monopólio do gelo deixando de existir e dando lugar a uma mistura de cores e texturas.

Os pilares eram as mais interessantes. Praticamente uma fusão de todos os reinos. Frestas revelavam um líquido rubro alaranjado que serpenteava da base ao topo. Emanava um certo calor, então decidi ficar longe, mesmo pela sua aparência de estar preso. Heras floridas tangenciavam as bordas cristalinas do mármore, enquanto uma leve brisa circundava a estrutura.

Acima de nós, espirais de madeira embaladas em folhas como parreiras torneavam os arcos que formavam o teto do recinto. O assoalho, por sua vez, compunha-se de uma fina peça de vidro, que se sobrepunha a uma corrente de águas límpidas.

A beleza do lugar era extremamente exuberante. Parecia ter sido construído naturalmente, porém com extrema cautela e precisão. Talvez fosse apenas impressão, mas a paisagem mudava conforme ia chegando perto da saída.

Se não me engano, havia começado com cores tímidas, singelas, acinzentadas. As folhas quase não existiam e as videiras eram secas. Até as correntes de água ao chão pareciam até estar congeladas. Mas seguindo, foram ganhando certas cores. As flores apareceram e o corredor ficou cheio de vida. Mais a frente apareceram frutos como morangos e uvas. O cheiro exalado era sem igual. Por fim, no último estágio, as folhas iam adquirindo cores alaranjadas e ventava moderadamente. Mais simbologia.

Talvez fosse por isso que os brasões dos reinos apareciam de tempos em tempos. No primeiro nível, ao centro de seu comprimento, brilhava o brasão da água em um tom azulado, inscrito no vidro. No segundo, o brasão da terra. Já no terceiro, o brasão do fogo. Por fim, no último, quase na saída, o brasão do ar se projetava prateado, com toda sua glória.

As minúcias chamavam tanta atenção que despertei apenas ao sentir uma pontada de dor no peito. Ao pé de mim, uma garota ruiva olhava para o chão, parecendo estar a procura de algo. Seus cabelos acobreados tapavam-lhe o rosto.

—-Desculpe-me… –- a voz doce e levemente conhecida soou. –-Essas esferas de luz, sabe como é? –uma das mãos pequenas foi estendida pra mim num gesto de cumprimento enquanto a outra tirava os fios espirais da face.

Então o reconhecimento pareceu ter batido em ambos.

Seus olhos acinzentados brilharam de forma fulminante.

— Ah, claro, tinha que ser você, Tyrion. – falou, áspera.

—Feliz em ver-lhe também Athena. – percebi que a mão antes estendida já pendia ao lado de seu corpo. Não a reconheci em primeiro momento. Pudera, a garota mudara demais em apenas um ano. Da última vez que a vira, ela tinha os cabelos ruivos acobreados até quase o quadril e o corpo era tão liso que parecia ter sido passado um rolo compressor. Agora os cabelos estavam na altura da nuca e com belas ondas. O corpo adquiriu curvas.

Duas coisas não tinham mudado: ela continuava tão pequena quanto antes e… Os olhos… Os olhos eram os mesmos. Tão perturbadores quanto antes. Acinzentados, pareciam uma tempestade.

Athena Mercer era aquela inimiga que todos temos enquanto adolescentes. Não sei dizer quando ou como isso começou. Desde que eu me lembro nós competíamos em tudo. Cada matéria, cada jogo, cada esporte. Competíamos até nos olhares, naquela competição besta “meu olhar é mais ‘fuderoso’ que o seu”. Bobagem minha tentar competir com aquela anã alaranjada. Geralmente ela ganhava, mas quando eu o fazia, era memorável porque eu sempre a vencia em coisas grandes.

Vejo algo brilhar cerca de meu pé. Era a esfera de luz que provavelmente ela estava se referindo. Abaixei-me e peguei-a. Levemente tentado à erguer a mão e vê-la dando pulinhos para tentar pegar ou simplesmente me batendo. Não o fiz. Apenas estendi a mão enquanto a ruiva observava-me como caso aceitasse, sua mão queimaria ou algo do tipo. Mas no fim apenas recuperou o objeto e saiu andando. Até o jeito de ela andar me irritava, parecia que o fazia em nuvens.

Não obstante, um assovio ruidoso soa por trás de mim. Ao me deparar com a figura escandalosa, avisto um garoto um pouco mais alto que eu, de olhos verdes felinos e cabelos castanhos. Os cabelos estavam arrepiados e os olhos tinham um brilho estranho, principalmente enquanto seguiam Athena sem disfarçar. O sorriso de canto também parecia estar ali a tempos.

