Secret Memories escrita por Dream


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

"Recomeçar não é fácil, mas é algo admirável. Poucos são os que têm a coragem de recomeçar tudo de novo, muitos preferem ficar sofrendo com medo de lutar e falta-lhe a coragem de fazer algo assim, mudar de vida."
— Lourdes Duarte.



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Assim que a governanta saiu do quarto, Elena largou a mala no chão, colocou a bolsa e o equipamento fotográfico sobre uma cadeira e correu em direção às portas francesas abertas, saindo no balcão. Dali pôde perceber que de seu quarto avis­tava o terraço, onde estiveram momentos antes. A hera crescera entre as treliças do balcão, proporcionando uma certa priva­cidade em relação aos quartos vizinhos. O mar azul-esverdeado, brilhante pelos raios de sol, abria-se à sua frente em todo seu esplendor, adornado por iates brancos e windsurfes. Um iate estava parado no ancoradouro, à direita, Elena podia ver os telhados verdes das casas ao longo do semicírculo da praia em forma de lua crescente.

Esticou os braços acima da cabeça, a fim de aliviar a tensão. Passou os dedos pelos fios longos e sedosos, erguendo-os, para, em seguida, deixá-los cair livres como cascatas de ouro.

Fitava o oceano com ar sonhador, deliciando-se com a in­descritível cor verde-azulada da água.

— Belíssima! — murmurou. — Uma vista absolutamente maravilhosa!

— Concordo.

Ao ouvir as palavras ditas com suavidade, Elena prendeu a respiração. Allan. Sentiu as pulsações se acelerarem só em imaginar que ele observara todos os seus movimentos. O tom de sua voz não deixava dúvidas de que a admiração demons­trada não era pelo mar. Em vão tentou vê-lo.

— Aqui, El.

Ouviu o farfalhar de folhas vindo da esquerda. Virou-se nes­sa direção, mas a videira que encobria as treliças impedia que o visse. Ele riu.

— Será que não posso ter um pouco de privacidade? — Elena indagou asperamente, irritada pela presença indesejada. — Quem poderia imaginar que um homem como você chegaria ao ponto de espreitar...

— Um homem como eu? — Allan não conteve as gargalhadas. — Diga-me, El, que tipo de homem pensa que sou?

— Hum... Se quisermos manter nossa amizade em nível civilizado, não acho uma boa ideia manifestar minha opinião. — Elena esquivou-se. — Agora, se me der licença, vou entrar. Quero tomar um banho.

Sem esperar pela resposta, Elena entrou no quarto, fe­chando ruidosamente as portas francesas.

— Oh, Leonardo — resmungou desesperada. — Por que cargas d'água você foi ficar com sarampo justamente agora?

Elena ansiara muito por aquela viagem em companhia dele. E, no entanto, em vez de Leonardo, tinha como companheiro um arrogante chauvinista que se considerava um presente dos deuses para uma mulher.

Ou, pelo menos, um presente para ela!

Esbravejando, abriu a mala, escolhendo um short e um top. Concordara em esconder sua antipatia por Allan, enquanto es­tivessem na ilha. Prometera e, realmente, tentaria. Porém, a partir do momento em que cessasse o compromisso entre ambos e estivessem a caminho do Rio de Janeiro, não faria o menor esforço para demonstrar uma simpatia que estava longe de sentir. Aliás, faria questão de dizer a Allan, em alto e bom som, que o queria fora de sua vida.

Tomou um banho rápido e, depois de vestida, tremeu ao ver sua imagem refletida no espelho do quarto. Allan nunca a viu vestida daquele modo. Sempre a encontrava usan­do camisas de seda combinando com elegantes calças de linho ou saias de grife. Mais uma vez, não tinha escolha. A menos que preferisse derreter sob o sol escaldante do Caribe, preci­saria aparecer diante de Allan somente de short e top.

Enquanto prendia os cabelos numa trança, pensava irritada que fora até L'lle des Coquilles para fotografar a atriz mun­dialmente famosa Flame Cantrell e, em vez de concentrar-se naquela oportunidade de ouro, só se preocupava com a reação de Allan. Lembrou-se das palavras dele, ditas quase que cerimoniosamente: "Meu Deus, El, você é uma mulher incrivelmente bonita!"

