1989 escrita por Juliane Bee


Capítulo 4
Clean.


Notas iniciais do capítulo

Caros leitores, que bom vê-los novamente.
Se você ainda está aí, lhe devo um pedido de desculpas. Sinto muito pela espera de dois anos para uma atualização, eu só não conseguia. A vida mudou tanto nos últimos anos, quem é leitor das antigas vai perceber. Esse capítulo está mais maduro e, talvez, seja o mais pessoal de todos. Assinei como -B, porque parte do que foi escrito é o que sinto, mas pode ser sobre um amigo ou até mesmo sobre você. Quem não se sente perdido na própria vida?
Uma coisa eu sei, escrever é como voltar para casa, encontrar minhas raízes e me reinventar. Aqui é meu lar e vocês fazem parte de mim. Não sou mais a menina de 15 anos que escrevia histórias fantasiando vivê-las. Hoje posso dizer que passei por muita coisa que só me inspirou ainda mais para escrever.
Espero que vocês gostem desse capítulo e que se identifiquem :)
Me sinto enferrujada, mas é bom estar de volta.
Se possível, deixem um oi e conte sobre nossa história. Você me acompanha há algum tempo? O que mudou na sua vida desde o último capítulo?
Uma boa leitura!



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When I was drowning,

that's when I could finally breathe.

 

(...)

“Sabe quando você acorda no meio da noite e se pergunta: como eu vim parar aqui? Quer dizer, a vida é feita de escolhas, sei disso, mas, quais foram as escolhas que me levaram a esse rumo? Karma? Fui amaldiçoada? Não estou dizendo que odeio a minha vida, que ela é horrível, bla bla. Só me sinto presa. Parada no tempo assistindo tudo se transformar ao meu redor. E eu aqui. Na mesma.

Enquanto ouvia minha playlist às 3h da manhã - sei que você lembra dessa tradição - refleti sobre a minha vida e sobre a sua também. A nossa. Ou o que poderia ter sido. Você se sente realizado? Não vou usar a palavra feliz, acho ela forte demais, como a palavra nunca. Elas são pesadas e carregam um significado. É como assinar um documento de verdade, ao usar essas palavras, não tem mais volta. É definitivo.

 Definitivo. Nossa relação nunca foi definitiva. Minha personalidade nunca foi definitiva o que, talvez, tenha contribuído muito para tudo isso. Essa bola de neve gigante que se transformou a minha vida. Não quis carregar você junto. Gosto demais de você para fazer tal coisa. Por favor, nunca duvide disso.

A questão é que imaginei meu futuro tão diferente desse que me foi dado, ou que eu me dei, ainda não sei. Acredito que uma sucessão de eventos foram responsáveis por esse desfecho. Eu tinha tudo tão calculado, planejado. Ser uma boa aluna, faculdade, um emprego bom, encontrar alguém, formar uma família. Parecia simples, mas não foi. 

Desde que minha adolescência acabou, é como se eu estivesse vivendo um filme. Essa não sou eu. É um papel coadjuvante medíocre que tem apenas duas falas durante o filme inteiro. Sinto que o meu eu de 12 anos não reconheceria essa pessoa de 27. Eu fiz coisas ruins - que me fizeram crescer - das quais não gosto de lembrar. Uma delas foi deixar você.

 Não te peço para me perdoar, mas, espero que me dê uma chance para que eu possa me explicar. Foi impulsivo, mas eu precisava. Eu estava sufocada e precisava respirar de novo. Uma atitude egoísta da qual eu me arrependo - em partes.  

Eu precisei me afogar para voltar a vida. Me sinto limpa, pensando direito e com a certeza de que passar por tudo isso me fez entender que preciso de você. Mais do que imaginava.

Começou a tocar Yellow, sua música favorita. Um sinal? Acredito que sim. O momento certo e a hora certa. Tão diferente do dia em que nos conhecemos, você lembra? Um acaso do destino que mudou minha vida.  

Aquela festa estúpida anos 80 em que fui acompanhada do seu melhor amigo. A gente estava dando certo, sabia? Mas foi só você aparecer e dizer um simples “oi”. Eu soube naquele momento que eu era sua. Gosto de lembrar desse dia, parece que aconteceu há tanto tempo.

