Capítulo 2 — The Hunter

O homem... O homem com o arco e a cicatriz no olho.

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 O soldado parou no batente da porta, encarando a sala de treinamento em silêncio. Depois de deixar Wanda sozinha com Stark, Visão e Bucky, sabia que não podia fazer muito mais do que torcer pela melhora do amigo; agentes estavam cuidando dele, seus amigos estavam cuidando dele... Ele só precisava ser esperançoso em relação a Barnes. Entrou no local e foi até o banheiro dos fundos, na intenção de tirar o uniforme e colocar uma roupa de treino confortável, enquanto as memórias daquele dia assombravam sua mente. Quando encontrou o Soldado Invernal naquele pequeno ponto de abastecimento da Hydra, sangrando e caído no chão, apoiado com dificuldade em uma barra de metal, o coração de Steve havia parado de bater por alguns segundos.

Terminando de tirar o uniforme de batalha, encarou-o com rancor ao ver uma mancha de sangue de Barnes. Pegou uma camisa branca e uma calça mais solta, se vestindo e voltando para a sala. Aquela era a versão mais simples para treinamento, a qual Rogers não deixou que adaptassem; por mais que os treinos em campos tecnológicos e avançados fossem bons, o velho saco de pancadas, o ringue e o tatame azul não podiam ser deixados de lado. Ajeitando um dos sacos, o loiro se alongou por alguns minutos antes de começar a socar com força, ódio visível em seu rosto. Se a Hydra fosse um saco de pancadas, com certeza seria aquele.

Natasha passou pelo corredor, ouvindo o barulho dos socos e voltando alguns passos, parando na entrada e encarando o americano em silêncio, sem que ele a notasse. Fazia um tempo que não treinava com o capitão, ambos ocupados demais até mesmo para as boas conversas que costumavam ter — mas no fundo, sabia que Steve estava a evitando. Desde que tivera seu rápido relacionamento com Bruce Banner, as coisas estavam estranhas; ela sabia que ele mentia ao dizer que torcia para Banner voltar e se resolver com ela. Tantos meses longe do grandioso Hulk foram capazes de abrir os olhos da ruiva, a fazendo admitir para si mesma que não sentia nada por Bruce — mas Rogers ainda não sabia disso.

— Ei, capitão. — Romanoff chamou, fazendo o soldado a fitar. — Quer companhia?

— Hey. — ele cumprimentou com um sorriso, parando de socar o saco. — Seria bom.

Natasha lançou um meio sorriso e entrou, enquanto ele caminhava lentamente até ela também. Se encontraram bem no meio do tatame azul, a respiração do loiro um pouco ofegante.

— Você está bem? — Nat questionou, reparando nas feições dele. 

— Na medida do possível. — o soldado fitou os olhos da agente, tentando suavizar a expressão de ódio que tinha antes. — Agradeço sua preocupação. — Steve sorriu de leve e roubou um meio sorriso dela. — Espero que a senhorita também esteja bem.

— Na medida do possível. — a agente repetiu o que ele disse, repousando uma mão no ombro dele. — Sinto muito pela situação do Bucky, mas vamos dar um jeito. O protocolo 23 funcionou e Clint já está com a permissão de Phil para acessar alguns arquivos especiais sobre ele, e me certifiquei de trazer os melhores médicos para examiná-lo.

— Fico muito grato por isso. — Rogers colocou sua mão em cima da mão de Natasha, a acariciando com o polegar e sorrindo para a mulher, olhando para ela com ternura. — Você tem feito bastante por mim nos últimos dias. Por todos nós. — ele se lembrou de todas as missões onde Romanoff tomara a dianteira e ajudara a cada um deles.

— É meu trabalho. — sorrindo fraco, Natasha apertou um pouco o ombro dele, logo sentindo ele segurar sua mão com mais força. Sentiu suas bochechas queimarem um pouco e desviou o olhar, fazendo o loiro perceber e soltar a mão dela, um pouco constrangido, enquanto a ruiva colocava a mão na cintura. — Bom, quer treinar?

— Com certeza. — Steve deu um meio sorriso.

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A mulher já estava ali há uma horas, esperando que os médicos liberassem sua entrada no local. Suas mãos suavam frio e algumas gotas de suor estavam em seu nariz, a insegurança fazendo com que ela se sentisse incapaz de fazer o que deveria. O que você está temendo, afinal? Você pode fazer isso, pensava ela. Steve havia pedido para que ela fizesse algo, e ela faria — ela era Wanda Maximoff, e estava ali pelo bem do mundo; pelo bem da sua própria sanidade. A porta foi aberta e vários doutores de diferentes aparências saíram, fazendo com que Wanda se levantasse e se preparasse para entrar. O último era ninguém menos que Tony Stark, que a encarou de forma séria, sendo seguido por Visão.

