A Seleção da Herdeira escrita por Cupcake de Brigadeiro


Capítulo 19
Bipolaridades | A Seleção


Notas iniciais do capítulo

Li qui di fi ca dor. Está certo isso? Desculpem, mas eu tô meio loca com esse volta ´ås aulas.
Espero que gostem desse capítulo, e quero que estejam cansados demais para não me agredirem por causa do capítulo. O Peeta está simplesmente muito abraçável e apertável, mesmo que ainda não tenha conseguido alcançar a média do peso certo em Angeles, e estar magro. Quem gosta da Tia Effie ❤️ ela é uma das minhas personagens favoritas aqui, e o Peeta vai ficar bem próximo a ela nesse capítulo em diante, com uma suave aparição do Haymitch e nossa água de salchicha ~ desculpa, Paulinha, mas eu simplesmente tive que citar esse apelido KKKKKKKKKKKKKKKK vocês são demais, os melhores ~
Li os comentários, e simplesmente gostei muito das sugestões, e farei o possível para abrangir todas elas por aqui sem falta.
Eu fiquei confusa ao escrever, mas me emocionei por alguma razão na metade dele.
OKAY LADIES LETS GET IN FORMATION!*dançando com um biquinho*
Assisti ao Super Bowl, e tipo... *sorriso impressionado que mostra minhas covinhas* ÉPICO. Beyoncé di-van-do como sempre, Coldplay super demais e Bruno.... Dispensa palavras, né? :v maravilhoso demais, demais, demais.
Eu ia postar esse capítulo no domingo - ou ao menos tentar - mas como hoje já é terça-feira aqui no Rio, bom... não deu certo, como podem ver.
Domingo foi aniversário da minha sister mais velha, a Mari, e tipo, cáuraahh (como a professora fala no curso de inglês que eu vou) não moramos no mesmo estado, tipo, SP fica a umas seis, quatro (se for meu pai) horas de carro daqui do Rio, e bem, eu não posso enviar um presente por sedex! Mari, feliz aniversário mais uma vez, e não vou repetir o que eu escrevi na declaração no WhatsApp porque passou das 22h e eu tô quase morrendo de sono aqui! Mas dedico esse capítulo a você, de coração, por tudo o que fez por mim.
Muito obrigada a todos e todas que comentaram nos capítulos anteriores, mas estou com raiva porque eu chorei lendo eles. Eu tenho estado emocional pra caramba e vocês me comentam essas coisas lindas. Támmmmmm, eu não fiquei com raiva nenhuma, isto é impossível. Tipo, não sei ficar de mal com vocês. São parte da minha vida, a segunda melhor, pois a primeira é a minha vida espiritual. Cês são demais, demais. Este capítulo é para todos vocês, é um capítulo para agradecer tudo o que vocês significam para mim, de todo meu coração. Todos vocês são perfeitamente demais, incríveis, os melhores.
Espero conseguir ser grata através deste capítulo, que é o último que posto sem a beta, provavelmente, porque misericórdia, eu erro e nem sei que errei, porque como escrevo pelo celular, tem o MALDITO corretor com algumas sugestões erradas também. LEEH, SAUDADES DE VOCE *chorando, chorando*
Não sei explicar, mas quando eu fico muito tempo sem falar com vocês, seja por comentários, mensagens no Nyah, whatsapp, eu fico me sentindo tão mal... Hm, é inexplicavelmente como se eu conhecesse pessoalmente todos vocês. Nossa, é uma tristeza enorme ir para escola e ver que não é verdade. Eu estava com saudades de postar e interagir com vocês, e espero que estavam com saudades minhas porque eu choro do outro lado da tela de verdade.
Hoje é um bom dia para ser Team Peeta, Hate Cato.



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Eu sei que não posso dar mais um passo em direção a você
Porque tudo o que me espera é arrependimento
Você não sabe que eu não sou mais o seu fantasma?
Você perdeu o amor que eu mais amei

Eu aprendi a viver, meio viva
E agora você me quer mais uma vez

E quem você pensa que é?
Correndo por aí deixando cicatrizes
Colecionando o seu jarro de corações
E despedaçando o amor
Você vai pegar um resfriado
Por causa do gelo dentro da sua alma
Então não volte por mim
Quem você acha que é?

Jar of hearts, Christina Perri

— Olá! - eu disse, pra Katniss, e me joguei ao seu lado na grama, debaixo de uma árvore enorme que tinha no jardim.

— Olá! - respondeu de volta, rindo. - Como vai, Selecionado?

— Muito bem, Baby. E você? - ela riu mais, ajeitando seus óculos de sol no rosto. - Pensei que nunca mais ia me chamar, porque, né. Nossa, só sexta-feira é meio complicada a situação. — Sorri, olhando para as flores na nossa frente.

— Hm... Estou me sentindo ótima. - Bebeu um pouco de sua água. - Consegui resolver algumas coisas com Prim, a respeito de ficar indo no meu quarto e ler as minhas coisas.

— Você tem um diário? - Olhei para ela, rindo. - Katniss! 

— Que foi! - Jogou as mãos para o alto. - Eu não posso falar tudo o que penso! E muito menos o que sinto! - Ri mais, balançando a cabeça em negativa.

— Ai meu Deus... Eu quero ler depois.

— Tudo bem, mas você sabe da maioria das coisas. - Sorri orgulhoso. - Tira esse sorriso da cara agora. Você sabe a maioria, não todas as coisas. - Fiz uma expressão triste, e ela riu alto, batendo palmas. - Para com isso, garoto!

— Eu sou lindo! Não posso parar de ser original! - debati, com um sorriso no canto do rosto, com meus braços cruzados, olhando-a divertido. Ela estava incrível com uma bermuda jeans e camiseta amarela. Ressaltava a alegria que agora carregava no olhar por alguma razão, da qual eu nem me importava em saber, mas eu agradecia imensamente, pois nossos olhos são a janela da alma, e os dela agora transmitem uma felicidade que eu não poderia descrever em palavras. 

Depois que nos beijamos, foi tudo muito diferente. Nenhuma mão "acidentalmente" escorregou, mas nos beijamos mais uma vez, e outras vezes, oscilando entre beijos na bochecha e pescoço, de ambas as partes, e era adorável. Em algum momento, nos abraçamos, e assim ficamos, com nossos olhos fechados, movendo-nos lentamente pela "sala" da casa na árvore, ao som de A Sky Full Of Stars. 

Lembro-me como se tivesse acontecido ontem, de tê-la puxado com cuidado para a cama, no meio da música. Sim, nós nos deitamos no colchão macio, agradável, relaxante. Eu a deitei da forma mais cuidadosa que eu poderia, como se fosse de porcelana. Seus dedos deslizaram da minha nuca com cuidado, de forma lenta, pelo sono que estava começando a sentir, assim como eu. Beijei sua testa, e cobri seu corpo até a cintura.

Me deitei ao seu lado, porém, na posição inversa, pois como nenhum de nós estava totalmente são, não sei se era correto fazermos isso. Fechei meus olhos, bem no canto do colchão, sem querer tomar muito espaço, e dormi. Quando acordei, ela estava quase sobre mim, com sua cabeça em meu peito, ressonando de forma quase imperceptível, abraçada a mim de forma desajeitada, com uma perna sobre minha cintura. Não parecia incomodada com isso quando acordou, e nem eu. Minhas mãos ficaram subindo e descendo por suas costas, mesmo que meus olhos estivessem fechados, sorri discretamente quando notei que ela havia se arrepiado.

Não me lembro muito bem de como chegamos ao palácio, mas sei que ninguém desconfiou do que fizemos, pois entramos pelo estábulo. Mas depois de subir três lances de escadas, minha cabeça parecia que ia explodir, e a primeira coisa que fiz quando voltei para meu quarto, foi me esconder debaixo das cobertas, mas eu carregava um sorriso imenso no rosto por ter beijado a Katniss. 

— Sabe, eu estava aqui pensando... - comentou. - Não ficou chateado por eu ter beijado outros quatro garotos? - Suspirei, sem mais sorrisos, olhando novamente para as flores na minha frente. Tinha isso. Três dias depois, Oliver a beijou, depois Cato, e uma semana depois, Justin. Sendo quase três semanas do nosso beijo, ela ficou com Marvel. 

— Claro que não. - Cruzei os braços, para disfarçar o quanto eu estava incomodado com isso. Eu quase pedi para sair quando ouvi que ela tinha ficado com Oliver, e pra piorar, eu descobri pela Revista Oficial! Que ódio que me deu! - Só que você poderia contar, né, quando fizesse uma coisa dessas. Eu me senti um lixo! - ela começou a rir, batendo palmas. 

— Você não sabe nem esconder os seus ciúmes! - Me abraçou bem apertado. - Qual é! Anda! Fala comigo! 

— Não! – exclamei, fingindo raiva, tentando desenrolar seus braços de mim. - Nem vem que não tem! Pensei que fôssemos uma dupla, um casal! - Dramatizei, falsamente, e ela também entrou na brincadeira.

— Mas meu amor! - Sentou sobre minhas pernas, com as suas pendendo para um lado. - Eu pensei que nossa relação fosse aberta! 

— Não dessa forma! - Joguei meus braços para o alto, e ela não aguentou ficar séria, e logo um sorriso enorme surgiu em seu rosto. 

— Você está... Gostando de mim? - Fazia hoje dois meses desde que estou na Seleção, e posso dizer que a saudade de casa é muito grande, intensa, e minha preocupação com meus pais e irmãos faz com que eu nem consiga piscar de madrugada muitas e muitas vezes. Mas quando a Delly, ela não me incomodava na maior parte do tempo. A ferida ainds dói, mas não como antes.

Levei uma mão para seu rosto corado, e ela sorriu torto, abaixando um pouco a cabeça, com seus olhos enormes e cinzas observando todos os movimentos que eu fazia, que era de colocar uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, mesmo que a maior parte estivesse em uma trança de peixe sobre suas costas. Ela gosta de usar uma franja às vezes, para variar.

Minha mão escorregou para sua nuca, como se a chamasse para mim, e ela se aproximou, com seus olhos fechados, e eu fechei os meus também. Nossos lábios se encostaram, e assim ficaram, até ela entreabrir os dela, e eu os meus, só um pouco, então levei minha outra mão para cintura, arrumando minha postura. Ela era adorável, e causava sensações que eu nunca imaginei sentir. Não posso descrever. Vai além de palavras.

— Eu tenho que te contar uma coisa. - disse, passando a ponta dos dedos por minha bochecha, onde a barba começava a querer crescer.

