Mesmos Nomes. Outras Histórias. escrita por Eduardo Marais
Era noite e o vento soprava impiedoso naquela proximidade do mar. Os barcos ancorados, bailavam sob a força das ondas comandadas pelo sopro vindo para o continente. Lá no céu, nuvens escassas deslizavam pelo manto escuro, confirmando a frialdade daquela noite.
Poucos trabalhadores transitavam entre os barcos, enquanto os bares da região estavam lotados com beberrões e prostitutas em busca de diversão, dinheiro e aquecimento.
Em pé no primeiro deque de seu pomposo navio Nereidas, o belo pirata de olhos perversos procurava em meio à pequena multidão, os dois novos companheiros de viagem. Esperaria até o amanhecer, pela chegada dos dois e caso não viessem, partiria em novo trabalho.
Observa duas pessoas aproximando-se do navio e pela maneira como se comportavam, era nítida sua condição furtiva. O pirata acha graça e permanece impassível, assistindo a subida dos dois ao deque.
– Desculpe-nos pela demora. Eu não me sinto bem. – Adam retira o capuz e busca logo um lugar para sentar-se.
– Com esse rosto, eu também não me sentiria bem. – a frase sai mais rápido do que o pirata conseguiria controlar. – O dragão tatuou sua cara no braço dele?
– Sua língua é um músculo involuntário? – Regina retira o capuz e olha para os lados. Fixa os olhos em pequeno grupo de homens parados ao uma distância deles. – É sua tripulação?
– Parte dela. – o pirata mostra-se seco. Não era o jovem divertido da noite passada. – Deixarei os outros em terra para a manutenção do navio que comprei. Senhor Smee, leve os nossos visitantes para a cabine deles. Ficarão ao lado da minha cabine e quero discrição quanto à presença deles.
Um homem magro, com cabelos cumpridos e lisos, aproxima-se manquitolante. Ele sorri e acentua sua fisionomia de passarinho.
Regina sorri e cumprimenta o homem tímido. O homenzinho pisca várias vezes e olha para o Capitão pirata, como se pedisse permissão para comentar algo. Não recebe a permissão e trata de indicar o caminho para a cabine, aos convidados. Antes de seguir o homem para a cabine, Adam se volta para o pirata.
– Eu irei com você até o covil da Sombria, mas não pense que desisti de entregar sua cabeça para a Rainha Monstro. Então, tome cuidado para não descuidar de sua vigilância, pirata. Saiba que não confio em você e que mais cedo ou mais tarde, vou levá-lo preso.
– Então, que seja mais tarde. Agora vá esconder essa cara feia para não desandar o sabão na tina!
Regina e Adam são levados para uma das cabines e ali são acomodados pelo homenzinho manquitolante. Recebem cobertores e travesseiros para suas camas.
– Ali naquela mesa tem água, frutas e pães. Hoje não jantaremos, mas a partir de amanhã teremos almoço e jantar. O Capitão trata bem os tripulantes e passageiros.
Regina não segura a tentação e toca as pontas dos cabelos finos do homem. O observa sorrir timidamente e afastar-se dali, fechando a porta atrás de si.
– Estou contendo a minha raiva, mas não sei até quando conseguirei! – Adam atira sua capa sobre a cama. – Eu odeio aquele pirata maldito!
– Qual é a história de vocês? – Regina senta-se na cama.
– Basta saber que ele foi criado por minha família e por isso, perdemos um terço dos moradores de minha aldeia, além de provocar a morte do meu pai.
– Ele é nocivo.
– Nocivo? Ele é a própria Peste da Face Escarlate! Ele não deveria ter nascido, porque veio apenas para desgraçar a vida das pessoas! A mãe sequer desejou criá-lo, tampouco pai. Pagaram para outras pessoas criarem. Além de tudo, seduziu minha noiva.
– Pensei que sua noiva tinha sido roubada pela Rainha Monstro para casar-se com o filho dela...
– E como pensa que a Rainha soube da existência de Arcuri? Minha noiva se sentiu seduzida pelo desgraçado e o seguiu, para que ele a levasse embora. No trajeto, ela se deparou com o príncipe Henry e tornou-se objeto de desejo dele.