— Não pegue leve com ele, Wanda. — disse o homem. — Sabe que não vai adiantar se for boazinha.

— Não interfira no meu trabalho. — a Maximoff foi grossa e passou por ambos, dando um leve sorriso para Visão antes de entrar na sala e fechar a porta de forma calma. Olhou ao redor e fitou o homem que a encarava.

Sentado em uma cadeira, com os pulsos algemados a ela, Bucky Barnes ainda estava confuso sobre tudo o que ocorrera; mas atento a quem o observava. Fitava a mulher de cabelos escuros focado, enquanto tentava imaginar o motivo dela estar ali — os médicos terminaram de examinar suas feridas, e Stark o havia prendido em uma cadeira. Aquela garota não podia fazer algo pior.

— Olá. — Wanda cumprimentou, andando devagar até ficar parada em frente a ele, que nada lhe respondera. Podia sentir a confusão do homem, o cheiro de rancor misturado com medo. — Não vim para lhe fazer mal.

— Então a que veio? — o tom dele foi fraco, porém ríspido. — Quem é você e onde está Steve?

— Sou alguém que veio para lhe ajudar, Steve pediu que eu fizesse isso. — a feiticeira falou, fitando Bucky nos olhos e se aproximando. — Suponho que não se lembre de muita coisa.

— Fique longe de mim! — exclamou o soldado, fazendo Wanda recuar um passo para trás. A feição dele se tornou desesperadora, os cabelos caindo na frente do rosto sujo e machucado. — Não, não mexa nas minhas memórias, não as tire! Não! — berrou enquanto surtava, se contorcendo na cadeira. Lembrava-se da dor que a Hydra lhe provocara na última vez em que sua memória fora apagada, e o pouco que sabia desde então era valioso demais.

— Não vou tirá-las. — a mulher falou com calma. — Pelo contrário, vim ajudá-lo a recuperá-las.

Bucky a encarou de forma curiosa, porém sério. Os cortes em seu rosto, junto com a sujeira e os cabelos na frente, contrastavam como preto no branco com sua camisa limpa e clara, que havia sido dada por um dos médicos. A morena o fitou de volta, se preparando para o que viria a seguir.

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O rapaz bateu na porta algumas vezes, esperando alguns segundos para que a garota abrisse e desse um leve sorriso de canto. Os cabelos ruivos estavam soltos, caídos pelos ombros, enquanto seus olhos castanhos fitavam o homem com curiosidade.

— Algo errado, Clint? — questionou Lavínia ao reparar na feição preocupada do arqueiro.

— Na verdade, sim. — ele respondeu e fez sinal para que ela o deixasse entrar, olhando para os lados antes. A Banner deu espaço para que Barton entrasse no local e fechou a porta em seguida, indo com ele até a cama, ambos se sentando lado a lado. — Recebi uma mensagem de Thor, e não há rastros do seu pai em nenhum dos outros oito reinos.

— Droga. — sussurrou ela, contendo uma voz mais desesperadora. — Quando as buscas na Europa e na África vão ser retomadas?

— Amanhã bem cedo. A maioria dos agentes e médicos voltaram para base hoje, a pedido de Natasha; todos estão cuidando do caso do Bucky. — dizia o homem. — Mas vamos encontrá-lo, Lavs.

— Espero que sim, Clint. — a filha do grandioso Hulk fitou os olhos do vingador. — Só espero encontrarmos meu pai rápido. Sabe-se lá onde ele está agora. — finalizou ela, fazendo um silêncio se instalar pelo cômodo em seguida. Conseguia ouvir as batidas do próprio coração.

— Quer se distrair? — questionou Barton. — Podemos ir visitar Pietro na sala de recuperação. Ele pode estar inconsciente, mas seus batimentos cardíacos sempre ficam mais fortes quando recebe visitas. Por mais que eu ache uma coincidência, Wanda insiste em dizer que ele fica alegre com isso.

— Seria legal ver ele. — sorriu Lavínia, se levantando e estendendo a mão para o arqueiro. — Vamos?

— Vamos. — respondeu, se apoiando na garota para levantar, enquanto sorria.

Saíram do quarto e andaram por alguns minutos até chegar ao corredor onde se encontrava o rapaz. Clint abriu uma porta, e ambos entraram na sala de recuperação onde estava Pietro Maximoff, deitado com seu peito subindo e descendo de forma fraca e tranquila. A ruiva caminhou até ele devagar, parando ao lado de sua maca enquanto encarava as feições de seu rosto.