— O que é? - Estávamos sussurrando, de olhos fechados, a uns dez centímetros próximos um do outro, quase nos beijando novamente, e honestamente, eu não queria elevar o tom e nem aumentar essa distância entre nós. Estava ótimo dessa forma. 

— Eu estou apaixonada por vo... - Infelizmente, antes que ela terminasse, foi interrompida.

— Sorriso! Finalmente te achei e... - Ai meu Deus, foi a única coisa que pensei ao ouvir essa voz. 

Abri imediatamente os meus olhos, e Katniss já estava se sentando ao meu lado, mas era tarde demais. Ela tinha nos visto quase nos beijando novamente, e foi como se o mundo congelasse em nossos olhares, o azul dentro do mel, como os ingredientes para um bolo, se misturando na batedeira. Ela também não completou o que ia falar, e o sorriso em seu rosto se desfez, mas logo se estabeleceu novamente.

— Peeta, essa é a Delly. - Katniss me apresentou, com um sorriso, sem se importar com o fato de ela ter nos visto. 

— Como vai? - Ela não usava as roupas de criada, muito pelo contrário. Usava calça de lã, na cor de beterraba, que marcava sua silhueta de violão, mas com respeito. Sua blusa branca rendada mostrava uma regata cinza por baixo, e por cima da blusa, seu sobrenome estava escrito. Cartwright. Era ela. É ela. Toda essa análise não durou um segundo.

— Eu vou muito bem. - Eu ia bem, na verdade, até você chegar, pensei. Ela me conhecia bem o suficiente para saber o que eu tinha pensado.

— Eu vi você em uma das fotos dela, e fiquei feliz. - Katniss disse, com um sorrisão no rosto - Porque assim fica mais fácil da gente - Indicou eu e ela mesma. - Se comunicar. E você tem uma foto onde ela está presente no seu quarto.

Não consegui falar mais nada, muito menos corresponder o que Katniss dizia, porque meu coração estava acelerado demais, meus sentimentos revirados demais. Eu queria chorar, chutar tudo e todos para longe, e mandar Delly para Summer, o bairro que morava, deixando-a por lá durante muitos e muitos anos.

— O que aconteceu, Sol? - Katniss colocou a cabeça no meu ombro, protegendo os olhos com uma mão do sol intenso. Meus olhos estavam nos cabelos de Delly, que estavam perfeitamente cortados até seus ombros, totalmente lisos, e um arco azul com uma flor estava em sua cabeça, fazendo parecer que ela brilhava.

— A dama Effie está chamando o senhor Mellark. É uma surpresa. - Ela era sincera sobre o que sentia, e para não ficar me olhando, encarou Katniss, com um sorriso.

— Tudo bem. Eu já sabia que não ia durar muito mesmo. - respondeu, bufando. - Mas vou te acompanhar até lá. - Quase beijei a princesa novamente por falar uma coisa dessas. Eu não estou me sentindo nada bem.

— Seria uma honra. - falei, divertido para a Katniss, que sorriu, se levantando, e eu logo em seguida, sem ter nada o que pegar. Viemos apenas para conversar mesmo. 

Fui atrás de Katniss, que segurou na minha mão, como se nada estivesse acontecendo. Olhei para nossas mãos juntas, e no quanto soava certo até meio minuto atrás. Me virei, enquanto caminhava, e Delly estava de lado, passando as mãos nos olhos. Estava chorando. 

— O que foi? - perguntou-me a morena, soltando minha mão. - Peeta? - Eu olhava para Katniss, e agora me sentia estranho. 

— Eu só não estou me sentindo muito bem. - falei, sentindo as coisas ficarem confusas. Não pode ser! Delly no palácio?! Aqui?! Ao meu lado?! 

— Acho melhor eu pedir para a dama Effie ir em seu quarto. Você está pálido. - Assenti, quase imperceptivelmente. Sentia que cairia no chão e morreria. 

Entrelacei meu braço ao de Katniss, depois que a loira não podia mais nos ver, e coloquei minha cabeça em seu ombro. Era bom ser apenas cinco centímetros mais alto, apenas, tendo a mesma altura que ela quando a mesma usa um sapato com base alta.

— O que aconteceu? - perguntou, na porta do meu quarto, segurando meu rosto com cuidado, fazendo carinho.

— Saudades de casa. - respondi, sentindo meus olhos arderem, exigindo que eu chorasse. - Saudades da Amélia. - Seus olhos cinzas se ofuscaram um pouco, e era assustador o quanto ela poderia mudar de repente. Foi em um piscar de olhos. - Mas está tudo bem. - Segurei suas mãos, que estavam geladas agora. 

 

— Tem alguma coisa que eu possa fazer? - perguntou, baixo. - Foi algo que eu fiz? 

— Não! Não, longe disso! Você não erra comigo. - Tranquilizei-a. - Só sinto falta dos meus irmãos, dos meus pais. - Olhou em meus olhos, como se pudesse ler toda minha alma, e fez algo que eu não esperava. 

Katniss se lançou sobre mim, rodeando meu pescoço com seus braços em um abraço. 

— Quero que saiba que qualquer coisa que eu possa fazer por você, eu vou fazer. - sussurrou, quando rodeei sua cintura com os meus braços. Fechei meus olhos, escondendo o rosto na curva de seu pescoço. Ela tinha um abraço perfeito.

— Obrigado. - Eu não tinha mais o que dizer. Eu só tinha ao que agradecer, por ela ser tão boa, gentil, misericordiosa, e sempre querer o meu bem. 

Então, nos separamos, e eu entrei no meu quarto, que estava vazio já que meus amigos foram buscar o meu almoço. Eu não queria comer, eu não queria conversar, eu não queria me mover.

Eu só queria voltar dois anos atrás, como em uma noite que eu acordei muito mal, quase vomitando de tanto mal estar, e Amélia logo veio até mim na sala, abraçando-me apertado, permitindo que eu ficasse em seus braços até eu melhorar. No dia seguinte, minha mãe não me acordou para trabalhar, e nem meu pai. Passei metade do dia abraçado a Ben, que tinha dois aninhos apenas, quase três. Às vezes, o que a gente mais precisa, é disso. Da nossa família. Ou de um alguém que nos remete a ela.

Me escondi no closet, tirando todos os cobertores s os lançando no chão, formando um montinho confortável, e me deitei ali, sem me cobrir. Fechei a porta, apaguei a luz, abracei um edredom grosso, como se fosse um dos meus irmãos, e logo fui tomado pela inconsciência. 

**

— Hey, você está bem, Peeta? - Abri um pouco dos meus olhos, e enxerguei um par de olhos azuis e outro castanho escuro. Tia Effie e Layla. Eu dormi no closet, e não sei quanto tempo faz que estou aqui, mas sinto ser muito pela dor nos músculos, por passar no mínimo duas sem me mexer.

Abracei a tia Effie, e por alguma razão, quis chorar de tão triste e confuso que estou, querendo o abraço de Amélia, os olhares cúmplices de Stuart, a preocupação de Stacy, a falação demasiada de Amanda e a risadinha de Ben.

 

— Peeta, o que aconteceu? - ela perguntou, depois que eu me afastei um pouco, e senti meus lábios tremendo, indicando que a qualquer momento eu iria chorar, chorar muito.

— Eu quero a minha mãe. - falei, mordendo o lábio inferior, coçando os olhos. - Não sei se ela está bem, nem meu pai. Não me dão notícias há mais de treze dias. - Effie suspirou, arrumando meu cabelo com os dedos macios e finos que tem.

— Quer ligar para eles? - Olhei para Layla, que estava com o cenho franzido, pensativa, preocupada comigo. Como deve ser para ela, Stefan e Júlia, quando se sentem assim? Sei que um conforta o outro, mas e quando é demais?

— Eles não tem telefone. Não tínhamos dinheiro para comprar um. - eu disse, olhando nos olhos azuis da tia Effie. 

— Agora eles tem. Pensei que era avisado a vocês! - Balançou a cabeça em reprovação - Você tem cinco minutos, pois é contra as regras falar mais do que isso. Não pode falar sobre os ataques rebeldes e nem dar informações sobre a Guarda Real, mas disso você não vai falar mesmo, eu sei, só que é bom avisar. - Assenti, sentindo vontade de morrer. - Traga um copo com água, por favor. - Solicitou a Layla, que saiu imediatamente, para buscar algo para mim. - Vou esperar aqui fora do Closet. - Coloquei o aparelho no ouvido, e era tão normal quando porcos voando. 

Oi? - Ouvi a voz de Stacy do outro lado da linha no terceiro toque. Meus olhos ficaram transbordantes de lágrimas, muitas delas.

— Ai meu Deus, Sauro! Saurinho! 

Jesus! Peeta! Peeta! MAAANHÊ! PAAAAI! GENTE! GENTE! É O PEETA! - A voz dela estava embargada. - Caramba, como você está, garoto? Ai meu Deus! — Riu, chorando, assim como eu. - Você está bem, certo? Tipo, a gente se preocupa tanto com você! Por que não ligou antes?! 

— Esse telefone não é meu, é da tia Effie. - respondi, querendo chorar. - Eu estou infinitas vezes melhor agora! Não precisam se preocupar comigo. Meus criados são verdadeiros amigos, e nova extensão da família, definitivamente. Vocês vão gostar de conhecê-los, quem sabe um dia? - Senti ela sorrir.

— Ok, está desculpado por não falar a tanto tempo conosco, porém, é bom ligar mais vezes! E é claro que vou querer ir vê-los, e conversar a seu respeito. Tem quantos minutos para falar com a gente? 

— Cinco, apenas. Quem está em casa, chuchu? - ela riu, com a voz chorosa.

Está todo mundo, mas...— Pausa. - O PEETA TÁ NO TELEFONE, GENTE! PAAAAIIIÊÊÊÊ! AMÉLIAAAAA! MANDIOCA! PIZZA E CAÇULA! VENHAM AQUI! - Vários passos pela casa, e uma discussão danada que durou uns cinco segundos.

— Olá, Alma Gêmea! - Algumas lágrimas escorreram por minhas bochechas quando ouvi a voz de Amélia. 

— Sua ridícula. - falei, cobrindo a boca com uma mão. - Nem me manda mais cartas! Nem nada, nem sinal de fumaça! - Ela riu, e eu sabia que segurava o telefone com as duas mãos, bem unido ao ouvido para ter certeza de que era eu. Nossa ligação era de assustar a qualquer um. 

Está tudo tão corrido, que nem deu para escrever algo... — Suspirou cansada. - Como está? Como é a vida no palácio?