Seu dedo tremeu ao tocar os lábios que ele beijara, no he­licóptero. Aproximando-se mais do espelho, olhou diretamente para dentro dos olhos azuis. Nunca alguém dissera que era bonita. Nem mesmo Rodrigo.

Rodrigo.

O nome do ex-noivo teve o efeito de uma ducha de água fria. Suspirando, Elena esfregou as costas da mão sobre os lábios, com força, como se assim pudesse apagar a lembrança do beijo enganador de Allan. Foi uma tola por ter se deixado envolver pelo truque mais antigo do mundo: lisonja.

Sabia que não era tão bonita. Nunca foi e jamais seria. Não imaginava o que Allan esperava lucrar com falsos elo­gios. De repente, sorriu diante do espelho.

As panteras machos não mentiam para conseguirem suas presas... acossavam-nas. O nome de Allan caía-lhe como uma luva. Ele, igual às panteras, acossava suas presas. E, naquele momento, tudo indicava que a presa era... ela própria.

Elena não pretendia transformar-se em presa de pantera alguma. Esperava que ele percebesse isso o mais rápido pos­sível. Não estava à disposição no mercado do amor. Muito me­nos no mercado do sexo!

Porém quando ouviu as batidas suaves na porta do quarto, não conseguiu evitar que seu coração disparasse.

— Já estou indo! — respondeu. Calçou as sandálias e deu uma última olhada no espelho antes de sair do quarto.

Costumava correr e praticava exercícios físicos três vezes por semana, numa academia. Por esse motivo, tinha um corpo per­feito. Era forte, sem perder a delicadeza da feminilidade. O rosto sem maquilagem e a trança davam-lhe um ar de adolescente.

Respirando fundo, abriu a porta. Não conseguiu evitar um sorriso de admiração pelo homem parado à sua frente.

Allan vestia camiseta azul-clara e bermuda marinha. Os cabelos, ainda molhados, estavam puxados descuidadamente para trás. Elena nunca o vira tão atraente. Entretanto, não foi somente a aparência física que causava o impacto. A masculinidade latente emanava do corpo dele em ondas de sensualidade, força, magnetismo... ondas que a en­volviam e que pareciam arrastá-la, tão inexoravelmente quanto as ondas perigosas do mar.

Allan estava apoiado na parede em frente ao quarto, com as pernas cruzadas e as mãos nos bolsos. Assim que a viu, en­direitou-se e, em passos lentos, caminhou na direção dela. O olhar penetrante a avaliava detalhadamente, como Elena previra. Os olhos brilhavam e as pupilas se dilataram, como Elena também previra.

Nunca, em toda sua vida, Elena se conscientizara tanto de sua aparência: do modo como os seios firmes arfavam sob o tecido fino do top, da curva dos quadris marcada pelo short curto, das pernas bem torneadas...

Quando Allan parou diante dela, Elena sentiu-se incapaz de mover-se. Com uma das mãos, ele segurou-lhe o queixo, fitando-a dentro dos olhos. A fragrância da loção pós-barba pairava no ar, inebriando-a. Os sentidos de Elena reagiram aos apelos do perfume íntimo, erótico.

— Oh, El, meu amor! — ele murmurou. — Você é tão bonita, tão jovem... Não tinha a menor ideia...

— Não sou tão jovem — protestou ofegante. — Tenho vinte e seis anos.

— Vinte e seis? — ele repetiu incrédulo.

Os olhos castanho-amarelados, como dos felinos, brilhavam, perscrutando-a, como se quisessem ler dentro de sua alma. Apesar de determinada a permanecer indiferente aos encantos de Allan, ela sentiu abalada por alguns momentos.

— Você parece muito mais jovem — Allan continuou encan­tado com a mulher que descobria em Elena. — Mas seus olhos... transmitem sabedoria, perspicácia e tristeza... Muita tristeza.

Perturbada, Elena virou o rosto.

— Ele realmente a magoou... aquele homem com quem se envolveu no passado. A dor ainda está em você. E deve estar há muito tempo. Nunca havia reparado, porque nunca a olhei atentamente, como agora. — Piscando, seu olhar desceu, detendo-se nos lábios de Elena, o que fez surgir um clima de tensão entre ambos.

