_Saia daqui, por favor!

_Pra quê? Pra você correr atrás dele de novo?

_Ayato, ele é meu amigo, assim como é seu irmão! Não há motivos para tanto ciúme!

_Sim, há!

_Me diga quais!

_Vocês já tiveram um tipo de affair durante a viagem á Paris...

Você suspirou e cruzou os braços, podia falar o quanto quisesse, ele ia permanecer com aquela ideia absurda na cabeça.

_Ayato, um beijo na frente da torre Eiffel para uma foto não é um affair!

_Então...

_Você não pode falar nada! Aquilo foi antes de namorarmos, e tem mais, olhe... Você mesmo já beijou muitas garotas antes de mim, nunca as considerei ameaça alguma, sempre deixei que continuasse tendo amigas.

_O que você chama de ciúmes eu chamo de cautela, qualquer cuidado é pouco e...

_Quer saber de uma coisa? EU CANSEI! CANSEI, AYATO! E SE VOCÊ NÃO VAI SAIR, ENTÃO EU VOU!

Você pegou as chaves do carro e saiu de lá ás pressas, ainda podendo ouvir os berros de Ayato que quase ordenavam que você voltasse. Seus passos até o carro foram precisos, você destrancou o carro e adentrou-o, ligou-o e deu partida, podendo ver pelo espelho do retrovisor, ele olhando furioso enquanto seu carro seguia sem direção.

Após alguns minutos dando voltas na cidade, optou pela casa mais próxima daquela parte da cidade. Você estacionou o carro e desceu do mesmo.

***

Ele não acreditava que você tinha feito aquilo, correu com tudo quando ele começou a acusa-la.

Recebeu várias ligações de seus amigos, mas as ignorou. Sentou-se no pequeno sofá e encarou fixamente a parede cheia de quadros, pintada de branco com algumas manchas azuis e vermelhas... Ele se lembrava bem do dia.

“Vocês haviam decidido morar juntos após alguns meses de discussão a respeito de sua relação. Você estava empolgada com relação á pintura, já que apesar de terem dinheiro para contratar pintores, haviam decidido pintar eles mesmos, para ficar do jeito que queriam.

_Estou tão empolgada!

Ele riu pelo nariz, enquanto você olhava sonhadora para as paredes brancas e meio descascadas da construção. Você ajudou, carregando um pote de tinta azul para a sala, enquanto ele vinha atrás com a tinta vermelha.

Você ligou a caixa de som colocando numa estação qualquer. Pegou um pincel e mergulhou-o na tinta azul.

_Vai ser azul?

Você assentiu.

_Por que?

_Porque o quarto já vai ser vermelho!

_O nosso quarto?

_Não, o meu quarto de solteira até o dia em que me pedir em casamento!

_E quem disse que eu vou?

Você arqueou as sobrancelhas e parou de passar a tinta na parede, encarando o ruivo que sorria de forma travessa.

_Bem... Estamos morando juntos.

_E...

_Estamos apaixonados?

_E...

_Você vai me fazer acrescentar quantos itens nessa lista? _ já estava começando a se irritar.

Ele riu e pegou a tinta vermelha, passando na parede.

_Vai ser azul!

_Vermelho.

_Azul.

_Vermelho.

Você não calculou muito bem as consequências e sacudiu o pincel, acabando por respingar tinta na camisa branca que Ayato usava.

_Você não fez isso, (S/n).

_Mas eu fiz, sim! Algum problema?

A partir daí, uma espécie de guerra de tinta começou, um jogava tinta no outro, com o pincel, o que levava como consequência acertar as paredes e o chão. Quando enfim ele perdeu a paciência e pegou um pouco de tinta com as mãos, jogando-a em você. Seus olhos (c/o) se arregalaram diante do ato do namorado... Aquela era a sua blusa favorita!

_GUERRA!

Agora ambos jogavam tinta um no outro com as mãos e o pincel, até que você pegou o balde de tinta vermelha.

_Gosta da tinta vermelha, fique com ela!

E o balde virou na cabeça dele, caindo em seu cabelo roupas e rosto, depois disso ele começou a correr atrás de você para abraça-la e lambuzá-la de tinta. Mas como boba você não é, correu o mais rápido que pôde.

Ao fim de tudo a parede estava inteiramente coberta de respingos de tinta vermelha e azul, o chão estava coberto de tinta, especialmente no local onde Ayato levara um banho de tinta vermelha. Vocês riam deitados num canto limpo do chão, ambos encaravam o teto e riam como perfeitos apaixonados, um olhou profundamente para o outro.

_Eu te amo...

_Também te amo! _ você respondeu, beijando-o...”

Ele riu da lembrança e pegou o celular, ligou para você diversas vezes, mas sempre caía na caixa postal, ele não deveria se preocupar, deveria estar na casa dos pais ou de alguma amiga.

Ele deitou-se no sofá, ligando a TV e colocando num canal qualquer, sabia que você voltaria e queria estar presente quando você atravessasse aquela porta sorrindo travessa enquanto caminhava até ele, pedindo para que conversassem sobre aquele assunto outra hora e curtissem pelo menos mais quatro meses antes de voltarem a aquele assunto, sabendo que sempre vão brigar no final.