— Eu quero saber de você, dos caçulinhas, da mamãe e do papai. - falei, ficando de lado na cama improvisada que eu fiz com uma montanha de edredons. - Mas a vida aqui é normal. Tenho que estudar o dia todo, tenho novos amigos, que sei que continuarei tendo depois que tudo isso acabar, e a princesa... - Um sorriso inconsciente surgiu no meu rosto. - É impossível não gostar dela.

Oh meu Deus! Você ama a princesa Katniss! - exclamou, e eu ouvi meus irmãos vibrarem, enquanto Ben disse que não estava entendendo nada. - GENTE, O PEETA AMA A PRINCESA!

— Eu não disse nada disso! - falei rindo, fechando os olhos, ficando de barriga para cima agora. Era incrível o poder que eles tinham para mudar totalmente o meu humor. - Amélia!

— Sou sua irmã gêmea! Sei de absolutamente tudo sobre você, antes mesmo de saber, seu idiota! Babacão! — ri mais, emocionado. Queria piscar meus olhos e quando abrí-los, ela aparecer na minha frente, com suas roupas bem simples, das quais eu não me importava. Eu me importo pelo o que ela é, e sei que é muito mais do que qualquer rótulo. Ela é minha melhor amiga e minha irmã.

— Delly está aqui. - falei, em um tom totalmente oposto ao de animação. Sei que ela entendeu. Não tudo, mas o necessário para saber que algo a mais estava acontecendo.

Vai ficar tudo bem. — Ela disse, em um tom mais sério. - Não sei o que acontece aí, e sei que muita coisa é oculta, mas saiba que minhas orações estão sobre você, e Deus vai te ajudar. Pode parecer estranho e ruim escutar isso, até porque não sei de tudo, mas saiba que vai dar tudo certo. Mantenha-se firme, e não faça algo que nossa mãe não deixaria nós fazermos. Nós amamos muito você, e aceitamos qualquer que seja sua escolha. 

— Eu já disse que te amo? - perguntei, sabendo que mesmo se eu dissesse todos os dias da minha vida, toda hora, não seria suficiente para retribuir minha gratidão à Deus por ter me dado uma família tão maravilhosa. Eu tenho muita sorte de ter eles comigo.

— Não, poderia dizer? — Fez-se de desentendida e eu ri sinceramente.

— Eu amo você, Alma Gêmea. - Senti ela abrir um sorriso do outro lado da linha. — Como estão as coisas por aí? Eu fico preocupado com vocês.

— Não se preocupe, vai ficar tudo bem. No final, as coisas ficam bem, e se ainda não ficou...

— É porque ainda não é o fim. - Completei. - Mas e os meninos - eram nossos outros irmãos, pra gente, é tudo menino - e a mamãe?

— Estamos bem, graças a Deus, e esse vai ser o melhor natal que já tivemos. Não vamos ganhar presentes, porque tem o tratamento da mãe, mas estamos felizes, de verdade, P. Não se preocupe, apenas continue orando pela família. — Houve uma movimentação. - Tem duas pessoas que querem falar com você. Eu vou ir nessa. Amo você, se cuida, e não faça besteiras. Tente não ser você. - Sorri. - Beijos. Ah! E a propósito, sei que foi você que tratou a princesa com ignorância no primeiro dia! - Ri, escondendo o rosto nas mãos, e ela me acompanhou.

— Beijos. Muito obrigado, e eu estou com saudades. Prometo tentar ligar em breve de novo para você.

— Ok, vou esperar, viu?! Pronto, agora um rapazinho vai falar com você.

Oi!— A vozinha de Ben me fez tremer. - Peeta

— Meu amor! Minha vida! - Comecei a rir, chorando. - Sou eu, Ben! Sou o Peeta! Como você está, Gostoso?! - Ele começou a chorar. - Benjamin, não chore, senão você vai me fazer chorar também! - Eu já chorava mas ele não precisava saber disso.

— Não, vochê não voltou mais pla casa, Peeta. Tuat blinca comigo, mas eu sinto a sua falta! Mandy não chama mais a Tacy de Saulinho! Tá todo mundo tliste, e eu fico tliste também porque não tenho chê mais comigo! — Sua voz era fininha, lutando contra as lágrimas, com a língua enrolando um pouco por causa da pouca idade. Eu comecei a chorar devagar por contar dele.

— Olha, eu prometo que vou tentar ir logo pra casa, tudo bem? E na semana que vem você faz cinco aninhos, Ben! Uma palma de anos! Sabe o quanto isso significa?! - Tentei anima-lo. Me destruía em um milhão de pedaços saber que ele estava tão mal assim.

— Que eu vou ficar mais velho?— Ri sincero, quero puxa-lo do outro lado da linha. — Eu amu vochê. E espelo que volte mesmo logo pla casa. Sinto muito chua falta, Amolzinho.— Sorri, emocionado. Nada era mais puro do que uma criança dizendo que nos ama.

— Eu também te amo, Chuchuzinho. Não vou quebrar nossa promessa! Aliás, vou te mandar um presente, ok? - Eu sabia que seus olhos azuis idênticos aos meus haviam se arregalado um pouco. Nunca ganhamos presentes, apenas algo especial no almoço ou lanche. É uma palavra que nunca provou seu significado para ele, Stuart ou Amanda. Eu, Amélia e Stacy já ganhamos algumas coisas, como uma roupa antiga usava muitas vezes, ou um livro que não sabemos ler muito bem, agora os mais novos não, e a cada ano que passa, é ainda mais difícil. 

— Não plecisa! — Garantiu. - Vochê vindo aqui é um plesente pra mim.

— Eu não posso, Bebê... - Fechei meus olhos, como se fosse fazer ele aparecer nos meus braços e dormirmos abraçados, como muitas vezes. - Mas vou tentar. Me mande uma foto sua, com o meu presente, que eu te mando uma foto minha no jardim! - Ele era fascinado por cuidar dos outros, e as flores é o mais próximo que ele tem. Brincamos com elas, como se fossem pessoas, e são, só que em um formato diferente. 

— Tem muitas flores?! - Sua empolgação era clara, e eu sentia que estava com a língua pra fora, pulando com o telefone em mãos.

— Muitas, muitas flores! - eu disse, animado em faze-lo feliz. 

— Quero que esse seja meu plesente! Por favorzinho! Beijos, amu vochê, e sinto sua falta, irmãozinho! - Pensei que fosse desligar, no entanto, outra pessoa pegou no telefone. Eu tinha mais dois minutos e dez segundos.

Peeta? - Era minha mãe.

Na mesma hora eu me sentei, cobrindo minha boca com a mão, sentindo meu rosto todo molhado por causa das lágrimas. 

— Mamãe? - Ouvi a risada dela.

Quem mais seria?— Comecei a chorar desesperadamente, soluçando, sem me importar se estavam ouvindo isso do lado de fora. - Peeta?

— Mãe, eu amo muito a senhora. - Foi o que consegui dizer. - E estou com muitas saudades suas, cara. Sério, mãe, eu amo você. 

Hm... Com quem eu estou falando? - perguntou, confusa. E eu fiquei ainda mais confuso que ela. "Com o Peeta, querida." Ouvi a voz do meu pai, serena como quase sempre. "Quem é Peeta?" Ela perguntou, e eu precisei afastar o telefone do ouvido, para que ela não desconfiasse que eu estava soluçando. Cobri a boca para fazer o menor barulho possível. 

— Mãe. - Chamei. - Mãe! - Tínhamos apenas mais cinquenta segundos. - Mãe, sou eu, o Peeta, seu filho mais velho. - falei, nem me importando realmente com o tempo.

Eu não sei sei quem ele é, Sam. — Ela disse para o meu pai, então outra pessoa pegou o telefone.

Filho, desculpa. - eu sabia que meu pai tinha pego o aparelho e ido para o quarto falar comigo sozinho. 

— Não precisa se desculpar. Eu sabia que isso ia acontecer... - Puxei os edredons, só um pouco. - Eu não deveria ter vindo. 

— E por que estaria aqui? Não ia adiantar absolutamente nada! — Brigou comigo. - Pequeno... - Suspirou, cansado. - Olha, ela está entrando na 3ª fase. - Eu comecei a chorar, e Júlia entrou no closet. Fiz um gesto de que ela podia ir e eu vou ficar bem. Não é verdade, e ela sabe, mas me deixou sozinho. - E isso acontece a todo momento. Às vezes ela não sabe nem o próprio nome, e fica com medo da gente, pois se esquece. Absolutamente tudo ela esquece. Mas se você não estivesse aí, ela estaria na fase 4. E quando entra no último estágio, nada mais traz a pessoa de volta, só um milagre de Deus. Você sabe. - Era como se todo o peso do mundo estivesse sobre meus ombros. - Mas ela vai ficar bem. Não sei, mas ela vai. E nós queremos que você fique também. Não coloque tudo isso sobre você, porque te conheço muito bem, e sei que quando esse tipo de coisa acontece, você fica com febre e passando mal. 

— Pai! Minha mãe não sabe quem eu sou! - Foi um sufoco que essas palavras saíssem da minha boca. - Ela se esqueceu de mim!

Ela se lembrou no começo. Peeta, ela fala o dia inteiro sobre você! Eu não estou mentindo! Stuart é o que mais sofre, entre aspas porque, ela vive com ele, pensando que é você, mas fica perguntando onde estão os seus olhos azuis, então pergunta porque Ben está com os seus olhos. - Funguei, piscando algumas vezes. - Vai ficar tudo bem. Vai ficar... -Suspirou, e pelo o que conheço, ele com certeza fechou os olhos, passando a mão na nuca. - Tudo bem. Ela estaria pior se não fosse a Linda, Cory e o dinheiro que manda. Você fez muito mais do que eu poderia ter feito em vinte anos, e sabe disso. 

— Eu amo o senhor, e ela também. - falei, esfregando os olhos, mas ainda chorava. - Amo mesmo. Vou tentar ver se posso fazer mais alguma coisa, e mandar por carta. Tem médicos aqui no palácio, e tem uma muito legal. O marido dela tem Alzheimer também. - Senti ele dar um sorriso triste. - Pai, eu quero ir pra casa.

— Talvez aí seja a sua casa, sempre foi, e você nem sabe. - disse, calmo. - Preciso ir, está na hora de andar com a sua mãe pelo Distrito. É bom para ela, dar uma caminhada.

— Anda mesmo com ela, deixe-a bem à vontade. - Pedi, achando difícil essa ser a minha casa. Meus irmãos e meus pais não estão aqui. - E já deu os cinco minutos de ligação. Até logo, pai. 

 Até logo, Pequeno. - e eu desliguei. 

Tia Effie entrou, com o cenho franzido de preocupação. 