Seus traços não pareciam nada tranquilos, as linhas de sua face se contorcendo sutilmente em sinal de descontentamento com algo; ele parecia preocupado, assustado e perdido, porém o aparelho que indicava seus batimentos cardíacos mostrou seu coração batendo um pouco mais forte. Barton logo se posicionou ao lado da garota, que não conseguia tirar seus olhos de Pietro. Os cabelos prateados dele chamavam a atenção da mulher, que tinha a leve vontade de tocá-los apenas para saber se eram tão macios como pareciam ser; os lábios dele eram bem desenhados e estavam um pouco pálidos.

— Vocês realmente não sabem quando ele vai acordar? — questionou ela, sem tirar os olhos do Maximoff.

— Segundo as análises de Wanda, ele pode acordar a qualquer momento. — respondeu Clint. — Ele aparentemente precisa de algo que o faça despertar, como adrenalina, algum choque emotivo ou um balde de água fria. Já tentamos de tudo. — suspirou. — O que nos resta é esperar.

— Acho que vocês não repararam em uma coisa: as feições preocupadas dele. — Lavínia falou. — Talvez ele não esteja inconsciente, mas sim preso em algo de que não consegue acordar. Repare nas linhas do rosto dele. — ela disse, fazendo o arqueiro fitar o rosto do rapaz.

— Não vejo nada. Ele parece sereno para mim. — Barton a encarou confuso e ela desviou o olhar, fitando novamente o rapaz que dormia.

— Mas... — murmurou ela, deixando a frase morrer. Via claramente o descontentamento na face de Pietro, e não conseguia entender o motivo de seu amigo não enxergar isso. Sabia que ele não estava dormindo serenamente.

— Clint. — ambos se viraram para ver Samuel Wilson na porta, que deu um meio sorriso. — Tem um visitante na sede que quer muito conhecer você. 

— Certo. — o arqueiro respondeu um pouco confuso e andou até a porta, mas se virou e encontrou a Banner parada, ainda ao lado de Pietro. — Você vem, Lavs?

— Ah, sim. — a garota acordou para o mundo, balançando a cabeça. Tocou involuntariamente na mão fria do Maximoff antes de sair com o amigo, fechando a porta. Sequer percebeu quando os batimentos cardíacos do rapaz inconsciente aumentaram violentamente.

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Os cabelos dela estavam molhados, alguns fios grudados na lateral do rosto enquanto respirava de forma ofegante, sorrindo para seu oponente. O homem também sorria e respirava da mesma maneira, os cabelos também molhados e as mãos cerradas em punho na frente do corpo, a chamando para mais ação. Natasha correu até Steve e desferiu um chute com a perna esquerda, sendo desviado com um pouco de dificuldade pelo rapaz; em seguida, girou e desferiu uma cotovelada no ombro do rapaz, que mordeu o lábio e se afastou enquanto ela ria.

— Está recuando, Rogers? — a ruiva falou alto, sorrindo enquanto passava uma das mãos na testa para tirar o excesso de suor. — Lute como um soldado e dê o seu melhor!

— Só estamos treinando, Romanoff. Você não vai querer o meu melhor. — respondeu o loiro, entrando no jogo dela e sorrindo enquanto arfava, caminhando na direção dela e a levando em direção a umas das grades do ringue, como ele queria. Assim, ela não teria escapatória.

— Pode ter certeza que eu quero o seu melhor. — a agente respondeu, sorrindo enquanto dava passos para trás, sem perceber que estava quase encostando na grade fria de metal.

— Espere só mais um pouquinho e vai descobrir. — o soldado respondeu, com um sorriso maroto no canto dos lábios.

Aquele sorriso fez com que a mulher parasse e o encarasse, sorrindo ao entender o que ele queria fazer e voltando a andar até encostar na grade. Porém, quando ele chegou perto o suficiente, ela o puxou pelo colarinho da camisa e girou, prensando-o contra o metal e deixando seus rostos próximos.

— Tente novamente, Steve. — a russa falou baixo, bem próxima do rosto do americano, claramente o provocando. — Conheço muitos truques.

Rogers sabia exatamente como escapar daquele ataque — mas, para isso, ele deveria segurar Romanoff pela cintura e prensá-la com força também, o que estava fora de cogitação. Ele sabia muito bem que algo o impedia de machucá-la, mesmo em um treinamento; qualquer outra garota, menos ela. Ao invés de escapar, ele ficou imóvel enquanto se perdia nos olhos verdes dela, ao mesmo tempo em que ela se perdia na imensidão azul que o olhar dele lhe mostrava. Seus rostos estavam mais próximos que o de costume, fazendo o soldado corar levemente quando percebeu a situação em que se encontrava, roubando um sorriso discreto de canto da russa.

