Aos olhos de alguém escrita por Loressa G M


Capítulo 22
Adotar gêmeos




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  – Konor? – Sofi liga para o número telefônico

  – Eu, quem fala? – Responde o homem, de voz grossa e tom rouco

  – Não te interessa, porém tenho uma proposta que sim. E aliás, bela voz.

  – É sempre um prazer agradar mulheres. Qual a proposta?

  – Lembra de uma bruxinha chamada Sânia?

  – Não

  – Uma que você namorou, ficou, ou qualquer outra bobagem dessas

  – Acha mesmo que lembro-me de todas elas?

  Sofi suspira, impaciente

  – E de Victory Deathless? – do outro lado da linha, a respiração de Konor falha – pelo jeito dela se lembra, então, a dentuça está com um bruxo agora, um muleke, precisava me vingar da irmã dele, mas de modo singelo e que não me envolvesse, porém agora penso que seria melhor apenas uma discórdia, você não imagina o tédio que está aqui, que tal voltar para a mansão e atormentar esses dois, ele não sabe de você.

  – Infernizar a vida daquela vadia e de um bruxo, melhor cousa impossível, porém no momento me encontro um pouco ocupado.

  “Cousa” — pensa Sofi – ­fala como um jovem, mas em alguns momentos falha, está disfarçando! Ele não é desse século

  – Com quem está falando Konor? – uma terceira voz se intromete na conversa, uma jovem mulher

  – Ninguém gracinha – ouve-se um grito na linha de Konor. A jovem respira ofegante enquanto algo rasteja em sua direção, após, o barulho de um tiro.

  Sofi ouve atentamente, quieta, como um mafioso analisando seu possível empregado. O som dos dedos de Konor batendo nas teclas do celular são quase inaudíveis, mas Sôfi os entende e intercepta a comunicação entre os neurônios e os nervos, ela sabe o que ele digita, assim como eu.

  Filha do governador: Feito

  – Eficaz, porém deixa rastros – sussurra minha irmã a si mesma

  – Rastros? – de algum modo Konor ouve

  – Qualquer um que pegue seu celular pode rapidamente saber o que fez

  – Como sabe...

  – Até qualquer dia Konor.

  Ela desliga.

***

  – Sofi? Maninha é você mesmo? – Silon sorria do outro lado da linha

  – Sim, maninho, não vai acreditar no que aconteceu. – Sôfi também sorria, divertida

  – Aquele velho escroto foi morto e você herdou toda a grana

  – Bingo! E tem mais uma notícia su-bli-me! – Sofi se delicia com a palavra, animada para contar a novidade ao irmão

  – Conta

  – Estou morando na mansão dos vampiros Deathless, o lugar é meio velho, um pouco decadente para o meu gosto, mas reencontrei mais um de nossos irmãos e já providenciei uma discordiazinha para me divertir um pouco, iria gostar daqui.

  – Qual irmão Fi?

  – Lembra da ceguinha?

  – Era algo com... D...

  – Davina Deverron

  – Então finalmente estamos reencontrando nossos irmãos, qualquer dia eu passo ai para vê-la

  – Como assim, “qualquer dia”? Você não vai vir morar aqui, comigo, agora?

  – Sofi...

  – Está em umas de suas aventuras, não é? Só uma curiosidade, homem ou mulher Silon?

  – E importa?

  – Se for homem você pode traze-lo aqui... – ambos riem por entre as linhas telefônicas

  – Eu estou apaixonado Fi, como nunca havia de amar. Ele até está quase me fazendo falar e agir um pouco mais sofisticadamente. Eu o amo, vou morar com ele, seguir seus planos, seja para onde ele quiser ir, só eu e ele. A menos que ele queira adotar uma criança, mas mesmo assim seremos só nós três, ou quatro... independente de quantos, apenas nós, sem ninguém mais para se intrometer em nossa vida. 

