Eu não podia estar mais feliz. Pela primeira vez em toda minha vida eu estava fazendo alguma coisa sem pensar, sem calcular, eu estava sendo apenas eu. E só Deus sabe há quanto tempo eu não sorria daquele jeito.

Desci as escadas, saltitando. Jacob iria me buscar mais tarde para fazermos um piquenique no penhasco.

— Nossa! – falei, ao encontrar Lachlan na cozinha. – Vai alimentar um batalhão? – Esperei que ele me respondesse, mas não o fez. – Você me ouviu? – Sem resposta. – Ah qual é? Vai me dar o gelo? Já estamos grandinhos para isso, não acha? O que houve?

— Me diga você! – disse irritado. – Ficar com aquele lobo pulguento? Eu esperava mais de você Aria.

— Pensei que gostasse dos garotos.

— E gosto. Mas dele não.

— Isso, porque está com ciúmes. – Sorri.

— O que você viu nele? Quer dizer, em cinquenta e nove anos, você nunca tinha se interessado por ninguém. Por que justo ele?

— Eu não sei. – dei de ombros. – Não é como se eu pudesse explicar. Aconteceu.

— Não banque a adolescente apaixonada. – disse ácido. Lachlan não passava de um irmão superprotetor. O problema era quando ele ultrapassava os limites.

— Você não é meu pai Ukko. – falei irritada. – Está fazendo tempestade em copo d’água.

— Você não entende, não é? Você é o imprinting dele. – De novo aquela história de imprinting?

— O que quer dizer?

— Aria, você está presa a esse idiota para sempre! Imprinting é uma coisa de lobo. Quando você encontra a pessoa, ela se torna seu mundo. Entende o problema? Ele ficará grudado em você, como um carrapato!

— Isso é a maior besteira que já ouvi Lach. De onde tirou isso?

— Seth e Embry me contaram. – Revirou os olhos. – Eu não estou brincando, Ari. Jacob está louco por você.

— Ruim seria se ele não estivesse. – Sorri.

— Você está sendo irresponsável! Não é a mesma Aria de antes.

— Então se conforme com essa. – falei. – Qual é Lach?! Não pode ficar feliz por mim? – O abracei por trás, fazendo-o contorcer seu rosto.  – Vamos Lach! Não me faça apelar para as cócegas! – Pressionei minhas mãos em sua barriga, mas ao contrário do que eu imaginava, ele não sorriu. Apenas se virou e segurou meu rosto, olhando-me firmemente.

— Ari, eu tenho uma sensação ruim sobre esse garoto. Sinto que vocês dois não irão dar certo. – Soltei-me de seus braços irritada.

— Credo Lach! Rogue sua praga para outro.

— Não estou rogando praga. Estou preocupado. – Ele segurou minhas mãos. – Você é tudo para mim. A última coisa que eu quero nesse mundo, é te ver machucada novamente. – Os olhos azuis, brilhavam quase como uma súplica.

— Você acha que eu me machuquei? – falei ácida. – Não sou eu que estou enterrada a sete palmos do chão. – Sentia as lágrimas começarem a formar-se. Eu nunca iria me perdoar.

— Já chega. Precisa superar o que aconteceu Aria. – disse rígido. – Não foi...

— Não fala mais nada ok? Eu sei o que eu fiz. – falei amarga. – Podemos mudar de assunto? – Ele assentiu e suspirou.

— Mas não diga que não te avisei quando as coisas acabarem mal com o Black. – Retomou sarcástico. Eu não queria mais discutir, quando Lachlan colocava uma coisa na cabeça, ninguém conseguia tirar.

— Vai me responder ou não para que toda essa comida? – mudei de assunto.

— Os meninos me convidaram para saltar de um penhasco...

— Você também vai? Isso é ótimo. Assim não terei que cozinhar. – Sorri, amenizando o clima.

— Não vai cozinhar, mas vai ter que me ajudar. Pode embalar os sanduíches?

— Tudo eu. – Bufei.