— Ela se esqueceu de mim, tia. - Voltei a chorar, com todas as minhas forças, e ela me abraçou. - Minha mãe não sabe quem eu sou! A minha mãe! - solucei audivelmente, sentindo meu peito de apertar.

— Shhhh... eu não sei o que está sentindo, quais suas dores, mas eu estou com você. Shhhh, fica calmo... Shhhh... Vai ficar tudo bem, vai tuudo bem... - sussurrou, passando uma mão por minhas costas. - Quer que eu chame a princesa? - Neguei imediatamente. Katniss tem muitos problemas para resolver, e eu não posso ser mais um. Tenho que incomodar o menos possível. 

— Ela não vai ficar feliz se souber que você estava assim e não falou com ela. 

— Não se a senhora não contar. - Olhei em seus olhos, que estavam extremamente intensos. - Por favor, tia. Não conta pra ela. - Tocou meu rosto, e fez carinho.

— Certeza? - Assenti. - Ela gosta muito de você. De verdade.

— Eu também gosto muito dela. - Seus olhos brilharam, então, fez algo que me fez chorar mais. Puxou-me para si e me deu um beijo na testa, como minha mãe faria agora. 

— Não tive filhos, mas se pudesse ter, queria que fosse exatamente como você é. - Sorri triste. - Ok, talvez um pouco mais refinado, do tipo que aceita pintar os cabelos de ruivos, mesmo que o mais claro! - Ralhou, e eu ri. Sua intenção era que Flávia pintasse meu cabelo com um ruivo claro, mas eu não aceitei. - Você tem um lindo sorriso, não deixe que nada tire ele de você, mas quando quiser chorar... - Passou os polegares por debaixo dos meus olhos, para tirar o rastro das minhas lágrimas. - Eu estarei aqui para te ajudar, tudo bem? - Assenti, deixando meu corpo mole para ela colocar a minha cabeça em seu ombro, e depois, fez carinho nos meus cabelos, até eu dormir novamente.

 

No dia seguinte pela manhã

 

— Seus olhos, até um pouco vermelhos por causa do choro, são um azul de dar inveja! - Ri, fechando os olhos, sentindo meu corpo tremer devido a risada. - Pare! Eu estou te maquiando! 

— Cheeega de tanta base! - Pedi, afastando sua mão, mas Júlia voltou a passar. - Stefan! Me ajuda aqui, cara! - O moreno estava totalmente distraído enquanto mexia em seu aparelho, de forma que não podíamos ver. - Stefan! - Joguei um travesseiro na cara dele, que quase caiu da cadeira.

— Ooooiii! - respondeu, ficando de pé. - Foi mal. Eu estava vendo as fichas de outros empregados do palácio.

— Entraram umas garotas da nossa idade. Os homens que tem, são recrutas. Tudo soldado. Stefan deu sorte, somos "escravos" do país. Mas servimos a família Real. - Layla deu um sorriso no final, feliz pela função, segurando um cesto pequeno de roupas novas na mão.

— Eu já desencanei da Rue, e ela vai mesmo casar. - Stefan revirou os olhos. - E disse na minha cara que eu não encontraria a pessoa certa, e que ninguém iria gostar de mim, pois sou desajeitado, desajustado. - Olhou para a gente. - Eu sou assim? Eu sou desajeitado? - Apoiou-se na cabeceira da cama, pelo menos era sua intenção, porque a primeira gaveta estava meio aberta, e foi justamente onde ele se apoiou, partindo a mesma em dois, fazendo-o voar e cair igual uma jaca no chão.

Encaramos seu corpo caído por três segundos, então começamos a gargalhar extremamente alto, batendo palmas. Ele é muito desastrado.

— Você é muuuuito idiota! - Júlia disse, guardando a maquiagem. - Cara, tipo... - Riu mais, jogando a cabeça pra trás. 

— Essa menina foi grossa demais, MAS! Você é extremamente desajeitado. - falei rindo, fechando os olhos. Meu Deus, esse é o melhor trio de pessoas que eu poderia desejar ter ao meu lado.

— Ai... - Sentou-se no chão mesmo, esfregando a cabeça, rindo fraco por estar envergonhado em nível máximo. Rimos ainda mais por notarmos isso. - Eu estou tão ferrado. Ai...

— Sim, você está. - Eu, Layla e Júlia dissemos juntos. Rimos em dobro.

— Desde quando a gente fala no mesmo tempo? - perguntei, esfregando os olhos por causa das lágrimas de riso.

— Eu pensei nisso agora! - Layla disse, colocando uma mecha de seu cabelo cacheado atrás da orelha. - Que show! 

— Af, vocês adoram rir nas minhas custas. - Stefan disse, tirando a gaveta do chão, e ela realmente havia se partido em dois. - Vou falar que a culpa foi sua, em um momento de raiva, ou vou ficar sem pagamento por uns tempos aí. - Assenti, sentindo Júlia pentear corretamente o meu cabelo. 

— Você tá bem? - Layla perguntou, um pouco curvada sobre a penteadeira, concentrada em arrumar um dos botões do meu smoking para a próxima sexta-feira.

— Não! - Stefan disse indignado, segurando o que sobrou da gaveta. - Cara! Eu sou um idiota!

— Não discordamos, querido. - Júlia disse, tranquilamente. Ri mais. Adoro eles.

— Vou cortar os pulsos, depois volto para trabalhar. - disse ele, revirando os olhos. - Valeu, essa é a parte que me toca.

— Sabemos que sim. - E mais uma vez, eu, Júlia e Layla dissemos juntos, em um tom tão natural que parecia que nós quem éramos irmãos. 

— Isso está assustador demais pra mim, estou me sentindo o diferentão azarado. - Jogou as mãos para o alto, como se desistisse de ser zoado. Está muito enganado. Nós não iremos desistir de zoar com a cara dele.

— Vai nessa, diferentão, o que ninguém quer, expert na arte de ser desprezado, lixo, escória do amor. - Júlia disse, e eu bati palmas de tanto rir, pois nem som mais saia. Era uma gargalhada. 

— Você que é a diferentona, que não ama ninguém, PHD em não gostar dos outros, rancorosa, esquisitona.

— Você brigam demais, demais! - Layla falou, balançando a cabeça em negativa, mas ria comigo. - Parem com isso!

— Fica quieta! - Ele e Júlia disseram juntos, e a caçula revirou os olhos. 

— Argh, em vocês falta simancol! Simancol! - disse, indo guardar meu smoking. Voltou em menos de vinte segundos, sem dar tempo para os irmãos mais velhos brigarem. - E ficou legal esse penteado. - Júlia sorriu torto, com vergonha. Olhei-me no espelho. O penteado era um pouco jogado para a frente, sem frizz – Graças à Deus, fizeram acabar essa coisa idiota de frizz! – e era um dos meus favoritos.

— Não ficou mulherzinha. - Stefan falou, balançando a cabeça em concordância. - Ficou bem legal.

— Eu gostei. De verdade. - Olhei para ela. - Muito obrigado.

— Não tem nada o que nos agradecer. - respondeu, fechando os olhos e balançando a cabeça em negativa. - Nada mesmo.

— Verdade. - Stefan e Layla concordaram com a mais velha.

— É a nossa obrigação, como seus criados e amigos. - Fiquei pensativo. Não faço nada para retribuí-los.

— Mas todo ato de gentileza deve ser agradecido. Não é obrigação de vocês serem gentis, embora todos nós devêssemos ser, e eu sou grato à vocês por isso. Valeu mesmo.

**

— Hey, Peeta! - Ouvi a voz de Haymitch quando estava dando um nó no meu cadarço antes de ir para o Salão dos Homens.

— Sim, senhor. - Ergui um pouco a cabeça, segurando as pontas do cadarço. Todos os outros já estavam nas escadas indo jogar alguma coisa da qual eu com certeza serei excluído.

— Eu sinto muito pela sua mãe. - falou, suspirando. - Effie me contou. - Balancei a cabeça, tranquilo.

— Obrigado. - respondi, simplesmente, não querendo chorar, mas já ia começar a ficar ansioso e melancólico. Não posso me dar o luxo de chorar novamente da forma que chorei ontem durante um bom tempo. Isso está começando a interferir nas relações com as pessoas ao meu redor e eu estou me perdendo. Não sei mais o que sentir.

— Garoto, para com isso. - Terminei de dar um laço, e me pus de pé, olhando para os olhos cinzas do meu mentor. - Você não tem que ter vergonha de se abrir com outras pessoas, pelo menos as mais velhas.

— Não é vergonha, é que quando muita gente sabe das coisas ruins que acontecem conosco, parece que elas pioram. E eu não quero ninguém olhando com pena para mim, ou apontando quando me veem passar. - falei, com um pouco de raiva e algo que não consigo expor em palavras. Fazia meu coração bater acelerado, e isso me deixa muito aborrecido.

— Perdi meus pais quando tinha 24 anos, em um acidente de avião, ou aeroestelizador, como preferir. Eu não ligava pra eles, eles não ligavam para mim, e eu já era casado com Effie. - Suspirou, fechando os olhos, balançando a cabeça em negativa - Eu senti, chorei pra caramba, mas eu sei que a sua dor é maior do que a minha, porque seus pais se importam, e você com eles. - Deu dois passos para a frente, deixando-nos a uma distância confortável, de dois braços. - Eu e ela nos importamos de verdade com você. Qualquer coisa que precisar e quiser falar, pode contar com a gente, está bem? Não queremos o seu mal. 

— Valeu, Haymitch. - Agradeci, com um leve manear de cabeça. - De verdade. - Fui sincero, e espero que ele sinta e enxergue isso - Mas eu não gosto de encher as pessoas com as coisas que se passam na minha casa.

— Para quem se importa, você nunca vai ser um incômodo, e conosco é assim. - Deu dois tapinhas de amigo no meu ombro, com um sorriso torto. - Para o que precisar, estamos aí. - E subiu as escadas sem olhar para trás, mas eu enxerguei sinceridade em suas palavras, mesmo que seja comigo com quem ele mais chama atenção e briga. Isso me deixou confuso demais, demais.

Suspirei profundamente, esfregando os olhos, e os mantendo fechados por cinco segundos. Os abri novamente. Estou no pátio que precede a academia do palácio e somos obrigados a vir treinar todos os dias, fazendo simulações de diversas coisas úteis para sobrevivência e luta, pois não podemos ser dependentes de guardas e pacificadores - nome dos que ficam nos Distritos, mas com preparação inferior à do guarda, porém, apenas os pertencentes ao Distrito Dois que podem ser isso. É uma das profissões mais cobiçadas do país - o tempo inteiro.

