Eu escolho Paris escrita por nana


Capítulo 2
Eu escolho Paris - parte II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Dirigiu até sua casa no automático. Não, o carro de Emily não sabia o caminho sozinho e ela tampouco usara o GPS. Era apenas seu subconsciente dirigindo-a para casa, enquanto seu consciente só conseguia focar-se naqueles cabelos ondulados e dourados que caíam sobre a pele clara e bronzeada da única mulher que amara em sua vida inteira, naqueles olhos azuis que sorriam cada vez que os lábios dela se abriam em um sorriso, daquele tipo de sorriso capaz de iluminar o mundo inteiro. Sua cabeça só conseguia pensar na dona de seu sorriso favorito: Alison.

Ouviu sua mãe chamando-a para o jantar, balbuciou qualquer coisa sobre não estar com fome. Sua mãe resmungou algo sobre ela ter acabado de voltar, sobre a importância de jantar em família, já que seu pai estava aí e nem sempre ele podia estar. Mas naquele momento Emily não se importou em dar meia volta e sentar-se à mesa, junto à família que tanto amava. Naquele momento, ela só precisava ficar sozinha, sozinha com seus sentimentos e lembranças.

Entrou em seu quarto que não mudara em nada desde a última vez que estivera aí, 5 anos atrás, antes de ir para a faculdade. Jogou a jaqueta sobre a cadeira da escrivaninha, retirou as botas e deixou aí mesmo do lado do móvel. A calça jeans foi parar no chão, atrás da porta, que Em acabara de fechar. Não, ela não era a mais organizada das pessoas, mas tampouco era uma bagunceira. Mas naquele momento não tinha saco para organizar suas roupas e manter o quarto impecável, como sua mãe havia mantido nesses cinco anos.

Não fazia nem 24 horas que Emily tinha voltado. Era apenas seu primeiro dia de volta em Rosewood, apenas suas primeiras horas de volta à sua casa, àquele quarto, àquela cidade que tantas lembranças guardavam. Sentia como se pudesse afogar-se a qualquer momento, entre tantos flashes e memórias, a cada segundo novos sorrisos e lágrimas, a cada instante fotografias reproduzindo-se em sua mente, como um rolo daqueles que Aria sempre carregava na bolsa, mostrando seus últimos cliques. Como se a vida de Emily tivesse sido registrada em vários filmes, como se sua mente tivesse guardado cada segundo de tudo que havia vivido até hoje. Como se isso fosse possível!!! Emily retorcia-se por dentro. Ninguém lembrava de tudo, ninguém guardava tudo, pessoas tiram foto por isso, porque não conseguem guardar tantas lembranças na memória. Então... Por que parecia que ela havia enchido sua cabeça de sequências fotográficas instantâneas?

Sacudiu-se tanto, tentando expulsar aquelas memórias, que se sentiu tonta. Jogou o blusão que vestia ao pé da cama, ficando apenas a boxer feminina preta que usava e a camiseta colada da mesma cor. Sentou na cama, encostou-se nos travesseiros e fechou os olhos, esperando que sua cabeça parasse de girar. Mas o que viu ao abri-los fez seu estômago dar saltos dignos de olimpíadas.

Alison sorria. O sorriso mais lindo que já vira em sua vida inteira.

– O que faz aqui? – Perguntou sem acreditar que Ali estava realmente ali.

– Não quer que eu esteja aqui?

– Não. Sim. Digo... não sei se é real, ou se minha cabeça está inventando isso, não seria a primeira vez.

Uma lágrima escorreu por sua bochecha até tocar seus lábios. Amarga. Com gosto de saudade.

– Sentiu saudades de mim?

– Todos os dias – confessou Emily.

– Posso ficar aqui com você? Para conversarmos...

– Sim... minha mãe não vai se importar. Já somos grandes o suficiente para saber o que estamos fazendo.

Alison sentou-se ao lado de Emily na cama e encostou-se ao travesseiro.

– Tanto tempo se passou – Emily comentou – é estranho estar de volta.

– Também me sinto estranha estando de volta – Emily não entendeu, Alison havia ido a algum lugar? – Senti sua falta.

– Olha... Eu não sei o que dizer. Nem sei se devo dizer. Mas você está aqui e não sei, mas creio que isso pode ser um sinal. Você veio até mim, talvez seja uma luz que o universo me enviou para que eu saiba que já é hora de te confessar tudo que senti esse tempo todo. Eu não sei se é o certo a fazer, se isso vai lhe confundir. Mas tantas vezes escolhi a tantas pessoas em vez de escolher a mim, em vez de me abrir e dizer o que sentia e pensava. Eu cansei de esconder meus sentimentos, talvez seja um pouco egoísta, mas preciso falar.

Emily falou tudo sem pausas para respirar. E pensava continuar da mesma forma, soltar tudo de uma vez, tudo que levava preso em sua garganta, em seu coração e em sua mente. Mas Alison não parecia querer ouvir, pois colocou seu dedo indicador suavemente sobre os lábios de Emily.

– Shhh – sussurrou – eu não preciso ouvir nada, sei exatamente como você se sente. Eu sei, você foi o mais difícil de deixar para trás, também senti saudades. Aqueles beijos. Eles não foram só para praticar. Seus sentimentos eram correspondidos.

O coração de Emily deu um solavanco. Até parecia que aquela era a primeira vez que ouvia aquilo. Quando, na verdade, não era. Emily quase podia sentir como se estivesse revivendo um dos momentos mais íntimos que tivera com Alison.