Regina não conseguia ver tanta maldade na aura do pirata. Que história louca? Toda história tem dois lados.
– E você responsabiliza o pirata por isso?
– Eu responsabilizo o pirata por todas as desgraças que acontecem neste reino. E é isso! – Adam retira da testa, os cabelos que haviam crescido junto com a transformação. – Como faremos um acordo com a Sombria? O que temos de valor?
– Durante nossa viagem, vou encontrar um meio de descobrir onde Rumpel guarda a mão da Rainha Monstro. Seria nosso trunfo...
– E como pensa em conseguir isso, Regina? Torturando o pirata?
– Em qualquer reino e em qualquer tempo, homens são homens. E mulheres são mulheres.
Adam acha graça. Retira a espada da bainha e a coloca sobre o colchão. Não iria ficar desarmado, estando dentro do covil do pirata.
O navio começa a mover-se, dando o sinal que a viagem havia começado.
Regina sai da cabine e sobe até o deque principal. Encontra o pirata no manuseio do timão e por segundos encanta-se com aquela imagem. O homem era de fato muito bonito e toda a sua indumentária de couro, deixava-o ainda mais interessante. Os cabelos longos, movidos pela força do vento, caiam-lhe pelo rosto e o obrigavam a mover a cabeça, para liberar os olhos, quebrando sua aristocracia. Ela entende o que Emma sentia ao ver Killian.
Quando ele sorri para a mulher, ela se congela.
– A cabine está desconfortável para a senhora, Rainha?
– Tudo está perfeito. – ela se aproxima e toca o timão com as pontas dos dedos. – Deixando seu navio e seus serviços à minha disposição, isenta você de um agradecimento. Porém, eu salvei sua vida duas vezes. Ainda me deve outro favor.
– Peça-me... – ele mantém os olhos fixos no mar adiante. Não parecia tão entusiasmado.
– Enfrentaremos algum perigo nessa jornada até a Sombria? – Regina desconversa.
Ele sorri.
– Não sei precisar, Rainha. – dá de ombros. – Talvez alguma tempestade ou mesmo um encontro com as nereidas ou tritões. Nesta época do ano, elas estão indo para o Santuário dos Nascimentos, para parirem seus filhotes horrendos. Ficam melindrosas, furiosas, enquanto que os tritões ficam ainda mais agressivos.
– Posso lidar com isso. Já lidei com as sereias numa tempestade, dentro do navio do Capitão Gancho de meu reino.
Um som risonho e gutural é a reação do pirata. Mais uma vez demonstra desprezo.
– As nereidas deste reino não têm total aspecto humano. Os olhos são desproporcionais ao tamanho do rosto, possuem nariz, boca e torso humanos...mas possuem barbatanas entre os dedos e sua pele é como se fosse de uma salamandra. São feias e quando estão prenhas, são ainda mais feias.
– Posso lidar com isso.
– Ainda bem. Assim, não precisarei nadar pelado com elas.
Regina gargalha e olha para o perfil do homem. Ele estava sisudo.
– Sério?
– O quê?
– Essa conversa de ter que nadar pelado com as nereidas.
– Sim.
– Isso seria ridículo! Por que precisaria fazer isso?
Ele dá de ombros e não responde. Um tempo depois do silêncio, o pirata vira-se para a mulher.
– Sabe quanto custa uma viagem deste porte?
– Sua vida não vale a pena? – Regina olha-o de forma desafiadora. – Você estava com uma flecha cravada no corpo e iria ser levado como cativo para alguma fera. Seria torturado até que entregasse o paradeiro da mão dessa fera. Mas eu o salvei. Noutra ocasião, seria novamente alvejado por uma seta envenenada e outra vez, salvei seu lindo traseiro.
O pirata arregala seus imensos faróis azuis e encara Regina.
– Todos sairão exitosos dessa viagem, Capitão. Adam será liberto da maldição; eu encontrarei o caminho de volta para minha casa e você ficará livre das ameaças dele.
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