Secret Memories escrita por Dream


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

"Trocaria a memória de todos os beijos que me deste por um único beijo teu. E trocaria até esse beijo pela suspeita de uma saudade tua, de um único beijo que te dei."
— Miguel Esteves Cardoso



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/647690/chapter/4

— Você já esteve no Caribe antes? — Allan perguntou.

— Não. — Elena olhou de relance para Allan, sentado ao seu lado no helicóptero particular, que os esperava no Aeroporto. — Quase. Era para estas ilhas que planejávamos vir.

Era onde planejavam passar a lua-de-mel. Rodrigo e ela. Repreendeu-se intimamente por ter sido tão descuidada. Não pre­tendia fazer confidencias diante daquele homem.

— Nós? — ele indagou, quase com indolência.

Antes de responder, Elena deteve-se na paisagem mara­vilhosa que avistava pela janela do helicóptero. O mar cor de turquesa brilhava, entre a quantidade de ilhas espalhadas de­sordenadamente, como joias verdes de um colar quebrado.

— Um amigo e eu. — O tom de voz não deixava dúvidas de que não estava interessada em discutir sobre o amigo.

— Um homem. — Allan ajeitou-se no banco.

Com o movimento, Elena sentiu a pressão do braço dele contra o seu. Afastar-se era impossível, pois estava senta no banco ao lado da janela. O voo demorara mais do que o previsto. A suspeita da existência de uma bomba no Montreal Dorval Airport atrasou a partida em várias horas. Cansada, Elena adormeceu no avião, acordando somente ao amanhecer. Surpresa e embaraçada, descobriu que usou o ombro de Allan como travesseiro. Apressou-se em pedir descul­pas. O tom cerimonioso de Elena provocou risos em Allan.

— Não se preocupe. Foi um prazer passar a noite com você. — Ela o fulminou com o olhar. Porém, a despeito da indignação que sentia, não pôde deixar de notar como Allan estava atraente com a barba por fazer. Virou o rosto rapidamente, para conter o impulso de segurar o queixo firme dele entre suas mãos macias.

— Quem era ele? — A voz de Allan trouxe-a de volta à realidade.

— Apenas um amigo. — Encarou-o com olhos frios. — Não significa mais nada em minha vida. Ok?

— Ah! — Ele movimentou a cabeça, como se as palavras dela tivessem explicado algo importante. — Quer falar a respeito?

Elena olhou-o, perplexa.

— Falar a respeito? Com você? Para quê? — Allan encolheu os ombros.

— Ora, estou interessado. Há quanto tempo romperam?

— Há quatro anos, mas...

— Onde ele está agora? Ainda está... por perto?

— Não. Pelo que eu saiba, vive na Califórnia. Ele trabalha numa companhia cinematográfica.

— Ator?

— Cameraman. — Elena soltou um suspiro profundo. — Olhe, prefiro não falar sobre o assunto...

— Então, foi ele quem rompeu. — A voz dele soou macia como veludo. — As feridas ainda doem, não, El? Desculpe, não pretendia entristecê-la...

— Oh, já estamos pousando! — ela o interrompeu, apontando para a janela. — Aquela deve ser L'lle des Coquilles. — Es­perava que ele entendesse, definitivamente, que dava o assunto por encerrado. Forçando-se a não lhe dar atenção, observava a ilha que começava a revelar-se diante de seus olhos. Tinha o formato de lua crescente. As ondas fortes do Atlântico batiam violentamente na costa leste da ilha, delineada por praias de areias alvíssimas, protegidas por palmeiras.

Allan inclinou-se para olhar pela janela, e seus cabelos escuros roçaram o rosto de Elena.

— Aquela deve ser a mansão de Cantrell — disse.

Ela se retraiu, perturbada com a proximidade dele, mas Allan pareceu não notar seu movimento. Indicou um promontório, onde se via o telhado vermelho de uma vila que se estendia em direção a sudeste.

— Parece ser a única casa grande da ilha — acrescentou. — Obviamente, com a melhor localização.

O perfume que exalava do corpo dele penetrou as narinas de Elena, abalando seus nervos.

— Se você me der licença, gostaria de pegar minhas coisas — pediu num fio de voz. Virando-se, quase tocou no rosto dele. Os olhos castanhos de Allan transmitiam calor... mas quando fitaram diretamente os seus, ela percebeu que o olhar se tor­nava ligeiramente vidrado.

