A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 40
Não precisava ser assim (bônus) | A Escolha


Notas iniciais do capítulo

Oi, pessoal, tudo bem com vocês? A Paz! ♥ Bem, eu disse que a música deste capítulo seria 1-800, do Logic, mas ia ficar um capítulo com um clima mais bem pesado, e quando as cordas afrouxassem do meio para o final, mal ia dar para sentir, então optei por mudar e colocar Fix You do Coldplay, que ee uma das minhas bandas favoritas, acho que vocês já perceberam kkkkkkkkkk E essa música, que significa "concertar você", é de uma pessoa para essa personagem, e de Deus, através desse personagem (consuo, mas vão entender), é um capítulo bem espiritual também, e tals, mas não fere religião ou coisa do tipo, prometo, tive muito cuidado para não entrar nesse mérito, apenas da palavra de Deus, e estou aberta a conversas (não discussões) sobre o assunto, para quem tiver interesse em me mandar MP, eu amo demais falar sobre esse assunto.
Bem, foi muito inesperado o bônus por essa pessoa, sinceramente, mas eu gostei mais do que o esperado de escrever, surpreendentemente. Talvez seja meu segundo bônus favorito, perdendo para o pov Stuart! Espero que vocês gostem, mas se não gostarem também, me sugiram pessoas para narrarem os bônus, pessoal. Vamos interagir um pouco mais, por favor. Essa fic existe porque há quem escreva, e tem alguém que escreve porque há quem leia. Nunca cobrei aqui comentários, nada disso, podem reler todas as notas, mas é muito importante para mim saber o que estão achando e o que sentem sobre tudo o que está acontecendo, não sabem o quão feliz me deixam, e me inspira também para continuar escrevendo os próximos capítulos!
Gostaria de agradecer enormemente pelos comentários no capítulo anterior, me deixaram feliz demais, e bem, vocês gostam da cena das estrelas em titanic? Eu sinceramente espero que sim. Digamos que eu esteja escrevendo um certo remake bem mais puro kkkkkkkkkkkkkkkkkk e ainda aqui para a seleção da herdeira!!!!
BEIJOSSSSSSSS
obs.: Não postei mais cedo, no caso, quando eu disse que ia postar, porque não estava conseguindo, problemas de formatação, e acabou que eu escrevi mais três mil palavras kkkkkkkkkkkkk desculpas, gente, mas realmente passou do que eu esperava.



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Quando você faz o seu melhor, mas não tem sucesso

Quando você recebe o que quer, mas não o que precisa

Quando você se sente tão cansado, mas não consegue dormir

Preso em marcha -ré

 

E as lágrimas escorrem pelo seu rosto

Quando você perde algo que não pode substituir

Quando você ama alguém, mas isso se desperdiça

Poderia ser pior?

 

Luzes vão te guiar para casa

E incendiar seus ossos

E eu vou tentar consertar você

 

— Fix You, Coldplay.

Meus passos são muito apressados. Nunca andei tão rápido assim antes.

O cheiro de hospital é muito forte, intenso, mas eu continuo adentrando o ambiente, procurando por alguém bem específico.

— Pai! Pai! — gritei, quero dizer, eu ao menos tentei. Mal foi um fio de voz, pelo cansaço e pelo soluço de choro. Ele veio até mim. Devastado.

— Conseguiram estabilizar ela, amanhã vai voltar para casa — contou, em um abraço. — Stuart...

E me soltou, para abraçar meu irmão, que quis vir me acompanhar, enquanto Amanda e Stacey ficaram com Ben. Estamos todos tão cansados, que não há palavras.

— Pai, mas o que foi que aconteceu dessa vez? — Stu perguntou, já que via claramente que eu não tinha forças para isso. — Senta aqui.

Nós três nos sentamos nos bancos ali da área de emergência mesmo.

— Ela desmaiou do nada enquanto a gente estava andando, e logo começou a sair sangue de seu nariz, eu não entendi muito bem o que foi, o médico explicou mas eu não entendi quase nada. Foi relacionado aos medicamentos, ele diminuiu um pouco a dose. Mas dessa vez foi quase.

Quase que ela morre, essa é a frase que ele não ousou dizer. Meu coração está aos frangalhos, e eu me sinto moída da cabeça aos pés.

Desde o diagnóstico da minha mãe eu me sinto assim, abalada demais para me sentir saudável, não durmo direito há quase cinco meses, tempo que Peeta está no palácio, sendo também o equivalente do tempo que recebemos o diagnóstico.

— Por que nós não internamos ela? — Stuart sugeriu, olhando para um ponto na sua frente.

— Eu já pensei nisso, mas não resolveria de nada — Papai respondeu. Ele não fala mais do que vinte frases por dia desde que Peeta foi para essa Seleção. Sempre foram grandes amigos.

— Por que não resolveria, pai? Olhe só onde estamos, e como estamos! Ninguém aguenta mais! Nem ela! Ben cresceu quase cinco centímetros de altura e você nem viu! Stacey concluiu o ensino médio estudando em casa e com antecedência e você nem sabe! Isso está matando ela! E nós estamos indo junto!

Stuart explodiu, chorando, soluçando. Sua voz já oscila entre a fina e a grave por causa da idade, e eu não consegui nada além de concordar com ele.

Eu tentei, mas não consegui segurar meu próprio choro compulsivo, escondendo meu rosto nas mãos, apoiadas em minhas coxas. Mas que inferno! Inferno! É isso o que as nossas vidas se tornaram!

Hoje não passamos fome, na verdade, temos além do que precisamos comer, mas não dá, nunca me senti tão miserável e incapaz em quase dezenove anos de vida.

— Eu penso nisso toda hora — meu pai assumiu, em um suspiro. — Mas logo ela vai ir. Logo a gente não vai mais tê–la aqui, pela forma da qual a doença tem se manifestado, ela não vai mais saber de nada em seis meses, um ano. E o que custa nós a mantermos por perto nesse tempo? Logo ela terá que vir pra cá mesmo.

Um silêncio matador ficou entre nós. Mal percebi quando eu o cortei, depois de que suas palavras perfuraram minhas esperanças.

— Seis meses?... — murmurei, apavorada. O ar saiu de mim. Stuart agarrou na minha mão, como eu, mas também para me segurar de acertar um murro bem no rosto do meu próprio pai. — Ela foi sentenciada a viver seis meses assim e você não nos disse nada?!

Minha voz saiu em um grito dessa vez. Meu irmão caçula deu um soluço de dor toda a garganta. Meu pai também, se levantando.

— Como você ousou esconder uma coisa dessas, pai! Ela é a nossa mãe! — berrei, em plenos pulmões, ficando de pé sobre os tênis surrados. Stuart me apertou em seus braços, pois eu realmente quero socar a cara do meu pai. — Seu egoísta! Idiota!

— Vocês que nunca procuram também ver o meu lado, Amélia! — Ele gritou também, mesmo que com os olhos cheios de lágrimas. — Você viveu quase dezenove anos ao lado da sua mãe! E eu vinte e cinco! Vinte e cinco ao lado dessa mulher! Vinte e cinco anos andando muito bem acompanhado! Todos esses anos ela me apoiou e cuidou de mim e de vocês! O que me custa cuidar dela agora?! O que custa?!

Eu não sei de onde saem tantas lágrimas de mim. Jorram todos os dias abundantemente, como cachoeiras. Às vezes de saudade de Peeta, às vezes de lamentações, às vezes de tristeza pela situação da minha mãe. Mas agora é de decepção.

— As nossas vidas.

Nunca tive "sintonia" com Stu, na verdade, crescemos distantes, nos amando, mas de longe, de modo que cresci colada com Stacey e Amanda, e ele com Peeta e Ben, mas nos últimos meses, eu não seria nada se não fosse Deus usando ele para me ajudar com toda essa situação.

Mas dessa vez, eu e ele falamos a mesma coisa, ao mesmo tempo. Meu pai ficou imparcial. Seus olhos azuis estão, como sempre, iguais aos de Peeta, mas não encontro neles o que acho em meu irmão: compreensão.

— Vocês não sabem o que eu sinto todas as vezes que eu chego em casa e vejo claramente que não é a mesma coisa. Quando eu a vejo sem lembrar de vocês, que dói muito mais do que não lembrar de mim! Vocês são tudo para ela, mas até isso tem complicado de se lembrar! Isto é terrível! Não sabem a dor que eu sinto com tudo isso! Acontece que eu acho que é o mínimo, nós pelo menos cuidarmos dela agora, porque realmente não vai durar muito, e isso é... — ele precisou dar uma pausa para que possamos entender. — Não tenho palavras. Isso acontece tanto, mas eu não podia imaginar que fosse ser comigo, e justo dessa forma.

— E também não é justo você ver nós definhando junto com vocês dois — eu disse, em um tom baixo, ainda de pé, segurada por Stuart. — Nós amamos ela. É claro que a gente quer cuidar, é claro. Mas acontece que não podemos continuar dessa forma, pai. Olhe como todos estamos.

