Para Sempre escrita por JVB


Capítulo 12
O pior dia da minha vida




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Fechei meus olhos e não me permiti olhar para o que fosse acontecer ali. Enquanto Rafael apertava meus seios e ria junto com o amigo dele, eu só conseguia chorar e gritar – mas não conseguia fazer mais nada.

– Você vai voltar pra mim – Rafael disse.

Não respondi. Eu não conseguia.

– Diga, Julie. Diga que vai voltar pra mim.

Mesmo que eu estivesse com meu sutiã, era como se eu estivesse sem. Meu corpo todo tremia e eu não conseguia falar. Rafael deu um grito, o que me fez gritar ainda mais.

– Você vai terminar com aquele cara. Se você não for minha, não vai ser de mais ninguém.

Ah, eu já tinha visto aquele filme. “Se você não for minha, não vai ser de mais ninguém”. O final era trágico, alguém sempre sai morto. Estava com a sensação de que esse alguém seria eu.

– Por...por que você... – eu tentava segurar o choro. – Por que você está fazendo...isso? – E voltei a chorar e berrar.

– Eu te amo.

– Ninguém faz isso quando ama.

Eu já conseguia ver a cena do meu corpo sendo esquartejado.

Rafael ria com o amigo dele como se estivessem loucos. Eles estavam loucos e aquilo me assustava. Eles poderiam fazer qualquer coisa comigo. Qualquer coisa.

Ele saiu de cima de mim e meus seios estavam praticamente para fora.

– Não me olhe assim – ele disse, se virando para o amigo. – Eu vou tomar banho. Não toque nela, certo?

– Relaxa.

Rafael sumiu e me deixou sozinha naquele comodo junto com o menino estranho e sujo. Ele parecia não se importar com a minha presença, mas depois ele olhou para mim e pude ver um sorriso malvado surgir em seu rosto. Ele se levantou e verificou se Rafael estava mesmo tomando banho. Eu conseguia ouvir o barulho do chuveiro.

Ele se jogou do meu lado na cama e deu um beijo em minha barriga. Gritei como nunca tinha gritado na minha vida. Ele tampou minha boca com a mão mas eu a mordi com força. Ele deu um grito e pude sentir a mão dele no meu rosto, pesada e ardente. Aquele filho de uma puta tinha mesmo me dado um tapa na cara?

– Se você não calar a sua boca, princesa, eu vou matar você.

Ele mostrou o pano que antes estava na minha boca e então amarrou novamente. Gritei mas o som saia baixo e abafado.

– Egoísta demais esse Rafael. Pega meu apartamento, o carro do meu primo e ainda diz que eu não posso tocar em você.

Ele passava a mão com brutalidade por todo o meu corpo, principalmente na região descoberta – meus seios.

Como chorei.

– Prometo ser bem rápido.

Meus olhos quase saíram da órbita quando vi ele tirando o cinto e depois a calça. Ele provavelmente tinha esquecido das minhas pernas. Dei um chute na cabeça dele que o fez cair da cama.

Ele subiu rapidamente de volta e segurou minhas pernas numa luta cansativa para mim. Não sei como as mãos dele se encaixaram no meu quadril e desceram a minha calça.

– Eu falei para você não tocar nela! – Eu vi Rafael aparecer por trás dele e o empurrar para longe. – Ela é MINHA! – E se jogou sobre mim, me abraçando, como se estivesse me protegendo. Ele subiu a minha calça novamente, o que me fez parar de entender o que se passava na cabeça dele.

Tudo aconteceu muito rápido desde então. Rafael atacou o menino que estava no chão e os dois começaram a se bater. Eles se espancavam muito agressivamente e de onde eu estava é era possível ver a mão dele ficando vermelha de sangue. O menino se virou e agora era ele quem batia em Rafael. Ele se levantou e foi para algum lugar enquanto Rafael estava no chão. Quando voltou, trazia com ele uma faca.

Puta que pariu.

Ele foi pra cima de Rafael com a faca e depois ouvi ele gritar de dor. Tremi como se tivesse levado um choque. O cara se levantou e vi sua pele suja de sangue.

Não consegui racionar mais. Simplesmente desmaiei.

****

Acordei sobressaltada, imaginando que nesse tempo que fiquei adormecida ele tivesse feito o pior comigo. Minhas calças estavam no lugar, eu praticamente nem tinha me mexido – até porque nem dava.

Chorei novamente e vi pela janela que ainda não estava escuro.

Tentei mover meu corpo para ver se Rafael estava mesmo morto, mas para o meu espanto, não era Rafael que estava deitado todo ensanguentado no chão, e sim o “amigo” dele.

– Ah, Julie, você acordou! – Ele correu e me abraçou. Me sujou toda de sangue.

– Rafael...

– Eu não sei o que eu fiz – ele tremia mais do que eu. – Me perdoa. Me perdoa. O que eu fiz? O que eu fiz? Minha mãe nunca vai me perdoar. O que eu fiz, Julie? O QUE EU FIZ?