— O que foi? Ela é gata, cara. Você é um maldito sortudo.

—Ela não é… Esquece. –Bufei. Confundiam tanto a mim e Athena que eu já tinha desistido de corrigir fazia dois anos e ela também. Nunca vou entender porque as pessoas nos associam a um relacionamento amoroso porque era completamente o contrário, mas vai entender.

Já tínhamos chegado ao salão principal. O lugar tinha proporções monstruosas. Era relativamente semelhante a estação de Mistion, porém cinco vezes maior. A arquitetura mantinha o mesmo padrão, porém com detalhes distintos. A simbologia lá era gritante. Todos os reinos se fundiam em uma diversidade inimaginável.

Mais pessoas chegavam a cada instante e logo se notava que eram todas dos quatro reinos. Algumas já tinham seus amigos, mas a maioria estava como eu, apenas observando e esperando que algo acontecesse. Aliás, algo que logo estava acontecendo.

O ar movimentava-se cada vez mais. Mais frequente, veloz e intenso. Um brilho argênteo ofuscou o lugar, e um minifuracão surgia. Os olhares, entediados até então, passaram a ser curiosos e assutados. No centro da movimentação, desdobrava-se uma mulher adulta, bonita por sinal.

Seus cabelos eram cacheados, indo até a cintura soltos, movimentavam-se de forma extremamente bela, mas natural. Os olhos eram levemente puxados, cor de avelã. Os cílios longos davam um aspecto inocente. A pele dela era cor de chocolate ao leite e sem nenhuma mácula até onde eu conseguia enxergar.

Dela emanava uma energia intensa, Como se o ar se curvasse a sua vontade. Sua postura era nobre, refinada. Metida até. Não…Aquela não poderia ser…

— Sejam bem-vindos a Stornclace. – a voz soou. Era alta, mas suave como uma brisa. Acho que eu já tinha adivinhado a identidade da bela moça. – Sou Ravenna, guardiã de Alymus. Sei que devem estar confusos e com um pouco de medo, mas fiquem tranquilos. Tudo será explicado. Mas não aqui. Por gentileza me acompanhem, todos vocês. Seguiremos para o palácio de Solace. Acho que vão gostar do lugar. Apenas um palpite. – seu sorriso de canto dizia que não era um palpite. Era uma certeza.

Então alguém levantou a mão na multidão que circundava Ravenna.

—-- Hum, senhora… –-- começou uma voz tímida. –-- Sem querer questioná-la, nem nada, mas como sairemos daqui? O lugar está flutuando e… –-- sua voz foi cortada.

—-- Apenas… –-- abriu outro sorriso, este, por sua vez, malicioso. –-- Tentem não perder a cabeça. Literalmente.

Seu corpo começou a brilhar mais intensamente. Suas mãos moviam-se circularmente, enquanto parecia agitar o vento a nossa volta. Um uma cúpula foi formada. Fomos ajuntados como um rebanho. Cada vez mais, parecíamo-nos envolvidos em mais e mais pressão. O clima parecia tenso. Por fim Ravenna bateu as mãos. O ar das bordas invadiu o grupo, consumindo-nos. Mais uma vez, um maldito brilho tomou minha visão.

 

*********

 

Ela. Nos. Transformou. Em Ar.

Não tinha palavras para aquilo. Já vira pessoas dominando o ar, mas nunca alguém transformando seres em ar. Podíamos ter pegado um burro voador, mas não, Ravenna preferiu o jeito mais difícil. Sim, burros voadores existem. São mais comuns do que pensa.

Ascendemos no leito do lago que circundava o palácio. Ainda estava meio zonzo devido ao pequeno fato de minhas entranhas terem virado vento. Meus colegas pareciam entender-me bem. Eu vira um ou outro colocando o café da manhã para fora perto daquele lugar. Estava quase os acompanhando.

Ravenna deslocou-se em direção à ponte que ligava o castelo à terra firme. Seus passos eram firmes, como se estivesse receosa, mas seu semblante mantinha-se confiante.

Apenas a seguimos. Afinal, não teria outra opção mesmo. O lago tinha águas calmas, sem nenhuma ondulação. Parecia… calmo demais. Estranho demais. Como se o tempo houvesse parado para aquele lugar.

