O apartamento de Gillian está cheio de policiais. Vasculham o que agora é cena de crime. As mãos de Gillian, com sangue, estão sendo examinadas por uma mulher, que Gillian analisou por completo, talvez na tentativa de não pensar em Lily se jogando de sua janela.

—A outra. –diz a mulher em sua frente.

Rapidamente a loira ergue a mão.

Os pensamentos e os flashbacks atormentam a cabeça da doutora. É torturada por seus pensamentos. As palavras de Lily em cada encontro giram por sua cabeça. Havia, sim, alguns sintomas revelando a insanidade de Lily, relevando que ela era suicida, revelando que Lily era a culpada do ocorrido, é o que a loira acha.

—Pronto. –a mulher diz largando a mão de Gillian e fazendo sinal para que o detetive se aproximasse.

—Sou o detetive Robert, tenho algumas perguntas. A senhorita declarou para os primeiros atendentes que a vitima cometera suicídio, mas há indícios de luta corporal entre vocês duas. –ele faz uma pausa aguardando por uma interrupção, mas continua quando não há uma. –Algo a dizer?

—Chequem as pistas, ela simplesmente pulou após nossa briga. Eu não a empurrei. –diz Gillian sem olhar para o homem.

—Nós iremos. –ele diz e fecha seu pequeno bloco de notas. –Seu apartamento será liberado assim que se confirme a teoria de suicídio.

—Obrigada. Posso ir? –pergunta olhando para a porta de entrada do apartamento.

—Sim, mas não saia da cidade, por enquanto. –ele diz.

—Não vou muito longe, meu consultório é nesse andar mesmo. –ela diz com tom sarcástico enquanto pega seu casaco.

Gillian caminha até o corredor com pressa. Retira o celular do bolso de sua calça e tecla o número de Olivia após alguns toques vai para a caixa postal.

—Liv, Lily... –ela segura o choro. - Ela está morta. –faz uma longa pausa. – Me ligue assim que puder, por favor.

Após desligar caminha em direção ao seu escritório. Abre-o e senta no sofá de espera, leva as mãos, com sangue, até o rosto.

—O que aconteceu, Gillian? –ela se pergunta.

Ao retirar as mãos do rosto ela encara o sangue, exaspera-se, caminha apressada até o banheiro do local e liga a torneira, coloca suas mãos debaixo da água e as esfrega com força para sair o sangue quase seco. Assim que as mãos ficam limpas ela desliga a torneira.

Senta no chão, em frete a pia, e aguarda. Aguarda que passe seja o que for isso que está sentindo, essa mistura de raiva e tristeza, aguarda que Olivia chegue, aguarda simplesmente.

Quarenta e poucos minutos se passaram quando Olivia bate na porta.

—Gillian! –ela grita pela loira, preocupa-se com a demora por resposta.

Gillian levanta e corre até a porta para abri-la.

—Olivia. –ela envolve a morena em seus braços.

—O que aconteceu? –pergunta confusa. –Por que há policiais em seu apartamento?

—Lily veio me ver hoje. Eu briguei com ela...

—O que você fez? –pergunta Olivia assustada.

—Nada, digo, eu bati nela, nós brigamos. E ai... Ela correu, atravessou o vidro, Liv. Ela suicidou-se. Eu não pude fazer nada. Eu... Estava tão nervosa.

—O que os detetives disseram? –pergunta a morena.

—Meu apartamento está interditado até que se confirme que fora suicídio.

—Bem, você pode ficar na minha casa até lá. Mas acredito que não irá demorar muito.

—Obrigada. –a loira finalmente larga Olivia.

—Vamos sair daqui. –Olivia pega a mão de Gillian.

—Eu não quero descer. Eu não quero ver onde o corpo dela estava. –Gillian diz sem jeito.

—Tudo bem. –Olivia sorri. –Vamos ficar aqui.

As duas adentram o escritório.

—Vamos para minha sala. –Gillian diz abrindo a porta.

—Uau. –Olivia já esteve em um consultório, mas nunca vira no de Gillian. –É tão... Clássico. Você deveria dar algumas dicas para meu terapeuta.

—Obrigada. –Gillian diz com um pequeno sorriso no rosto.

A loira pede pra que Olivia sente no divã, destinado para paciente, e deita a cabeça sobre o colo da morena. As duas permanecem em silêncio. O som dos policiais no apartamento de Gillian está distante, mas é audível.

O celular de Olivia toca quebrando o silêncio.

—Desculpe eu preciso atender. –diz Olivia levantando, ela caminha para longe.

Gillian permanece calada. Seus pensamentos continuam a torturando, nem a presença de Olivia está ajudando.

—Gillian... –Olivia abaixa-se para olhar a loira nos olhos.

—O que aconteceu? Por que está com essa expressão? –pergunta a loira tentando compreender.

—Preciso ir. Tenho um novo caso.

—Não...

—Gillian... Lily foi estuprada. –Olivia diz com a voz mais calma que consegue.

—Como... O quê? Ela... Ela não pode ter sido estuprada. Ela não disse nada. Parecia a de sempre... –Gillian senta-se tentando organizar seus pensamentos.