– O que você está fazendo aqui? – Emily perguntou novamente, mas a pergunta que não queria calar, na verdade, era outra – Você está mesmo aqui? – Indagou em tom de súplica.

Alison aproximou-se dela, perigosamente. O coração de Emily batia tão rápido, tão forte, tão alto, que mais parecia um tambor desses que marcam o passo da marcha, a cada 4 de julho, em todas as cidades estadunidenses.

– Eu senti sua falta – Emily ouviu a voz de Alison repetir em tom mais alto, competindo com as batidas de seu coração.

Então, finalmente, o coração de Emily silenciou. Silenciou totalmente. Por um segundo, ela pensou que havia parado de bater. Estaria morta agora? Logo depois, ele voltou a batucar como antes, em tom mais baixo, mas em maior velocidade, como se trotasse ao ritmo daquela sensação que as duas compartilhavam naquele momento.

Alison a havia beijado. Havia suavemente se aproximado mais a ela e havia colocado seus lábios sobre os dela, devagar, deixando-a acostumar-se. Há tanto tempo não sentia aqueles lábios sobre os seus que Emily achou que estava sonhando. Mas não podia estar, sentia tanto calor e, ao mesmo tempo, tanta calma, como se não pudesse estar em nenhum outro lugar no mundo a não ser ali, entre os braços de Alison, com suas bocas coladas e suas línguas entrelaçadas.

O gemido sussurrado de Alison entre os lábios de Emily fez com que esta agarrasse a cintura de Ali, subindo o vestido que a loira usava, e a puxasse para cima de seu corpo, encaixando-as. Alison agarrou-a pelo pescoço e nuca, acariciando aqueles cabelos macios e escuros e fazendo que a morena arrepiasse desde a ponta dos pés até o último fio de cabelo. Tremiam. Emily tocava as costas de Alison, em um meio abraço, em um mundo de carinhos, em um infinito de saudade. O beijo não parecia ter fim, pois elas não queriam desgrudar-se, não podiam desgrudar-se.

Seus corpos dançavam, encaixando-se, como se seguissem a mesma sinfonia, em uma mesma sintonia, como se fossem um só corpo, uma só alma, naquele beijo.

A pele cor de oliva de Emily brilhava em meio a tanto calor. Um leve suor escorria pelas costas de Alison enquanto Emily lhe tocava a cintura e as costas. Tanto calor. Tanta paixão. Tanta saudade.

Enquanto suas línguas ainda entrelaçadas ditavam um beijo em ritmo feroz e apaixonado, seus corpos encaixados levavam um ritmo ainda mais acelerado. O calor elevava-se. Emily quase podia sentir como se estivesse em uma sauna. Queimava e queimava e não parecia ter fim.

Em algum momento, em um estalo, o beijo parecia ter-se desfeito, o calor deixou de ser aconchegante e apaixonado e parecia ter se tornado incômodo.

– Nós estamos nos machucando, nós estamos nos queimando – a voz de Alison dizia, mas parecia estar tão distante, mesmo estando bem ali diante dela – nós nos destruímos. Mas eu amo você. Foi você de quem eu mais senti saudades...

Parecia que estavam afastando-se. Emily não podia deixá-la ir.

– Fica, por favor, fica. Eu senti tanto sua falta.

Emily puxava e puxava e puxava. Puxava Alison pelos braços, pela barra do vestido, pelas pontas de seus cabelos. Mas nada a trazia de volta, tudo que parecia haver entre elas era distância. Onde há pouco havia calor só parecia haver distância. De novo. Só havia distância.

A distância parecia sufocá-la. Afogava-se nela como sempre se afogava em seu mar de lembranças. Doía o peito, doía a saudade, doía a busca frenética por ar, ar que jamais podia ser encontrado por Emily, a menos que Alison voltasse para ela.

– Volte. Por favor, volte! – Suplicou em meio a lágrimas.

Agarrada aos lençóis, o corpo de Emily sacudia-se de forma violenta pela falta de ar. Ela queria respirar, ela precisava respirar.

– Abra os olhos – Emily ouviu a voz de Alison, lá longe – abra seus olhos.

Ela podia vê-la ao longe! Não estava com os olhos fechados! Tentou dizer isso a Alison, dizer que tinha os olhos abertos, que podia vê-la.

– Abra seus olhos! – Alison repetiu outra vez.

E, então, Alison sumiu. Porque Emily havia finalmente aberto os olhos.

Enquanto o ar parecia finalmente retornar a seus pulmões, as lágrimas pareciam querer sair de Emily como uma avalanche, empapando seu rosto, os lençóis e os travesseiros e inundando-a de tristeza.

Fora um sonho. Uma vez mais, fora só sua mente lhe pregando peças. Uma vez mais despertara e só restava dor e saudade. Não podia acreditar. Não podia conformar-se. Havia sido tão real. Maldita cabeça que parecia unir lembranças do passado com Alison com desejos de um futuro ao lado dela e fazer sonhos tão incrivelmente reais que faziam Emily ter certeza de que nunca amaria ninguém como amava Alison.

Enrolou-se consigo mesma, como uma tartaruga dentro de seu casco, recolheu-se a seus desejos mais íntimos e a suas tristezas mais profundas. Fechou os olhos. Não queria mais lembrar, não queria mais pensar, não queria mais sofrer. Mas queria Alison. O que fazer para esquecer? Seria capaz de esquecer? Ou melhor... queria realmente esquecer?

...


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Notas finais do capítulo

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