– Você matou...você matou ele.

Quando eu disse isso, ele se levantou e me olhou. Pude ver o quanto ele estava perdido. Ele saiu da cama e pegou o meu celular.

Ele ligou para a policia e confessou o que tinha feito. Pediu para que viessem o mais rápido possível.

Correu para o quarto e se trancou lá.

****

Eu só pude respirar como uma pessoa normal quando a policia veio e me tirou de lá. Rafael foi algemado e levado para dentro do carro da policia. Ligaram para minha mãe e eu dei um telefone para Steve:

– Julie!

– Steve, preciso que você vá para esse endereço – e passei a rua. – Na delegacia.

– Julie? Aconteceu alguma coisa?

– Aconteceu – eu tentei reprimir o choro.

– Juli...

– Só vai pra lá, por favor.

E desliguei.

Os policiais me levaram para a delegacia mais próxima e me deram um casaco para que eu pudesse vestir. Me perguntaram a história e eu não conseguia falar direito, mas eu respirei fundo e tentei acabar com tudo. Disse que dois haviam me sequestrado hoje depois da escola e que me levaram para aquele apartamento. Disse o que fizeram comigo, contei da briga, da hora em que eu desmaiei e que quando acordei já estava tudo feito.

– Bate com o que o menino disse. E esse sangue no seu corpo?

Falei que ele veio me abraçar e que o sangue provavelmente era do amigo. Fiquei sentada numa cadeira, sozinha, durante um tempo, até que a primeira alma conhecida apareceu.

Olhei para a porta e meus olhos se encontraram com os de Steve. Ele correu e me abraçou com força. Abracei ele também, e naquele contato eu desabei. Chorei, gritei como se tivesse sentindo dor – e eu estava.

– O que aconteceu... – ele disse, ficando surpreso quando viu que eu estava sem minha blusa, com o corpo coberto de sangue. – Ai meu Deus, Julie. O que aconteceu? – Ele aumentou o tom de voz.

– Rafael... o amigo dele...

– Eles...eles tocaram em você?

Balancei a cabeça, chorando. Eu não conseguia olhar para ele.

Steve deu um soco numa mesa próxima e ficou andando para lá e para cá. Os policiais vieram para acalma-lo, mas estava impossível.

Ele se abaixou, ficando olho a olho comigo. Segurou minha cabeça, me obrigando a olhar para ele.

– Julie...ah, meu Deus, Julie – e me abraçou. Foi aí que eu vi que ele também estava tremendo e que estava chorando. Abracei ele de volta e enfim me senti segura. – Eu vou matar aquele arrombado, aquele filho de uma puta!

Steve saiu quando minha mãe chegou. Ela chorou comigo também, tremeu comigo e não queria me soltar de maneira alguma. Ele estava falando com um policial e pelo que eu estava vendo, Steve estava mal.

Ficamos a noite toda ali e quando Rafael apareceu, algemado e sendo levado, Steve correu até ele e lhe deu dois socos no rosto. Os policiais vieram separa-lo enquanto ele gritava, apontava o dedo e xingava.

Rafael não disse nada, apenas foi sendo levado até passar pela porta e sumir.

– Vocês já podem ir para a casa – uma moça me disse.

Fui no carro de minha mãe e Steve nos seguiu até em casa. Eu não conseguia dizer nada, pensar em nada, só nas mãos dos dois passando pelo meu corpo. Eu tive até sorte deles não terem feito algo pior.

Chegamos em casa e eu fui correndo para o banheiro me lavar. Fiquei sentada, com a água batendo no meu corpo, chorando ao lembrar das coisas que aconteceram. Provavelmente ao ouvir meus gritos, minha mãe entrou no banheiro e abriu a porta do box. Atrás dela estava Steve, o olhar perdido, triste e ao mesmo tempo com raiva e ódio. Ele disse alguma coisa para minha mãe, que fez com que ela saísse do banheiro e ele entrou no box, molhando toda a roupa escura que ele estava. Se abaixou e pegou nos meus ombros dizendo:

– Calma, eu estou aqui agora.

E ficou abraçado comigo.

– Me perdoa, Julie. Eu só estou aqui agora, eu sei. Não sabia..e-eu...se eu soubesse...

– Não tinha como você saber – eu disse. Não adiantava ele se culpar.

– Eu deveria ter ido te buscar.

– Eu não sou sua filha pra você ter que me buscar na escola todos os dias como se fosse sua obrigação – eu disse, com raiva.

– Grite, Julie.

E gritei. Cheguei até a bater várias vezes nele, chorando, quase me dissolvendo naquela água.

– Vai ficar tudo bem – ele disse. – Eu vou te proteger, nem que eu tenha que colocar um chip dentro da sua pele para te monitorar.

Acabei dando uma leve risada, mas que depois se transformou numa explosão de lágrimas.

– Shh, calma, meu amor. Eu estou aqui.


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