— Meu Deus, El! — ele exclamou com admiração. — Você é uma mulher incrivelmente bonita! Posso...?

Antes que ela pudesse se mover, Allan a abraçou, roçando os lábios nos dela. Um beijo tão leve quanto a brisa de verão, e dolorosamente suave. Elena sentiu algo até então desconhe­cido invadir seu corpo, fazendo seu sangue gelar nas veias. Subitamente, lembrou-se de que Allan Castanhari era uma com­plicação inútil, totalmente dispensável em sua vida.

— Podem desembarcar.

Uma voz masculina quebrou a magia do momento, tirando-os de um mundo que, apenas por alguns segundos, fora somente deles. Erguendo a cabeça, ambos encontraram o olhar irônico do piloto.

— Bem vindos a L'lle des Coquilles — ele disse, sorrindo. Elena corou. O helicóptero pousara, enquanto ela estava em órbita. E, enquanto permanecera em órbita, um estranho a observara, invadindo sua privacidade.

A culpa era toda de Allan. A raiva começava a ferver dentro dela. Num movimento rápido, ergueu-se, pegando a mala e o equipamento fotográfico, antes de encará-lo novamente.

Quando se fitaram, irritou-se com o ar inocente dele. Allan apon­tou a jaqueta que Elena pendurou no banco ao embarcarem.

— Você não precisará dela nos próximos dias — lembrou-a. O piloto ainda os observava, de modo que Elena limitou-se a dizer, enquanto pegava a jaqueta:

— Realmente, foi uma mudança maravilhosa, não? — Assim que o piloto aproximou-se da porta do helicóptero, para abri-la, ela murmurou entre dentes: — Nunca mais faça isso. Não se atreva a me beijar de novo. Nem mesmo tente invadir meu espaço novamente. Não gosto disso. Aliás, não gosto de você!

— Sim, foi uma mudança agradabilíssima. El, meu amor — ele respondeu num tom alegre e alto, ignorando a repreen­são. O sorriso encantador que iluminou seu rosto deixou-a ner­vosa, quase a desarmando. — Espero que você e eu tenhamos algum tempo para nadarmos juntos.

Ela não respondeu, decidida a não dividir seu tempo livre com Allan. Com um sorriso de agradecimento ao piloto, desceu os degraus. O calor abrasador se refletia no asfalto da pista. Allan caminhava ao seu lado. Um homem alto, forte, vinha ao encontro deles. Os cabelos grisalhos esvoaçaram sob as hélices do helicóptero, assim que o aparelho levantou voo.

O homem os cumprimentou com um aperto de mão.

— Sou Troy Bellows — apresentou-se. — Secretário parti­cular da Srta. Cantrell.

Troy os conduziu até uma escada estreita, cravada profun­damente num penhasco íngreme.

— Estou feliz por recebê-los na casa da Srta. Cantrell, em L'lle des Coquilles — continuou, enquanto subiam os degraus. — A governanta, Monique, os espera para levá-los até seus quartos. Poderão tomar um banho antes do café da manhã, que será servido dentro de meia hora... às oito.

Assim que chegaram ao topo, Elena parou para olhar a paisagem magnífica. À frente, havia uma piscina comprida e estreita, cujas águas esverdeadas brilhavam sob o sol. Adiante, as ricas águas cor de turquesa do Caribe. E, à sua esquerda, quase fazendo sua respiração parar, a deslumbrante vila de Flame Cantrell.

A mansão de dois andares era toda de estuque branco, com as portas pintadas de verde-claro. Cada uma das janelas havia sido pintada em diferentes tons pastel.

Construída em estilo espanhol, os quartos do segundo andar possuíam graciosos balcões. Uma videira imensa caía pelas paredes. Uma escada de ferro pintada de branco levava a um terraço no piso superior, onde qualidades incontáveis de flores enfeitavam um terraço. Elena reconheceu algumas. Prima­veras, brincos-de-princesa, hibiscos vermelhos, begônias. A maioria das flores ela jamais vira antes.

Inebriada pelo ar perfumado que inalava, instintivamente seus dedos abriram o trinco da caixa de sua Nikon. Com um suspiro, porém, conteve o impulso, decidindo que deveria es­perar pela permissão da anfitriã para começar a trabalhar.