Ele olhou em meus olhos, depois nos olhos de Stuart. Eu sei o que ele quis dizer, e quais são as suas intenções. Nós dois sempre nos demos bem, e nos aproximamos bem pouco com toda essa situação, porém acontece que eu não sou Peeta, eu não sou Deus, eu não sou ninguém que pode ajudá–lo com seus problemas e promessas. Sou apenas uma filha que tenta dar seu melhor para melhorar as coisas, mas como pode ver, está muito difícil.

Antes que fosse ter uma resposta, eu peguei a mão de Stuart, e disse que voltaria amanhã. Saí com o meu irmão do hospital, mesmo que as ruas de Sant Cloud estejam vazias, pelo horário, não é tão perigoso assim, principalmente porque agora todo mundo infelizmente nos conhece.

— Você tem alguma coisa para dizer? — eu perguntei, ainda de mãos dadas com ele. Mesmo tendo crescido - e muito - nos últimos meses, ainda falta bons vinte centímetros para me alcançar. Eu tenho quase a altura de Peeta, ficando para trás em cinco centímetros.

— Eu to arrasado, Mels. Você bem sabe. Vai contar para a Stacey do um ano? — Assenti, mesmo que no meu coração eu soubesse que era errado. — Amélia, você acha que seria errado se a gente pedisse para internar a mãe?

Sabia que ele ia perguntar isso. Nos parei no meio da calçada falhada do nosso bairro.

— Stuart, internar ela não significa que iremos abandoná–la — eu comecei. — Muito pelo contrário. O pai é quem não está vendo que isso será melhor para ela, que vai ser muito mais bem acompanhada, mesmo que nós nos dediquemos. Não será abandono. Você está ficando ainda mais bonito crescendo, Amanda também, está quase uma moça, Ben... mas — suspirei, segurando minhas lágrimas outra vez. — Meu pai está sendo o marido, sabemos que ele não iria concordar. Ele se esqueceu de ser pai.

Stuart assentiu, extremamente abalado. Pode se parecer muito com os traços de Peeta, mas os dois se expressam de modos absurdamente diferentes. Os dois são igualmente intensos.

— Talvez não devamos contar aos outros agora, e dizer para o Peeta que está tudo numa boa. Está tudo chegando ao fim. Não tem muito, de qualquer forma, o que possamos fazer. Isso vai além do nosso alcance, apenas no de Deus, não é? Se o pai não aceitar, nós vamos continuar se dedicando, e aproveitando o tempo com ela.

Assenti, em um modo lento. Falei que será como ele disse, e o abracei bem apertado, sendo retribuída. Eu não o vejo como Peeta, eu o vejo como Stuart. Com esses últimos meses, pude ser mais íntima dele, e ver melhor quem ele é, tudo.

Fomos para casa, em silêncio, mas pelo frio cortante que fazia, ficamos bem abraçados por todo o trajeto, e uma sopa de carne nos esperava latejando calor.

*•

Quando minha mãe voltou para casa, ela estava bem. Sabia todos os nossos nomes, não confundiu ninguém, tomou banho sozinha, riu com Ben, e o pegou no colo, e tudo mais. Meu pai apenas a trouxe e desapareceu para trabalhar até de noite.

— Mãe, precisa de alguma coisa? — perguntei, e ela negou, mas um pouco aérea. — Mãe, como está se sentindo? — perguntei mais uma vez, enquanto Stacey fazia uma trança no cabelo dela.

— Estou me sentindo bem, apenas um pouco cansada, Mel — garantiu, olhando em meus olhos. Ela tem bastantes momentos assim, agora, de choques de lucidez total, porém não é de se esperar por muito tempo, afinal, logo ela vai se esquecer de novo... e isso é o que me acaba. — Peeta não virá jantar hoje? Eu estava querendo fazer uma torta de chocolate branco, como vocês gostam, mas...

Stacey logo pegou uma revista, e com muita paciência, explicou para ela. Não sei de onde sai tamanha paz e paciência. Eu não saberia o quão destruída está se fosse de fora. Ela realmente amadureceu uns três anos nesse período, sendo, de todos nós, a filha mais apegada à mamãe.

— Mamãe, Peeta não vai voltar porque ele está no palácio, e está entre os finalistas para se casar com a princesa Katniss, olha só isso aqui — mostrou a imagem que deixa bem claro eles dois juntos, e para mim estão completamente apaixonados. Muitas vezes, sinto inveja da paz que ele passa através das fotos, mas logo passa, pois sei que ele é quem estaria morrendo mesmo se estivesse aqui. Sorri para a foto, com muita sinceridade. Espero demais que ele e Katniss sejam felizes. Ela tem um coração de diamante.

— Nossa, mas aí eles parecem que já estão casados. Peeta está mais bonito. Quando ele vai me ver? — eu e Stay rimos. Beijei o alto da cabeça da minha mãe, envolvendo-a em um abraço, já que está sentada.

— Em Janeiro, mês que vem, mãe, no dia 7. Vai ser quando a gente vai ir até a Capital, Angeles, para revê–lo. Está tudo bem com ele.

Assentiu, paciente.

— Cadê Ben? — ela perguntou.

— Vou buscá–lo — Stacey disse, correndo para pegar nosso irmão mais novo que estava rindo lá fora, provavelmente jogando bola com Stuart.

Continuei abraçada a minha mãe, e ela pareceu não se incomodar. Permiti meus pensamentos saírem daqui um pouco. Um ano... um ano... um ano e eu não mais a terei aqui. Algo engasgou na minha garganta, o choro. Mas não me deixei chorar. Eu ainda a tenho.

É difícil demais tudo o que estamos passando, de uma forma avassaladora, mas eu não consigo odiar ela, não consigo detestá–la. Eu a amo. É minha mãe, a minha mãe. Também amo meu pai, mas é com ele que me estresso, pois ele é muito ausente em nossas vidas, principalmente agora. Peeta quem o entende, era o que me contava.

— Me chamou, mamãezinha? — Ben perguntou, com seu andar sagaz, me fazendo sorrir, e ela também.

— Quer sair comigo? Podemos ir a praça principal, o que acha? — o sorriso do garotinho foi enorme. Ele é como Peeta, uma mesclagem da mãe e do pai, por isso se parecem, mas é mais por serem mesmo uma mistura dos dois.

— Vamos! Vamos! Vamoooooooooooos! — e ele começou a pular, gritando, na animação de uma criança de cinco anos, mas correu para o quarto quando pedi para que vestisse um suéter, então eu me afastei da minha mãe, logo que Amanda disse que os acompanharia, fui terminar de guardar a louça do almoço.

— Mãe, só acho melhor a senhora só colocar uma roupa mais quente — Amanda sugeriu, enrolando um cachecol cinza no pescoço. Sorri. Estava linda.

— O quê? Mas por quê? — Minha mãe perguntou, pondo uma mão na cabeça. — Quem é você?

Fui imediatamente para o lado de Amanda, deixando guardar a louça para depois.

— Mãe, a senhora acabou de dizer que está querendo ir na praça com o Ben, seu filho de cinco anos — acrescentei, e Amanda assentiu, preocupada, como eu.

— Não, eu não me lembro, e nem de vocês duas! Quem são vocês?! — a expressão de medo no rosto dela é visível.

— Mamãezinha, vesti meu suéter, aquele que o Pee mandou pra mim com a cartinha! Podemos ir?! — Ben apareceu, dançando, com o suéter ao avesso, feliz.

— Quem é esse menino? Onde eu estou? — ela continuou, alarmada, se afastando de nós. Ela sumiu em si mesma em um piscar de olhos.

— Mãe, eu sou a Amélia, esta é a Amanda, e este é o Benjamin, nós somos os seus filhos, e estamos em nossa casa em Sant Cloud.

Ela negou veementemente, enquanto Ben se escondeu atrás de mim, ficando com os olhos cheios de água. Sofremos demais com tudo, mas desde que ele se entendeu um pouco do que é que está acontecendo, tenho convicção de que é o mais sofre, por não entender completamente. Confuso.

— Eu não conheço vocês, não conheço esse garoto. Eu não tenho filhos, não, não, não, isso não é possível! — ela é exclamou, ficando com os olhos cheios de lágrimas.

— Mãe, calma... — falei, dando um passo na direção dela, para tocar seu ombro, mas o que aconteceu realmente me machucou, mais do que qualquer coisa. Ela me acertou um tapa forte, bem no rosto.

Em reflexo, eu puxei o ar com força, a encarando.

— Mãe! — exclamei, tocando minha bochecha. — Sou eu, Amélia! Sou a sua filha mais velha! Estou sempre contigo!

— Eu não conheço você! Sai daqui! Sai! Saiam todos vocês! Eu não conheço vocês! — Ben começou a chorar em sussurros, correndo para o colo de Stacey, que viu tudo, assim como Stuart, pelo puxar de ar, inacreditável.

— Mãe! Nós somos os seus filhos! — Amanda interviu, ousando se aproximar mais dela, e eu engoli tudo o que eu tinha de mágoas e tristezas, ocasionadas por este momento, e simplesmente fui procurar o remédio para quando ela fica nesse estado. Mas ela piorou.

— Não! Não! Não! — ela gritou, jogando a cadeira com tudo no chão, na direção de Amanda, que deu um grito assustado, cheia de medo. — SAIAM DAQUI! EU NÃO CONHEÇO VOCÊS!