Não demorou muito para que a campainha tocasse, e um bando de lobos invadisse minha casa. Jacob foi o primeiro a entrar, cumprimentando-me com um selinho, fazendo Lachlan bufar.

— Pronta? – Perguntou Jake.

Mas antes que eu pudesse responder, um corpo grande e musculoso atingiu-me em um abraço apertado.

— Eu ainda sou mortal, meus ossos podem ser quebrados. – falei abafada contra seu peito.

— Solta ela, cara. – disse Jacob, afastando-nos.

— Deixa de ser ciumento, Black. – falou Embry. – Bem vinda à matilha!

— Pelo que eu saiba, ainda não me transformei em um lobo gigante e fedorento. – brinquei.

— Você não achava isso do Sr. Lobo II até há alguns dias atrás. – rebateu, me deixando constrangida. Era estranho lembrar que eu tinha contado boa parte dos meus problemas para um lobo.

— Não atormente a garota Embry. – Defendeu-me Jared.

— Com licença, mas eu existo também! – disse Lachlan acenando sarcástico.

— Acho que alguém aqui quer chamar a atenção. – falou Quil.

— Acho que ele precisa de uma namorada, isso sim. – Rebateu Embry, fazendo Lachlan mostrar o dedo médio. – Aria, você não ensinou bons modos para essa criança?

— Perdoem-no, ele bebeu muito leite estragado quando pequeno. Ficou assim, coitado.

— A culpa é sua que não me deixava mamar em você. – disse o loiro irritado, fazendo-me corar e causando uma gargalhada escandalosa de Embry.

— Eu devia socar sua cara, desgraçado. – falou Jacob zangado.

— Quero ver você tentar, perdedor. – rebateu Lachlan.

— Acho melhor irmos, antes que cabeças rolem pela cozinha. – disse Jared, puxando Jake pelo braço.

— Sinto que vamos nos divertir muito hoje! – Empolgou-se Embry.

***

O lugar onde iríamos fazer o piquenique era amplo, bonito e alto. Muito alto. O penhasco deveria ter por volta dos 40m de altura e dava uma linda visão do oceano.

— Aria! – chamou Seth, assim que chegamos. Com ele, estava um grupo de pessoas, dentre eles, duas garotas desconhecidas. – Preparada para pular do penhasco?

— Dessa altura? Nesse frio? Sem chance. – Sorri.

— Vem, quero te apresentar umas pessoas. – disse Jacob. Ele puxou-me pela cintura e levou-me até seus amigos. – Não encare Emily, o Sam não gosta. – Sussurrou em meu ouvido. – Aria, acho que você já conhece o Sam, Paul e minha irmã Rachel.

— Acho que agora posso te chamar de cunhadinha não? – Cumprimentou-me Rachel, fazendo Jake a encarar assustado.

— Rachel! – Reprimiu ele.

— Está tudo bem. – sorri. – E você deve ser a Emily? – apontei para a garota abraçada a Sam. Parte do seu rosto tinham grossas cicatrizes, e fiquei surpresa com o fato disso não afetar sua beleza.

— Você é o imprinting de Jacob? – Sorriu ela, fazendo-o ter um ataque de tosse.

—    Quase matou o garoto, Emily. – disse Sam. O líder da matilha era geralmente o mais sério do grupo, mas de certa forma, hoje, ele parecia mais relaxado, mais feliz. E eu tinha a leve impressão de que Emily tinha tudo a ver com aquilo.

— Er... Por que não vamos ver o mar? – Jacob levou-me pela mão em direção ao penhasco, mas antes que pudéssemos chegar estanquei meus pés no chão. – O que houve?

— Podemos conversar? – perguntei. – A sós.

Caminhamos de mãos dadas para dentro da floresta e assim que ele parou, tratei logo de questionar:

— Jake, dá para me explicar logo o que é imprinting?

— Não acho que seja o momento...

— Nem comece. Se vamos mesmo ficar juntos, eu preciso saber. – falei decidida.

