Para Sempre escrita por JVB


Capítulo 14
Grávida




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– Calma, Julie – minha mãe disse, se sentando numa cadeira na recepção do hotel.
– Eu estou calma, mãe. Quem disse que eu não estou calma? Estou calma.
Ela me olhou e depois começou a ler uma revista.
– Mãe – eu disse. – Fala.
– Falar o que?
– Eu sei que você quer dizer alguma coisa.
– Eu só quero saber se é isso mesmo que você quer. Quer dizer, você está preparada para isso?
– Ah, mãe, nesse mundo não tem dessa de estar preparada ou não. Ninguém nunca está preparado, mas o negócio é se jogar e deixar a vida levar.
– Se jogar e deixar a vida levar.
– Sim. Li isso em algum lugar. Mãe, como era meu pai?
– Você vai ver ele agora, ué.
– Mas como ele era quando vocês se conheceram?
– Era um cara bonitão. Seu pai pra mim sempre pareceu aqueles caras que moram na praia e ficam tomando água de coco o dia inteiro. Era tão calmo que me irritava.
Decidi que eu queria tomar água. Fui até o bebedouro e depois desisti da ideia. Eu só estava muito ansiosa e precisava andar. Comecei a reparar no hotel. Era fantástico. Não sabia que meu pai tinha dinheiro para pagar um hotel desse.
Alguns minutos se passaram e eu fiquei mandando mensagens para Steve, talvez assim eu pudesse ficar mais calma. O que eu ia fazer quando visse meu pai? Iria pular no pescoço dele? Abraça-lo?
Fui lá pra fora e fiquei olhando os carros chegarem. Nenhum deles era George.
– A senhorita precisa de um táxi? – Um moço que trabalhava lá me perguntou.
– Não, estou esperando meu pai.
– Ah, fique a vontade – ele abriu um sorriso simpático e depois foi para longe.
Ele estrava atrasado. Já começou a passar pela minha cabeça que ele não viria mais, que tinha desistido. Entrei novamente no hotel e sentei do lado da minha mãe. Peguei uma revista e comecei a ler.
Como se eu tivesse interesse nos assuntos das revistas. Joguei aquilo na mesinha de novo e me levantei.
– Julie – me virei de costas para ver um homem com os cabelos escuros, olhos claros e um sorriso contido no rosto. Era meu pai.
Não disse nada, só o abracei com muita força e lutei para não chorar. Esses encontros eram sempre emocionantes.
– Ah, você está tão linda – ele disse, ainda me abraçando. – Temos tanto para conversar.
– Eu sei – eu disse.
Nos separamos e vi minha mãe em pé do nosso lado. Ela olhou para meu pai e deu um sorriso meio constrangido.
– Nossa, você está ótima – ele disse.
– É, você também.
Ele se sentou na cadeira, as malas já estavam sendo levadas para o quarto.
– Vou ficar só até domingo – ele não parava de olhar para mim. – Puxa vida. Você...eu...nossa! Você se forma quando?
– Daqui um mês, mais ou menos – eu respondi. – Vou fazer faculdade de geologia.
– Sério? Uau. Incrível! – Ele estava sorridente mas logo esse sorriso sumiu. – E o negócio do sequestro? Você está bem, não é? Eles não te machucaram?
– Não, está tudo bem – eu respondi. – Eu nem tava mais ligando para isso.
Até porque eu não tenho nenhuma culpa para carregar.
– Fico muito aliviado de saber que você está bem. Pelo telefone não dava para saber se era bem verdade o que você dizia.
– E a sua mulher? – Minha mãe surgiu na conversa.
– Ex – ele disse.
Ela olhou para ele e depois para mim.
– Hm.
– Você é uma boa aluna?
– Claro. É minha obrigação ser.
Ele sorriu.
– Você comentou de um menino. Tem namorado, então?
– Ah, sim. Steve. Ele é quatro anos mais velho do que eu mas é um amor de pessoa e eu o amo.
– É claro que sim. Depois vou querer conhecer esse menino.
