Reviravolta escrita por Juliana Rizzutinho


Capítulo 3
Bálsamo


Notas iniciais do capítulo

E chego com mais um capítulo de Reviravolta! A postagem era para ser amanhã, mas... o que me impede de fazer hoje, né? Enjoy!



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— Quer ir à Liberdade comigo?

Beatriz, ou simplesmente Bia, é a minha sobrinha mais nova. Alta, magra e cabelos cortados no mesmo estilo dos personagens de um mangá. Para quem não a conhece, parece tímida, mas é uma garota curiosa, divertida e sempre em busca de novidades.

— Vamos! Vai ficar triste aí?

— O que você vai fazer lá?

— Ah, vou percorrer as lojas para comprar uns detalhes para o meu próximo cosplay, depois vou escolher alguns mangás e no fim vou almoçar... Poxa, faz tempo que não saímos juntas.

Isso é verdade, depois da avalanche, fiquei quieta demais, calada demais.

— Tá bom, vai! Passo aí às 10 horas e vamos.

— Não, deixa que vou até na sua casa.

O domingo está claro, com temperatura agradável e as lojas começam a abrir. Já tinha ido ao bairro da Liberdade outras vezes, mas desta vez irei conhecê-lo sob os olhos de uma otome.

Otaku/otome (para as meninas) é uma expressão usada no Japão para definir pessoas viciadas em alguma coisa. No caso da Bia remete aos mangás e animes, além de ser uma cosplayer. O termo para quem não conhece é a forma que chamam para quem se veste como seus personagens preferidos de animes ou mangás.

Entramos em um pequeno shopping, que mais assemelha a uma galeria com vários andares. A primeira parada é em uma loja de mangás. Ela percorre o estabelecimento com uma familiaridade que me deixa surpresa. Não sei se é pela sua empolgação ou pela paixão que ela manipula aqueles pequenos livros-revistas que começo a mexer nas coleções das outras prateleiras.

— Quer que te ensine? É assim, você lê de trás para frente. E da direita para esquerda e vai indo.

Divirto-me com o fato de uma ocidental, descendente de portugueses e italianos, sente-se tão à vontade com aquele jeito que só os japoneses conseguem ler.

Enquanto ela me explica as histórias dos vários mangás, uma publicação me chama a atenção: “A Princesa e o Cavaleiro”, de Osamu Tezuka.

— Olha!! Assistia a esse desenho quando pequena.

— Sério? Está vendo? Você assistia anime e nem sabia. É que nem o meu pai. Ele falou que adorava ver Speedy Racer. Ué, era outro anime. – me revela com um sorriso no rosto.

E não é que ela disse a verdade? Fico tão empolgada que acabo comprando alguns exemplares de “A Princesa e o Cavaleiro”. Esse é ponto de partida para me apaixonar por mangás, animes e outras formas da cultura japonesa.

Semanalmente vou ao bairro em busca de novos volumes das mais variadas histórias. Confesso que a princípio atrapalhei-me na leitura que não se podia se chamar de livros... ou tão poucos revistas, mas como a própria senhora que me atendia na busca dessas publicações fala: “esse é o perfil da literatura pop japonesa”.

Mais tarde, decido aprender japonês.

— Japonês? – perguntam-me.

— Sim, afinal quem sabe realmente falar por aqui? Aliás, só os descendentes ou as pessoas nativas do país que aqui vivem e olha lá.

Pedi conselhos para os amigos descendentes, procurei anúncios e pesquisei escolas que podiam ser idôneas. E o bairro da Liberdade torna-se a minha segunda casa.

Realizo a minha matrícula meio apreensiva, empolgada e, confesso, com um pouquinho com medo.

E assim, em uma quarta-feira à noite iniciei o curso. Os horários escolhidos foram às quartas-feiras e aos sábados. Nas quartas, elas começam por volta das dezenove horas e trinta minutos e aos sábados às dez e trinta.

No primeiro dia de aula, chego à escola por volta das dezenove horas. Procuro uma cadeira no meio da sala, e não muito perto da janela porque a noite está fria. Enquanto espero pelo início das aulas, duas senhoras próximas a mim conversam animadamente.

