Pokémon - A Tale of Kanto escrita por SHNeto


Capítulo 7
As lutas demonstrativas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, gente, ^^!



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Dentro do estádio era bem maior do que fora. Compacto e bem estruturado, o lugar fora conduzido por mais ou menos uma dezena de arquitetos e executado por mais de cem trabalhadores, sendo um dos orgulhos da cidade. Da entrada inferior que dava direto para as arquibancadas de pedra a vista era bela. O espaço do espectador descia até perto dos limites de um enorme retângulo onde era comportada a arena de mesmo formato. Muitas pessoas se espalhavam pelos assentos a medida que os participantes das lutas demonstrativas apareciam no estádio.

Em Kanto há diversas empresas e mercados financeiros nos quais os treinadores são importantes. Pois é, são tipo os jogadores de futebol. Primeiro são acolhidos por empresas por meio de pilhas de contratos. Em segundo lugar são colocados para combater outros treinadores de empresas rivais para fomentar propaganda e esquentar as relações entre instituições ou arrecadarem doações. Muitas vezes agem em prol do entretenimento, mas também são gananciosas, adquirindo poderosos treinadores para participarem de eventos imensos como a Liga Indigo com o intuito de melhorar sua imagem perante o público.

Anthony viu de longe uma face familiar. Luke estava sentado na arquibancada, comendo um salgado embrulhado em papel e tomando um refrigerante de uva. Demorou um pouco para ser visto pelo amigo. Os dois se abraçaram por um momento e depois se encararam.

– Então você venceu o Clay como eu pensava. – disse. Estava contente por encontrar o amigo naquele lugar. – Está aqui para assistir as demonstrações?

Assentiu, se sentando ao lado de Luke.

– Parece que vai interessante. – comentou Anthony.

– E vai. – disse. – Geralmente as empresas envolvidas são simples, mas dessa vez houve uma intromissão da Pokéball Industries e da Trainers Acessories.

– Dois colossos do mercado aqui? – Surpreendeu-se Anthony, esboçando com o auxílio dos lábios um sorriso animado e meio amargo. – Então isso vai ser espetacular... Quem será que eles contrataram?

– Eu ouvi dizer que a TA conseguiu um duelista bem sucedido para defender o lado dela, mas eu não sei o que a PI vai trazer hoje.

– Estou na expectativa...

– Eu também.

E gargalharam. Cinco minutos mais tarde entraram os patrocinadores e seus comerciais específicos. A TA veio com o anúncio de seu aperfeiçoamento da Pokédex e uma atualização dela nos celulares. E a PI anunciou uma nova Pokébola, a Premier Ball, uma esfera bicolor, de tampa superior e inferior tão brancas e reluzentes quanto pérolas enquanto o feixe e a linha do selo são escarlates. Haveria uma promoção especial para se conseguir ela, pois é um projeto festivo da empresa. Os treinadores entraram aos poucos sem timidez evidente. Começou com a convidada da TA.

Uma garota de altura mediana e pele branca quase cristalina, lembrando a de uma boneca de porcelana, caminhou por uma área de solo arenoso e dourado, seguindo a risca as limitações brancas de sua rota. Trajava um vestido preto de saia longa com pequenos adornos brancos reluzindo na escuridão de suas vestes como estrelas no céu noturno.

Uma apresentadora famosa no mundo das notícias e torneios chegou a tempo de narrar o confronto. Ela usava um vestido prata puro e muita maquiagem escondendo traços cansados. Equilibrava-se por sobre um salto bem alto da mesma cor de seu traje de gala. Mantinha um sorriso esticado com muito esforço e parecia distraída demais com suas tarefas para preocupar-se com a sua saúde.

Meu nome é Diane e serei eu quem irei apresentar o evento de hoje, meus queridos! – falou a apresentadora. – Portanto, deem boas vindas à Lana! – A plateia respondeu com aplausos e salves que tornaram o estádio uma espécie de palco festivo. – Ela é uma treinadora de Celadon com muitos dons, também a filha do magnata Henry Dalinos. – Recebeu um comunicado pelo dispositivo preso em seu ouvido direito e recostou o lábio inferior em um microfone especial presos na margem do decote. Não foi audível nem para Anthony e nem para Luke. – E por coincidência, o outro duelista do dia é também uma garota, só que desconhecida! – Não houve uma boa resposta do público. – Mia Cloud!