BEN! SAI DAÍ! — eu berrei, correndo desesperada, quando ela começou a lançar coisas avulso na nossa direção, quando ia jogar um copo de vidro no menino, que não sabia o que fazer.

Cheguei a tempo de protegê–lo com o meu corpo, mas tarde demais para me proteger, e o copo se estraçalhou até migalhas bem no meio das minhas costas, que não estão protegidas direito. Mordi a língua para não gritar.

Mas antes fosse apenas isto. O escândalo dela continuou incessante.

SAAAAIAM! Saiam! Saiam!

Encaixei Ben em meu colo, protegendo seu rosto e corpo, enquanto ele chorava.

— Fica aqui, e só abra se ouvir dois toques, ok? Se for aberta e for a mamãe, se esconda — pedi, e só de vê–lo chorar me dá vontade de morrer com ele, mas ainda mais quando sinto que em três pontos das minhas costas os estilhaços foram mais fundos e estão me incomodando.

— Mels, por favor, fica aqui comigo, maninha — ele pediu, soluçando. Amanda entrou no quarto no susto.

— Vai lá, Amélia, agora! — ela disse, chorando. Só escutei o grito de Stuart.

— Cuida do Ben — falei apenas uma vez, e ela assentiu, mas Benjamin detestou a notícia, dando um grito alto e dolorido, me chamando. Apenas engoli o choro e bati a porta, voltando para a divisão da cozinha e da sala.

MÃE, PARA COM ISSO! MÃE, NÃO! — Stacey berrou, protegendo um Stuart caído, com um monte de sangue na testa. Mamãe carregava uma faca, com o olhar muito assustado. Mas não parecia estar brincando.

Voei, quase, pela sala, e no alto da estante, peguei o remédio para dopá–la. Pus na seringa.

— O que é isso o que você está fazendo? — ela perguntou, próxima a mim, e decidida a usar a faca. Jesus, Jesus, Jesus... Espírito Santo, por favor, tenha misericórdia.

— Isso é para você. Fique calma. É apenas um remédio — eu disse, tentando soar calma. — Está tudo bem.

Ela tentou me acertar um golpe, gritando, mas dessa vez o que ela fez foi um corte de raspão, que doeu demais. Ela nunca tinha chegado a este ponto.

MÃÃÃÃE! — Stacey gritou, chamando a atenção dela, e sei que foi para me dar tempo, e com o meu coração batendo ao seu limite, inseri a agulha no pescoço dela, injetando todo o líquido.

Não levou mais de três segundos para isso, mas foi o suficiente para que ela se voltasse contra mim, e me cortasse no braço, muito possivelmente cortando alguma veia, pois foi certo o jorrar de sangue, porém em uma intensidade um pouco menor do que o esperado.

Mas não a deixei cair, mesmo com minhas lágrimas, eu a segurei firme, para que não vá com o rosto de encontro ao chão. Consegui deitá–la no sofá, mas minhas pernas falharam, e eu fui de encontro ao chão, chorando angustiada, cobrindo meus olhos, por tudo. É como se a minha vida não fosse mais minha, mas dessa doença. Tudo é Alzheimer no meu mundo.

— Amélia, Stuart não está acordando. Ele apagou — Stacey disse, chorando também, com a cabeça de nosso irmão em seu colo.

Pisquei duas vezes, derramando inúmeras lágrimas.

Fui engatinhando até onde eles estavam, que não era muito longe, nossa casa tem os cômodos novos, mas tudo permanece o mesmo. Continua uma casa construída com madeira e tijolo, pequena, mesmo com as reformas do governo, e ela tenha ganhado novas cores e estruturas.

— Stuart, Stuart — chamei, tirando os pedaços de vidro que Stacey não conseguiu por causa das mãos trêmulas. Não que as minhas estejam muita coisa diferentes. — Bebê, acorda, meu anjo — chamei, soprando levemente em seu rosto tão dócil. Ele tem apenas 14 anos, mas já cresceu tanto em maturidade, que eu não poderia colocar suas qualidades em palavras, não mesmo.

— Eu vou pegar gelo e um pano para cuidar do seu braço — assenti para minha irmã loira, agradecendo com o meu olhar.

Chequei os batimentos de Stuart, e ele estava desmaiado mesmo. Não vai demorar para acordar, mas limpei todo o seu rosto, que fora nocauteado por uma jarra de vidro. Não é de se esperar que ele continue acordado.

Meu coração parece ficar menor, pulsando rudemente em mim, como se ficasse impossibilitado de ser feliz. Impossibilitado de criar expectativas de algo maior. Estou tão diferente que até para Peeta eu consegui mentir, e muito bem. Isso não aconteceu antes.

— Por favor, tira a faca dali, Stay, e me dê pano para eu limpar meu braço. Depois vai ver como a Amanda e Ben estão.

Ela assentiu, e assim o fez, depois de cobrir a nossa mãe, pois está fazendo muito frio.

Limpei o corte, que não era grandes coisas, mas doía demais.

"Dean mandou uma mensagem.", foi o que apareceu em meu Smarter, no instante em que eu finalizei com esparadrapo o meu curativo, que não é maior que dez centímetros, mas ainda arde, e sangra.

Pus meu aparelho de comunicação no bolso, e fui com Stuart no colo, mesmo que me ardendo, já que eu ainda não limpei as minhas costas, que foram atingidas.

— Amélia, pare de se esforçar tanto, cara! — Amanda discutiu, enquanto Stacey limpava carinhosamente o meu machucado nas costas. Mesmo com dor, peguei Ben para tomar leite na mamadeira e em meu colo.

Simplesmente fechei os olhos, enquanto ouvia Amanda reclamar das minhas obrigações como irmã mais velha.

Ben ficou fazendo carinho em meu pescoço, inconscientemente, e eu apenas suspirei, como se fosse paga com seu amor, mesmo que meu coração ainda doa tanto de mágoas.

— Se Peeta estivesse aqui, ele ia dar na sua cara, e você escutaria ele! — Continuou Mandy, andando de um lado para o outro.

— Para com toda essa sua agitação, porque Stuart daqui a pouco vai acordar por causa da sua falação, Amanda — briguei, séria, olhando para seus olhos castanhos. — Mais respeito, por favor.

— Ah! Mas eu falo o que eu bem quiser! Você tem que nos ouvir, porque só temos você!

Nesse momento, Ben se engasgou, e eu imediatamente tirei sua mamadeira, e o sentei, dando tapinhas em suas costas.

— Calma, calma — falei, sorrindo para ele, que riu, babando um pouco. Limpei, tranquila. — Amanda, Stacey, vocês tem que entender que fariam a mesma coisa em meu lugar, não posso repousar se vocês estão assim, precisando de mim. E eu estou bem, não veem? Se eu não estivesse bem, o copo teria me furado muito mais. Fez só três furos, está tudo bem.

— Mas também você está querendo equiparar forças, Amélia — Stacey disse, sentando-se na cama que eu estou, com a cabeça de Stuart ao meu lado, ela segurou os pés dele, fazendo carinho. Ela é incrivelmente carinhosa. — Você não é invencível. Até nisso você e o Peeta são gêmeos! Não podem controlar o mundo!

— Mas posso melhorar o mundo de vocês, e isso para mim e para ele também é suficiente. Acontece que as coisas estão saindo do nosso controle, e precisamos concordar nisto — eu falei, me sentindo cansada. Não estou bem. Mas farei o possível para que pensem que sim. Já basta tudo o que estamos passando. — Mandy, Stay, preciso que me ajudem com a mãe. O médico reduziu as doses, porque estavam dando muitas tonteiras e fraquezas, ocasionando ontem no desmaio dela, como já sabem. Mas como podem ver, ela está de volta a estaca zero.

Assentiram, e tinham seus ares de preocupação.

— Preciso que vocês me ajudem. O médico me enviou de madrugada, que nós podemos aplicar a cada seis horas, esse remédio forte nela, para fazê–la dormir por mais tempo, e deixá–la mais tranquila. Eu não estou me recordando muito bem das coisas, então estou pedindo isto a vocês, ok? Me chamem e eu aplico, para não acontecer de novo um evento horrível como foi esse.

— Eu sei aplicar — Mandy disse, e Stay assentiu em concordância também. — Amélia, mas nós podemos revisar as coisas, uma de nós sempre acaba mais sobrecarregada. Stacey é quase a sombra da mãe, e você é a nossa mãe agora e eu a babá do Ben. Precisamos nos ajudar mais vezes. Por exemplo, só um exemplo, eu fico de manhã com a mãe, você dorme, Stacey com Ben e Stuart. De tarde você com a mãe, eu com Ben e Stuart e Stacey descansa. E por aí vai. Mais ou menos assim, entende?

— Não, eu quero ajudar mais também — Stuart interrompeu com a voz bem fraca, antes que eu explodisse e dissesse que posso dar conta. — Quero ficar com a minha mãe também. Ela não está legal ultimamente.

— Vocês tem que apenas me ajudar a lembrar das coisas, gente — eu disse, pondo a chupeta na boca de Ben, mesmo que já tenha cinco anos, coloquei pois ele ama dormir com elas. — Me lembrem dos horários, e fiquem sempre perto uns dos outros, para evitar o que aconteceu hoje. Ben poderia nem mais estar aqui se tivesse sido acertado pelo copo, e Stuart... — afaguei os cabelos castanhos claro do meu irmão. — poderia ter se ido com uma pancada dessas que levou. E não há discussão. Stacey, sempre esteja acompanhada, com Stuart, ou com Amanda, e quando verem a mamãe como hoje, saiam com ele de perto.

