Como nos velhos tempos escrita por Ane


Capítulo 5
Mudança de planos


Notas iniciais do capítulo

Demorou mas ta aí gente, foi bem complicado, o bloqueio mental foi grande, mas deu certo.
Boa leitura.



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─ E então, vai falar ou não?
        Eu e Sougo estávamos em uma rua bastante movimentada, o que era raro naqueles dias depois da doença, apoiados na parede fingindo observar tudo ao redor, mas parecia que tudo ao redor nos observava. Apesar dos grandes chapeis e métodos de disfarce, as pessoas ao redor ainda me reconheciam ou supunham que a ruiva do tal boato era eu, já que não existiam muitos ruivos por ali. E pelo visto eu finalmente tinha encontrado o sadista idiota.
─ Sinceramente eu acho que não seja da sua conta. ─ Ele olhava para o horizonte com uma feição cansada ─ Gosto de trabalhar sozinho.
─ E eu sinceramente estou a cerca de dez segundos de ligar para os meus contratantes e pedir para trazer todos os yatos e outras raças mais fortes possíveis para acabar de uma vez com você só que hoje eu estou especialmente caridosa e gentil, quero até te ajudar, mas você sinceramente não está querendo colaborar.
─ Deve ter sido difícil não é? ─ Continuou, ignorando totalmente o que eu estava dizendo ─ Ter que escolher entre sacrificar a si mesmo ou matar um grande amigo de infância pelo qual tinha sentimentos mais profundos... Uau... Daria um ótimo filme...
─ Francamente... ─ Me desencostei da parede e comecei a andar na direção oposta ─ Dane-se, eu não me importo mais.
─ Ei! ─ Gritou ─ Qual é, Kagura! ─ Ele se aproximou e acompanhou meus passos ─ Você realmente ficou muito chata hein?
        Parei e o encarei com uma cara de quem já estava farta de piadinhas e totalmente arrependida por ter sido impulsiva.
─ Tudo bem ─ ele agora matinha um olhar mais sério ─ Me segue.
        Andamos por algum tempo pelo meio da cidade em silêncio até chegarmos em um bairro abandonado, cheio de casas velhas e vazias e de vez ou outra apareciam alguns velhos mal encarados deitados no chão, seja lá por ressaca ou já num estágio avançado da doença. Outros apostavam e bebiam e vez ou outra um animal parecido com um gato passava correndo rápido demais para que eu pudesse identificar.
─ Sabe ─ Ele iniciou de repente, enquanto ainda andávamos, tirando-me da distração de observar a decadência daquele lugar, apesar de que aquilo era um cenário extremamente comum ─ Eu sou uma pessoa realmente horrível. Sou uma das piores pessoas que eu conheço. ─ Ele dizia essas palavras com um sorriso no canto da boca, aparentando estar um pouco orgulhoso por isso ─ Mas nunca deixo esse meu lado afetar pessoas que são realmente boas, nem me aproveito de ninguém. E não suporto os que são mais horríveis que eu. ─ Ele parou e se virou para mim com um sorriso arrogante ─ Acho que eu não gosto de concorrência, sabe?
─ Não é novidade que você é um cara horrível, então vamos direto ao assunto.
─ Tempos atrás um grupo de pessoas saiu por várias cidades distribuindo um remédio milagroso pela doença que estava praticamente aniquilando quase todo o país. Eles anunciavam essa cura principalmente nesses bairros e cidades mais flagelados e miseráveis, onde já não havia mais ninguém, imagina esperança.