Anthony aguardou alguns momentos antes da entrada de uma garota estranha. Trajava roupas que não eram extravagantes, e sim do dia a dia. Um jeans cobria desde a cintura até os tornozelos, deixando amostra um fio de prata que entornava a base acima do pé. Os cabelos negros foram domados em um rabo de cavalo longo que partiu da nuca até o meio da coluna e o melhor adorno encontrado em seu corpo era uma tiara de forrada de tecido vermelho com listras brancas. Suas feições eram calmas e os traços finos como os da adversária, mas por algum motivo transmitia uma intensa sensação de desafio para quem a encarasse. Na verdade, o motivo era apenas o detalhe vermelho dos olhos. Um moletom azul escuro a protegia da ventania tardia da cidade.

– Elas são bonitas, não acha? – Luke perguntou enquanto movia as mãos para os bolsos e vasculhava o interior deles. – Principalmente a primeira.

– Pois é... Eu gostei da segunda. – respondeu. – Será que elas são boas?

– Para estar aqui? Sim.

Houve uma pausa de alguns minutos para as participantes se prepararem. Uma brisa gélida descendeu e passou pelas pessoas, fazendo-as penar. Quem não usava casaco poderia pegar um resfriado. A sorte de Anthony era estar usando um bem naquela hora. Viu a senhorita lá embaixo tremer de frio enquanto a menina “grosseira” nem se mexia... Talvez por estar usando aquele moletom. Seu olhar determinado não desviou de sua oponente. Parecia analisa-la a cada piscada, como se fizesse milhões de planos meticulosamente arquitetados para descobrir algo novo e jogá-lo fora antes de produzir outro. As duas meninas foram cercadas por seus patrocinadores e seguranças que lhes diziam várias coisas inaudíveis para os espectadores.

– Aguentem um pouquinho aí! Elas estão quase prontas! – Deu mais uma espiada nos dois lados e colou a boca no microfone, ensurdecendo a plateia por um momento com um anuncio similar a um silvo. – E estão prontas!

As duas avançaram para o retângulo mantendo os rostos sem expressão. Anthony viu de relance um que de nervosismo por parte da garota rica, mas ela não deixou aquilo se espalhar. Tornou-se novamente séria e esperou a vinda de um dos guardas. Esse mesmo guarda repousou uma esfera tricolor na palma dela e se afastou. Do outro lado, a menina estranha retirou do bolso maior no torso do moletom uma esfera azul e branca com duas veias escarlates em seu topo e o feixe normal. Elas seguiram uma na direção da outra e cumpriram o procedimento de alinhar os objetos.

– Podem começar! – gritou mais uma vez, não medindo a distância da capsula do microfone.

Mia Cloud pressionou o centro da esfera com uma facilidade absurda e a deixou abrir, manipulando seus dedos para que o recipiente permanecesse na palma sem cair. Com a maestria de uma campeã ela não vacilou, maneando o punho para dispersar a fumaça e deixar que o Pokémon ejetasse tranquilamente do interior. Fios dourados escorreram sobre os ombros do ser junto a lábios carnudos e exagerados que não contrastavam nem um pouco com a pele roxa viva. Possuía olhos vidrados como os de um assassino, mas sorria gentilmente enquanto dobrava os braços bizarramente musculosos. Ao lado de Lana, um pônei de pele branca amarelada grunhiu em meio a uma fumaceira branca e densa, exibindo os suas pernas brutas e treinadas conforme caminhava pelo campo, relinchando e bufando. Bateu duas vezes os cascos traseiros no chão, como se chamasse o oponente em meio a empolgação.

Pokédex: Jynx é um Pokémon fêmea de longos e deslumbrantes cabelos dourados, pele roxa e lábios imensos, além de ser possuidora de um olhar esquisito. Seus braços têm músculos complicados de se explicar, aguentando um grande peso, mas também servindo para o combate. Vive em ambientes gélidos e adora visitantes em suas cavernas no meio do ártico. Cuidado: O seu beijo é extremamente frio e pode paralisar uma pessoa de um modo traumático se for certeiro.

Pokédex: Ponyta é um Pokémon pônei flamejante. Sua crina é inteiramente uma lufada de brasas que são trançadas em um tecido quente demais, as costas são cobertas por esse mesmo véu e terminam na cauda que é uma língua de chamas. Sua força é surpreendente e também é importante ressaltar a sua imensa velocidade. Cuidado: Um coice de uma Ponyta marca facilmente uma superfície sólida maciça, então é bom não provocar essas criaturas.

– Ponyta, Flamethrower! – O farfalhar das pelagem incandescente da montaria foi seguido de uma surpreendente onda quentíssima que varreu o solo, maleando as superfícies e deformando o chão a ponto de deixar insuportável ficar por lá.