– Que tal amanhã? Você poderia passar em casa e ele estaria lá.
– Posso? – Ele perguntou para a minha mãe.
– Bem... não sei. Não. Quer dizer, pode. Claro que pode. Você ainda lembra onde é?
– Você me passa o endereço que eu pego um taxi. Amanhã eu posso te pegar para almoçar comigo e na volta você fala para o seu namorado ir lá.
– Ótima ideia.
Ficamos conversando por mais um tempo, meu pai me levou para dar umas voltas no hotel e depois fui embora. Parecia um sonho de tão estranho que era.
No domingo eu fui almoçar com meu pai num restaurante bem caro e ele disse que podia pagar por tudo o que estava lá. Fiquei impressionada, não sabia que ele era rico. Pedi para que Steve fosse para minha casa quando estávamos entrando no carro para ir embora. Meu pai iria voltar as 18:00 para Paris.
Paris...sempre quis conhecer algum lugar fora do Brasil, quem sabe um dia ele não me leva?
Meu pai ficou sentado no sofá e minha mãe parecia um pouco desconfortável, mas depois ela acabou ficando mais calma. O interfone tocou e eu pedi para que Steve subisse. Fiquei esperando no hall e quando ele apareceu de dentro do elevador, dei um abraço apertado nele.
Entramos e quando meu pai viu Steve, deu um sorriso simpático e os dois deram um aperto de mão.
– Então você é o pai da Julie. Ajudei ela a procurar pelo seu número.
– Fez muito bem, rapaz .
Os dois conversaram sobre negócios e até estranhei Steve estar fazendo engenharia ambiental. Ele era muito bom com esse negócio de...bom, eu não entendia nada do que eles estava falando.
Quando deu quatro e meia, meu pai disse que precisava ir para o aeroporto e nos despedimos com um abraço maravilhoso. Eu me senti muito bem.
– Voltarei, Julie.
– Quando?
– Quando você se formar. Me diga o dia da sua formatura que eu virei para vê-la.
– Ah, eu já sei. Vai ser no dia 28 de novembro.
– Hum, faltam poucos dias.
– Sim, espero que consiga voltar.
– É claro que sim.
Ele foi embora e eu fiquei com minha mãe e Steve, assistindo um filme que estava passando na TV.
Na segunda de tarde, depois da escola, Steve me levou para almoçar e depois fomos para a casa dele. Ficamos nos amassos por um tempo até a coisa esquentar, o que não demorou muito. Steve tinha um talento com os dedos e com a linguá que era impressionante. Depois disso eu me vesti de novo e ele foi tomar banho.
Enquanto Steve tomava banho, eu fiquei no quarto dele olhando para o teto. A campainha tocou e eu era a única pessoa naquela casa que poderia atender. Avisei Steve no banho e ele me olhou com uma cara de “Ué, vai abrir a porta”.
Desci as escadas correndo e quando abri a porta, tinha uma menina loira com muita maquiagem do lado de fora. Os olhos claros e marcados com a sombra escura. Ela olhou para mim de maneira confusa.
– Pois não?
– Quem é você? – Ela questionou. A voz ríspida e arrogante.
– Hã, acho que sou eu quem devo fazer essa pergunta.
– Steve se mudou?
– Quem é você? – Devolvi a pergunta.
– Você é alguma prima distante?
Paramos de falar e ficamos olhando uma para a cara da outra.
– Ficar respondendo com outras perguntas não vai levar em nada.
– Preciso falar com ele – ela disse.
– Primeiro diga quem é você, não posso deixar qualquer uma entrar aqui e... – ela foi entrando, me esmagando contra a porta. – Ok.
– Ele está no banho – eu disse. – Sente-se e ele já vai descer. Vou avisar – e subi as escadas.
Entrei no quarto dele e avisei que tinha uma menina loira sentada no sofá dele e que parecia ser sério o assunto. Ele saiu do banho rapidamente, colocou uma calça e uma blusa qualquer para poder receber a moça. Desci primeiro para garantir que ela não iria roubar nada e me sentei ao seu lado no sofá.