Deitei o caçulinha de cinco anos na minha cama única, virado para a parede. É um luxo tê–lo sempre comigo, enquanto o futuro de Peeta não é definido verbalmente.

— Vou fazer o lanche de vocês — avisei, depois dei um beijo no alto da cabeça de todos eles, aproveitando minha moral por ser mais alta. — Stay, tire o dia para descansar, você também, Mandy. Ela só vai acordar quando o pai chegar.

— Céus, para de ser o Peeta por um segundo, ta sendo difícil não te ter, Amélia — Stuart disse, ainda fraco. Pus a mão em sua testa, e ele está ardente.

— Cala a boca, moleque, sabe que eu sempre fiz isso! — falei, tentando brincar. Ele sorriu, enquanto Mandy riu.

— Bem, temos que olhar por esse lado, é verdade. Aliás, pessoal, por que nós não escrevemos cartas para o Peeta? Ele manda duas por semana, mas nós quase nunca respondemos.

Ouvir falar do meu irmão gêmeo é uma grande alegria. Mas me trouxe tristeza, porque eu estou mentindo para ele sobre como todos nós estamos.

— Acho uma excelente ideia, ele vai adorar receber carta de cada um de vocês. Escrevam, e me entreguem na hora do lanche. Vocês tem uma hora, tudo bem? E Stuart, vou pegar um remédio para você.

Assentiram, e eu saí, fechando a porta do quarto, para refrigerar com o ar condicionado.

Verifiquei todos os sinais vitais da minha mãe, notificando o médico através do Smarter, e também o meu pai.

— A senhora é forte, mãe... — sussurrei, fazendo carinho em seus cabelos. Ela parece tão serena e normal, no que se diz a saudável, enquanto dorme. — Luta contra isso, fica com a gente, mãe, por favor — pedi, com a voz já embargada pelas lágrimas dançantes em meus olhos. — Fica conosco. Fica. Por favor...

— Amélia? — Stay chamou.

Passei rapidamente as mãos pelos meus olhos, fungando, secando-as na minha calça de moletom.

— Sim? — respondi, forçando um sorriso, saindo do chão.

— Quero te ajudar a preparar as coisas. E tem muita coisa para arrumar por aqui — sinalizou a sala, e a cozinha que ficou uma zona, com carne espalhada pelo chão, parede, geladeira, pois minha mãe ficou completamente desnorteada e fora de si.

— Hm, já que insiste, pode recolher o vidro, por favor, que eu vou dar um remédio para o Stuart, tudo bem? — Assentiu, balançando a cabeça afirmativamente.

Busquei o comprimido, enchi uma garrafa d'água e já levei quatro copos mais a mamadeira de Ben.

— Tome — chamei meu irmão, que obedeceu, logo amolecendo o corpo, para dormir. — Daqui a pouco venho ver como vocês estão. Mandy, fica de olho nele pra mim, por favor — ela assentiu, continuando a ler seu livro, no lado oposto ao irmão na mesma cama.

Fui para a cozinha, e comecei a limpar, sem pensar muito no que estou fazendo. Só não queria estar viva, no fundo. Minha vontade de viver é pequeníssima.

— Quais são as mensagens na caixa-postal? — perguntei ao celular, depois que o coloquei na mesa, que foi a primeira coisa que limpei.

Há cinco mensagens. Todas são de Dean Mraz. Deseja escutá-las?

— Por favor, sim — respondi, enquanto esfregava o chão da cozinha, jogando logo a água amarronzado por causa do molho para o ralo.

Oi, Lili, tudo bem? Cara, estou tentando te ligar, mas não estou conseguindo, e por mensagem eu não... — riu, meio sem jeito. Sem querer, eu sorri. — Vou ligar de novo.

— Caramba, eu não quero atrapalhar... mas tem algo que eu quero muito saber.

Amélia... vai vir para a igreja hoje? — perguntou, em uma voz meio indecisa, me fazendo morder os lábios para não desmanchar em um riso.

Oi, Amélia! Aqui é a Daise! Tudo bem? Você vai vir para a nossa casa hoje? E também o Dean está querendo te perguntar se você quer... mãe! O que está fazendo com o meu aparelho?! — joguei água no chão da cozinha para tirar todo o sabão, e ri, mesmo que rapidamente.

— Oi, Li, bem, você, quando ler a minha mensagem, poderia poderia por favor me encontrar na praça? Gostaria de saber se... se queria sair comigo.

— As mensagens de voz acabaram. Deseja ligar para Dean Mraz?

Um gelo no meu estômago se fez presente, e eu quase caí. Dean quer sair comigo?! Mas... mas...

— Caramba! — Stacey exclamou, com uma expressão bem surpresa. — Mas já limpou esse chão, a mesa e o fogão?! UaU!

— Stay, poderia apenas desenformar a torta de limão que eu fiz antes do almoço e colocar aqui para vocês lancharem? Eu vou na praça. O pai chega em quinze minutos, e eu não vou levar muito tempo.

Falei apressada, colocando duas mechas de cabelo atrás da orelha, pegando meu Smarter.

— Eu tô arrumada? — perguntei, preocupada. Sei que meu segredo está guardado com ela, que sorriu.

— Depende. Para o mercado, sim, mas para encontrar o garoto da voz bonita de seu Smarter, passa a maquiagem que a princesa te deu.

— Mas eu nem sei o que é aquilo! — exclamei, jogando as mãos para o alto. — Ah, mas nem é um encontro, ele é apenas o filho do pastor, e que é meu amigo — falei, dando de ombros. — To indo.

— Tudo bem, você já é linda mesmo. E não fica preocupada, vou falar para o Peeta só quando ver ele pessoalmente e você dar bobeira.

Ri, balançando a cabeça.

Apenas checando a mensagem dele, que era me chamando para sair, e eu apenas disse que estava indo. Olhei o horário e estou no tempo certo.

Deixei uma seringa já preparada com Stacey, para via das dúvidas. Stuart está baixando em febre, e Amanda está de olho nele. Ótimo, pensei comigo mesma. Ben está completamente apagado, depois de uma mamadeira de chocolate com leite.

Saí, me espremendo na minha jaqueta nova, que comprei com a última vez que recebemos o dinheiro de Peeta, mas está tudo bem, porque eu e papai salvamos o suficiente para qualquer imprevisto que minha mãe possa ter, pelo menos por hora.

A praça não é muito longe de casa, porém agora pareceu durar muito mais o trajeto, por causa do meu coração acelerado. E eu nem sei o motivo de estar assim. Ele é apenas de verdade meu único amigo homem que não seja Peeta. Meu pai é apenas meu pai, e nós nos damos muito bem, mesmo com o episódio de ontem.

E lá estava ele, comprando um saco de pipoca, em seu moletom e calça preta que deixa bem claro não ser um Seis, tampouco um Sete.

— Oi, Três — cumprimentei, assustando-o. Rimos juntos.

— E aí, senhorita Lili. Demorou para responder a minha mensagem, hein — brincou, me oferecendo a pipoca. Aceitei porque é doce, assim como Peeta e eu gostamos.

— Poxa, se te contasse tudo o que já me aconteceu hoje... — respondi, sentindo minhas bochechas corarem. — Vamos na igreja?

— Ah, não, eu amo aquele lugar, mas hoje não terá culto por causa da nevasca que está para vir ainda hoje. Meu pai resolveu nos preparar um pouco mais, para comprarmos mais roupas de frio para distribuir.

Assenti, com um sorriso de lado. Conheço Dean desde que éramos pequenos, mas só desde que a minha mãe foi diagnosticada e P me contou que nós nos aproximamos, pois eu corri para a igreja, conversar com a mãe dele, e pedir uma ajuda em orações, mas era ele quem estava lá, de férias da faculdade de medicina em Chicago. Está aqui agora por causa da paralisação das aulas por causa da sequência de feriados. Primeiro a independência de Panem no dia 18, e a véspera e o natal nos dias 24 e 25, então o esperado ano novo.

Dean não é uma pessoa boa porque a igreja o faz ser bom, ele é bom porque está nele isso. É possível ver Deus em seus olhos castanhos claros. Não estou comparando-o, obviamente não, mas ele traz algo diferente consigo, algo que ele busca em Deus.

Até mesmo o seu abraço é diferente. Traz consigo um calor do coração.

— Então para onde estamos indo? — perguntei, sentindo sua mão esquerda me direcionar gentilmente para o centro de Santa Cloud.

— Hm, bem, a princípio, jantar. Pedi autorização para o seu pai hoje mais cedo, e falei com Stuart.

Parei de andar.

— Então eles sabiam? — riu, como uma brisa fresca no verão. Sua pele bronzeada no tom do caramelo e o cabelo ondulado cor de mel entrega que vai com frequência para a Flórida, já que seu pai não vive das contas da igreja, mas trabalhando como professor de matemática em uma universidade de Chicago, que não é tão longe de Santa Cloud. Talvez 15 minutos de carro.