        Depois da aparição do vírus do Byakuso, doença que deixava todos com cabelos brancos e que costumava trazer a morte em um mês, várias supostas curas e remédios haviam surgido no mercado, mas sempre eram inúteis. Depois de um tempo, a polícia que ainda restava em Edo havia acabado com toda a farsa, mas com o tempo as pessoas foram fugindo para outros planetas, e a Terra foi ficando cada vez mais vazia e os que restavam eram as pessoas que não tinham nenhuma condição, e logo, a polícia foi se importando menos, e consequentemente golpes como esses foram voltando.
─ Eles observavam as famílias mais pobres, ─ Continuou ─ as mães mais desesperadas com seus filhos a ponto de morrerem e então chegavam nas portas de suas casas oferecendo uma última esperança que claro, não seria barato. Por causa disso, as pessoas interessadas faziam de tudo para comprar esse tal remédio, vendiam tudo, até mesmo seus corpos, roubavam e até matavam por uma moeda sequer para que pudessem pagar um suposto remédio que, até fazia todos os sintomas sumirem por algumas horas, mas em questão de segundos a morte era a pior possível. E então eles seguiam e ofereciam o suposto remédio para outras cidades distantes, depois de terem destruído mais ainda a anterior. Milhares de pessoas foram enganadas por isso. Esse lugar por exemplo. Terminou de destruir-se em busca de uma falsa esperança gerada por essas pessoas horríveis que bem, estão num estágio avançado demais para permanecerem vivas.
─ E essas pessoas foram os Gafanhotos? ─ Perguntei.
─ Exatamente.
─ E você... Quer... Vingar os inocentes? ─ Serrei os olhos ─ Bem... Inesperado.
─ Não entendi a surpresa, afinal de contas eu sou um policial. ─ Falou com ironia ─ Ou pelo menos era.
─ Policial que na maioria das vezes só se importava em cortar alguns braços e pernas...
─ Que cruel... Assim você mancha minha imagem de policial honrado do Shinsengumi.
─ Então... Seu plano é matar todos os exploradores falsários? ─ Continuei, ignorando suas atuações.
─ Meu plano é chegar até essa “cura” e destruí-la. E se tiver umas pessoas no meio, elas vão ser destruídas também.
        Parei por um momento e encarei o Sougo por alguns segundos.
─ O que foi? ─ Ele perguntou incomodado.
─ Você também foi uma das pessoas que pensaram que isso era verdade, não foi? Você sentiu na pele como foi ter esperança e procurou por respostas até tudo isso ser tirado de você...
─ E você não veio para me matar. ─ Ele se aproximou ignorando totalmente o que eu tinha dito ─ Você sabia desde o início que tinha algo de errado e sabia que eu poderia ter as respostas. Sabia que eu tinha um motivo.
─ Nunca pensei que eu veria Okita Sougo lutar pelos injustiçados porque também foi injustiçado.
─ E eu que você iria confiar em mim.
        Dessa vez eu apenas ri, não me importei com mais uma de suas provocações. Que bagunça! Eu estava disposta a mata-lo dias atrás e hoje eu estava realmente acreditando na sua história.
─ Eu vou ajudar você. ─ Falei finalmente, me sentando no batente de uma das casas de madeira abandonada daquela rua.
─ Claro que vai, mas não acho que...
─ Olha, eu não tenho nada melhor pra fazer, ou eu ajudo você a acabar com o negócio desses caras ou eu simplesmente arranjo um jeito de te dopar e leva-lo até eles e então ganhar meu dinheiro, e aí os pobres inocentes e doentes continuarão sendo enganados, então eu creio que você não tenha muita escolha.
─ Ah... Você sempre pensa que pode fazer tudo o que quer, não é mesmo?
─ Sempre posso. ─ Respondi com um sorriso.
─ Tudo bem então ─ Ele suspirou ─ Como vai ser?