– Powder Snow! – A Jynx fechou as duas mãos e cruzou os braços em um X defensivo. Uma espécie de camada totalmente branca e pontilhada cobriu a sua pele como uma barreira, esfriando a rajada e criando umidade o suficiente para manter a Pokémon ilesa.

– Que defesa inesperada! – a narradora gritou.

– Não deixe ela se recuperar! Use o Stomp! – Foi um ótimo truque. Em quatro trotes pela piscina de terra maleável, o pônei pegou um impulso alongado na direção de seu alvo. Envergou o corpo e mirou as duas patas traseiras em sua oponente, martelando a defesa.

– Um certeiro golpe que pode resultar em um ferimento profundo foi aplicado! – disse a narradora, empolgada.

Percebeu-se uma estranha lentidão da Ponyta na hora de fincar as patas na Jynx.

– Parou de avançar!

– Ice Punch! – Sem ao menos fraquejar, o Pokémon de gelo brandiu o punho e agrediu ferozmente a mandíbula do cavalo. Em um baque absurdo, as pernas fortes da criatura bambearam e suas chamas reduziam enquanto descongelavam uma parte da face do equino.

– Um ataque em cheio pregou uma terrível consequência em Ponyta! – afirmou a narradora. – Será que o caminho da luta irá mudar?

Na multidão, Anthony olhou para Luke, abismado.

– Elas são boas de verdade. – disse o menino enquanto observava seu amigo.

– Pois é. – Luke remexeu levemente a cabeça, tentando raciocinar. – Então é assim que um treinador patrocinado luta...

– Espero que nem todos sejam assim...

– Sim.

A Jynx meneou a cabeça e deu um passo a frente na direção da Ponyta.

– Comece a estratégia, Jynx. – ordenou. – Perish Song.

O ser abriu a boca antes de qualquer ordem vir por parte de Lana e de repente uma melôdia suave irradiou de seus lábios bizarros. Sumiu em poucos instantes, mas eram possível ver a Ponyta absorvendo o som com os seus ouvidos.

– Não caia nisso, Ember! – A Ponyta raciocinou um pouco e disparou brasas velozes na direção da loira.

– Use as mãos e Powder Snow. – pediu delicadamente. Em um único movimento para frente, a Jynx capturou as chamas com as mãos e as extinguiu, dando origem em seguida a uma onda de pequenos flocos de um branco pálido que congelou tudo o que tocou.

– Saia daí! – O cavalo foi levemente atingido na parte traseira e capotou ao aumentar a velocidade, derrapando pela arena. – Use o Stomp para se reestabelecer! – E o Pokémon o fez, pondo-se torta, mas de pé.

– Ice Punch! – A saia vermelha esvoaçou, suas pernas tocaram o solo e ela martelou uma porrada colossal no rosto da Ponyta, congelando a região ocular em sua face e a fazendo sucumbir para trás.

– Flamethrower! – Preparou uma torrente de chamas de última hora.

– Feche a boca dela e Draining Kiss! – As enormes mãos envolveram a mandíbula do pônei e firmaram na área, deixando as chamas transbordarem e ferirem o céu da boca do equino. Mandou um beijo absurdamente rápido que emitiu uma luz rosada estranhamente brilhante sobre o nariz da Ponyta onde uma explosão de pequena escala surgiu, ferindo o Pokémon. O vigor da Jynx retornou após o golpe.

– Droga! – Exclamou Lana. – Flame Wheel! – Ela deu a ordem sem pensar nas consequências de seus atos.

– Acabou. – disse Mia.

As chamas cresceram nas costas do cavalo, mas rapidamente abaixaram e ele caiu de joelhos, grunhindo de dor e logo após desmaiando. Ninguém acreditou naquilo. Anthony se pôs de pé, completamente tomado pela angustia da derrota. Aquele Pokémon não merecia sofrer um tormento daqueles e pior, a menina que o executou não pareceu ligar muito para a adversária. Paramédicos e enfermeiras seguiram na direção do animal abatido, visando tratar das feridas mais graves antes que a situação se agravasse.

– A... A... A vencedora é Mia Cloud! – A narradora disse depois de muito criar coragem. – Com uma técnica assustadora, sua Jynx subjugou a Ponyta de Lana sem problemas aparentes!

– BRUXA! – Gritou alguém na plateia.

– Louca! Idiota! Cruel! Malévola! – A vaia aumentou tanto que a arena tornou-se o olho de uma tempestade composta por urros indignados de espectadores leigos, todos apoiando o lado injustiçado sem ao menos entender o quê acabou de acontecer.