— Claro. Foi mais fácil te chamar para sair do que falar com eles, mesmo que eu tenha demorado para conseguir fazer isso.

Voltei a andar, cruzando meus braços, por causa do frio. A cena da minha mãe, no entanto, não saía da minha mente. Meus irmãos estão sozinhos com ela, Ben querendo ficar doente, por conta do clima, e Stuart nocauteado na cama. Stacey cuida mais dela, no quesito de levá–la para sair, preparar comidas específicas e aplicar medicamentos, enquanto eu vou arrumando a casa, lavando o banheiro, que todos os dias fica sujo, e cuido de Amanda, Stuart e Ben, assim como de Stacey, e vigio minha mãe e pai também, ele não come direito se eu não ficar em cima.

— Mas Dean, eu agradeço muito, mas não posso ficar longe de casa por muito tempo — o impedi, quando ele tirou a chave de seu carro do bolso. — Minha mãe teve a pior crise de todas, e até desmaiou Stuart. Eu nem sei onde é que estava com a cabeça quando aceitei. Eles vão precisar de mim, e eu não vou estar lá. Fora Ben e Stuart, que não estão muito bem de saúde e... — senti meus olhos lacrimejarem. — Eu preciso voltar.

Ele ficou em silêncio por um tempo, pensando, então guardou a chave de seu carro novo, e pegou em minha mão.

— Dean, eu estou falando sério, e —

— E vamos comprar então alguma coisa rápida e que você possa levar para casa e seus irmãos e pais comerem com a gente, o que acha? Aviso a minha mãe que não iremos, e tudo fica bem. É bom que ela janta com os meus pais.

— O quê? Não precisa gastar seu dinheiro e —

— Só fica quieta, ok? Seu pai está em casa, olha aqui — me mostrou seu Smarter, e meu pai dizia que já estava em casa mesmo. — Está tudo bem, Lili. Não precisa mesmo se preocupar. O Espírito Santo está lá na sua casa, e não vai deixar nada de pior acontecer com os seus irmãos, tudo bem? Fica tranquila. Você é um ser humano como qualquer outro, relaxa.

Me deu um empurrãozinho amigo, e foi inevitável não sorrir mediante este gesto.

— Vou aceitar, mas só dessa vez. E temos que ser rápidos.

Ele riu.

— Então o que acha de irmos de carro até Chicago? Lá tem o Burger Vikings, não demorará mais que trinta minutos. Seus irmãos gostam de hambúrguer?

— E você não gosta?

Voltamos correndo para o carro, e a conversa foi engraçada. Nem me lembro sobre o que foi, apenas sei que só de estar perto dele eu sinto como se estivesse bem. Algo nele me faz querer me aproximar, e eu realmente ponho de lado todos os meus medos.

Em quarenta minutos nós já estávamos de volta, e senti receio de que ele estranhasse o quão pequena é minha casa, mesmo com as melhorias da bondade da princesa Katniss, mas pude ver nele uma sinceridade muito grande ao cumprimentar meu pai, meus irmãos – até fazendo Ben gargalhar, mesmo que em meu colo –, e minha mãe estava em outro mundo, mas o aceitou tranquilamente para jantar.

A conversa foi leve, e ele interagiu com todos, de uma maneira incrível. Eu não tenho toda essa articulação que ele tem, e pode ver a sinceridade nítida em seus olhos

Mas o que me chamou mais atenção, foi o meu pai. Ele parecia realmente feliz com Dean na mesa conosco, mesmo que apenas eu quem converse mais com o jovem. Pela primeira vez em incríveis cinco meses, não vi meu pai lamentar a ausência de Peeta, mesmo que ele esteja desfrutando de tudo o que ele plantou, muito esforço, muitas dores, e agora colhe, literalmente, a vida de um príncipe.

Desta vez, eu senti, como sempre, a ausência de Peeta, que ainda é o meu melhor amigo, meu confidente, no entanto, eu me senti inexplicavelmente bem com o Dean ao meu lado. Olhei para ele, sem querer, encantada com o quão bem ele me faz ficar, que quase chorei.

Mas ele já estava olhando para mim, sorrindo. Estranhamente, era como se nada mais estivesse acontecendo ao nosso redor.

Talvez permaneceríamos assim, mas logo nossos olhares foram interrompidos por Ben chorando porque não estava conseguindo comer.

— Meu dente! — ele exclamou, chorando, indo para o colo do meu pai. — Papai, vai cair?

Meu pai se retirou da mesa, antes que eu o fizesse, e levou Ben para o seu quarto, e sei que tudo ficará bem. Meu pai está mais distante, mas se precisarmos dele, sei que virá.

— Mels, pode ir lá pra fora, fica à vontade com o Dean, ele é sua visita, eu e Stuart cuidamos da louça, e Stacey dá uma olhada na mãe, né, mãe? — Ela apenas balançou a cabeça, assistindo televisão, alheia. Isso fez meu coração se apertar.

Mas tinha que vir Stu para nos fazer rir.

— E quem te enganou dizendo que eu vou lavar a louça? Você quem se ofereceu, você quem lava! E Amélia, me dá esse seu Smarter que eu quero falar com Peeta! — suspirei, em um sorriso, passando-lhe meu aparelho. — A senha é flash?

Assenti, e ele sumiu pelo quarto.

Levei Dean para o quintal, que está um pouco florido, por causa das flores que meu pai plantou, representando minha mãe, que são rosas brancas, tulipas vermelhas para mim, girassóis para Peeta, margaridas para Stacey, violetas para Amanda, prímulas para Stuart, e enfim dente-de-leão para Ben, que já pisoteou metade do próprio canteiro.

— Gostaria de te agradecer — falei, antes que ele dissesse algo, pondo meus braços cruzados. — Não sabe o quão bem me senti com você aqui ao meu lado.

Ele sorriu. O sorriso dele é doce, como açúcar, eu não poderia explicar de outra forma. Simplesmente me faz sorrir com ele.

Meu coração estranhou esse sentimento, que eu nunca sequer pensei em sentir um dia.

— Foi de coração. Sabe, a primeira coisa que nós devemos fazer é orar pelas pessoas, amando-as mutuamente, porém se pudermos, devemos demonstrar isto de outras maneiras, e essa é uma dessas maneiras. Você não está sozinha.

Assenti, indo devagar na direção do canteiro feito para Peeta. Inclinado ao Sol sem que sequer perceba. Dei um meio sorriso. É tanta falta que ele me faz, que sinto vontade de chorar, mas não o fiz desta vez.

— Dean, você quer me dizer alguma coisa a mais? — perguntei, depois de quase um minuto de silêncio.

— Hm... — murmurou, fechando um olho, pensando. — Será?

Dei um empurrãozinho nele. Eu estou tão nervosa, que quero gargalhar.

— Você tem que falar logo, não tenho o dia todo — E indiretamente é verdade. São quase nove horas da noite, e o Sol está se pondo sobre as nossas cabeças.

— Eu acho que preciso ir logo, quarta-feira tem culto, e eu preciso terminar uns trabalhos da faculdade, e... — deixou no ar, mas pela sua impaciência eu pude perceber que há algo bem errado nisso. Ele está inquieto.

Bem que tentei, mas em meu turbilhão de emoções e sentimentos, eu me fechei sem querer, e apenas indiquei a porta da sala, acompanhando-o até lá, silenciosamente.

— Ah, eu vou me arrepender tanto se não fizer isso — ele disse, em um suspiro frustrado, e em um piscar de olhos eu não podia esperar pelo o que aconteceu no portão da minha casa. Só escutei Amanda e Stacey dizerem em alto e bom som um longo suspiro apaixonado, enquanto a primeira neve do ano continuava a cair sobre nós.

Dean me beijou.

Meu coração quase que saltou pela boca, mesmo que com meus olhos fechados, seus lábios finos sobre os meus, sua mão de médico em minha cintura, segurando-me da forma mais gentil possível, eu me senti... despedaçar, e então ser refeita, em um estalar de dedos.

Senti algo estranho, mas me permiti, porque eu não conhecia isso. Entreabri meus lábios, assim como ele, e tomou proporções das quais eu definitivamente não poderia esperar. Nunca me senti dessa forma, desse modo tão... Era como um oceano de expectativas, e eu não sentia medo de me afundar ali naquele instante.

Ele me deu um outro selar, de lábios, mas logo repetíamos o que aconteceu, enquanto eu ouvia Stuart afastar minhas irmãs da janela, chamando meu pai. Era como se eu estivesse preparada para implodir, mas logo me afastei, assustada. Mas o que foi isso? O que é isso queimando no meu peito, esse formigamento na ponta dos meus dedos, e essa vontade de repetir o que acabou de acontecer?

— Amélia, desculpa, o que aconteceu, mas eu — logo o interrompi.

— Você não deveria ter feito isso. Sabe como está a minha vida e a minha cabeça, Dean! Você sabe de tudo! Eu te contei tudo, eu confio em você, durante todos esses meses  — percebi que estava chorando muito, mais uma vez. — Ai meu Deus, é melhor você ir embora. Por favor.

E entrei correndo, com uma mão na boca, outra no peito.

