E estava deitado nas nuvens.

Havia encontrado paz e custava a acreditar que ela estava realmente ali. Sentira tanto medo, sentira tanto desespero que não sabia se entregar por completado a este torpor pacífico. Olhou para cima, onde Winston dormia e suspirou.

Newt sabia que logo o sono iria tomar conta dele, mas mesmo assim, queria pensar mais um pouco. Havia comido pizza. Sim, pizza. Várias e várias pizzas de vários sabores haviam sido seu jantar e ele sentia-se jovem novamente. Como se pudesse finalmente tomar a postura de um jovem de dezesseis anos.

Sorriu e com isso o sono lhe invadiu, deixando com que a cabeça descansasse antes do caos.

Estava deitado, parecia ter acabado de acordar. Olhou para o lado, estava em seu quarto. Ele era todo branco, sem absolutamente nada a não ser sua cama. Era de noite e as luzes pareciam ter sido apagadas. Estava numa espécie de hospital, ou laboratório. Os olhos embaçaram ao ver uma menina, ainda criança, toda de branco se aproximar.

Os cabelos eram completamente encaracolados e castanhos, e por algum motivo, Newt sentiu que gostaria de tocá-los. Um sorriso arteiro estava em seus lábios e duas grandes covinhas adornavam suas bochechas. Ela aproximou-se e sentou na cama de Newt.

— O que está fazendo aqui? — disse ele, mesmo não tendo controle de seu corpo, ou mente, percebendo que era também criança

— Fugi.

— Fugiu?!

— Sim, sim. Olha só, eu tenho uma coisa pra te dar e tem de ser rápido.

Ela vasculhou alguma coisa do bolso e tirou uma pedra escura, meio avermelhada. Tinha três centímetros, onde ela havia achado?

— É um presentinho, guarda com carinho, viu?! Se você perder vou ficar chateada com você pela eternidade!

— Mas...

— Dá seu jeito.

Ela riu e aproximou-se, dando um beijo em seu rosto demorado. Quando voltou ao seu campo de visão, Newt percebeu que suas bochechas estavam coradas e ela estava tímida, pois olhava para baixo com um sorriso sem graça.

— Então boa noite.

—... Boa noite.

Newt permaneceu no lugar e ficou olhando para a pedra.

Abriu os olhos, ainda era cedo. Bocejou e então percebeu que sabia com quem havia sonhado. Era, de novo, aquela garota. Levou a mão para o peito e apertou com força. Mas que falta ela fazia.

Olhou para os outros, deveria ser umas quatro horas da manhã. Não iria levantar, não mesmo. Viu Thomas a dormir e subitamente o invejou. Ele poderia falar com Teresa telepaticamente o tempo que quisesse que ela ainda responderia.

Queria falar com essa menina também. Se pudesse saber onde ela está, quem é ela, de fato. Não sabia o nome desta menina, mas isso o incomodava demais agora. Como poderia sentir a falta de alguém que nem sabe o nome?! Pelo menos, sabe que a conhece.

Ao lembrar de seu sorriso arteiro, Newt deixou os braços quentes da escuridão o abraçarem mais uma vez.

E neste sonho ele estava deitado. Haviam várias pessoas vestidas de verde com a boca coberta ao seu redor, uma luz ofuscante no topo de suas cabeças.

Não entendia nada do que diziam, estava muito tonto. Todas as coisas estavam manchadas, nenhum traço estava fixo. Mas olhou para o lado e percebeu quem estava ali.

— Ela deverá ser encaminhada... Grupos... B... Beatrice.

Beatrice. Era esse o nome que haviam lhe dado? O coração apertou, a angústia tomou conta de si, e pareceu que era tudo parte do sonho, pois os homens se aproximaram e pareceram tentar mantê-lo na cama.

E então acordou, para se deparar com o caos.

Muita coisa aconteceu, entre elas os Cranks. Mas, agora estava no quarto onde, supostamente, Teresa deveria estar. Thomas havia levantado, não havia muito o que fazer, e agora ele estava sozinho com Aris, o novo garoto.

Olhou para ele e percebeu que ele estava incomodado.

— Aris, eu tenho uma pergunta para te fazer.

— Pois.

— Alguma garota... Beatrice, estava na Clareira de vocês?

— Beatrice? Quer dizer a Bea? Das covinhas?

Newt sentiu o semblante iluminar-se.

— Sim, ela se salvou conosco.