Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M
– Konor? – Sofi liga para o número telefônico
– Eu, quem fala? – Responde o homem, de voz grossa e tom rouco
– Não te interessa, porém tenho uma proposta que sim. E aliás, bela voz.
– É sempre um prazer agradar mulheres. Qual a proposta?
– Lembra de uma bruxinha chamada Sânia?
– Não
– Uma que você namorou, ficou, ou qualquer outra bobagem dessas
– Acha mesmo que lembro-me de todas elas?
Sofi suspira, impaciente
– E de Victory Deathless? – do outro lado da linha, a respiração de Konor falha – pelo jeito dela se lembra, então, a dentuça está com um bruxo agora, um muleke, precisava me vingar da irmã dele, mas de modo singelo e que não me envolvesse, porém agora penso que seria melhor apenas uma discórdia, você não imagina o tédio que está aqui, que tal voltar para a mansão e atormentar esses dois, ele não sabe de você.
– Infernizar a vida daquela vadia e de um bruxo, melhor cousa impossível, porém no momento me encontro um pouco ocupado.
“Cousa” — pensa Sofi – fala como um jovem, mas em alguns momentos falha, está disfarçando! Ele não é desse século
– Com quem está falando Konor? – uma terceira voz se intromete na conversa, uma jovem mulher
– Ninguém gracinha – ouve-se um grito na linha de Konor. A jovem respira ofegante enquanto algo rasteja em sua direção, após, o barulho de um tiro.
Sofi ouve atentamente, quieta, como um mafioso analisando seu possível empregado. O som dos dedos de Konor batendo nas teclas do celular são quase inaudíveis, mas Sôfi os entende e intercepta a comunicação entre os neurônios e os nervos, ela sabe o que ele digita, assim como eu.
Filha do governador: Feito
– Eficaz, porém deixa rastros – sussurra minha irmã a si mesma
– Rastros? – de algum modo Konor ouve
– Qualquer um que pegue seu celular pode rapidamente saber o que fez
– Como sabe...
– Até qualquer dia Konor.
Ela desliga.
***
– Sofi? Maninha é você mesmo? – Silon sorria do outro lado da linha
– Sim, maninho, não vai acreditar no que aconteceu. – Sôfi também sorria, divertida
– Aquele velho escroto foi morto e você herdou toda a grana
– Bingo! E tem mais uma notícia su-bli-me! – Sofi se delicia com a palavra, animada para contar a novidade ao irmão
– Conta
– Estou morando na mansão dos vampiros Deathless, o lugar é meio velho, um pouco decadente para o meu gosto, mas reencontrei mais um de nossos irmãos e já providenciei uma discordiazinha para me divertir um pouco, iria gostar daqui.
– Qual irmão Fi?
– Lembra da ceguinha?
– Era algo com... D...
– Davina Deverron
– Então finalmente estamos reencontrando nossos irmãos, qualquer dia eu passo ai para vê-la
– Como assim, “qualquer dia”? Você não vai vir morar aqui, comigo, agora?
– Sofi...
– Está em umas de suas aventuras, não é? Só uma curiosidade, homem ou mulher Silon?
– E importa?
– Se for homem você pode traze-lo aqui... – ambos riem por entre as linhas telefônicas
– Eu estou apaixonado Fi, como nunca havia de amar. Ele até está quase me fazendo falar e agir um pouco mais sofisticadamente. Eu o amo, vou morar com ele, seguir seus planos, seja para onde ele quiser ir, só eu e ele. A menos que ele queira adotar uma criança, mas mesmo assim seremos só nós três, ou quatro... independente de quantos, apenas nós, sem ninguém mais para se intrometer em nossa vida.
– Então é homem. Melhor assim, eles duram um pouco mais e morrem sem causar importunos.
– Mana! Gabriel NÃO VAI morrer!
– Depois de tantos, ainda acredita mesmo no que acabou de dizer?
A ligação é encerrada, Silon é quem desliga. Nos olhos do vampiro, pequenas lagrimas começam a se formar, seu olhar fixo na textura da parede branca a sua frente.
Silon e Grabriel haviam se legalizado como “novos cidadãos” do estado Vicely, dificilmente o estado comunista aceita novos integrantes, mas Ramon ao ver o sobrenome do vampiro os acolheu imediatamente. Agora, o casal, tinha uma casa de dois andares, iguais a de todos nesse ano; um carro feito na própria fábrica de automóveis modernos do estado, como todos (menos meus pais, que possuem um de qualidade e beleza muito maiores) eles dirigem a inovação V, um carro que ao ligar, suas rodas entortam para os lados e usando cargas iguais aos fios que percorrem o interior do asfalto nas ruas, fazem com que os carros voem em até três metros do chão, chegando a uma velocidade duas vezes maior do que um carro normal de mesmo modelo, ou seja duzentos quilômetros por hora ( e oitocentos para os irmãos Deathless); um gramado a frente da casa amarela, com duas palmeiras, uma em cada limite com seus vizinhos, quase encostando na da próxima casa, amarela, com carro idêntico na garagem cinza e duas palmeiras em gramado de mesma altura e tonalidade de verde.
A campainha toca, meu irmão se acalma, com as palmas das mãos retira as poucas lágrimas que conseguiram escapar de seu olhar penetrante contra a parede e finalmente, vai abri-la
– Amor, não vai acreditar no que eu estava pensando... estava chorando?
– Não, é só cebola, estava tentando fazer um bife acebolado com arroz para nós
– Não sabia que cozinhava
– Nem eu. – seu parceiro ri levemente, descontraindo um pouco Silon – Mas então, estava falando que estava pensando em algo. Algo que com certeza sou eu né, mas quer saber eu nem te culpo, porque com essa beleza, charme, gostosura, carisma e ardência que sou é impossível resistir.