Amélia...! — ele insistiu, mas logo bati a porta da sala, trancando, chorando mais. Meu pai dobrou o corredor, com Ben choroso, mas feliz, parece que não foi desta vez que seu dentinho caiu.

— Ue, mas o que aconteceu? Dean já foi?! Eu ia conversar com Peeta agora junto com vocês! É o primeiro garoto que recebemos em casa e... Amélia!

Eu saí correndo para o banheiro, soluçando, tirando a minha jaqueta, de tanto suor em minha nuca, mesmo com a temperatura baixíssima, já que hoje está programado para ter nevada.

Sentei no canto, contra a porta, soluçando. Meu coração dói tanto, que sequer posso descrever. É como se estivessem me prendendo em mim.

— Mel, é o Peeta no seu Smarter — Stacey disse, do outro lado da porta. Abre, só pra falar com ele.

Destranquei, e peguei somente o aparelho, pondo no ouvido.

Só me fala o que aconteceu, amor — ele pediu, naquela sua voz reconfortante e de irmão dele.

— Ela teve uma crise horrível hoje cedo — contei, chorando alto. — Stuart desmaiou, porque ela quebrou uma jarra nele. E eu tive que entrar na frente para ela não matar o Ben. Peeta, eu não tô mais aguentando, eu tô... angustiada. Eles precisam de mim, mas eu não sei fazer nada direito, eu sou um fardo para eles também, e até para quem quer o meu bem! Dean me deu um beijo não faz nem dez minutos, e eu simplesmente o expulsei, porque eu não sei! Eu não sei mais o que fazer — solucei ruidosamente. — Não aguento mais isso. Eu amo todo mundo, mas eu não estou mais aguentando, as coisas estão totalmente fora de controle, eu não posso fazer nada, Peeta, nada. Stacey não está bem de saúde, está entendendo? Eu sei que não está, porque ela quem cuida mais diretamente da mãe, Stuart está crescendo tanto, tanto, em tudo o que possa imaginar de bom, Amanda e Ben também, e eu sinto que eu não estou conseguindo dar conta. Eles estão crescendo e vendo tudo isso, e está me devastando.

Ele ficou um minuto em silêncio, mas eu senti que ele chorava junto comigo. Por incrível que pareça, eu e Peeta não choramos muito, não é fácil nos ver chorar, mas é difícil nós não chorarmos juntos.

Amélia, eu não posso pedir nada para a Katniss nessa altura do campeonato, porque até de conversarmos diretamente a gente foi proibido, mas o que eu posso fazer agora é me disponibilizar para estar sempre conversando com você. Meu pai não me conta nada, e tampouco você. Ou saber ou não infelizmente não mudará muita coisa, porém nós somos uma família, e mesmo que esteja aí e eu aqui, eu ainda faço parte. Eu estou com vocês. Sou o seu irmão. Sou filho do meu pai e da mesma mãe, irmão de todos os seus irmãos. Tudo o que eu quero é fazer alguma coisa, sair daqui do palácio, ir para casa, cuidar de vocês, mas eu não posso. O que acontece é que você dividir as coisas comigo vai te ajudar. Me conta tudo. Eu tenho todo o tempo do mundo para te ouvir.

E aí eu contei para ele toda a verdade. Contei que tem semanas que ela passa bem na medida do possível, se esquecendo, mas não se tornando agressiva ou tão inconstante, logo ela recupera seus sentidos, conversando com a gente como se nada estivesse acontecendo.

Céus, Amélia... — ele disse, e eu tenho convicção de que chorou comigo, eu posso sentir suas lágrimas. — E eu pensando que sei o que é sofrer aqui, hein.

— É, está muito difícil por aqui mesmo — falei, com lágrimas escorrendo devagar pelo meu rosto. — O que eu faço?

Chorar já foi, então ore e paciência — disse, então, como se fosse óbvio, me fazendo rir. — E dá uma chance para o Dean.

— Peeta, você é a pessoa mais ridícula que eu já vi na minha vida — falei, com meu braço apoiado em meu joelho. Acho que estamos conversando há duas horas. Mas percebo que é hora de finalizar por causa do corte no meu antebraço, que está sangrando um pouco, por ter sido levemente fundo.

— Então você também é, porque nós somos gêmeos, se você não tem conhecimento.

Só ele mesmo para fazer a minha alma sorrir mediante tanto caos. Deus me deu ele como irmão, sem a menor sombra de dúvidas. Não que meus outros irmãos não tenham esse poder sobre mim. O que acontece é que eu e Peeta realmente nos encontramos em algum lugar sentimental quando nascemos, e assim é até hoje, embora eu saiba que ele me esconde algo, que eu também desconfio que Stuart saiba, mas eu não o questiono, embora sinta-me traída por isso, tenho convicção que na hora certa eu vou saber.

— Mas e você? — perguntei, com um sorriso no canto do rosto. — Posso te sentir triste.

E como eu ficaria feliz depois de saber de tudo isto o que tem acontecido com você sem que eu possa fazer alguma coisa? — respondeu, com carinho. — Nada se compara ao que você está vivendo.

— Me conta agora.

Ouvi seu longo suspiro, e então ele realmente contou tudo.

Contou sobre Katniss, sobre a rebelde com quem esbarrou, e da reverência que ela fez para ele, chamando-o de majestade. Também me disse sobre Effie tratá–lo como filho, e ele achar que está pecando por considerá–la uma mãe, e Haymitch um pai. Mas disse que gostaria de todos nós lá.

Porém o que me fez morder as minhas bochechas por dentro, e enfiar as unhas em minhas mãos foi que disse que sente que lá é o lugar dele.

Eu sempre vi Peeta, desde que a Seleção foi anunciada, como o Rei. Sinceramente, eu sempre acreditei que ele pudesse chegar lá, porque não é porque é meu irmão, mas porque é o meu amigo acima de tudo, e eu o conheço. Agora eu senti medo porque tenho a sensação de estar sendo abandonada até por ele.

—Amélia, tudo bem? — escutei a voz de Stacey, um pouco fraca por causa de sua garganta, que eu sei que é uma infecção, e eu preciso urgentemente levá–la a um médico.

— Já estou saindo — falei, com a voz baixa. —Peeta, fecha os olhos, vou fazer uma oração.

Ele concordou, fechei meus olhos.

— Senhor, nos colocando agora diante sua presença, gostaria de te agradecer pela vida de todos nós, Pai. Pela vida da minha mãe, mesmo que essa não tenha sido um dia fácil, e os últimos cinco meses tenham sido nada fáceis para nenhum de nós, te agradeço, independentemente de tudo, porque estamos vivos, e sei de que o Senhor ainda está no controle de nossas vidas. Ela não foi entregue em mãos qualquer, mas nas Suas, Senhor. Por favor, te pedimos sabedoria, que o Senhor disse que nos daria deliberadamente se assim a pedíssemos, dê sabedoria para eu lidar com toda essa situação, dê ao Peeta, para que ele possa ajudar pessoas através de sua posição no palácio sem que isso fira a Katniss, Pai. E tudo é o que te pedimos, te agradecendo mais uma vez. Amém.

— Amém — Peeta disse do outro lado. — Mels, daqui a pouco irão apagar as luzes, preciso ir, mas eu te amo, tá? Você ainda é tudo para mim. Graças a Deus ter você como irmã, e gêmea.

Sorri, com meus olhos ainda fechados. Peeta é um amor. Converso muitas vezes com Katniss, e honestamente, eu acho que os dois se complementam até em seus vacilos enormes.

— Eu espero. Você não tem o direito de me abandonar, nunca, ok? Peeta, tchau, eu preciso mesmo ir, e dar um remédio para a Stacey, fica com Deus.

E desliguei, antes que começasse a chorar de novo.

Me pus de pé, colocando meu Smarter no bolso da calça, e lavei meu rosto, sem me encarar muito. Estou um arraso, toda inchada, horrível, como todos os dias.

Destranquei a porta, e com passos vacilantes, saí, mas teria caído se não fosse por meu pai, me olhando com os olhos cheio de lágrimas.

— Eu sei andar — falei, na defensiva, deixando que soltasse meu braço. — Amanhã o senhor vai ir trabalhar?

Negou, imediatamente.

—Amanhã eu irei pedir a internação da sua mãe. Ela vai morar aqui só por mais quinze dias. Me contaram o que foi que aconteceu, e eu escutei você falar com o Peeta.

Eu apenas consegui prender a minha respiração. Com muita força. Céus.

— Eu vou ir para a igreja amanhã — respondi, erguendo as mãos, cansada. Minha alma clama por repouso. Senti meu Smarter tremer duas vezes, e sei que é uma mensagem de Dean.

— Fique a vontade, filha. Tem alguma coisa que eu possa fazer por você? — perguntou, quando dei dois passos na direção do quarto, para ver como meus irmãos estão, reconhecendo que Stacey com certeza já se encarregou de cuidar da mamãe.

Olhei para ele, e ainda estando eu com o choro engasgado de novo na minha garganta, apenas uma lágrima escorreu dos meus olhos.

— Só seja mais presente, por favor — sussurrei, porque não tem como minha voz sair mais alta do que isto.

Dei as costas para meu pai, que eu realmente amo, e fui para o quarto. Todos estão acordados.

