Mesmos Nomes. Outras Histórias. escrita por Eduardo Marais
Logo nas primeiras horas claras do dia, os três retomam sua caminhada rumo à colina. Levam água potável e algum alimento que os manteria até a chegada à próxima aldeia. Por mais dois dias, eles caminham sem maiores intempéries. E na manhã do terceiro dia, o calor invade aquele espaço da floresta.
– Preciso tomar um banho. – o pirata aponta para a mata. Levanta o dedo indicando que deveriam ouvir um som específico. – Há uma cachoeira aqui bem perto e poderíamos nos refrescar um pouco.
– Adorei a ideia. E eu não me importo, se vocês não se importarem. – Regina sorri maliciosa e caminha para dentro da mata, sendo seguida pelos companheiros.
Adam não consegue esconder seu incômodo diante daquela situação. Precisava muito de um banho e sabia que algo constrangedor poderia acontecer.
Sem hesitar, o pirata começa a livrar-se da bagagem e posteriormente, das roupas. Indiferente aos olhares, Regina faz o mesmo.
– O que vocês pensam que estão fazendo? Não precisamos de banho! Basta a rainha fazer o que tem feito nos últimos dias e ficaremos livres da sujeira! Nós e nossas roupas!
– Não seja chato! – Regina exibe-se linda e totalmente nua. Mergulha na água.
A expressão risonha que surge no rosto do pirata é a mais verdadeira máscara da safadeza. Ele mergulha também.
Cobrindo o rosto com ambas as mãos, Adam esconde suas dúvidas, sua timidez e sua vergonha. Queria participar daquele mergulho, mas tinha receio do que iria causar ao exibir seu corpo de fera.
Dentro da água, o pirata exibia toda sua intimidade com aquele universo. A água era complemento de seu corpo e era completada por ele. Uma perfeita harmonia! Mergulha, submerge, emerge e envolve Regina em sua brincadeira aquática. Ela se entrega para aquele momento e deixa-se levar pelas lembranças da felicidade que vivia nos braços de Magno. Em meios aos toques, gargalhadas e abraços, Regina não resiste e procura os lábios do pirata e ele é bem receptivo.
Em seguida, ela se afasta sorrindo e continua sua brincadeira na água, mas longe dele. Envolvido e feliz pelo contato com a água, o pirata logo se entretém com aquele momento. É observado pelo olhar encantado de Regina. E ele some dentro da água e quando se levanta, mostra sua verdadeira natureza de tritão, com seus longos cabelos negros colados às costas largas e fortes. Era uma bela visão!
– Estou renovado! – o pirata sorri e já retorna vestido, depois de um tempo afastado dos olhos de Regina. – A senhora é uma mulher belíssima! Apreciei demais o que vi!
– E em meu reino, você seria muito procurado por admiradoras. Você é um belo homem, Rumpel! – ela olha para os lados. - Onde está Adam?
– Está banhando-se. Esperou que saíssemos da água para não vermos a bunda peluda dele.
Horas mais tarde, estão novamente na estrada. E no final daquele dia, encontram a entrada da segunda aldeia. Havia pessoas trabalhando no pátio central.
– Vamos cumprimentá-los e continuar nossa jornada. Não são pessoas confiáveis.
– O que eles podem fazer contra nós, Rumpel?
– Eles são em maior número e costumam usar setas envenenadas contra forasteiros. – ele se volta para Adam. – Talvez tenham sido alunos seus, macacão.
– Seria melhor que eu ficasse fora e os acompanhasse pelo lado...
Regina gesticula rapidamente na direção de Adam. Ele não entende o que ela faz, mas consegue sentir um impacto em seu corpo. Observa as mãos e as vê humanas, novamente.
– Não posso manter isso por muito tempo, Adam. Você está humano outra vez e temos de ser rápidos na travessia da aldeia. – Regina toca-lhe o queixo barbado.
– Vamos, queridinhos! – a voz do pirata acorda os companheiros e eles o seguem. – Caso sejamos indagados, eu responderei.
As pessoas que ainda trabalhavam no pátio, param para observar a entrada dos visitantes. Um dos homens aproxima-se carregando uma foice em uma das mãos. Sorri ao ver o pirata.
– Capitão Gancho Negro! – ele se aproxima do pirata e estende a mão para ser cumprimentada. É correspondido. – Trouxe algo para nossa gente? Lembrou-se no período em que estamos?
– Apenas iremos usar sua aldeia como atalho para um destino. – o pirata inclina-se para frente e fala qualquer coisa para o homem que se sobressalta visivelmente. Havia feito alguma ameaça. Depois, gesticula e mantém o braço estendido até que ele esteja cheio com o corpo de Regina. Ele a abraça de forma protetora. - Vamos continuar, macacão. Nossos amigos não nos farão mal algum.
Pressentindo algo ruim, Adam obedece sem questionar ou discutir. O pirata sabia com com quem ou com o que estava lidando. Aproxima-se do pirata e não refuta o braço que é passado em torno de seus ombros.
– O que está havendo aqui?
– Não olhem nos olhos deles, porque podem sentir-se provocados. Não estamos numa boa fase da lua para encontros comas pessoas. – inspirando profundamente, o pirata busca forças no ar noturno e mantém seus companheiros próximos ao seu corpo.
Caminham com passos firmes e em poucos minutos estão caminhando num corredor formado por pessoas. Pessoas silenciosas e com rostos ferozes, além de olhares gulosos e aparentemente famintos.
Por minutos que se parecem horas, o trio atravessa aquele corredor humano e consegue sair dos limites da aldeia, seguindo para a estrada escura, porém mais segura que aquele local.
– Quando eu disser para correrem, façam como se uma legião de ogros famintos estivessem atrás de vocês. – ele cochicha e recebe um sinal positivo dos companheiros. – Não questionem, apenas corram. A senhora tem pernas fortes para correr muito?
– Nem imagina o quanto!
Ao sentir-se seguro e distante o suficiente, o pirata dá o sinal e todos começam a correr de forma alucinada. Correm, reunindo todas as forças de seus músculos e sem olhar para trás, sabendo que suas vidas dependiam disso.
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