Penso comigo mesma que é sempre estranho iniciar algum projeto que envolve outras pessoas que ainda você não tem intimidade. Não que tenha dificuldade para fazer amizades, mas o começo é sempre difícil.

Dezenove horas e trinta minutos, o professor, um senhor de 70 anos, adentra a sala e nos cumprimenta com bastante reverência. Aos poucos percebo que foi uma das melhores decisões que já tomei na minha vida.

Quinze minutos, um rapaz chega esbaforido à sala.

Oyasuminasai!

A cena é engraçada, o rapaz parece um gigante desajeitado perto do pequeno professor. Com a cara surpresa, sua primeira reação é sorrir, mas de modo envergonhado. Afinal, ele tem consciência do seu atraso (hábito que os orientais não gostam muito).

A classe se diverte, e o senhorzinho pergunta:

— Você sabe o que falei?

— Hum...Não!

— Boa-noite! – responde sorrindo – Sente-se meu rapaz e seja bem-vindo à aula.

Ele se dirige à mesa vaga ao meu lado e acomoda-se de forma vagarosa como um gato e tenta fazer o mínimo de barulho com as suas coisas.

Não sei explicar, mas de alguma forma ele me encanta. É alto, magro, os olhos azuis e cabelos bem pretos e ondulados. Estiloso, não só na maneira de trajar, mas o jeito que se comporta.

Brigo comigo mesma: "Catarina, por favor, foque na aula. Você não quer encrencas, né?" Porém, parece que elas me perseguem...

Fim das aulas, sigo ao estacionamento. O manobrista entrega-me o carro e quando estou saindo, quase atropelo, por sinal, o mesmo rapaz.

— Desculpas! Tudo bem com você?

— Nossa! Eu que peço desculpas, estou tão distraído hoje! Mil perdões.

Dá um sorriso e segue até o carro dele. E é assim que conheço o Eduardo.

Ele se mostra bem participativo e falante durante as aulas. E dessa maneira, conquista toda a classe, inclusive a mim. Curioso, inteligente, sem dúvida, ele não passa despercebido.

Aos sábados, a turma se reúne para almoçar em um restaurante japonês em uma galeria e para tomar café o local escolhido é uma padaria na Rua dos Estudantes. Lá, para mim, é o paraíso. Uma variedade de pães e doces que a gente escolhe, usa o pegador, os coloca na bandeja e passa no caixa.

Em muitas dessas reuniões, ele sempre se senta ao meu lado. No início até pensei que não fosse de propósito. Distraída, mais tarde, percebo que é ao contrário. Procuro todos os defeitos que me incomodam nele, mas quando ele sorri, toda a minha censura se desvanece.

— Quer provar um pedaço de pão chinês? Está uma delícia!

— Não, muito obrigada - respondo.

— Ah, é que de carne de porco, né? Você não comeria o bichinho que é símbolo do seu time.

Dou uma risada e retruco divertida:

— Você é sempre assim? Perde o amigo, mas não perde a piada?

— É... Digamos que sim. Mas depende da amiga, eu fico sem-graça.

"É isso?”, perguntou-me a mim mesma. Mas como ele tem o dom de disfarçar muito bem, desconversa e me ataca com outra pergunta:

— E aí o que você vai fazer hoje à noite?

— Ah, sabe que não tenho nenhum compromisso para hoje?

Não, não sou eu que respondo, mas, sim, Matilde. Uma moça que é uma graça, porém completamente complexada.

Ele olha para mim e diz baixinho:

— Depois a gente conversa. – com leve sorriso.

Sim ele é muito charmoso, apesar de atrapalhado.

Continuamos a paquera por algum tempo. Trocamos telefone, whatsApp, adicionamos um ao outro nas redes sociais. Conversamos bastante, e, aos poucos, trocamos confidências. Mesmo assim, nem eu e nem ele tem a coragem de confessar os sentimentos. Talvez por orgulho ou medo da rejeição.

Mas naquele sábado chuvoso tudo aconteceu...


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer à Clark, à Margarida Mendes, e ao Gerome Séchan por ter favoritado a história. E também à Jenny que nos deixou um review divo.
Na quarta-feira que vem, você conhece o que aconteceu naquele sábado chuvoso...
E não se esqueça... continua a campanha: “Faça uma autora feliz, deixe seu review!”. Beijos e até mais^^



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