Defesa corporal, alguns tipos de luta, como manusear uma arma, estratégias de guerra... É bem chato quando querem, ou bem empolgantes de vez em quando.

Peguei meu fone de ouvido na mesa de canto, para eu poder treinar decentemente, mas é impossível com a música, e purguei (aprendi essa palavra anteontem, e uso agora para basicamente tudo para saberem que sou uma pessoa culta. Ou que pelo menos tenta ser decente.) no aparelho celular.

A música começa com batidas boas, me fazendo sorrir levemente, não conhecendo a letra.

E daí se ficarmos bêbados

E daí se fumarmos maconha

Estamos só nos divertindo

Não ligamos quem veja

E daí se nós saímos

É assim que deveria ser

Viver jovem, selvagem e livre

Mas aí começou a ficar pesada, e me assustei com a letra.

Ooopaaa! - murmurei, trocando para uma que eu já conhecia.

Assobiei a melodia de Stronger no começo, pois depois ficou difícil demais para acompanhar, então cantarolei o refrão sem abrir a boca mesmo, e sem notar, eu já estava no Salão dos Homens. Não eram todos que vieram para cá. Comigo, só olhando por alto, estávamos em oito. Mais agradável, honestamente.

Fui para o outro lado do Salão, não tendo a intenção de chamar atenção, mas não. Nããão! 

— Hey, Peeta, fiquei sabendo que a sua mãe tem Alzheimer. - Ouvi a voz de Cato. Aumentei o volume.

— Ele está falando com você. - Bennet disse, um dos Selecionados do Dois, e que eu tenho tanta simpatia como tenho por Cato. Sentiu a amizade, não?

— Eu ouvi. - respondi, ficando muito aborrecido. Não quero brigar com ninguém, não quero. 

— Então por que você não responde quando a gente fala com você? - Virei-me um pouco na direção de Cato, que estava jogando com Logan, Finnick e Blane na mesa de sinuca. 

— Não quero conversar. - respondi novamente, pondo de volta o meu fone, que estava em uma música diferente do que costumo ouvir.

Você disse que nunca iria me machucar

Que seria o band-aid quando eu sangrasse

Mas acho que esse band-aid é todo feito de papel

Porque nunca ficou preso em mim

E você diz que conquistou o leão

Sem nem mesmo tentar

Mas ela só ficou mais forte

Ela morde mais forte e só morre lutando

— Eu disse: por que você não responde quando a gente fala com você? - perguntou novamente. Comecei a andar de volta para a porta, na intenção de sumir dali. 

Você pode fugir, você pode fugir

Mas você sabe que eu sei o que você fez

Você pode fugir, você pode fugir

Mas guarde essas palavras para o cara a cara

— Oh, acho que as suas irmãs vão precisar trabalhar mais como prostitutas no Oito para poder te comprarem um aparelho auditivo quando sair daqui. - Meu sangue esfriou, mas a minha nuca se aqueceu totalmente, e meus punhos se fecharam. Podia sentir meu coração bater mais depressa.

— O que disse? - perguntei, me virando imediatamente, tirando um lado do fone.

— Agora ele quer conversar... - debochou, com um sorriso. Revirou os olhos, e era a vez dele de jogar. Colocou em uma só jogada três bolas na caçapa. Filho. Da. *mãe*.

— Eu perguntei: o que disse? - Dei dois passos em sua direção, estando longe dele, consideravelmente.

Então quando as luzes se apagarem

E o sol se pôr

Você deve saber que eu não vou cair de novo (estarei esperando por você)

Punho inglês pra fora

E o protetor bucal na minha boca

Quando você estiver faminto pelo próximo round (estarei esperando por você)

Oh-oh, oh-oh-ooh, estarei esperando por você

Oh-oh, oh-oh-ooh, estarei esperando por você

Oh-oh, oh-oh-ooh

Mmm

— Ok, eu não vou ser mal educado como você. - debochou mais uma vez, e todos os olhos estavam pregados em nós - eu disse que as suas irmãs precisaram se prostituir mais vezes para te comprar um aparelho de audição. Definitivamente você vai precisar. 

Ninguém ousava respirar. Nem eu respirava, mas era de tanta raiva.

— Mas alguma coisa para dizer sobre minha família? - meus punhos estavam cerrados. 

— Seus irmãos usam drogas? - perguntou, franzindo o cenho. - Menos o mais novo, acho que ele tem quatro anos, não é mesmo, Gale? - Todos imediatamente olharam para Gale, que estava como um semáforo vermelho.

— Eu não disse nada do que ele está falando. - Jogou as mãos para o alto como um gesto de rendição imediata. - Juro. 

Minha respiração acelerou, e eu senti minhas pupilas se abrirem de puro ódio, mas então, estiquei as mãos e sorri.

— Cato, no Distrito Dois... Vocês tem um bom plano dentário? - Ele sorriu cinicamente.

— Claro que sim, diferentemente dos que vem do Sete. - Uma agulha poderia cair no chão perfeitamente forrado com carpete cinza.

É, não leve as coisas para o lado pessoal

Mas você levou para o lado pessoal

Falando sobre meus maus hábitos

Cara, danem-se meus maus hábitos

Não aja como se não tivesse nenhum

— E você faz bom uso do seu plano? - perguntei, cruzando os braços.

— Não, por que quer saber? - Seus olhos eram azuis, porém mais claros do que os meus, sendo difícil esconder o que se passava no coração dele. Medo e deboche.

— Porque você sai daqui pro dentista. - Tudo levou menos de dois segundos. 

Fechei meu punho super rapidamente, e meti um soco na cara dele, que se desequilibrou, então fiquei sobre seu estômago, para evitar que ele se levante.

— REPETE AGORA! REPETE! - berrei, só dando socos na cara dele, ou ao menos tentando, mas ele era mais forte que eu, e protegia o rosto, rindo como um desgraçado campeão.

Você pode correr, você pode correr

Mas você sabe que eu sei exatamente o que fez

Você pode correr, você pode correr

Mas guarde estas palavras pra quando estivermos sozinhas

— Peeta! - Ouvi Finnick chamar a mim e a esse loiro filho de uma cretina, que inverteu a posição, e começou a me dar socos fortes, quanto um soco, por ele saber socar, cortou acima da minha sobrancelha. 

— Parem! - Marvel disse. - SAI, CATO! SAI! - ele gritou, puxando o outro louro de cima de mim, que me deu alguns ponta pés. Ah, não. Eu não vou sair perdendo. Não mesmo.

Seu nome está em minha boca

Me perdoe quando eu te nocautear

Eu adoro quando você fala sobre mim

Só porque você não conhece a si mesma

Meus golpes são para matar, seus dentes estão no chão

Trinta milhões de pessoas assistindo, ainda quer mais?

Vacas falsas, vão pegar, eu estou ganhando mas você não

Ligue para o seu dentista pois eu estou falando sério

Eu não vejo competição

Indo à loucura, Mikey Tyson, nasci uma lutadora, triunfarei

Vaca achei que soubesse, vou pegar o seu título

Aproveitei que Marvel estava segurando ele, junto com Finnick e Blane, que estavam assustados com o que havia acontecido, e acertei um soco na cara dele, que me olhou como se eu fosse um demônio que tinha ceifado com a alma da pessoa que ele mais ama. Muito, muito, muito ódio.

— NÃO ME SEGURA! NÃO ME SEGURA! - ele berrou, furioso. Eu queria ir bater mais na cara dele, e matá-lo, por ter colocado o nome das minhas irmãs e da minha mãe em sua boca podre, assim como mencionando os meus irmãos. Ninguém pode falar da minha família, ninguém.

Gale segurou meus braços assim que me levantei, disfarçando o fato de estar me sentindo tonto, como um peãozinho acabado de dar uma longa rodada. O moreno ficou mandando que eu parasse, assim como todos os outros. Soltaram Cato, e Haymitch entrou na sala, um pouco suado pela corrida que fez até ali. 

— Larga ele agora, Hawthorne. - Gale obedeceu na mesma hora, dando um passo pra trás. - O que diacho aconteceu aqui? 

— O Peeta começou me batendo. - Cato disse, limpando o canto da boca que sangrava. Segurei o sorriso satisfeito.

— Os três - Sinalizou Gale também, pois estava me segurando quando Haymitch chegou - Enfermaria AGOOORA! - Fechamos nossos olhos, sentindo todos os nossos músculos tremerem por sua voz potente.

Cato passou, bufando de raiva, Gale foi balançando a cabeça em negativa, cabisbaixo.

— Vocês que sobraram, fiquem aqui. Já vou fazer perguntas sobre o que aconteceu. Sentados! - Como cachorrinhos, todos com medo, sentaram-se no grande sofá azul escuro que combina perfeitamente com a sala de jogos. Foram quase sincronizados.

Passei por Haymitch, porém seu braço não permitiu que eu passasse da porta.

— É por isso que eu não conto nada a ninguém. - falei, com muita raiva, empurrando seu braço. Olhei firmemente em seus olhos, então fui solto.

...

— Você deve tomar mais cuidado... - Stefan disse, quando ficamos a sós na enfermaria. Cato foi colocado em outro lugar por aqui, mas onde eu não possa vê-lo e vice-versa.

— Ele começou e... - Minha cabeça começou a latejar pulsantemente - Ai, ai... - murmurei, fechando os olhos.

— Aqui - Stefan me estendeu a bolsa de gelo para por em cima do corte - Se não tivesse brigado, não estaria com dor.

— Estou bem com relação à isso, até. - Dei de ombros, olhando em seus olhos castanhos escuros - A questão é que eu não quebrei um dente dele. 

A seriedade até tentou ser mantida por ele, mas não deu, e o mesmo oscilou, mordendo os lábios, até que caiu na risada sinceramente.

— Você é muito maluco, cara. - falou, balançando a cabeça - Um retardado. 

Ri também, segurando o saco de gelo na minha testa, pelo corte dentro da minha boca ter sido contido por dois pontos. 

— Tá rindo por causa da anestesia. Quero ver se vai rir daqui a pouco. - Levantou um pouco da minha camisa, revelando alguns hematomas dos socos e pontapés na região do pulmão. Covarde. Cato é um covarde.

— Ah, mas estou muito feliz. Mesmo que não tenha conseguido quebrar um dente, a maçã esquerda do rosto dele está roxa, o olho direito também, e quase desloquei o ombro dele.

— E levou a sua mão junto. - Lembrou-me, balançando a cabeça em reprovação. Olhei para minhas mãos, fechando-as, e tinha algumas marcas roxas avermelhadas. Eu soquei pra valer aquele desgraçado. - Você já está começando a ficar arrependido. 

