13º Instituto Remanescência escrita por Vico


Capítulo 16
Capítulo 16 - O corredor




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Os sapatos sociais fazem um som de batidas secas se alastrar pelo corredor iluminado por lâmpadas fluorescentes embutidas em caixas quadrangulares no teto. O carpete vermelho no centro do corredor vai em direção a uma sala com uma porta de madeira muito imponente de cor escura e envernizada. Os sapatos pertencem a um homem muito bem vestido, que se locomove sobre o tapete com classe, embora apressado. Ao chegar à frente da porta, utiliza a junta do dedo médio, mais precisamente a cabeça da falange proximal, para bater. O som das três batidas secas e agudas pareceu concluir o som realizado anteriormente pelos sapatos.

De dentro, alguém balbucia algo que serve como uma aprovação para que o homem elegante entre. Ele puxa para baixo a maçaneta de cor dourada e abre a porta. Lá dentro, em uma cadeira enorme e confortável, também de madeira e com acolchoamento de veludo azul escuro, um homem com cerca de quarenta anos lê alguns documentos sobre a mesa de Imbuia escura. Ele não desvia o olhar até que o homem elegante fale.

— A muralha está erguida e a energia cortada.

— Eu preciso saber se a ameaça foi erradicada. Algum indício de que o vírus possa se espalhar para fora da escola? - o homem fala de maneira seca, em combinação com sua aparência frágil e debilitada.

— Não há indícios de que o Fulgor tenha conseguido se propagar para além da muralha.

O homem se curva um pouco para baixo por um tempo, como se planejasse tirar os sapatos, e se levanta calmamente da cadeira, revelando uma simples vestimenta. O algodão da camisa branca de mangas compridas contrastando com a seda da calça azul escura. Ele passa as pontas dos dedos na mesa enquanto anda a passos lentos. Seu braço é levemente iluminado pela luz provinda de um conjunto de dados expressos em um holograma sobre a mesa. Ele sai de trás da mesa, ainda calado e pensativo. Nenhum som na sala. Até o mínimo barulho dos passos é silenciado quando seus pés descalços tocam o grosso tapete peludo que cobre praticamente todo o piso do local.

— Pronto. Já pode falar as notícias ruins. - diz o homem com seus olhos profundos fixados em algum lugar no chão enquanto ainda anda sobre o tapete.

— Não conseguimos retirar ninguém lá de dentro. O professor que nos alertou, inclusive, também ficou preso nas muralhas.

— E isso alguma vez fez parte dos planos? Sabe o risco que isso traria aqui para fora?

— Sim senhor, governador. A outra notícia ruim é que, como esperado a informação sobre a situação do Instituto já começou a se espalhar. A decisão tomada pode causar fúria nos parentes das pessoas que estão dentro da muralha.

— Essas pessoas terão que entender que não podemos arriscar a vida de todos do Polo por causa das pessoas lá de dentro. Têm que entender que, principalmente, também perdemos o melhor centro de ensino desse Polo.

— Sim senhor, governador. Mas eles vão querer alguma satisfação sobre como o incidente começou.

— Meu caro Paulo. Em primeiro lugar, você sabe que pode me chamar apenas de Júlio, se quiser. Em segundo lugar, você acreditaria se eu dissesse que também quero alguma satisfação sobre isso? Tem alguma informação?

— Nós supomos que tenha ocorrido uma falha na pesquisa.

— E é essa a explicação que iremos dar? Que fazemos uma pesquisa sem permissão com Cranks vivos? Nem mesmo os alunos daquela escola sabem sobre essa pesquisa e você quer que eu espalhe a informação para todo o Polo, o que consequentemente seria espalhado para o resto do país.

— Mas, senhor... Mas, Júlio, a pesquisa era proibida por não termos recursos. Temos recursos e segurança para manter essa pesquisa, o que invalida a proibição. As chances de o vírus ter se propagado são pouquíssimas.

— Meu inocente Paulo, você acaba de se contrariar. Mas me permita explicar-lhe uma coisa: à pesquisa sempre foram postos empecilhos sem sentido. Você sabe que há alguns polos que querem ter a maestria de conquistar a cura sozinhos, fazendo de tudo para evitar novos concorrentes. E além dessa proibição, o que falar sobre o laboratório ficar situado dentro dos muros?

— Esse laboratório não foi construído no seu mandato.

— Mas o "outro" já cortou sua corda e agora quem está na forca sou eu. Eu preciso jogar com as cartas que me foram passadas. - nesse momento, o governador para de caminhar e direciona o olhar a Paulo.

— Entendo. Espero que consigamos fazer as jogadas certas, porque esse episódio certamente atrapalhará em sua campanha.

Júlio caminha em direção a Paulo enquanto olha ao seu redor, como se analisasse alguma falha no papel de parede.

— Eu vou conseguir virar o jogo. Se a vida te dá um limão, plante um limoeiro.

— E qual o próximo passo? - pergunta Paulo mantendo sua postura séssil, escondendo um enorme medo dentro de si.

— Acho que primeiramente precisamos descobrir a origem desse problema - Júlio, nesse momento, passa ao lado de Paulo, se dirigindo até a porta. Ele segura a maçaneta e a empurra para baixo, puxando a porta para abri-la. Paulo se vira e, no mesmo ritmo de sempre, se dirige até a saída. - Depois disso, precisamos provar que sabemos eliminar uma ameaça mesmo que ela seja originada aqui dentro. Acho que isso será ótimo para a campanha.

Paulo faz um sinal de concordância com a cabeça e segue pelo corredor, sobre o carpete vermelho, na direção oposta a que caminhava há alguns minutos. Sua respiração lentamente se torna mais pesada e ele consegue sentir uma gota de suor escorrendo sobre sua testa. Sua mão faz menção em se erguer para enxugar o líquido que desce pelo seu rosto frio como uma bola de neve, mas se lembra de que a porta pode ainda estar aberta. A vontade que tem, como sempre, é de olhar para trás para confirmar se ainda está sendo observado.

Quando Paulo está a cerca de dez metros de distância, ele ouve Júlio o chamar. Ele se vira, mantendo sempre a postura, e olha para o governador, que está parado em pé enquanto segura o trinco da porta.

— Não necessariamente os dois passos precisam seguir essa ordem.

Paulo faz sinal de que entende a mensagem e se vira, dando continuidade a sua caminhada. Ainda esmagado pelo silêncio do corredor. Pensava na imagem do governador ainda em pé, olhando para suas costas, mas mal sabia que o homem já havia fechado silenciosamente a porta.


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