Anthony não gostava de lutar daquele jeito, mas Mia estava certa. Primeiro ela testou o modo com o qual a adversária tomava as suas decisões. Em segundo lugar, a fez perder o seu controle com poucas palavras e feitos, mas todos bem calculados. E em terceiro lugar e também por último, ela ocasionou toda uma abertura na guarda de Lana, uma fenda tão grande que mesmo um golpe insensato como um soco direto penetrou e foi efetivo. Pensando de certo modo, ela foi astuta na hora de enfraquecer um Pokémon de fogo, congelando a sua pele e a fazendo derreter a camada de gelo e umedecer o seu corpo a ponto de não reagir mais direito aos ataques. Só que poucos perceberam isso.

– E um coro depreciativo segue a coitada da Mia. – exclamou a narradora, furiosa com o quanto as pessoas podem ser ingênuas.

Mais uma surpresa. Lana avançou até Mia e estendeu a mão, sendo respondida instantaneamente. As duas sorriram uma para a outra e logo depois a garota rica saiu junto de sua parceira para as entranhas do estádio. A menina sorriu para os céus e observou o público com certo apreço, mesmo sendo alvejada por lixo e latinhas. Jynx mantinha a sua amiga segura sem nem mesmo vacilar, rebatendo uma lata de coca cola para uma mulher zangada.

Uma vontade estranha desceu no subconsciente de Anthony e ele desceu pulando a arquibancada sem ao menos entender o quê fazia, mas sentia aquilo crescer como um vírus incubado. Viu-se colocando o pé sobre a mureta e saltando sobre o solo arenoso, rolando e acumulando areia no casaco negro. Pôs-se de pé. O sol iluminava o espaço entre os dois. O coração batia depressa. As palavras não queriam sair facilmente e mesmo assim ele não saberia o que dizer. Ouviu Luke gritar lá atrás algo como “Cuidado” e “Saia daí!”, mas não ligou. Viu a segurança se fechar em torno de si e a menina autorizar a permanência dele ali.

– O quê foi novato? – um sorriso debochado que rasgou a coragem do rapaz até a metade. – Veio me bater?

– Não. – disse de imediato, alarmando todos ao redor. – Você é muito boa, de verdade.

– Sério? – foi irônica. – Olha, se você veio aqui me dizer coisas óbvias...

– E por ser forte que eu tenho de te derrotar.

– UM DESAFIO! – A narradora berrou.

Tornou-se inexpressiva. O olhar marcado pela surpresa. Mia sorriu timidamente e só então percebeu que ela era menor, mas um pouco mais velha. A plateia calou-se, boquiaberta. Luke paralisou na mureta sabendo que ia ser recepcionado pelos seguranças. Ninguém respirou durante um milésimo de segundo, exatamente ninguém... Com exceção de Anthony.

– Vo-Você está brincando, não é? – gaguejou. – Nem patrocinado é.

– Eu não preciso. – afirmou. – Pois eu estarei na Liga Indigo. – apontou o polegar para o próprio rosto e sorriu.

Ela olhou-o sério e depois riu.

– Tem certeza que consegue me encarar? – soou convencida. Todos envolta pareciam perplexos pela maneira com a qual ela se dirigia a Anthony. – Sou muito mais forte que qualquer um desses novatos, eu serei uma campeã.

– Eu tenho certeza. – ele estendeu a mão para ela.

Ela a apertou e estava prestes a dizer algo quando um dos seguranças o agarrou pela cintura e o arrastou para um dos túneis do estádio, separando-os repentinamente. Mia nada o fez, apenas viu aquela pessoa estranha desaparecer de sua vista. Respirou fundo e notou a mudança de humor da plateia. Estavam bravos, mas ao mesmo tempo felizes com a atitude da menina.

– Senhorita, o seu pai está te esperando. – informou um dos seguranças.

– Tudo bem, tudo bem. – disse Mia enquanto abanava as duas mãos. – Não precisava ter feito aquilo, pois não senti nenhum instinto assassino vindo dele.

– É só por precaução, senhorita.

– Esse negócio do meu pai novamente? Eu já não te pedi para me deixar ser um pouco livre?

– Me desculpe senhorita. – ele curvou-se levemente e a guiou por um túnel menor e mais reservado.

Ela viu Luke correr na direção de Anthony e sumir logo depois dele. Em algum lugar de seu subconsciente ela estava seriamente interessada naquela figura estranha que foi insolente o bastante para cumprimentar a filha de um dos melhores treinadores vivos em Kanto.


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Notas finais do capítulo

Comentem, :P!



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