Stefan alegou, sentando-se na poltrona ao lado da cama, cantarolando alguma música que eu desconhecia. Pegou um livro na mesinha de canto, e sorriu para o título que não consegui ler.

— É... - Gesticulei, suspirando profundamente - Minha mãe não iria gostar de saber que fui expulso pelo temperamento que ela tem. Poxa... Eu poderia ser expulso porque roubei! - Ele riu, sentando-se como índio na poltrona branca, abrindo o livro.

— Você parece que é de mentira, cara. Meu Deus do Céu. - Balançou a cabeça, com um sorriso. 

— Eu sei. Sou demais pra ser verdade. Sou demais. 

— Só que o uso excessivo de algumas coisas, acarretam na imperfeição do nosso caráter. - A voz de Katniss me fez arrepiar, e eu gelei mais do que o gelo que estava na bolsa e eu segurava na minha testa. - O que pensa que estava fazendo quando deu um soco na cara do Cato? - O clima descontraído entre eu e Stefan que preenchia o quarto imediatamente sumiu. Delly estava logo atrás dela, com um balançar de cabeça para mim quase imperceptível. Ambas estavam sérias, e a loira estava agora com uma calça branca, no mesmo modelo de anteontem, com uma blusa com franjas laranja. O cabelo estava com mechas pretas em grande parte, e pelo o que pude observar, ela ia pintar todo ele dessa cor. 

Mas que droga ela está fazendo aqui? Complô para ferrar de vez comigo? Se alguém me disser que sim, não me surpreenderei com nem uma vírgula.

— Delly, você, rapaz, por favor. - A futura rainha fez um gesto delicado para que ambos saíssem do quarto, e assim o fizeram em questão de cinco segundos.

— O que tinha na sua cabeça, seu maluco?! - perguntou, vermelha. Ela parecia um sorvete napolitano com calda por causa do cabelo. A calça social rosa de pano, que marcava sua cintura e suavemente as coxas, era um rosa de sorvete mesmo, morango, a blusa bege, lembrando o sorvete de creme, e a sua pele parda, o que seria chocolate, mas ela tinha a cor de mel. Seu cabelo era a calda, estando preso em um rabo de cavalo alto e volumoso.

Estava muito bonita. O rímel faz seus olhos parecerem mais redondos do que realmente são. Ela tem lindos olhos, e uma boca perfeitamente desenhada, coberta por um batom brilhoso bem leve. Suas bochechas dispensavam o blush.

— Eu tinha: preciso socar a cara dele. - respondi, sarcástico.

— É uma pergunta retórica, seu burro! - Me ofendi com suas palavras, ficando sério. Coloquei a bolsa de gelo na mesa, e a olhei.

— Eu não sei o que é retórica. E justamente por isso, só porque eu não tive acesso a mesma forma de autocontrole que você, não significa que possa me chamar de burro. - respondi, baixando meus olhos para minhas mãos.

— Mas qual é o seu problema, Peeta? - Cruzou audivelmente os braços, batendo um pé no chão, para chamar minha atenção.

— Eu? Comigo? - Ri, ironicamente. - Nenhum. Por que teria algum problema comigo?

— Porque você desde o princípio foi impulsivo e com algum sério problema de stress! - Suas palavras foram extremamente rápidas, assim como a nossa troca de olhares, que não durou mais de dois segundos. Ótimo, eu sou doente.

— Perdão. - Logo pediu, aproximando-se em passos largos da cama. Abracei minhas pernas, e coloquei o rosto sobre meus joelhos, suspirando.

— Eu quem devo pedir, tudo bem. - Virei o rosto para o outro lado, estando muito confortável nessa posição. Fechei os meus olhos, pois o sol entrava, mesmo que se pondo, e beijava meu rosto calorosamente. 

— Peeta... - Ouvi ela suspirar, então virei o rosto de volta em sua direção, ainda com o mesmo sobre meus joelhos.

— Olha, eu sei que não deveria ter feito aquilo, mas ele falou dos meus irmãos e da minha mãe. Cada um reage da forma que aguenta. Eu estou no ápice do meu stress desde que cheguei aqui, tendo uma leve diminuída quando a gente foi para a casa na árvore, mas você me ferrou todo, porque eu já não sei o que pensar e nem dizer, pois você está quase acima do bem e do mal, com toda essa calma e paz. Eu não sei ser assim. Me perdoe, mas eu não sei. Posso tentar com todas as minhas forças, só que todos nós somos granadas, e uma hora ela explode. Sinto que não foi totalmente nas mãos do Cato, mas pode ser nas suas, pode ser nas dos meus amigos, Gale, Finnick, Haymitch, etc. Se você está sobrecarregada, tudo bem, pode gritar comigo, mas você não pode vir com cinco pedras na mão. Eu fiz isso com você, e fiquei totalmente arrasado no dia seguinte e alguns minutos depois, e tudo mais. Falei para mim mesmo que não poderia julgar as pessoas pelo o que vejo. Você não me conhece totalmente, não sabe o número da minha casa, não sabe quem é o meu melhor amigo, mas sabe muito bem que tem uma cambada de coisa na minha vida. Eu duvido que você chegou no Cato dessa maneira e com certeza não sabe nem qual nosso nome do meio.

Os olhos dela estavam marejados, e os lábios tremiam, indicando que iria chorar a qualquer momento. Estiquei minhas pernas rapidamente, então me ajoelhei, sentando-me sobre minhas canelas e pés, abrindo os braços. Katniss não pensou duas vezes antes de vir para o meio deles, escondendo o rosto na curva do meu pescoço.

Fechei meus olhos, fazendo movimentos circulares por suas costas, e quis chorar. Escondi meu rosto na curva de seus pescoço também, sentindo seu perfume adocicado, forte, feminino e ao mesmo tempo, tão gentil como a garoa. 

— Sério, Peeta. Me desculpa. - pediu, com a voz embargada, lutando para não chorar.

— Ok. - Não tinha como eu responder outra coisa, tinha? Honestamente, não sei se vim para essa vida com outro objetivo além de fazer confusão, e de todas, eu mesmo ser a maior delas.

— Eu fiquei tão preocupada com você, seu maluco. - E começou a chorar, oscilando em meus braços. - Não faz isso de novo. Cato é mais forte que você, e sabe disso. Poderia ter te quebrado. - Afastou-se um pouco para olhar em meus olhos, que a admiravam em cada mínimo detalhe. Ela tem pintinhas marrons no pescoço, duas delas, que lembram uma mordida de vampiro.

— Me desculpe. - pedi, sincero. - Não tenho nenhum argumento para me manter por aqui, e essa é a grande questão. 

— Vai fazer de novo? - Neguei imediatamente, fechando os olhos quando balancei a cabeça. Ela riu, e com uma mão no meu ombro, a outra levou para minha bochecha, fazendo um carinho com a ponta dos dedos.

Instintivamente, deixei meu corpo leve sob suas mãos, inclinando a cabeça na direção de sua mão, fechando meus olhos.

— Você só me coloca em confusão, Mellark. - Sorri ao ouvir seu sussurro, voltando a me sentar sobre meus pés e canelas, mas sem tirar meu rosto de seu carinho.

— Eu sou um Sete. Minha obrigação é causar o caos. - Riu, com lágrimas nos olhos, então me abraçou novamente, entrelaçado seus braços em meu pescoço.

— Tenha cuidado. Eu não quero mandar meu favorito pretendente e melhor amigo para casa. - ela falou extremamente baixo, com os lábios quase encostando em meus ouvidos. 

— O que...? - Fiquei confuso - Cato vai embora?! - perguntei, ansioso.

Katniss balançando levemente a cabeça em negativa. 

— Se eu fizesse isso, você teria que ir embora junto, pois ambos se agrediram. Ele disparou a primeira ofensa, você, o primeiro golpe.

— Ação e reação, terceira lei de Nelson. Ué, palavra vem, soco volta. - falei, com um pouco de raiva. Ela deu uma gargalhada sincera, deixando-me confuso.

— É Newton, Peeta! Não Nelson! - Senti minhas bochechas queimarem, de tanta vergonha. Ela gargalhou mais, sentando-se em meu colo, com as pernas pendendo para um lado. 

— Sua aproveitadora. Abusada. - Precisei me sentar corretamente, com as duas pernas pendendo para fora da cama, então, como ela é muito folgada, repousou a sua cabeça em meu peito, mais especificamente sobre minhas clavículas, por nossa altura semelhante, e me abraçou pela cintura, fechando seus olhos.

— Amigos fazem isso, não fazem? 

A pergunta dela me deixou pensativo. Meus irmãos não fazem isso, nem Finnick - porque aí é claro que alguma coisa está fora do normal e nossa masculinidade será claramente questionada -, mas Delly fazia de vez em quando.

— Não seu dizer exatamente - falei sincero, dando de ombros, segurando-a com cuidado, fazendo carinho em suas costas - mas minha ex-namorada fazia isso. - Eu poderia revelar o nome de Delly se ela não estivesse aqui, trabalhando no palácio, mas mesmo que não, eu não diria.

— Conte-me sobre ela. - pediu, passando uma mão por minha barriga como quem não quer nada - Eu quero saber se temos algo em comum, e devo mudar.

Sorri. 

— Katniss, seja você. Só você. - A deitei ela em meu colo, basicamente, pois eu apoiei minhas costas na cama do hospital, que estava inclinada, e eu sabia que não ia abaixar. - Você não deve ser comparada a ela.

— Por que? 

— Porque cada uma tem a sua importância na minha vida. Não quero vê-la em você, e nem você nela. Não quero que você tente ser uma pessoa que não é, pois eu me apaixonei por você des... - Imediatamente parei de falar. Meu Deus do Céu.

— O que estava dizendo? - Ela na mesma hora se sentou no meu colo, olhando em meus olhos. 

— Eu gosto de você do jeito que é. - Balancei a cabeça, como se o que eu acabara de dizer fosse ser excluído da memória e do tempo.

— Não, não foi isso o que disse. - respondeu, negando imediatamente. - Peeta! - Deu um tapa no meu braço, com um sorriso.

— O que! - Sorri também, sei lá por qual razão.

— Você... Você... - estimulou que eu continuasse. Fiz-me de desentendido, e ela riu, balaçando a cabeça em negativa.

— Eu gostei de você do jeito que você é. - falei devagar, olhando em seus olhos, tirando com toda a delicadeza que eu poderia ter, alguns fios de seu rosto. Ela não esperou que eu fizesse nada. Inclinou-se um pouco, e selou nossos lábios, fazendo com que eu imediatamente fechar meus olhos, segurando com todo o cuidado do mundo a sua nuca, que estava quente. Suas mãos instintivamente tocaram minha mão que estava em sua nuca, e elas estavam geladas como um freezer.