        Saímos do bairro abandonado e voltamos ao centro da cidade resolvidos à voltar para Kabuki-cho. Sadaharu estava me esperando na porta da hospedaria, já quase dormindo, e demonstrou estar bem alegre ao ver o Sougo que, de certa forma, parecia se distrair ao dar umas leves tapinhas amigáveis em sua cabeça. Enquanto eu pagava pelas despesas, a moça que me atendia muda de feição completamente em questão de segundos e me olha bem nos meus olhos.
─ Você acha que vai conseguir leva-lo até o chefe?
        Ela perguntou de repente e séria, o que me deixou confusa por alguns segundos, mas eu logo percebi que havia pessoas me espionando na cidade. No mesmo momento agradeci mentalmente por Sougo e eu termos discutido as verdadeiras intenções dele bem longe dali, e de certa forma me senti frustrada por não ter percebido que estava sendo vigiada.
─ Tá tudo tranquilo. ─ Respondi ─ Tudo seguindo como eu planejei.
─ Imagino ─ Ela disse ─ Eu me surpreendi com ele hoje cedo, veio perguntar sobre uma mulher com suas características, afirmando que era uma “amiga” que já não via há tempos e que tinha marcado de se encontrar, mas não conseguia te achar. ─ Ela enfatizou a palavra amiga com aspas imaginárias ─ Não sabia que você iria apelar para as emoções dele... Você realmente é perigosa, Kagura-san.
─ Ele... Disse isso?
        Então Sougo havia planejado algo desde o início. Será que ele teria percebido o que estava acontecendo desde antes de saber de toda a história? Como ele sabia o que estava acontecendo? De qualquer forma eu tinha que fingir que eu havia planejado aquilo.
─ Francamente... Iluda o coração de um homem e ele cairá nos seus pés, poderá até mata-lo e ele nem irá perceber. ─ Ri e logo ela riu concordando comigo.
        Ela ia começar a falar novamente, mas Sougo chegou do meu lado.
─ Finalmente a encontrei! ─ Ele colocou o braço por cima dos meus ombros e exclamou para a atendente disfarçada ─ Vamos voltar para casa agora, finalmente fizemos as pazes.
─ Boa sorte para vocês dois, então! ─ Ela deu um sorriso largo e fingido para ele e um olhar para mim como se dizendo que aquela frase era para mim. ─ Com licença então, tenho algo a resolver, obrigada por ter se hospedado aqui senhorita. ─ E saiu enquanto nosso sorriso largo ia desaparecendo aos poucos.
        Logo em seguida olhei para Sougo com uma grande interrogação estampada na minha cara.
─...Como você sabia? ─ Perguntei surpresa, olhando ao redor para ver se havia alguém que pudesse nos ouvir.
─ Depende do dia e do quê você tá falando.
─ Como você sabia que ela era um dos Gafanhotos antes mesmo de ouvir que eu tinha sido contratada por eles? E, “amiga”─ Enfatizei ─ Sério?
─ Bem, na verdade essa menina já tava me seguindo por uns três dias. Quando eu cheguei aqui ela praticamente sumiu e então eu pensei que tinha algo de errado, principalmente quando eu ouvi sobre você estar atrás de mim. Comecei a pensar que você estava trabalhando com eles, o que ficou mais claro quando eu soube que você estava hospedada aqui e vi que era o lugar que ela estava trabalhando disfarçada. Vim perguntar sobre você e ela ficou pálida, provavelmente pensando que eu tinha intenção de te matar, então eu inventei uma historinha. Falei pra ela que você era uma amiga antiga que tinha marcado de se encontrar comigo, mas eu não conseguia encontra-la e tudo mais. Ela só me disse que você tinha saído e então eu saí. Eu sou bem convincente e ela não era muito inteligente. Provavelmente ela achou que seu plano daria certo por estar “mexendo com meus sentimentos”. ─ Ele riu ─ Ela deve ter pensado “uau, Kagura-san está conseguindo! Que perigosa...”. Foi só uma mentira qualquer, mas caraca eu não fazia ideia que isso ia ajudar tanto.
─ Você... Eu nem sei como eu ainda me surpreendo... ─ Eu estava realmente irritada por não ter percebido que ela estava me vigiando.
─ O que foi? Se encaixou direitinho! Ela provavelmente achou suspeita minha história de início, mas com você confirmando do meu lado, ela deve ter acreditado agora. Com certeza deve tá ligando para o líder dela pra dizer que o plano segue como planejado.
─ Você sabia de tudo isso desde o início?
─ Até mesmo que você iria me ajudar, se duvidar... Ah cara, eu sou um gênio, não é?
─ Você é um idiota... ─ Sai na frente e chamei o Sadaharu que logo me acompanhou.
        Ele foi rápido. Eu fui horrivelmente desatenta e descuidada o tempo todo, deveria ter sido mais observadora. Principalmente agora que estávamos voltando para Kabuki-cho para “concluir o plano”. Precisava tomar mais cuidado.
─ Eu sou um homem à frente do meu tempo! ─ Ele exclamava enquanto saíamos do hotel improvisado e destruído ─ A polícia de Edo com certeza deve sentir minha falta.
        Definitivamente, não teria sido nada fácil enganá-lo. De certa forma eu estava aliviada por não ter tentado mata-lo, eu certamente iria perder meu tempo e ele iria ter mais motivos para zombar de mim. E isso era o que eu menos precisava, já que ele já estava enchendo minha paciência o suficiente.


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