A ponte se estendeu por mais cem metros, até chegamos á fachada do palácio.

O jardim se estendia saindo das vistas, imensamente. O silêncio era mais gritante que qualquer barulho, sepulcral. Até os passos eram dados inconscientemente com cuidado para que nada quebrasse a falta de sons.

Caminhos de mármore se estendiam em meio ao imenso local, nos convidando a seguir, explorar naquela imensidão de cores, formas e cheiros. As flores eram únicas, cada uma delas com sua originalidade. Por conhecimento próprio, sabia que algumas delas reluziam quando a noite caía, mas vendo ali, algumas sequer precisavam da escuridão. Brilhavam chamando a atenção pra si. Outras abusavam de suas formas delicadas e belas para atrair olhares e haviam outras que nos ganhavam pelo aroma. Uma pequenina, branca, que deveria ficar esquecida entre as outras, ganhava toda minha atenção pelo cheiro sedutor.

Colunas do mesmo material que os caminhos se estendiam como se protegessem as delicadas flores e algumas serpenteavam aspiralmente do começo ao fim dos pilares e conforme o caminho era trilhado podíamos ver estátuas esculpidas detalhadamente dos Lordes e Ladys. Tão reais que me assustavam um pouco. Se não fossem a cor e a paralisia de movimentos, poderíamos jurar que eram os próprios

Estávamos de gente à fachada de uma construção colossal. O palácio era extraordinário e emanava grandeza, em todos os sentidos. Eu realmente esperava que não fosse reflexo de seus donos. A construção era do estilo romântico, uma única construção. Havia quatro torres, duas na parte da frente e duas na parte detrás, todas nas laterais. No centro, porém, havia outra torre. Essa, muito maior. Estavam ligadas por corredores abertos, permitindo a visão do pátio principal.

Arabescos dominavam as paredes, com a delicadeza de uma renda e no meio dos detalhes perolados. Mosaicos  contavam a história da guerra que acontecera a muitos anos atrás, provavelmente com um ar romântico e heroico. Víamos também diversas arcadas decoradas de arabescos com os mesmos desenhos. A fachada se estendia numa grande abertura que nos dava acesso ao interior do palácio. Uma escada em forma de leque e em puro mármore nos guiava até lá.

O castelo era um misto de todos os reinos. Àquela altura do campeonato, já não me impressionava com isso. Todavia, o palácio tinha um ar misterioso. Como se um fantasma fosse baixar e dizer: “Cara, melhor você dar um fora daqui.”.  Eu não me sentiria em casa momento algum. E, ainda, desejava com tudo que aqueles próximos trinta dias fossem os mais rápidos  possíveis.

Ravenna entrou nos convidando silenciosamente a acompanhá-la para o interior do castelo. Nós, obviamente, o fizemos.

Finalmente comecei a observar o pátio principal. A primeira coisa que chamava atenção era a planta no meio do local, entrelaçada na torre principal. Ali tínhamos uma grande árvore, de grandes ramificações e cheia de folhas extremamente verdes escuras. O tronco era grosso, de um marrom gritante. Tudo na planta emanava saúde e beleza e eu só imaginava como seria quando ou se desse flores e frutos. O chão também era algo incomum. O piso era de algo transparente de vidro, mas obviamente bem resistente e abaixo dele água corria, como se pisássemos sobre algum mar ou lago. Haviam longas escadarias de mármore branco com corrimões ricamente entalhados que partiam de dentro das torres e  levavam aos outros andares.

Percebi tochas nas laterais do espaço, imaginando que eram acesas quando a noite caía. Ainda, a rica passagem de ar completava o simbolismo dos quatro elementos. Depois minha mãe ainda ousava me acusar de não observar os detalhes.

— A árvore dos tempos fica ainda mais linda no dia da descoberta da afinidade. – a Lady do ar comentou a ver a maioria dos olhos direcionados à planta. Os seus, contudo, aparentemente inocentes, também brilhavam ao ver todos nós ali, embora provavelmente já estivesse acostumada com tais reações. –Enche-se de frutos e flores. Os frutos dela são próprios, assim com ela. São deliciosos, embora o gosto mude de pessoa para pessoa. E só dão no dia da descoberta. Verão o que falo quando o momento chegar. – O sorriso nos lábios naturalmente rosados se abriu com uma animação contagiante. – Agora vamos. Vocês ainda tem muito que ver hoje. Logo vão conhecer meus irmãos.