O ruivo fechou os olhos e respirou profundamente, deixando que mais lembranças inundassem seus pensamentos.

“_Ayato!

_Sim?

_Vou sair para ir ao médico, não vou demorar, volto logo!

Vocês selaram seus lábios rapidamente, antes de você pegar a mochila e correr para fora, deixando o ruivo para trás com uma expressão preocupada... Médico?

Não devia ser nada demais...”

“Você conversava com Laito, que além de seu cunhado era seu amigo... Mas nunca conseguiu entender direito o motivo dos ciúmes do namorado que insistia em afastá-la de Laito.

_Deve ser mania... Ele e eu não somos muito próximos...

_Do que ele tem medo?

_Que eu a roube dele.

Ayato ouvia a conversa atrás da porta, esperava para aparecer com uma bandeja de guloseimas para a namorada assim que Laito apresentasse sinais de interesse ou proximidade excessiva de você.

_Não acho que seria capaz disso...

_Ele acha!

_Que injusto!

_Mas eu o entendo... Ele te ama e não quer que ninguém a tire dele.

_Fico feliz em ser importante para ele!

Ayato sorriu, sabendo que o irmão fazia uma careta...”

Já havia passado um tempo, era quase 08h00min da manhã e você ainda não chegara, só então ele percebeu que dormiu. Seu olhar vagou pela casa em busca de sinais de que você estava lá, mas o máximo que conseguiu foi uma carta sobre a mesa da cozinha. Ele sorriu triunfante, certamente era um bilhete avisando que saiu para ir ao médico ou ao supermercado e só voltaria mais tarde, abriu o bilhete e começou a lê-lo, arrependendo-se de imediato de tê-lo feito:

“Ayato,

Eu te amo, mas eu tenho algo para te contar...

Descobri recentemente que estou com uma doença rara, em estado terminal... Eu não tive coragem de te contar e o próprio médico disse que eu não posso me estressar! Bom... essa não é a única surpresa, daqui a cinco meses estarei mandando uma pessoa especial para morar com você, espero que o(a) trate bem!

Não, não é que não o ame mais, eu estou apenas cansada, terei que passar um tempo afastada a pedido de meus pais e do médico... Espero que possa me entender e me perdoar... se não agora, talvez mais tarde... Quando as coisas ficarão mais claras!

Com amor,

(S/n).”

Ele não conseguia acreditar no que lia, você o havia deixado... Cada palavra naquela carta foi como uma facada para ele.

Aquilo só podia ser um pesadelo! Tinha que ser!

***

Cinco meses depois....

Ayato estava depressivo, desde que você o deixara, ele não saiu de casa, não conversou com ninguém, nem pensou em organizar o local, queria que sua presença permanecesse ali, queria continuar acreditando que quando acordasse você ia estar lá, se desculpando pela brincadeira de mal gosto da carta, avisando que estava bem e não o havia abandonado.

Assustou-se ao ouvir a campainha, levantou-se num rompante e correu para atender, torcendo para que você houvesse esquecido a chave. Você estava do lado de fora, mas não sozinha, com você vinha algo enrolado numa mantinha rosa.

_(S/n)

Você sorriu e se aproximou, ele lhe deu passagem e você adentrou a casa, por fim destampou o rostinho do que estava enrolado na manta. Um bebê dormia serenamente em seus braços.

_Ayato, esta é Alyssa, nossa filha.

Lágrimas inundaram o rosto dele, ele pegou a criança.

_Por que não me contou?

_Eu não podia me estressar e...

_Que história era aquela de doença rara terminal?

Você caminhou até o sofá e respirou profundamente.

_É verdade...

_E como ainda está viva depois de tê-la?

_Consegui escapar, mas não por muito tempo...

_Quanto?

_Um dia.

Só então ele percebeu, aquele era o último dia...

_Vamos passear e aproveitar? Quero ter boas lembranças...

Ele assentiu, e vocês saíram, passearam pelo parque com a criança num carrinho de bebê, você contava para ele das enfermeiras engraçadas que a ajudaram durante o parto e do médico amigável que lhe acompanhara durante a gestação.

_Vamos pra lá?

Vocês partiram rumo ao banquinho onde conversaram, você não parecia alguém em estado terminal, pelo contrário parecia tão viva!

Ao final do dia que passaram juntos, vocês foram para casa, arrumaram um quartinho para o bebê e foram dormir, você sorriu e entregou algo para Ayato antes de adormecer nos braços dele.

Ambos dormiram abraçados, um ouvindo o coração do outro, sentindo o calor do outro e deliciando-se com cada momento juntos.

No dia seguinte, ele se apavorou ao vê-la eternamente adormecida, os lábios pálidos e a expressão serena, ele viu o papel e desdobrou-o:

“O primeiro milagre foi

quando você nasceu

O segundo milagre foi

todo o tempo que passamos juntos

O terceiro milagre foi

Sua canção sincera do fundo do coração

O quarto milagre não é nescessário

Eu não preciso do quarto milagre...”

Só então ele entendeu e observou uma última vez o rosto amado...

Você se parecia com um anjo!