— Quando se tem um imprinting com alguém, tudo muda, de repente não é mais a gravidade que te segura no planeta, é ela! Nada mais importa, você faria qualquer coisa, seria qualquer coisa por ela. – Seus olhos estavam fixos em mim, como se por um momento, ele observasse minha alma.

— Isso é... intenso. – Sentia meu ar faltar. – Emily e Sam eles...?

— Sim. – Interrompeu-me. – Rachel e Paul, Kim e Jared... – Ele deu uma pausa e olhou-me receoso. – Eu e você.

— Como? – perguntei surpresa. – N-nós? Você teve um imprinting por mim?

— Sim. – respondeu. – No minuto em que a vi.

— É por isso que não me atacou na floresta? E me perseguiu na escola? – perguntei, vendo-o assentir. – Isso significa que você é forçado a me amar?

— Eu não sou forçado a amar você. – Ele riu. – Pense nisso como algo inexplicável, que te atinge de repente.

— Jake, eu nem sei o que dizer. Tem certeza de que isto está certo? Porque você não age como eles. Quer dizer, Sam se parece com outra pessoa quando está com ela. Você me trata normal. – Ele riu com aquilo.

— Você não é a pessoa mais fácil de se lidar. Ainda nem acredito que esteja aqui comigo. - Sorriu docemente, para meu desespero. Essa coisa de imprinting era intensa demais e eu não sabia se correspondia a tudo aquilo. Era óbvio que me sentia feliz ao seu lado, mas estávamos juntos há apenas um dia.

— Jake, o jeito como eu me sinto quando estou com você, eu...

— E como você se sente? – Interrompeu-me. Sua postura era séria e seus olhos encaravam-me com expectativa.

— Honestamente? Odeio não ter controle sobre mim, mas... – Suspirei fundo. – Eu gosto mesmo de você, mais do que eu devia.

— Então nada mais importa. – E ele me beijou. Sua mão agarrada em meus cabelos, pressionando com toda força que podia meu corpo contra o seu. Quem se importava com imprinting agora? Eu tinha Jacob e eu o queria. Minhas mãos passeavam em seu tronco forte e musculoso, meus lábios colados contra sua boca quente. Mas para meu total desprazer ele rompeu o beijo e colou sua testa contra a minha.

— Só vamos ficar juntos ok? – Sussurrou, e eu assenti.

— Agora você vai ter que me aguentar, Black.

— Tarefa difícil essa. – zombou.

— Se eu fosse você, eu trataria melhor o motivo da sua existência.

— Convencida demais! – gargalhou. – Onde fui amarrar meu burrinho? – Ri de sua careta e mordi sua bochecha.

— Vamos? Acho que os outros estão esperando.

Ele sorriu e segurou minha mão, para então, voltarmos juntos ao penhasco.

— Mal começaram e já estão indo juntos para o mato? – Gargalhou Embry. – Controlem seus hormônios!

— Está com inveja Call? – Rebateu Jacob.

— Sem chance. – disse Quil. – Ele tem o Lachlan agora.

— Não me meta nisso, cara. – Reclamou o loiro mal humorado. – Afinal, vamos pular ou não daqui?

Jared sorriu, e como resposta, se jogou penhasco abaixo, não antes de dar uma cambalhota no ar. Seth saltou em seguida, fazendo uma pirueta. E Lachlan simplesmente jogou-se de costas piscando para mim, antes de cair.

— Você não vai? – perguntou Jacob.

— Eu tenho amor a minha vida, Black.

— Está com medo? – desafiou-me. Rolei os olhos, e sem dizer mais nada, corri atirando-me penhasco abaixo. O vento forte machucou minha pele durante a queda, e a sensação da água gelada chocando-se contra o meu corpo, me fez tremer. Submergi em busca de ar e sorri satisfeita, sentindo a onda de adrenalina fluir.

— VOCÊ FICOU MALUCA?! – gritou Jacob vindo ao meu alcance.

— Quando você...

— Eu pulei assim que você se jogou. Isso foi perigoso!