A crescente felicidade em Ravenna me fez sentir mais otimista, apesar de ainda sentir que aquele não era o meu lugar.

Por fim, adentramos a torre principal. Tão grandiosa quanto o próprio castelo.

A senhora do ar nos guiou pelos imensos corredores da torre. Nossos passos, dessa vez, ousavam ecoar por dentre o silêncio arrepiante. Afinal, parou diante de uma porta que, magicamente, se abriu diante de nossos olhos. Demos de cara com um enorme salão. Destaque a palavra “enorme”. As poltronas negras se estendiam como num imenso teatro, indicando para um grande palco.

— Acomodem-se, tem espaço para todos, eu lhes garanto. – Ravenna pediu e todos o fizemos. Ocupei uma das fileiras de cima, no canto onde poderia passar despercebido, mas poderia perceber tudo o que desejasse.

—Péssimo lugar, quase não te percebo aqui. –Uma voz ligeiramente aguda e infantil soou e sorri a ver Alice. Levanto-me no mesmo momento a puxando para um abraço de urso. Era extremamente bom ver uma figura familiar, principalmente a minha melhor amiga.–Pelos céus Tyrion, minhas costelas não tem culpa se você sente minha falta.

—Desculpa. – sento-me com a loira ao meu lado sem conseguir conter o sorriso. Ela também não o fazia. Assim como eu, provavelmente uma figura conhecida também a trazia segurança. –Onde você esteve por esse tempo todo?

—Em meio à multidão. Por isso eu queria vir com você, mas sabe como é, precisava de um tempo para os meus pais. Eles insistiram muito pra se despedir. –Um revirar de olhos se seguiu a frase. –Tinha tanta gente, pensei que não acharia você. Mas aí vi essa poltrona e reconheci.

—Realmente não dava para encontrar ninguém em meio àquela multidão. Pudera, são jovens de todos os reinos. Nem me arrisco a dizer quantas pessoas deve ter aqui, nem por estimativa.

—Isso não me impediu de encontrar uma figurinha conhecida na nossa história. –A cara de nojo de Alice já denunciava quem era. –Arrisca?

—Também me encontrei com Athena. Na Estação Internacional ela esbarrou em mim. Não foi um encontro amistoso, mas não caímos nas implicâncias. Acho que porque não deu tempo.

 

—Eu só a vi de relance. Quase não reconheci pelos cabelos, mas aqueles olhos não me deixaram enganar. Os fantasmas sempre voltam.

—Sempre, mas como estamos comentando, olha essa quantidade de gente. Dificilmente vamos ter que ficar perto dela.

A loira abriu a boca pra falar algo quando o palco se iluminou e vimos quatro figuras. A que estava na frente já era conhecida por todos nós, Lady Ravenna. E os de trás provavelmente eram seus irmãos.

—Vamos às apresentações, antes de qualquer coisa. Apresento-vos Lady Arya, de Mistion. – Meu olhar se voltou a rainha de Mistion. Estava em sua forma mais amistosa. Com sua lira e seu vestido magníficos. Seus olhos, diferentemente da irmã, eram ligeiramente puxados e eu não conseguia me decidir se eram verdes ou azuis. Era um pouco mais alta que Ravenna e tinha um rosto que expressava o mais puro amor. A beleza também me parecia inexplicável, assim como para com todos os outros três. Os lábios em cor natural dela se curvaram num sorriso.

—Esse é Pyro, de Storng. –Eu observava pequenos suspiros vindos das garotas ao redor, inclusive da minha melhor amiga. O lorde do fogo tinha os cabelos loiros curtos e espetados. Tinha barba e bigode bem aparados, mas nada exagerado. Seus olhos eram quase amarelados e tinham um ar travesso. Enfim, tudo contribuía para sua fama de galã

—E Oreon, de Flerty. –Por último o lorde da Terra. Moreno, de olhos escuros e ligeiramente puxados como os de Arya e quase tão perturbadores quanto os de Athena. A expressão era séria, puxando para fechada. O cabelo negro e encaracolado destoava com o resto da descrição. Mas também usava barba e bigode.