— Por que não foram dormir? — perguntei, fungando, passando as mãos em meu rosto.

— Você sempre lê a Bíblia para a gente nas sextas-feiras — Amanda disse, corada. — Mas se estiver cansada, tudo bem, e…

Sorri, balançando a cabeça, me sentando ao lado de Stacey, dando-a seu comprimido para a garganta, e mais um remédio para a dor de cabeça de Stuart por causa de hoje mais cedo. Tem um curativo em cima do corte, e isso me lembrou que eu preciso trocar o meu, mas antes peguei a Bíblia, e nos reuni na cama de casal, na minha, para fazermos uma pequena análise. Senti o clima tenso, independente do que estivesse acontecendo, sei que todos eles escutaram o que eu disse para Peeta, e posso sentir uma culpa em cada um deles, até em Ben, que deitou-se em meu colo, fazendo carinho em minhas costas, depois de beijar a minha bochecha.

Falei sobre Daniel, hoje, que ele fora tirado de seus pais, levado para a Babilônia, mas se mantinha fiel independentemente de toda e quaisquer situação, chegando até a ser lançado na cova dos leões, mas Deus o protegeu, para que ele desse testemunho.

Pus cada um de meus irmãos para dormir, deixando que Ben ficasse com Amanda. Todos eles me pediram desculpas, mas não aceitei nenhuma, porque eles não tem culpa de absolutamente nada.

— Por favor, eu não posso suportar que vocês se sintam culpados por alguma coisa, nunca em minha vida. Eu quem não estou sabendo como lidar com tudo, peço-lhes perdão por isso — falei para Stuart. — Você é lindo demais. Você e Peeta se parecem muito, mas você é especial, assim como ele quer. Eu te amo.

Beijei sua testa, depois que troquei meu curativo, troquei o dele também.

— Eu também te amo — respondeu, e sei que não foi da boca para fora.

Também disse isso para Amanda, Ben e Stacey, que dormiu em minha cama.

— Sabe que pode contar comigo, não sabe, Amélia? Sou sua irmã — Saty disse, fazendo carinho na minha mão. Depois de Peeta, é a irmã mais próxima de mim, por isso sei quando não está bem de saúde, como nesses últimos dias. Ninguém realmente está, disso eu sei, mas ela está dando bastantes sintomas.

— Claro que sei. Agora vá dormir.

Senti ela um pouco febril, então me mantive acordada por mais um tempo, e peguei meu Smater para responder a mensagem que Dean realmente me enviara.

“Por favor, me desculpe. Céus, eu estou me sentindo horrível, Amélia.”

Vi que ele estava online.

“Eu quem tenho que me desculpar. Foi idiotice da minha parte te mandar embora”, respondi, com meu coração acelerado. Peeta pediu para eu pelo menos tratá–lo bem, já que eu talvez possa estar gostando dele, mesmo nesse inferno todo que eu esteja vivendo.

Então, seu pai mandou eu te buscar para você ir para Chicago comigo, pois ele vai de manhã bem cedo no hospital, e logo vai voltar para olhar os seus irmãos. Não é um encontro, é apenas uma saída de dois amigos que precisam conversar. Sei que você precisa.”, ele escreveu, e eu li, com meu coração batendo tão forte, de tal modo que pensei que Stacey pudesse acordar por estar ouvindo.

“Meus irmãos precisam de mim, e eu amanhã vou ir para a igreja, não posso ir para Chicago, Dean” sei que pareci grossa, mas acontece que eu não posso deixar meus irmãos aqui sozinhos, quando meu pai também precisa de cuidados.

“Posso então te ajudar a cuidar deles? Volto com você da igreja. Eu tenho algo para te contar. Sei que você não apareceu por acaso na minha vida, Amélia. Deixa eu ajudar a cuidar de você, por favor. Promero que o que aconteceu hoje não vai se repetir se eu conversar com você e me disser o que sente.

Li aquilo, com meu coração na boca, minha boca querendo sorrir, mas também tremer em choro. Não consigo me entender o que está acontecendo. Eu sinto como se estivesse em um reverso, como se todos os meus esforços fossem em vão. Mas algumas pessoas, como Dean, Peeta, que me trazem à tona.

“Por quê, Dean? Por que tudo isso? Eu não tenho nada para te dar em troca, você sabe disso”, mandei, voltando a chorar silenciosamente, ficando de costas para Stacey.

“Eu conto se você me deixar te ajudar nessa, Lili”, mandou. Eu paralisei. Jesus, mas o que é isso? “Sério, preciso te falar pessoalmente. Não estou usando você. Você é resposta para quase tudo o que eu pedi ao Senhor, Amélia, e eu sei do momento que está vivendo com a sua família, não quero ser mais uma preocupação, muito pelo contrário. Quero ser alguém que te ajude a passar por isso, eu me importo com você”.

Coloquei o aparelho debaixo do meu travesseiro, abalada, e fui silenciosamente para o quarto dos meus pais, na porta da frente. Dei dois toques leves, escutando um pode entrar do meu pai.

— Oi, Ames, aconteceu alguma coisa? — perguntou, preocupado, tirando seus óculos de leitura. Mamãe estava serena em seu peito, os dois os casacos de frio que recebemos do palácio como cortesia.

— O que acha do Dean? — perguntei, em um fôlego só.

— O rapaz que estava aqui na hora da janta? — Minha mãe perguntou, com um sorriso.

Assenti.

— O que você acha dele, Amélia? — retrucou ele. — É o filho do pastor, trabalha, estuda, e já pediu para mim se poderia orar com você. E se poderia te levar para andar por Chicago, conhecer os amigos dele. Você está perdendo seu tempo aqui me perguntando alguma coisa, se já sabe a resposta. E minha opinião não tem muito valor para você.

No final, parecia magoado. Mas não comigo, mas consigo mesmo.

— Se a sua opinião não importasse, o que mais eu estaria fazendo aqui, pai? — perguntei, levantando um pouco os ombros e as mãos. — Eu não sei o que dizer.

— Se você não quer sair, pode chamar ele para ficar aqui amanhã, vou sair com sua mãe, então, e posso levar seus irmãos comigo. Talvez vocês dois precisam conversar.

Senti minhas bochechas corarem com força, pela tranquilidade do meu pai em me deixar sozinha com alguém.

— Pai! — exclamei, boquiaberta. — Quer me deixar aqui sozinha com o Dean?

Mamãe riu, balançando a cabeça. É um de seus momentos de lucidez.

— Peeta ficaria, por que você não? Sabe o que é certo e errado, e ele também, principalmente ele. A gente viu ele crescer com vocês, eu troquei as fraldas dele, e a Daise as suas. Não tem nada demais, fora ser uma conversa — ela mesma disse. Admito ficar verdadeiramente surpresa com sua interação.

— Sua mãe disse tudo.

— Não precisam sair, eu vou dizer que ele pode vir pra cá — avisei, indo até os dois, dando um beijo na cabeça de ambos, mas puxei meu pai um pouco, e o encarei. — Desculpa por ontem e hoje à noite, pai.

Ele somente balançou a cabeça.

— Eu parei de olhar apenas por mim — respondeu, tocando minha mão. — Sei que não é fácil para mim, sem dúvida, mas também não é para vocês, que passam mais tempo aqui.

Suspirei, triste.

— Vá descansar, pai — pedi, dando um abraço nele. — Boa noite.

E quando olhei para minha mãe, ela estava olhando para o livro, aparentando confusa.

— Estou com sono — disse ela, simplesmente, então os deixei, e fui para a cozinha beber água antes de ir dormir. Fiz mais uma oração, pondo meus joelhos no chão, da cozinha mesmo, pedindo forças, para mim, meus irmãos, e para meu pai, principalmente, assim como saúde para a minha mãe.

Peguei meu Smarter, e abri o Messages.

“Não precisa trazer nada para o almoço, aqui a gente conversa, pode ser?”, enviei, e estava escrito que ele estava online há cinco minutos.

Logo apareceu online ao lado de seu nome, me fazendo acelerar de novo.

“E se eu quiser levar alguma coisa?”, sorri, inconscientemente.

“Dean, por favor.”

“Ok, ok…”

“E por favor, espero que você seja sincero comigo antes de fazer o que fez”, meus dedos escreveram e enviaram antes que eu pensasse em alguma coisa.

“Você pode ter certeza de que vai saber de tudo, eu prometo.”

“Manda mensagem pro Dean e seja a namorada dele, depois que me mandar uma foto de vocês que imagino que tenha *estrelas* bjs de luz bb”, antes que eu mandasse algo para o Dean, o idiota do Peeta enviou, me fazendo rir, mas corada. Céus, tinha que ser Peeta.

“Ele vai vim aqui em casa amanhã, avisei meu irmão, mas como estava dois bate-papo abertos, acabei enviando para Dean, me fazendo mudar de cor, eu fiquei da cor do branco, sumi.

“Ele quem? *muitos emojis rindo*”

O Espírito Santo, é claro! Sábado é dia de culto aqui em casa também, depois que eu for para a igreja, você vai voltar comigo e ver que é verdade.”, mandei, tremendo. Meu Deus.