— Mas você me desafiou a pular! – Rebati. Meu corpo tremia com o frio.

— Eu não achei que você fosse de verdade! – disse abraçando-me. Seus braços quentinhos afastavam o frio.

Saímos da água, encharcados. Eu ainda estava em seus braços e não conseguia parar de sorrir.

— Vamos de novo? – perguntei.

— Você ainda vai me deixar louco Aria. – Riu.

— Então estamos quites.

O resto da tarde se passou assim, com Lachlan mal humorado, o que fazia com que Embry e Quil implicassem com ele, com Seth e Jared arriscando-se em uma partida de futebol, com os casais conversando animadamente, e comigo, sendo a pessoa mais feliz do mundo.

Estava no meu quarto, agora, deitada em minha cama e suspirando, ainda, pelo dia divertido que tive. Até ouvir um barulho vindo da janela. Caminhei até ela e sorri ao ver a figura que acenava para mim do lado de fora. Jacob escalou a parede e entrou pela janela sorrindo.

— Sabe, Black, existe uma coisa chamada porta.

— Não se entra pela porta, quando se tem um cão de guarda lá embaixo. – fez uma careta.

— Lachlan já foi dormir, e estava irritado por sinal.

— Está claro que ele gosta de você. – disse zangado.

— Ele só está preocupado que você machuque meu coração e viole minha pureza. –revirei os olhos, sarcástica.

— Acho que ele devia mesmo se preocupar com a segunda parte. – Ele riu e me beijou, fazendo-nos cair, sem querer, sobre minha cama.

— Controle seus hormônios menino lobo. – sorri. – Eu sou difícil.

— Nem me fale. – Ele gargalhou e deitou-se ao meu lado. – E então? Se divertiu hoje?

— Muito! – disse animada. – Os garotos são demais.

— Quero ver você dizer isso daqui a alguns dias. – brincou.

— Jake. – chamei-o. – Obrigada mesmo por hoje. Faz muito tempo em que não me divirto assim. – Ele não sorriu, seus olhos naquele momento eram intensos, e isto já era o suficiente para o meu coração dar pulo em meu peito.

— Obrigado a você, por existir. – Sussurrou. Encarei-o sem graça, mas logo comecei a gargalhar. – O que foi? – perguntou surpreso.

— Tão clichê!

— Não estrague o momento, sua chata. – Ele revirou os olhos e me abraçou, sorrindo.

— Desculpe, eu não resisti. – falei. – Você vai comigo ao casamento do Ed amanhã? – Mudei de assunto. Tanta coisa tinha acontecido, que eu até me esqueci sobre o casamento.

— É amanhã? – perguntou. Seu rosto parecia confuso e de repente, ele não parecia mais feliz. – Ela vai mesmo se casar com ele?

— O que está acontecendo com você? – perguntei irritada. – Pensei que tivesse superado a Bella.

— Não se trata disso. – falou no mesmo tom. – Eu só... Eu me preocupo com ela! – Jacob definitivamente não estava bem com aquilo.

— Por que está comigo, se ainda gosta dela? Pensei que esse negócio de imprinting faria você esquecê-la.

— Eu não gosto mais dela. Não desse jeito pelo menos. – Ele ainda tinha um tom incerto e sua voz.

— Não me use para esquecê-la. Eu não vou admitir.

— Eu não estou te usando! – Ele pareceu ofendido com o que eu disse.

— Vá embora. – suspirei cansada daquilo.

— O quê? – surpreendeu-se.

— Disse para ir. – empurrei-o pela janela.

— Aria eu...

— Jacob vai! – Eu não queria começar uma briga, mas aquilo estava me magoando. O melhor a fazer era ele ir logo embora e me deixar sozinha, antes que nós dois fizéssemos alguma besteira.

Ele assentiu chateado e sem falar mais nada pulou pela janela. Eu odiava chorar, odiava me sentir fraca, mas odiava principalmente constatar que Jacob Black ainda a amava.