Afastei-me um pouco, preocupado.

— Você está bem? - Seus lábios estavam um pouco vermelhos e inchados por causa do beijo, deixando-os ainda mais beijáveis, e seus olhos, irresistíveis, mas eu sei que não é comum. - Katniss?

— Não sei. - Seus olhos ficaram cheios d'água - Está tudo vindo com muita intensidade. Muito, muito. - Toquei imediatamente suas bochechas, que estavam ficando coradas, e não era de vergonha, fazendo com que até eu senti-se calor e começasse a suar.

Inverti nossas posições com cuidado, sentando-me de frente para ela, ao seu lado.

— Acho melhor chamar a tia Maggs. - Pensei alto, ficando preocupado com o seu suor, e as mãos unidas nervosamente.

— Não, é passageiro. É só uma recaída. - contou, calma, mas por dentro parecia lutar a socos e pontapés consigo mesma. Apertou os olhos, cobrindo-os com pulsos, e esfregou os mesmos com força, machucando-se.

— Para! Para! - Segurei seus pulsos com força, e com o esfregar que ela fez, borrou a maquiagem nos mesmos, e eu entreabri os lábios, assustado. - Katniss! - Haviam marcas recentes, onde a "casquinha" crescia nas pontinhas. Eram cortes tortos, como se fosse a estação ferroviária da China.

— Eu tive alguma delas nesses dias. Algumas recaídas. - disse, miando, quase. - Não é todo mundo que me abraça, sabia? Tirando você, só me trazem para cá e me furam com morfina. Eu sou viciada em meus remédios. Nada mais faz muito efeito, então a tendência é que eu piore gradativamente. - Sussurrou, com os olhos sofridos. Ela mudou 100% em menos de trinta segundos.

— Posso fazer alguma coisa por você? - assentiu, devagarzinho, com aparentemente com dor. Apertou o colchão.

— Me abraça? - Abriu os olhos, que estavam vermelhos por causa das lágrimas.

— Não precisa me pedir por isso. - Como eu estava no lado esquerdo, só me inclinei ao lado dela, cobrindo-me também, até a cintura, e a abracei. 

Passei um braço por cima de sua barriga, e entrelacei minha mão esquerda à sua esquerda, enquanto meu braço direito passou por debaixo do travesseiro, e a mão ficou fazendo carinho no alto de sua cabeça.

Minha cabeça dava várias e várias voltas por dentro, como um carrossel, e tudo em meu corpo doía, mas eu sentia que não era apenas um desgaste físico. Era emocional, espiritual. Eu estava exausto. Vê-la mal era tão ruim quanto saber que Amélia está mal.

Fechei meus olhos, abraçando-a ainda mais apertado, e ouvi ela suspirar mais calma, e isso de alguma forma me fez ficar feliz. Dormi antes de por ouvir ela dizer mais alguma coisa. A gente estava de conchinha, e para mim, não havia naquele momento alguma coisa que eu precisasse mais do que alguém para abraçar e me fazer sentir útil.

**

A noite estava clara, a cigarra cantava, a grama tinha seu aroma agradável, misturado as flores, entre elas, os lírios, rosas, margaridas, e um braço estava dado junto ao meu. 

— Peeta... - Sua voz foi baixa, suave e gentil como na maior parte do tempo - Por quanto tempo acha que vamos viver? - Eu sabia que sorria, e isso me fez sorrir, notando uma "estrela cadente" cruzar o céu.

— Enquanto amarmos uns aos outros. - respondi, sentindo ela me abraçar, colocando uma perna sobre minha cintura.

Abracei-a de volta.

— E quanto tempo isso dura? - sussurrou, com a cabeça sobre meu peito. Estávamos ao lado da casa na árvore, no lado oposto do balanço, sobre algumas margaridas.

— Para sempre. - falei de volta, olhando para o rosto sereno de Katniss. Ela está linda sob essa luz, como fica sob todas as outras.

— Peeta. - Senti meu corpo ser balançado. - Peeta! - Abri os olhos devagar, sentindo um pouco de dor no braço direito. 

— Quê? - perguntei, esfregando os olhos. 

— Sou eu. Delly. - Na mesma hora meus olhos se abriram, e eu me arrumei na cama da enfermaria, boquiaberto com a imagem da pessoa que acabara de se identificar. Mas que droga é essa agora?

— O que você tá fazendo aqui?! - Ela riu, balançando a cabeça em negativa. - Pelo amor de Deus... - Me curvei um pouco, por estar sentado, e cobri o rosto nas mãos, então a olhei nos olhos - O quê que você faz aqui? 

Minha voz saiu claramente falsamente normal e calma. Ela deu uma olhada na porta mais uma vez. Olhou pela janela com um levantar na ponta de seus pés protegidos por uma sapatilha rosada.

— Para ver você. - respondeu, baixo, colocando uma mecha atrás da orelha. Estava próxima à cama.

Fiquei em silêncio, analisando seu corpo pequeno e curvado a minha frente, com as mesmas roupas de hoje mais cedo quando veio até aqui como companhia de Katniss. Katniss. Ela não está mais aqui.

— Onde ela está? -  perguntei, sentindo o perfume da princesa preso ao travesseiro e a minha camisa. 

— No quarto dela, dormindo. Stefan me ajudou a levá-la até lá, com a supervisão do Guarda Troy. Vocês não deveriam ter sido tão claramente próximos um ao outro. 

— Você não sabe de toda a história, talvez. - Minha vontade era de pular da janela, e esquecer que ela existe, enquanto outra queria que ela desse o primeiro passo, como de todas as outras vezes, então parássemos quando começássemos a sentir coisas que não sabíamos explicar o que significam porque ninguém nos instruiu a respeito disso.

— Eu sei o que ela tem, essa não é a questão. A questão é que... - Passou as mãos nos cabelos, jogando-os para o lado esquerdo, tensa. 

— Preciso te levar de volta para o seu quarto. Sorriso me mandou até aqui para fazer isso, pois já é tarde. -Franzi o cenho, confuso. - São 23h da noite. 

Sua voz era divertida, e um sorriso no canto do rosto. 

— Tá. - eu não estava com um ar divertido ou descontraído, pois não sei o que poderia acontecer.

Não tinha como eu dizer outra coisa, fazer outra coisa, porque o que mais eu poderia fazer? Dizer que sei ir sozinho? Sabe quão assustador são esses corredores do palácio? Tem alguns pontos que não tem guardas.

Levantei-me da cama, logo encontrando pantufas azuis escuras. Elas são tão macias... Ela caminhou até a porta em silêncio, assim como eu, então saímos da enfermaria, lado a lado.

Minhas mãos estavam no bolso da minha calça de moletom cinza, e ela estava "se abraçando", pela timidez e vergonha, assim como frio.

Subi a escada na frente, um pouco com raiva e um pouco feliz. Eu agora tinha uma figura que me recordava dos bons momentos em casa, mas agora eu tinha a pessoa que me deixou magoado pra caramba, ficando com outra pessoa, eu acho. 

A pior parte: não posso contar à ninguém.

Stuart era o único que sabia, porque acordou no meio da noite uma vez. Era uma e quarenta da madrugada, eu precisava contar para onde iria. Ele ficou em silêncio, depois riu de mim, dizendo o quão apaixonado eu estava por me arriscar tanto. Agradeço a Deus por tê-lo como irmão, e me ajudar a sair algumas vezes, e todas as vezes que eu ia, ele mandava eu ter cuidado, sério. É mais fácil achar uma agulha em três palheiros amontoados do que uma pessoa que se importe de verdade com a gente.

Nossas cartas definitivamente devem ser lidas algumas vezes, e se eu contar de Delly, mesmo que mude o nome, sabendo que ele vai matar imediatamente a charada, mas é proibida qualquer demonstração de amor por outra pessoa além da princesa e familiares. Eu me ferraria totalmente, e corro o risco de levar minha família junto, coisa que não posso me dar o luxo.

Entrei no meu quarto, fechando a porta sem me despedir dela. Era como se tudo isso não estivesse acontecendo.

Me joguei na cama de barriga pra baixo, fechei meus olhos. O perfume de Katniss estava nas minhas roupas e pele, fazendo meu coração bater forte. É extremamente agradável essa sensação. Me sentei na cama, no meio, e cruzei as pernas.

3...2...1...

Delly abriu a porta, trancando logo em seguida, vindo em passos decididos, até parar a dois metros da cama.

— Olha, eu não sei o que você está sentindo, o que você tem, mas eu quero saber por qual razão não foi falar comigo no dia da Colheita. - Seus olhos ficaram mais claros por causa das lágrimas. Era como se eu levasse um tiro.

— Delly, você estava com outro no dia da Colheita, e me pergunta por qual razão eu não falei com você naquele dia? - Cruzei meus braços, lembrando-me como se o ocorrido fosse há duas horas, e não há dois meses.

— O que...? - Franziu o cenho, confusa, e depois de uns cinco segundos, balançou a cabeça imediatamente em negativa - Não, não, não! - exclamou, dando mais alguns passos na direção da cama.

— Peeta! Aquele era o Steven! Ele é do Cinco, e eu estava indo te ver, quando escorreguei na calçada, e teria me arrebentado toda, mas ele me segurou, e eu agradeci! - Onde eu posso me esconder?

— Você acha mesmo que depois de tudo o que eu fiz e falei para você, achou mesmo que eu poderia ser capaz de ficar com outra pessoa?! 

— Não! Mas eu estava indo embora, e no dia antes de eu ir, você termina comigo. Uma semana antes, eu descubro que a minha mãe vai morrer sem saber respirar, piscar, e principalmente de quem ela é, aí o que você acha que se passou pela minha cabeça?! - Pus me de pé, com raiva - Delly! Pelo amor de Deus! Eu não tenho nada, absolutamente nada para oferecer a ninguém, e estava vindo para outro mundo, um mundo do qual eu nunca vou fazer parte. O que pensaria se fosse ao contrário? Acha que com aquele monte de gente naquela praça eu poderia pensar em alguma coisa além de que você estava com outra pessoa? Eu não queria vir pra cá! Não queria! - Bati um pé com chão, e ela um passo para trás, chorando. Eu estava a um palmo de chorar também, por esse monte de emoções acontecendo.

— Eu estava certa, e estou, quando digo que amo você. Você duvidou do meu amor. - Olhou em meus olhos, e eu senti como se mil facas entrassem em minha pele, entrando e saindo, de tão forte que foram as suas palavras.

Eu duvidei do nosso amor? Essa pergunta ficou rodando minha cabeça.