Ela sabia que Allan a beijaria novamente. Também sabia que não conseguiria impedi-lo. A menos que se afastasse dele, e depressa.

Com um movimento rápido de cabeça, livrou-se da mão que ainda segurava seu queixo.

— Oh, céus! — exclamou com uma indiferença que estava longe de sentir. — Quem diria que você tem uma imaginação tão fértil! Com certeza, você a está desperdiçando na sua linha de trabalho, onde se limita a narrar os fatos como são, nus e crus, sem fantasias. Nunca pensou em escrever algo diferente? Talvez novelas. Parece que você tem um talento especial para melodramas!

Allan movimentou a cabeça, com ar de reprovação.

— E, você, El, meu amor, tem o péssimo hábito de agir com frivolidade, todas as vezes em que tento falar sério. Já conheci mulheres assim antes. Mulheres que se valem de iro­nias como um escudo para proteger o arsenal onde escondem suas emoções. Quais emoções está tentando ocultar, El? Se­rão tão vulneráveis que...

— Não consigo imaginar por que está tão interessado em minhas emoções. Afinal, ambos sabemos que o que lhe interessa realmente é meu corpo! — Ergueu o lábio superior com des­prezo. — Você disse que conheceu mulheres iguais a mim. Muito bem. Também conheci homens iguais a você. Homens que se recusam a admitir que uma mulher pode encontrar toda a satisfação que desejam numa carreira bem-sucedida. Homens que, arrogantemente, acreditam que a carreira de uma mulher é apenas uma substituta para o amor que elas não podem ter. Que sob a aparência de uma mulher de sucesso, existe uma ninfomaníaca frustrada que não deseja nada mais do que atirar-se nos braços de qualquer homem que a quiser!

— Não qualquer homem, El. — Os lábios se Allan se cur­varam num sorriso. — O homem certo.

Ela riu com desdém.

— Agora, quem está tentando transformar a conversa numa piada é você.

— Não, El. Estou falando sério. — Passou um braço pelos ombros dela, segurando-a com firmeza, para que não escapasse. — Concordo que, para algumas mulheres, uma carreira bem-sucedida é o único e grande objetivo da vida. Mas você não está incluída nesse rol. Tenho certeza. Você é uma mulher feita para amar e ser amada.

— Creio que você está tentando me manipular. Tentando me convencer de que é o homem certo para mim e...

— Eu sou, El. — Riu. — Sou mesmo. Verá quando o momento chegar.

— Quando o inferno se transformar numa geleira, talvez! — Elena desvencilhou-se dele. — Agora, melhor descermos. Já passou das oito. — Com passos decididos, caminhou pelo corredor, em direção à saída. — Não é nada elegante deixarmos nossa anfitriã esperando, não é?

— Você está fugindo, El. Como sempre faz, quando não quer enfrentar uma situação com a qual sabe que não conse­guirá lidar.

— Ora! Posso lidar com você — defendeu-se, sem se voltar. — E com as mãos atadas às minhas costas! Está delirando, se pensa que estou fugindo de você.

— Talvez, não de mim, mas de alguma coisa. O que é, El? Gostaria de ajudá-la, se quiser.

Elena parou abruptamente, no topo da escada de ferro.

— Será que minha mensagem não foi clara demais? Deixe-me só. E pare de intrometer-se na minha vida!

Sem esperar pela resposta, desceu as escadas, segurando com firmeza no corrimão. Seus olhos estavam cheios de lágri­mas. Emocionara-se por Allan ter-lhe oferecido ajuda. Ela sentira ternura na voz dele. Sinceridade.

Assim que colocou os pés no terraço, passou a mão trêmula nos olhos. A última coisa que desejava era que Allan descobrisse o quanto estava vulnerável emocionalmente.

Desejou ter alguns momentos para recompor-se. Mas não tinha. Respirando fundo, seguiu ao encontro de Flame Cantrell. Esperava que a atriz estivesse tão preocupada com a própria importância que não notasse sua agitação.

Acreditando piamente nessa possibilidade, atravessou o ter­raço que a levaria para o interior da casa.


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Notas finais do capítulo

Sei que andei demorando para postar porém estava em semana de prova, então tive que estudar porém deixei esses dois capítulos prontos (o anterior e esse)!
Espero que estejam gostando!
Beijos da Dream!



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