Ravenna deu uma pequena pausa, mas logo sua voz voltou á ecoar. Não havia nenhum instrumento ligado á som, mas ainda assim sua voz branda era bem audível:

—Sejam bem vindos, todos vocês. É sempre uma honra sua estadia aqui no Palácio de Solace. Significa uma nova geração de dominadores e vidas que realmente despontam daqui pra frente. Sei que alguns devem estar confusos ou até mesmos assustados, mas faremos de tudo para que sintam em casa e que o tempo que passem aqui seja agradável. –Um sorriso fez uma pausa. –Os quinze primeiros dias de vocês aqui serão para treinamentos em quatros áreas: Combate corpo á corpo, combate com armas, conhecimento que abrange a inteligência, raciocínio lógico e estratégias e por fim a força psicológica de cada um. Ao décimo sexto dia descobrirão a afinidade para um elemento e ficarão mais quinze dias sendo treinados para que aprendam a o controlar. Ao fim do treinamento elemental, farão um teste sobre tudo que aprenderam, incluindo o elemento que lhes dará uma nota de zero á cinquenta, dez pontos para cada categoria. A nota que tirarem irá lhes dar a opção de profissão que exercerão no novo reino de vocês. Não se preocupem, faremos de tudo para auxiliar cada um.

Outra pausa para nos deixar engolir as informações que nos foram dadas. Eu e Alice nos entreolhamos. A ideia do teste me preocupava bastante. Em questão de conhecimento eu até me garantia. No resto seria um desafio, mas que não iria me deter.

—Vocês ficarão em dormitórios enquanto aqui estiverem. –A Lady prosseguiu. –Dividimos todos vocês em grupos de seis pessoas para cada dormitório, escolhidos aleatoriamente. O nome que eu anunciar, por favor, venha aqui pra cima e serão guiados para o seu.

Olhei para Alice e vi em seus olhos a mesma torcida para que caíssemos no mesmo dormitório. Provavelmente as pessoas com quem caíssemos seriam as que passaríamos a maior parte do tempo. Portanto seria bom se minha melhor amiga estivesse comigo.

—Athena Mercer. –O primeiro nome a ser chamado. Mais uma vez eu e Alice nos entreolhamos, voltando ao olhar para a pequena ruiva que se deslocava de uma poltrona e a passos suaves ia até o palco para o lado de Ravenna, que colocou a mão no ombro dela sorrindo. Tinha pena daquele que caísse no grupo dela.

— Tyrion Acker. –A voz soou logo depois e quase pulei da poltrona. Meus olhos foram arregalados, os de Alice também e os acinzentados de Athena da mesma forma. Gelei no lugar, mas logo me obriguei a levantar e descer as escadas com cuidado para não tropeçar. Todos os olhares estavam sobre mim. Acho que meu maior medo naquela hora era não tropeçar e cair. Acredite, minha sorte já não estava boa, imagina pagar esse fiasco diante dos quatro reinos.

Cheguei ao palco sem maiores danos e a contragosto completo me coloquei ao lado da ruivinha. A diferença de altura chegava a ser gritante. Olhamo-nos por um instante e foi o bastante para que eu soubesse que ela estava tão satisfeita quanto eu. Ou seja, não estava. Pois é projeto de gnomo anão ruivo, aqui estamos novamente.

— Alice Proudfoot. –A voz anunciou e eu respirei aliviado vendo minha amiga sair do lugar onde antes eu estava ao lado e vir em direção ao palco. Ao menos isso. A garota se colocou ao meu lado e sorrimos ao mesmo tempo esperando os próximos nomes.

— Draegon Lys. –Nós três encaramos curiosos e vi com crescente surpresa o garoto que falara que eu e Athena namorávamos mais cedo seguir para o palco. O olhar de reconhecimento estava presente tanto nele quanto em mim. O moreno passou piscando para a ruiva e se colocou ao lado de Alice.

— Lunna Masen. –A loira estava na primeira fila. Tinha cabelos ondulados e loiros até quase no fim dos ombros divididos ao meio, olhos castanhos e pequenos de cílios curtos, boca rosada, feições delicadas e um certo jeito todo sonhador, não só pelo olhar, mas por toda a expressão corporal sendo a penúltima á entrar para o nosso grupo. Faltava um.

—Scott Centaur. –O rapaz que se postou ao lado de Lunna era alto, de queixo quadrados, expressões duras, olhos verdes, sobrancelhas grossas e cabelos castanhos que pareciam ser bagunçados propositalmente. Era um grupo e tanto.

— Sigam por aquela porta, a porta com o número vinte e dois é a de vocês. –Ravenna sussurrou e então Scott foi o primeiro a seguir pra lá e logo fomos todos atrás. Então é assim que será. Que a estadia comece.


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