— Suspiro de desejo, El? Desejando que este pedaço de paraíso fosse seu? — Allan ironizou, enquanto a segurava pelo cotovelo com firmeza, guiando-a em direção à varanda.

Desvencilhando-se dele, encarou-o através das lentes escu­ras dos óculos de sol.

— Não — ela respondeu no mesmo tom de desdém. — Estava apenas querendo começar meu trabalho.

O piso e a mureta da varanda eram revestidos de pedras amaciadas pela água do mar. Elena admirava a grande va­riedade de cactos floridos, espalhados pelos vasos de terracota. Cadeiras de madeiras, forradas por almofadas de tecido branco e azul, rodeavam uma mesa com tampo de vidro. No centro da mesa, um vaso antigo de prata com rosas vermelhas per­feitamente arrumadas.

Segundo o conceito de Elena, a decoração era de uma elegância simples, mas dispendiosa, que somente pessoas muito ricas poderiam pagar.

— Como já disse, o café será servido às oito horas — Troy repetiu. — Vou chamar Monique para levá-los até seus quartos. Com licença.

Assim que ficaram a sós, Allan pediu, em voz baixa e sem qualquer sinal de ironia:

— Enquanto estivermos aqui, gostaria que deixasse de lado suas diferenças em relação a mim. Se insistir em ser hostil, criará um clima embaraçoso, tenso, que não nos ajudará em nada. Independente do fato de estarmos hospedados na casa da Srta. Cantrell, somos considerados profissionais responsá­veis que formam uma equipe de trabalho. Acredita que con­seguirá superar sua antipatia por mim? — Ele passou a mão pelos cabelos escuros, revoltos pela brisa quente vinda do ocea­no. — Temporariamente, é claro! — Seus lábios se curvaram num sorriso maroto.

Elena ergueu os ombros, num gesto de indiferença. Aquele não era o momento para contestações. Infelizmente, concordava com Allan. Eram profissionais. Estavam ali a trabalho. Portanto, não tinha escolha. Entretanto, não sabia se conseguiria con­viver dois dias em paz com aquele homem. A única maneira que conhecia de lidar com ele era lutar com palavras. Respostas rápidas e agressivas eram suas armas. Sem isso, admitia, es­taria em desvantagem. A ideia não a atraía muito.

— De acordo — ela aceitou, com evidente contrariedade. — Temporariamente, é claro — acrescentou.

— Ótimo. — Allan estendeu-lhe a mão. — Vamos selar nosso trato com um aperto de mãos.

Após um instante de hesitação, Elena apertou a mão de Allan. O gesto foi rápido. Ele não fez qualquer tentativa para prolongá-lo. Mesmo assim, o calor da mão dele contra a sua foi suficiente para provocar uma sensação de adormecimento no braço inteiro.

— Negócio fechado — ela repetiu, afastando-se.

Aliviada, ouviu passos de alguém que se aproximava. Virando-se, viu uma senhora de cabelos brancos estilo afro e pele negra.

— Sou Monique — a mulher apresentou-se. — Governanta da Srta. Cantrell. Acompanhem-me, por favor. Vou mostrar-lhes seus quartos. — Apontando para a escada de ferro, caminhou pela varanda, seguida por Elena e Allan.

Ao chegarem no terraço, Monique abriu uma porta que dava para um corredor.

— A Srta. Cantrell colocou-os na parte final da vila — explicou — Este é o seu quarto, Sr. Castanhari. — Abriu a porta à sua esquerda. — Sinta-se em casa, por favor.

Caminhou até a porta seguinte, abrindo-a também. Invo­luntariamente, Elena virou-se. Seu coração disparou ao ver Allan ainda parado no corredor, observando-a.

— Temos tempo para um banho e trocar de roupa. — Ele olhou para o relógio de pulso. — Eu a chamarei dentro de meia hora, Ok?

— Ok — ela respondeu com um sorriso falso nos lábios, antes de entrar no quarto que Monique lhe mostrava.

— Espero que seja tudo de seu gosto, Srta. Gomes. Se precisar de alguma coisa, a qualquer hora, avise-me, por favor. O te­lefone está ao lado da cama. É só discar nove.

— Obrigada, Monique.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como minha vida anda tendo várias revira voltas, eu meio que estou passando numa fase bem dramática da minha vida. Uma verdadeira novela mexicana rs.
Espero que gostem .

Um beijo da Dream!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Secret Memories" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.