– Só você mesmo idiota – o ruivo ria
Gabriel anda um passo à frente e beija o louro
– Estava pensando em sair dessa ilha, ir para a Inglaterra, a terra do chá da tarde. Iremos começar uma vida nova, com um passado inventado, sem maldiçoes ou mortes, apenas eu, você e a vida eterna de vampiros. Depois de lá podemos ir para qualquer lugar do mundo exterior, sermos quem quisermos, se quiser pode até assustar ou impressionar alguns humanos desacreditados do sobrenatural.
– Nossa, tudo o que eu mais quero é uma vida infinita ao seu lado. Só tem um grande problema nisso tudo.
– E qual seria?
– Chá?! Tem certeza? Pode ser café não? Refrigerante, vodca, cerveja, água que seja.
O ruivo ria das diferenças dele com seu amado.
– É que eu amo chá, pensei que a Inglaterra seria um ótimo lugar para começarmos... depois poderemos revezar, ir a terra do café, do vinho, da cerveja, do whisky... – Gabriel coloca seus braços por cima dos ombros do parceiro e começam a dançarem, dois passos a direita, dois passos a esquerda, dois passos a diagonal, Silon escorrega suas mãos por entre o tronco de Gabriel, até chegar a cintura e dessa ao bolso, pegando seu celular
– Nossa, quanta musica velha! – O louro faz uma careta
– São clássicos. E por que não usa o seu celular?
– Acha mesmo que tenho alguma música lenta? – ele coloca o celular do ruivo na estante marrom escura ao seu lado, de modo em que ouçam a música – fora que desse modo, cavalheiro, eu tenho desculpa para apalpar seu traseiro.
Gabriel quase caí, rindo do que Silon diz.
– Não my vamp, você não conseguiu dizer algo assim formalmente – Dessa vez, é o parceiro loiro que ri – Mas... você não precisa de “desculpa” para tal ato – o ruivo morde os lábios inferiores e Silon o beija.
Meu irmão puxa seu namorado para o sofá, derrubando sem querer a pequena estante com o celular, a música porém continua.
***
Algum tempo depois, Gabriel diz ter uma surpresa para Silon e ambos saem da casa, o ruivo dirige levando seu parceiro até o uma casa diferente de todas as outras, enorme em altura, vasta em largura e colorida em tudo, havia uma estátua de Vicely no gamado a frente e uma piscina ao fundo, cheia de boias tão coloridas quanto a casa.
– Que lugar é esse Gabriel?
– O orfanato Deathless
– Desde quando existe?
– Desde que erradicaram a pobreza e todos os ilegais que não faziam parte do estado, inteiramente.
– Então de onde vem as crianças daí?
– Todos os menores apreendidos que conseguiram entrar no estado e não poderiam ser deportados de volta, órfãos e “os quintos filhos”
– Quem?
– A não muito tempo, o governo, para manter a igualdade a todos, deixando-a como um padrão de vida consideravelmente elevado, impôs um limite de filhos para que a população não crescesse tanto. Cada casal pode ter até quatro filhos, sendo natural ou adotado. Raramente acontece, mas quando um casal ultrapassa esse limite, o governo retira deles o caçula como exemplo para as outras pessoas.
– Sem massas populares e com dinheiro do governo os trabalhos menos valorizados, que necessitam de baixa escolaridade são substituídos por maquinas, controladas por poucos. Como toda a população tem mesmo salário e todos os estabelecimentos comerciais são do governo, tudo tem preço calculado para caber no orçamento dos cidadãos, sem faltar para nenhum. Tudo é feito aqui, e sem competitividade tudo é barato, mas de impossível acesso para qualquer outro estado.
– Sim, esses últimos novos governantes pensaram em tudo!
– É – o olhar de Silon se perde entre as crianças – os “novos”. Bem que poderiam ter notado tudo antes, minha família não teria passado o que passou.
Os vampiros descem do carro e seguem em direção ao orfanato, uma moça loira de olhos azuis os recepcionam.
– Vocês procuram crianças, bebês, pré-adolescentes... – pergunta ela
Silon olha para Gabriel
– Estamos procurando uma criança
– Sinceramente eu estava esperando que uma dessas coisinhas fofas esbarrasse em nós ou fosse falar com você moça, como nos filmes
– Silon! Não começa...
Duas criancinhas, um menino e uma menina, de cabelos castanhos, saltitavam de mãos dadas quando pararam para ver quem era o novo casal que entrara na grande casa.
– Não disse, são essas!
– Você Silon... digo nada. – o ruivo levanta seu olhar para falar com a moça – Qual o nome deles?
– Cassie e Miguel, são irmãos gêmeos, de cinco anos. – ela deu um brinquedo as crianças, que correram com ele pelo corredor – eles foram achados perto da fronteira Mystic, soube que os pais deles perderam tudo naquele estado e como eram humanos, a única alternativa que viram para salvar seus filhos foi deixá-los desse lado da fronteira.
O loiro e o ruivo foram brincar com as duas crianças, conversaram, contaram e ouviram histórias, passaram o dia inteiro juntos, rindo, brincando, pintando e desenhando. Eles se apegaram as crianças, elas adoraram eles.
Ainda havia algumas questões a resolver, mas ao sair, eles já tinham certeza, de que iriam adotar aquelas duas fofuras e fugir para a Inglaterra.
Mas a estreita de cada passo deles, haviam dois olhos azuis gélidos e alguns fios negros de cabelo a observa-los .
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