Sabe, conhecer você mudou os planos e a ordem deles. Eu tinha finalmente encontrado alguém, mas a faculdade estava um lixo e o emprego estava longe de ser o dos sonhos. O sistema tinha me levado. Aprendia todos os dias mais do mesmo e me sentia vazia. Não era isso o que esperava da faculdade. O velho ideal hollywoodiano de encontrar quem você realmente é, não é verdade. Foi horrível. 

Sobre o meu emprego, não sei nem o que falar. A cada reclamação me sentia uma chata, importunando você com meus fracassos. Eu odiava aquele lugar, aquelas pessoas vazias. Não pensava que você talvez pudesse sentir o mesmo. Tudo dava tão certo pra você. Sempre deu.

Percebi que estava com inveja de você e isso era tão errado. Você, uma pessoa maravilhosa que sempre me deu apoio, mas que não via realmente o que eu sentia. Não é sua culpa. Também foi criada desse jeito. Todos temos que passar por isso para crescer. Que mentira! Eu não preciso me matar lentamente para ser alguém e ter uma vida boa.

Afinal, o que é uma vida boa? Dinheiro? Posses? Para mim, uma vida boa é não chegar em casa exausta sem lembrar o que fez o dia inteiro. Eu quero fazer algo que me motive. Que eu lembre e seja lembrada. Uma coisa importante e que me realize.

Por isso me demiti e fui embora. Não foi porque não te amo mais ou tenho outra pessoa como ouvi alguns boatos. Eu precisava disso. Precisava me encontrar para ser essa pessoa que você ama. Leal, engraçada e quem sabe, feliz. Eu quero com todas as minhas forças me casar com você. Esse tempo longe me fez perceber que a única coisa boa que aconteceu nos últimos anos foi você. 

Se pudesse voltar no tempo, não mudaria nada. Crescemos juntos e nos tornamos boas pessoas. Você mais do que eu. Seu sorriso me tira da cama de manhã e nossos planos para uma viagem ao exterior me motivaram a continuar naquele lugar. Só que, quando você fez o pedido, foi como um gatilho. Eu estaria presa nessa vida.

E eu não quero viver assim, fazendo essas coisas que não gosto. Quero encontrar algo real, como nossa relação. A coisa mais real que já me aconteceu. Então, se você ainda quiser casar com uma mulher de 27 anos que está tentando descobrir quem é, eu estou aqui.  

Não tenho emprego, nem dinheiro e muito menos posses. Porém,  amor - finalmente vou usar essa palavra - nunca vai faltar.

Eu te amo,

—B” 

Li mais uma vez a carta em voz alta, um velho hábito. A coragem para clicar no “enviar” sumiu. Ela se foi junto às palavras escritas. Balancei a cabeça rindo comigo mesma. Eu sempre fui assim, fraca. Ou como diria uma amiga minha, orgulhosa. Preciso colocar no papel o que sinto, mas depois que as palavras tomam forma, a vergonha e o medo aparecem. Ele não vai entender o que fiz.

Talvez seja tarde demais. 

Apertei o “enviar” por impulso. Pronto. Acabou.

Droga! O que eu fiz? Levantei da cadeira em direção a janela. Observei as luzes acessas. Nunca tinha notado que a cidade era tão iluminada. Já são 4h da manhã, porque estava tudo tão claro? Foi aí que entendi. Nada tinha mudado. Eu que tirei um peso dos ombros e uma sombra da minha alma. Quem estava diferente era eu. 

O toque do celular me fez voltar a realidade. Andei até a mesa, o aparelho estava ao lado do notebook. Olhei o visor. Era ele.

Não é tarde demais. 

Respirei fundo, sentindo que tudo ficaria bem.

— Alô? 

Ten months sober, I must admit

Just because you're clean

Don't mean you don't miss it.


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Notas finais do capítulo

Olá novamente!
Espero que você tenha gostado desse capítulo!
Se ainda não leu os outros, sinta-se à vontade. Drama é meu forte, caso queira ler mais, olhe meu perfil! Meus bebês são meu orgulho.
Um até breve,
Nos vemos nos comentários.
Mais uma vez, desculpem a demora de DOIS ANOS!
Abraço,
Ju



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