Antes que qualquer outra coisa pudesse acontecer, ambos ouviram uma batida na porta de entrada da sala. Se viraram para encarar Lavínia ao lado da porta, um pouco constrangida ao ver ambos naquele momento, enquanto Sam e Clint estavam logo atrás. Steve e Natasha se separaram um pouco sem graça, evitando se encarar nos olhos, enquanto um sorriso bobo ilustrava o rosto de Barton.

— Desculpem interromper. — Wilson sorriu malicioso e cutucou o amigo arqueiro com o cotovelo, que sorriu da mesma forma. A Banner também não pôde conter um sorriso maroto. — Capitão, um pequeno amigo nosso está nos esperando no pátio principal.

Rogers sorriu ao entender a referência que o amigo fizera, usando a palavra "pequeno".

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— Entendeu? — a morena finalizou.

Wanda estava abaixada na frente de Barnes, próxima do rosto dele enquanto terminava de explicar sobre o processo para recuperar as memórias dele. O mesmo assentiu, um pouco desnorteado, jogando a cabeça para trás na intenção de se livrar do cabelo que estava em seu rosto e atrapalhada a visão que tinha da garota. Gostava de ouvir o tom da voz dela, que era suave e agradável para seus ouvidos, e a maneira que ela movia os lábios era um tanto elegante.

— Sim. — Bucky respirou fundo e fitou a garota intensamente. — E estou pronto.

A Maximoff suspirou e se afastou, puxando uma cadeira e levando até a frente dele, se sentando. Os procedimentos que fariam a seguir eram dolorosos, porém ajudariam o soldado a se lembrar de coisas importantes de seu passado e, principalmente, do ataque que o deixara naquela situação — do qual ele não tinha nenhuma lembrança. A feiticeira só precisava perguntar algo e repousar sua mão sobre a dele, para que uma forte corrente de dor fosse sentida por ele ao ver em sua mente as memórias recuperadas relacionadas a pergunta feita, enquanto mantinha os olhos fechados. Não queria fazê-lo sentir dor, mas era a única maneira.

— Quem te atacou antes de você chegar aqui? — ela perguntou de forma suave, hesitando um pouco antes de juntar suas mãos. A dupla se fitou e ele assentiu de leve para ela, a fazendo repousar sua mão sobre a dele.

Barnes arfou forte e fechou os olhos, tentando se concentrar para lembrar do que a garota havia questionado. Viu uma silhueta alta e embaçada no cenário em que estava, que era o mesmo da batalha em que tinha sido atingido, gemendo alto com a dor que as memórias lhe provocavam. Wanda apertou forte a mão dele, tentando confortá-lo ao se sentir culpada pela dor dele.

— O que você vê? — questionou ela, baixinho.

— Eu vejo... — começou ele, gemendo mais alto dessa vez enquanto segurava forte a mão dela também. — Uma silhueta alta... É um homem. — Bucky disse e gemeu novamente, quase como um grito baixo de dor, seus olhos fechados com força.

Ele se concentrava nas memórias, e logo as imagens em sua mente ficaram um pouco mais visíveis. Pôde ver que o homem era branquelo, mas tinha músculos — porém não tanto como ele. O via de um ângulo que dava a entender que estava deitado no chão, enquanto o homem estava em pé a sua frente. Gritou baixo quando sua visão melhorou, o que o fez reparar na calça preta e na camisa cinza do homem, que carregava o desenho do principal símbolo do nazismo, enquanto um arco estava em suas mãos. Berrou alto quando homem se abaixou e ficou próximo de seu rosto, o fazendo reparar em poucas coisas na sua feição: olhos azuis e uma cicatriz abaixo do olho.

— Ei! — A Maximoff falou, chamando a atenção de Barnes quando ele abriu os olhos assustado, arfando enquanto sentia seu corpo dolorido. — Eu, eu sinto muito... Você está bem?

— O homem... O homem com o arco e a cicatriz no olho. — o soldado ignorou a pergunta e falou, continuando a murmurar a mesma coisa repetidas vezes em seguida.

— Quem é ele? — a morena apoiou as mãos no rosto dele, fazendo-o encarar seus olhos.

— O Caçador. — Bucky murmurou como um pedido de socorro. — O Caçador do demônio.