Steve desceu logo depois e quando viu a moça, arqueou uma sobrancelha e olhou feio para ela.
– Mary.
– Steve.
– O que você está fazendo aqui?
– Acho que precisamos conversar – ela disse, se levantando. Fiquei olhando para a cara de Steve, tentando entender o que estava acontecendo ali.
– Não temos mais nada para conversar. Se veio aqui para isso...perdeu seu tempo.
– Você não pode me mandar embora. Não mais. Estou grávida.
Steve engasgou.
– Você o que?
– Foi isso mesmo que você ouviu. Eu estou grávida e você é o pai.
– Steve – eu disse, em choque quando ouvi o que ela disse.
– Quem é ela, Steve? – Mary perguntou.
– Minha namorada.
– Você namora com crianças agora?
– Você está gravida? – Perguntei e ela balançou a cabeça.
– Você fez o teste? – parecia que ele estava me ignorando. – Você tem certeza disso?
– Já faz quase três meses e você foi a minha única relação. Você foi meu namorado na época.
– Ela era a sua namorada vagabunda?
– Você me chamou disso?- Ela parecia indignada. – Do que você me chamou, garota?
– Julie, é... – ele tentou falar alguma coisa. – É melhor você ir lá pra cima.
Olhei para ele. Ele estava me expulsando da discussão?
– Você quer que eu saia?
– Eu preciso conversar com ela e isso precisa ser feito com calma. E-eu... – ele olhou para ela. – Grávida?
Ela balançou a cabeça.
– Céus...- Ele se sentou no sofá, parecia atordoado. Mary se sentou ao lado dele e pegou na sua mão.
– Eu sei – ela disse.
Fiquei olhando para os dois até que Steve se tocasse da minha presença.
– O que você vai fazer? – Ela perguntou e depois olhou para mim. – Vai ficar olhando?
Não conseguia dizer mais nada. Subi correndo, meus olhos cheios de lágrimas.
Como ela...grávida? Ela estava grávida dele? Steve estava esperando um filho e...comecei a chorar. Não era possível. Isso mudava tudo.
Peguei minha mochila e coloquei nas costas. Não iria ficar mais ali, não iria conseguir ficar ali sentada no cama dele esperando ele voltar para me explicar o que estava acontecendo.
Desci as escadas correndo e quando passei por eles e Steve viu minha mochila, se levantou do sofá que estava e veio na minha direção, tentando me fazer parar.
– Julie, onde você vai? – Ele andava na minha frente tentando me impedir de sair.
– Para casa.
– Eu só preciso de um tempo para conversar com ela e, Jul...
Ele parou bem em frente a porta.
– Depois você conversa comigo. Vocês precisam conversar e eu...eu não consigo ficar aqui agora. Ai, meu Deus! Steve, saia da minha frente.
– Você está se precipitando, Julie.
– Ela está grávida, Steve.
– E o que isso muda? Entre nós...o que muda?
Respirei fundo.
– Nada, eu acho.
– Então não precisa ficar assim. Não precisa chorar. Eu deveria estar chorando agora.
Respirei fundo.
– Você vai ser pai. A sua ex-namorada está grávida!
Me lembrei então de quando perguntei dela e se ela era bonita. Mary era muito bonita, apesar de parecer uma pessoa revoltada e mal vestida.
– Vocês precisam conversar, eu não vou conseguir ficar na sala escutando sobre o último ato sexual de vocês e também não vou conseguir ficar quieta lá no seu quarto. Eu preciso ir para a casa, é o melhor a fazer.
Empurrei ele para o lado e abri a porta. Desci a rua para pegar um táxi e me desfiz em lágrimas. Estava tudo indo bem, eu tinha conhecido meu pai e eu estava feliz, mas agora com essa notícia eu não sabia mais nada.
É claro que isso não mudaria nada entre eu e ele, pelo menos até o bebê nascer. Ah, meu Deus! Um bebê!
Ainda não tinha caído a ficha de que Steve ia ser pai.


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