— Me desculpe por ter te julgado. - admiti a culpa, baixo, olhando em seus olhos. Eu precisava pedir desculpas, e me livrar de tudo isso. 

Delly balançou a cabeça em negativa.

— Não há pelo o que se desculpar, porque eu nunca passei por 1/4 do que passa todos os dias desde seus 12 anos. Está tudo bem.

Ficamos em silêncio, presos em memórias, desviando o olhar um do outro.

— Eu queria dizer que amo você, e que não importa o que aconteça, eu estaria aqui, que sempre amaria você. - falou baixo, então ergui os olhos para ela, que tinha passado os dedos pelas bochechas rosadas devido ao choro. 

— A minha palavra se mantém intacta. - Aproximou-se, dizendo tais palavras, e eu não me afastei, porém não indiquei que ela poderia ficar muito perto como antes poderia. - E a sua? 

— Igual. - falei, balançando a cabeça. Era inevitável o efeito que ela causava em mim. Fechei meus olhos, e no instante seguinte, seus braços rodeavam minha cintura, e os meus a dela.

Ficou na ponta dos pés, sendo uns quinze centímetros mais baixa que eu, e escondeu seu rosto na curva do meu pescoço.

— Senti sua falta. - sussurrou, apenas. Seu perfume de laranja era o mesmo, fazendo com que eu sentisse vontade de chorar.

— Não mais do que eu. - e a abracei mais forte, como se fosse virar pó caso eu a soltasse. 

Ficamos por um tempo assim, até que ela se afastou um pouco, olhando para a minha boca, e eu olhei para a dela também.

— É errado o que estamos fazendo? - perguntei, em um sussurro, subindo minha mão por suas costas, e ela fazendo carinho no meu ombro.

— Não sei, mas também não posso dizer se é certo.  sussurrou - Quando nos importamos com isso? 

Nunca, minha mente disse. Mas eu não era dono de mim como antes. Eu pertenço à Panem. Isso é tão absurdo, tão sufocante. Eu sou propriedade de Katniss, mas ela nunca me tratou assim.

Katniss. Katniss Evangeline Everdeen Snow. Minha amiga.

Toda a carga emocional sobre meus ombros me empurrou para o ato que eu me senti mais errado em toda a minha vida, mas aproveitei cada segundo, quando beijei Delly.

Eu já conhecia esse beijo, eu já conhecia esses arrepios, já conhecia esse risco de sermos pegos a qualquer momento. Mas nunca soou tão errado na minha vida. Eu a amava, e agora? O que eu sinto? Podemos deixar de amar alguém? Ou o amor esfria com o passar do tempo?

Mesmo com esses pensamentos, sentimentos questionados, eu a apertei mais contra mim, colocando uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha, sentindo meu coração bater acelerado, mas... Não como bateu quando beijei a Katniss pela primeira vez. Algo me dizia que...meus sentimentos haviam mudado a respeito de Delly, e se inclinam para Katniss. Eu quase disse que estou apaixonado por ela, pela Princesa. 

Será que estou?

Suas mãos foram para as minhas costas, fazendo um carinho com as unhas, um carinho gentil, que fez todo meu corpo se arrepiar. 

Era tão errado, tão bom, tão diferente, tão igual, que não tive coragem de parar, apegando-me as lembranças do sótão de sua casa, da minha família e do quanto ela fazia eu viver todos os dias com a paixão que eu sentia.

— Eu precisava disso. - sussurrou, depois que nos afastamos por causa do beijo. Abri meus olhos, e ela dois segundos depois abriu os dela - Eu precisava de você.

Não pude responder. Eu não sabia qual era meu nome mais, não sabia o significado de sentimentos, não sabia o significado de mentalmente instável e nem de paixão. O que está acontecendo?

Não faço a menor ideia.

— Você e suas muitas palavras. - disse divertida, e eu ri, de alguma forma, eu ri sincero. Tenho um sério problema em me expressar através de palavras.

— Não me faça rir uma hora dessas! - ela riu, indo até a porta - Para onde vai? 

— Para o meu quarto. - respondeu, arqueando uma sobrancelha - Não se preocupe. Você passou muito tempo indo até mim, agora sou eu quem tenho que vir até você. 

— Por que, Delly? - perguntei, tentando compreender tudo. Meu coração estava frenético, pensando em Katniss.

— Porque... - destrancou a porta - Eu amo você. E vou lutar até você me dizer que não tenho chances.

Da mesma forma que surgiu no jardim, ela sumiu do meu quarto, esgueirando-se pela porta, fechando logo em seguida.

Encostei a testa na porta de madeira perfeita, fechei meus olhos, e uma lágrima teimosa escorreu pelo meu olho esquerdo, onde estudos apontam que significa que você está triste. Droga, por que eu não consigo compreender os meus sentimentos?! Katniss ou Delly? Katniss ou Delly? Katniss ou Delly?

Desde quando isso é uma decisão de escolha minha? A escolha não é minha.

Inverti a posição, colocando as costas na porta, então deslizei, até me sentar no chão.

Minha mãe não sabe direito quem eu sou, e sua doença avança a cada dia que se passa. Ben faz cinco anos daqui há cinco dias. Amélia está escondendo algumas verdades de mim para meu próprio bem. Stuart e Amanda perdiam sua adolescência/infância ao ver nossa mãe esquecer de si mesma e deles também, precisando fazer tudo dentro de casa. 

Sinto que traí a minha amiga Katniss, ao meu país, e principalmente, ao meu coração. Tenho que contar para alguém isso, no entanto, a única pessoa que eu podia falar sem filtros é a causadora de ligar o botão no liquidificador mental que eu tenho, e está batendo todos os meus sentimentos, pensamentos e emoções. 

O que estou fazendo aqui, droga? O que estou fazendo aqui?

Comecei a chorar descontroladamente, pensando na minha briga com Cato, e fiquei com muita raiva, porém meus pensamentos amargos foram quebrantados pela vozinha de Ben pedindo para eu ir para casa, então meu pai me dizendo que essa era a minha casa.

Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. Mateus 6:21. Lembrei-me de quando mais novo ir na Igreja e falarem isso. Onde está meu coração, meu Deus? Onde? Eu não tenho absolutamente nenhum conhecimento sobre o que fazer agora.

Não faça o que nossa mãe não deixasse que nós fizéssemos, Amélia disse na ligação, como se soubesse de tudo. Talvez soubesse. Stuart pode ou não ser confiável. Prefiro acreditar que sabe de tudo. Meus pais sempre fizeram com que eu e meus irmãos confiássemos uns nos outros, e que independentemente do que acontecesse, deveríamos sempre nos ajudar, nunca trair uns aos outros.

Eu estava traindo a Katniss ficando com Delly. Mas estava traindo a Delly ficando com a Katniss.

— Meu Deus, o que eu faço? - murmurei, balançando a cabeça.

O silêncio no meu quarto era nauseante, assustador. Gostaria de ir para o jardim, a estufa, ou para a casa da árvore, mas não podia mais por causa da hora.

Eu estou muito perdido, principalmente de mim mesmo. E não faço ideia do que posso fazer para me achar. E me odeio mais do que ninguém por isso.

 


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Notas finais do capítulo

Peço um milhão de desculpas pelos erros ortográficos e na edição. O que acontece é que daqui a pouco tem aula, de química, depois de biologia, e depois matemática. Linda terça-feira, não? *falso sorriso feliz*
O próximo é bônus, e poor isso, não posso revelar nada, mas posso sobre o próximo Pov Peeta! :)
Música: Here, Alessia Cara (ela deveria ganhar um Grammy simplesmente por existir)
" - Hey, garoto... - o guarda que estava segurando a maçaneta do escritório da rainha se pronunciou, com um olhar de pena - boa sorte. Você vai precisar.
Senti minhas pupilas dilatarem um pouco de tanto medo. Ela nunca chamou ninguém aqui, digo, nenhum Selecionado. Com certeza, estou muito ferrado. Deveria ter tido mais modo na mesa, e comido um pouco mais para não fazer desfeita.
Os dois abriram as portas, cada um, uma, revelando uma sala grande, com paredes pintadas em um pérola, um branco com brilho suave, que nunca incomoda os olhos, e tinha alguns porta-retratos nas paredes, todos ovais, com fotos da família, dos momentos mais importantes, como a preparação de Katniss para seus 18 anos - de acordo com as fotos na revista -, Prim andando de bicicleta, com o pai atrás, e ambos sorridentes, os quatro, com uma pose nobre, onde o rei e a rainha estavam em seus respectivos tronos, Katniss a direita do pai, e Prim a esquerda da mãe, de pé as duas, com roupas perfeitas. Ambas perfeitas na foto, com seus pontos mais bonitos em destaque, como os olhos e o sorriso no canto do rosto.
Havia uma da rainha grávida, e Katniss com o ouvido em sua barriga, fascinada, provavelmente tentando ouvir a caçula e sentir melhor os chutes. Tinha uma do casamento, e era em um porta-retratos um pouco maior. Ela estava em seu melhor dia, com certeza, e os olhos claramente brilhavam, assim como os do rei. Ninguém poderia dizer que o casamento deles é armação.
Katniss quer alcançar isso, e eu também. Quem não quer amar e ser amado? Mas seus pais pareciam diferentes, tendo essa semelhança com os meus pais. Eles brilhavam quando juntos, e de longe qualquer um via esse amor. Esse é o mais raro de se encontrar ao passar dos dias."
"- Isso, agora, próximos! - exigiu o fotógrafo, de forma um pouco rude. Katniss estava um pouco desconfortável, pela tonalidade de seus olhos cinzas, mas eu estava incomodado mesmo, com tudo isso, três câmeras em nossa direção para fotografar oito fotos diferentes entre eu e ela, mostrando o nosso nível de amizade, interação, para ser divulgado no Jornal Oficial, revistas, jornais, internet.
— Pausa! - ela ordenou, puxando-me pela mão, ignorando os olhares incrédulos dos outros - Pelo amor, como estou desconfortável com esse vestido! - Ri, sentando-me ao seu lado, e ela ficou um pouco de costas para mim para que eu afrouxasse um pouco de sua roupa.
— Desculpe-me... acho que estou estragando tudo. - Bufou, negando imediatamente com a cabeça.
— Que? Claro que não, Peeta! - garantiu-me - Você fez tudo melhorar, ficando para o final. Não quero saber! - Jogou as mãos para o alto - Me recuso a fazer qualquer coisa até amanhã de noite, quando tiver o aniversário do Gale! - Sorri torto, abaixando um pouco a cabeça. Amanhã era o aniversário de Ben."
Por hoje é só... Até, pessoal!



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