HAHAHAHAHAHAHA AAAAAAAAAAAAA AMÉLIA LOL”, Dean respondeu, e eu quis mesmo morrer, joguei o celular no travesseiro, mas acertou a cabeça de Stacey, que acordou no susto.

— Ai! — ela exclamou. — Amélia! Vai dormir!

Jogou o Smarter para mim de volta, se virando para o outro lado, e eu afundei meu rosto em minhas mãos, para esconder minha vergonha.

Dean, sério, boa noite, a Paz”, mandei, mordendo meus lábios e o interior da minha bochecha, envergonhada ao limite.

“Manda foto de vcs logo bb, to lembrado dele não, só lembro mais ou menos dele criança meio pivete com a gente”, Peeta insistiu, então, abri minha galeria, com uma foto que Taylor, irmã mais velha de Dean, que mora com o marido em Miami, tirou de nós dois em uma brincadeira em um passeio para Chicago com a igreja.

Corei intensamente quando eu a vi, pois não me lembrava de tanta intimidade assim como ele, de abraçar, e tudo mais. Talvez possa ter algo. Meu coração é incerto. Bate forte como em uma parada cardíaca, eu não sei se é normal, assim como o gelo em minha barriga quando nós nos falamos.

“Essa é a foto, este é o Dean, vê se lembra dele anjo”, mandei para meu irmão.

Levou cinco segundos até ele responder, com toda sua sagacidade, como ele é quando é para tirar uma ondacom a minha cara.

“AAAAAAA QUE AMOR! APOIO! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA AMÉLIA COMO VOCÊ DEU UM TOCO NELE, AMÉLIA?! EU CONHEÇO ELE! AAAAAAAAAAA OLHA ESSA CARA SUA PRA ELE E ESSE SORRISO NA CARA DELE MEU DEUS COMO EU VOU SACANEAR VOCÊ SE VOCÊS NÃO SE CASAREM MEU DEUS AMÉLIA AAAAAAAAAAAAAAAAAAA”, ri, cobrindo minha boca, com a mão que eu não segurava o Smarter.

“Mas não sabe a cagada que eu fiz”, tirei print da conversa recente, e mandei para Peeta.

“AAAAAAAAA SOCORRO AMES COMO ASSIM COM O ESPÍRITO SANTO HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA TO MORTO AQUI HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA”, e acabei por rir também, porque é ridícula essa situação. “Vai dormir garota *emojis rindo* você precisa estar descansada para ‘conversarem’ amanhã meu anjo”.

Gif”.

“HAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA SOCORRO HAHAHAHHAHSHAHAHSHAHAHAHAJDHDIFJDBEOFOWBCOWKFUW AAAAAAAAAAAAAAA HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA TE VENERO”

E então, desliguei o celular depois de enviar um boa noite para Peeta.

Jesus, que dia. Que dia.

Mas antes de dormir, mesmo que em um tom descontraído, afinal, por causa dessa situação com Peeta e Dean (que me faz sentir estranha de uma forma esquisita, mas impressionatemente boa, é como se fosse algué feito por Deus exclusivamente para mim, não tenho palavras para explicar), orei mais uma vez, e minha mente recapitulou a cena do almoço, que não foi há mais de doze horas atrás. Olha o quanto a situação e o meu humor mudou. É assustador.

Chorei silenciosamente, olhando para o teto cheio de adesivos de estrelas que brilham quando fica escuro. Parece um céu. Estou tão inquieta. Minha alma está tão perturbada, que me faltam palavras para descrever isso, o que sinto. As lágrimas continuaram caindo, e eu sei que não é só por causa da minha vida, mas por causa do meu período, que está para vir essa semana, e me deixa mais sensível e frágil, me fazendo entristecer com mais facilidade, e me apegar a felicidade do mesmo jeito. O que é que estou fazendo aqui é o que me pergunto. Será que Peeta tem mesmo paz lá naquele palácio? Queria poder estar lá nesse momento, e dormir abraçada ao meu irmão naquele lugar, como no mês passado. Foi tão bom poder estar com ele de novo, ele me entende.

Mas enquanto não nos vemos, eu e Peeta, tenho Dean. Nós começamos uma amizade de verdade há cinco meses, quando eu cheguei chorando na igreja, e queria apenas conversar com sua mãe, que é um verdadeira amiga, e me dá conselhos com base na palavra de Deus, mas ele era o único que estava lá, e eu, desesperada e desolada com Peeta tendo ido para Angeles, depois de me ouvir, ele me disse sobre João 16:33, onde o Senhor Jesus está falando com seus discípulos, então Ele conclui dizendo que no mundo teremos aflições, mas que tenhamos bom ânimo, pois Ele venceu o mundo. Dean me explicou que Deus quer e nos dá poder para vencermos o mundo também, Jesus deixou isso bem claro, e deixou o Consolador, o Espírito Santo, justamente para nos ajudar.

Ninguém além de mim sabe o quanto isso me deu forças, e é o que me tem sustentado até o dia de hoje.

Mas minhas aflições são tantas, que no fundo, quase todos os dias, acho difícil vencer isso. Minha mãe quase matou Stuart hoje, e tinha intenção de matar a mim também. Meu pai está cansadíssimo. É como se todos os meus esforços fossem em vão, inúteis. Dean diz que Deus mesmo fala que não é, e isto está escrito na Bíblia. Acontece que é tão difícil. Tão… pesado.

No entanto, mesmo tomada por todo meu cansaço e choro, entreguei meu sono, e agradeci pelo meu dia, porque ao menos tenho minha mãe comigo, tenho meu pai e meus irmãos. Não sei por mais quanto tempo serei agraciada com isto, infelizmente. Meu pai mesmo disse que a mãe será internada em quinze dias, e eu nem sei o que sentir sobre isto.

Vai ficar tudo bem, pude escutar o Espírito que só pode ser Santo, pela paz em meu coração, me fazendo ficar arrepiada. Continue dando seu melhor, não se consuma por isto.

Dormi, sem pensar no amanhã, mesmo que eu esteja um furacão por fora, meu coração ficou calmo. Cabe a cada dia seu mal.


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Notas finais do capítulo

E bem, pessoal, o capítulo foi esse, e eu tenho apenas o que agradecer vocês por isso. Espero que tenham gostado do capítulo, escrevi com muito carinho, exclusivamente para vocês. A Amélia é uma personagem importante demais nessa história, mesmo que só de longe. Ela é ainda a cara metade do Peeta, ainda tem muito o que fazer nessa fic, principalmente no capítulo mais difícil que ainda terá um tempo antes de ser postado. Talvez tenha até um aviso de responsabilidade.
E é tudo isso, pessoal! O QUE ACHARAM DO DEAN? O QUE ACHARAM DO DEAN? DEAN DEAN DEAN DEAN (eu tavo sem criatividade pra nome, como podem perceber, e quase coloquei enzo pra sacanear kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk mas lembrei de supernatural, ai coloquei Dean, por sei lá qual razão, já que Sam é o nome do pai do Peeta). Eu vejo ele como o Justin Bieber, e a Amélia como a Selena Gomez mais alta. Não sei quando será a próxima atualização, mas será antes da virada do ano, não vou estabelecer data para não dar bola fora com vocês, mas espero que vocês tenham gostado, que eu tenha conseguindo transmitir a importância de uma conversa, de ter alguém que a gente ame, de fazer uma oração, e de ter fé, acima de tudo. Através dessa fic eu falo demais sobre muitas coisas das quais aconteceram comigo, por mais que não pareça, e ei gpstaria de dizer mais uma vez, que eu estou disponível para conversar, quem quiser, eu prometo que tenho humor! kkkkkkkkkkkkkk Beijossss!!!! E um feliz natal para todos!!!!!!!!!! O próximo vai trazer mais essa pegada de fim de ano!!!!! ♥ E um momento Peetniss no comando bem top.



Lista de fotos e gifs deste capítulo:

Amélia doida >>>>> https://78.media.tumblr.com/be93adefaf0e7f0831a11c352c6598a9/tumblr_o8f2v8Cgvk1tk8m1mo1_500.gif

Ela por fora >>>> https://78.media.tumblr.com/d726aed3be0fa458d9192b20d5e970d2/tumblr_o8j5yqm3ej1vv5x4jo1_400.gif

Gif do capítulo >>>>>>>> https://static.tumblr.com/889524547dbddba8724d47f3fd4e0be9/4klmrfs/Jcfoukq8h/tumblr_static_tumblr_static_9bzug6oaqhc8800gs0gk84g88_640.gif

Ela com os irmãos e Dean e Peeta de froma sincera >>>>>>> https://media.tumblr.com/tumblr_m7n49mjIBG1rt3fn2.gif


Foto do Dean e da Amélia enviada para o Peeta >>>> http://static.celebuzz.com/uploads/2012/04/22/Selena-Gomez-Visits-Justin-Bieber-On-Set--14.jpg e essa http://cdn04.cdn.justjaredjr.com/wp-content/uploads/pictures/2011/11/bieber-gomez-breakfast/justin-bieber-selena-breakfast-13.jpg

Dean >>>> https://data.whicdn.com/images/171159879/original.gif

Gif da amélia para o Peeta (é a Katniss mesmo, essa é a ""piada"" >>>> https://media.giphy.com/media/AdxIAWQju8GFG/giphy.gif