  – Então é homem. Melhor assim, eles duram um pouco mais e morrem sem causar importunos.

  – Mana! Gabriel NÃO VAI morrer!

  – Depois de tantos, ainda acredita mesmo no que acabou de dizer?

  A ligação é encerrada, Silon é quem desliga. Nos olhos do vampiro, pequenas lagrimas começam a se formar, seu olhar fixo na textura da parede branca a sua frente.

  Silon e Grabriel haviam se legalizado como “novos cidadãos” do estado Vicely, dificilmente o estado comunista aceita novos integrantes, mas Ramon ao ver o sobrenome do vampiro os acolheu imediatamente. Agora, o casal, tinha uma casa de dois andares, iguais a de todos nesse ano; um carro feito na própria fábrica de automóveis modernos do estado, como todos (menos meus pais, que possuem um de qualidade e beleza muito maiores) eles dirigem a inovação V, um carro que ao ligar, suas rodas entortam para os lados e usando cargas iguais aos fios que percorrem o interior do asfalto nas ruas, fazem com que os carros voem em até três metros do chão, chegando a uma velocidade duas vezes maior do que um carro normal de mesmo modelo, ou seja duzentos quilômetros por hora ( e oitocentos para os irmãos Deathless); um gramado a frente da casa amarela, com duas palmeiras, uma em cada limite com seus vizinhos, quase encostando na da próxima casa, amarela, com carro idêntico na garagem cinza e duas palmeiras em gramado de mesma altura e tonalidade de verde.

  A campainha toca, meu irmão se acalma, com as palmas das mãos retira as poucas lágrimas que conseguiram escapar de seu olhar penetrante contra a parede e finalmente, vai abri-la

  – Amor, não vai acreditar no que eu estava pensando... estava chorando?

  – Não, é só cebola, estava tentando fazer um bife acebolado com arroz para nós

  – Não sabia que cozinhava

  – Nem eu. – seu parceiro ri levemente, descontraindo um pouco Silon – Mas então, estava falando que estava pensando em algo. Algo que com certeza sou eu né, mas quer saber eu nem te culpo, porque com essa beleza, charme, gostosura, carisma e ardência que sou é impossível resistir.

  – Só você mesmo idiota – o ruivo ria

  Gabriel anda um passo à frente e beija o louro

  – Estava pensando em sair dessa ilha, ir para a Inglaterra, a terra do chá da tarde. Iremos começar uma vida nova, com um passado inventado, sem maldiçoes ou mortes, apenas eu, você e a vida eterna de vampiros. Depois de lá podemos ir para qualquer lugar do mundo exterior, sermos quem quisermos, se quiser pode até assustar ou impressionar alguns humanos desacreditados do sobrenatural.

  – Nossa, tudo o que eu mais quero é uma vida infinita ao seu lado. Só tem um grande problema nisso tudo.

  – E qual seria?

  – Chá?! Tem certeza? Pode ser café não? Refrigerante, vodca, cerveja, água que seja.

  O ruivo ria das diferenças dele com seu amado.

  – É que eu amo chá, pensei que a Inglaterra seria um ótimo lugar para começarmos... depois poderemos revezar, ir a terra do café, do vinho, da cerveja, do whisky... – Gabriel coloca seus braços por cima dos ombros do parceiro e começam a dançarem, dois passos a direita, dois passos a esquerda, dois passos a diagonal, Silon escorrega suas mãos por entre o tronco de Gabriel, até chegar a cintura e dessa ao bolso, pegando seu celular

  – Nossa, quanta musica velha! – O louro faz uma careta

  – São clássicos. E por que não usa o seu celular?

  – Acha mesmo que tenho alguma música lenta? – ele coloca o celular do ruivo na estante marrom escura ao seu lado, de modo em que ouçam a música – fora que desse modo, cavalheiro, eu tenho desculpa para apalpar seu traseiro.

  Gabriel quase caí, rindo do que Silon diz.

  – Não my vamp, você não conseguiu dizer algo assim formalmente – Dessa vez, é o parceiro loiro que ri – Mas... você não precisa de “desculpa” para tal ato – o ruivo morde os lábios inferiores e Silon o beija.

  Meu irmão puxa seu namorado para o sofá, derrubando sem querer a pequena estante com o celular, a música porém continua.

***

  Algum tempo depois, Gabriel diz ter uma surpresa para Silon e ambos saem da casa, o ruivo dirige levando seu parceiro até o uma casa diferente de todas as outras, enorme em altura, vasta em largura e colorida em tudo, havia uma estátua de Vicely no gamado a frente e uma piscina ao fundo, cheia de boias tão coloridas quanto a casa.

  – Que lugar é esse Gabriel?

  – O orfanato Deathless

  – Desde quando existe?

  – Desde que erradicaram a pobreza e todos os ilegais que não faziam parte do estado, inteiramente.

  – Então de onde vem as crianças daí?

  – Todos os menores apreendidos que conseguiram entrar no estado e não poderiam ser deportados de volta, órfãos e “os quintos filhos”

  – Quem?

  – A não muito tempo, o governo, para manter a igualdade a todos, deixando-a como um padrão de vida consideravelmente elevado, impôs um limite de filhos para que a população não crescesse tanto. Cada casal pode ter até quatro filhos, sendo natural ou adotado. Raramente acontece, mas quando um casal ultrapassa esse limite, o governo retira deles o caçula como exemplo para as outras pessoas.

  – Sem massas populares e com dinheiro do governo os trabalhos menos valorizados, que necessitam de baixa escolaridade são substituídos por maquinas, controladas por poucos. Como toda a população tem mesmo salário e todos os estabelecimentos comerciais são do governo, tudo tem preço calculado para caber no orçamento dos cidadãos, sem faltar para nenhum. Tudo é feito aqui, e sem competitividade tudo é barato, mas de impossível acesso para qualquer outro estado.

  – Sim, esses últimos novos governantes pensaram em tudo!

  – É – o olhar de Silon se perde entre as crianças – os “novos”. Bem que poderiam ter notado tudo antes, minha família não teria passado o que passou.

  Os vampiros descem do carro e seguem em direção ao orfanato, uma moça loira de olhos azuis os recepcionam.

  – Vocês procuram crianças, bebês, pré-adolescentes... – pergunta ela

  Silon olha para Gabriel

  – Estamos procurando uma criança

  – Sinceramente eu estava esperando que uma dessas coisinhas fofas esbarrasse em nós ou fosse falar com você moça, como nos filmes

  – Silon! Não começa...

  Duas criancinhas, um menino e uma menina, de cabelos castanhos, saltitavam de mãos dadas quando pararam para ver quem era o novo casal que entrara na grande casa.

  – Não disse, são essas!

  – Você Silon... digo nada. – o ruivo levanta seu olhar para falar com a moça – Qual o nome deles?

  – Cassie e Miguel, são irmãos gêmeos, de cinco anos. – ela deu um brinquedo as crianças, que correram com ele pelo corredor – eles foram achados perto da fronteira Mystic, soube que os pais deles perderam tudo naquele estado e como eram humanos, a única alternativa que viram para salvar seus filhos foi deixá-los desse lado da fronteira.

  O loiro e o ruivo foram brincar com as duas crianças, conversaram, contaram e ouviram histórias, passaram o dia inteiro juntos, rindo, brincando, pintando e desenhando. Eles se apegaram as crianças, elas adoraram eles.

  Ainda havia algumas questões a resolver, mas ao sair, eles já tinham certeza, de que iriam adotar aquelas duas fofuras e fugir para a Inglaterra.

 

  Mas a estreita de cada passo deles, haviam dois olhos azuis gélidos e alguns fios negros de cabelo a observa-los . 


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