Your Hunger Games III - Fanfic Interativa escrita por Soo Na Rae


Capítulo 7
Rocha


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Rocha

"O amor é sempre criança, não tem preocupações" - Godofredo de Alencar

Tom Odell - Grow Old with Me

Olhou mais uma vez para ela. Sim, era Evangelinne. Só podia ser Evangelinne, embora houvesse um nariz fino demais naquele rosto e uma altura diferente da que ele lembrava. Mas eram tão parecidas... Sentiu o coração palpitar com mais força, enquanto corava berrantemente, em seu rosto branco e cheio de sardas. O vermelho era comum. Avermelhava facilmente, correndo por alguns minutos, jogando com as outras crianças, rindo até chorar ou olhando para uma garota bonita. Esta era especialmente bonita. Ele a olhava desde o sorteio. Quando a viu na televisão, dentro do aerodeslizador, teve certeza de que era a garota mais bonita que já tinha visto em sua vida de doze anos. Isso o ajudou esquecer que estava indo para os Jogos em sua primeira Colheita.

– Bem vindos, tributos.

Os pelos ruivos de sua nuca se arrepiaram, e desviou os olhos dela para olhar a instrutora. Ela era uma mulher comum, para os termos da Capital. Tinha cabelos brancos presos em um coque alto e olhos puxados. Sua pele era branca e pálida, feito papel. Os olhos, azuis claríssimos. Parecia... albina. Peter tinha lido sobre o albinismo em algum livro de ciências que encontrara na biblioteca da escola.

– Serei a orientadora de vocês nestes próximos três dias, onde treinarão para os Jogos. Alguns, como eu sei, já são preparados para isto, mas é bom lembrar que irão aprender também a sobreviver, algo que é tão importante quanto saber lutar.

Peter notou como ela sorria. Era um sorriso enigmático, fantasmagórico. Excessivamente hipnotizador. Gostava de como os olhos dela se voltavam para todos os lados, avaliando o ambiente. Gostava de como seus cabelos louros e finos caíam sobre os ombros nus. Gostava de como ela observava a todos com superioridade. Ela exalava astúcia. Parecia inalcançável. Peter apertou o próprio coração. Estaria se apaixonando novamente? Por mais uma inalcançável alma? Ele sempre sofreu por isso, era dócil demais para ser um garoto. Por que nasceu assim? Deveria ser uma menina, apaixonando-se tão facilmente. Ou quem sabe um garoto mais bruto e insensível...

O peito se afundou. Eram incontáveis as suas devoções, quantas já estiveram em seu pedestal? E nenhuma delas realmente o aceitou. Peter lembrava-se dos rostos de cada, dos nomes, dos irmãos que o bateram e das cartas não respondidas. Lembrava-se de todas as declarações já feitas, de todas as respostas já recebidas. Talvez fosse tempo de esquecer aquilo, ignorar o sentimento. Talvez assim ele crescesse sentimentalmente e conseguisse se controlar. Talvez. E todas mais velhas, céus, por quê só as mais velhas?

– Peter – ouviu e virou-se. Era Melody, a menina de seu Distrito que iria com ele para os Jogos. Ela tinha os comuns cabelos louros das pessoas da parte mais rica do Distrito, olhos como doces de caramelo. Ela não lhe falara muito desde que foram sorteados, na verdade Peter não prestava muita atenção nas garotas de sua idade. Elas eram todas bobas demais, com mentes limitadas. – Quer ir comigo aprender sobre fogueiras?

– Eu adoraria, Mel. – ele sorriu, como sempre, caloroso. Melody apenas virou o rosto e seguiu andando em direção onde um instrutor estava disposto para ensinar-lhes a montar fogueiras e acendê-las sem fósforos ou isqueiros. Era útil. Ajoelharam-se e prestaram bastante atenção em cada detalhe, até que pudessem fazer sozinhos uma fogueira. Peter iria acendê-la, afinal ele tinha mais força, e Melody organizaria os galhos. Ela o fez com perfeição, e restava que ele acendesse. Mas era muito mais difícil que imaginara. Uniu as mãos entre o graveto mais largo e rodou-o com ambas, descendo-as e friccionando uma madeira na outra. Entretanto nem mesmo fumaça escapou daquilo. Precisava de mais força. Seus braços eram descarnados, ele inteiro era miúdo. Quebrar ossos sempre fora um dos medos que o mantivera afastado dos demais garotos de sua idade.

– Está fazendo isso errado. – Melody lhe disse pela quinta vez, deixando Peter ainda mais envergonhado e desajeitado. Por fim, ela tirou o graveto de suas mãos e começou a fazer por si mesma o fogo. Sem saber o que fazer, observou, até que uma leve fumaça subisse da fogueira e então uma chama se tornasse em labaredas. Ela ergueu a cabeça, triunfante.

– Você é muito boa. – ele elogiou, assentindo a cabeça. A garota deu de ombros, levantando-se para perguntar algo ao instrutor. Peter olhou para ela, e então olhou para o resto do salão. E por algum motivo, seus olhos alcançaram-na, lá entre os mais velhos, sorrindo para outro rapaz alto e habilidoso. Dedos estalaram em frente aos seus olhos.

– Peter? Você está aqui?

– Ah, sim. – sorriu, constrangido, enquanto seguia Melody para o local onde aprenderiam a dar nós. Ele continuava se esforçando, mas era inútil. Não estava acostumado a utilizar suas mãos ou sua força. Ele preferia jogos de tabuleiro e decorar espécies de plantas. Mas não queria dizer aquilo a Melody, isso a deixaria triste, e Peter não queria deixá-la triste.

– Desculpe, eu realmente não sou bom com nada disso. – encolheu os ombros, enquanto se abaixava para sentar no chão. Melody o encarou por alguns segundos e depois deu de ombros.

– Se você acha que está me atrasando, então pode ir.

Peter achou melhor abandoná-la. Ele era um peso morto. Então andou em círculos, procurando outra coisa para fazer. O setor de insetos era interessante, porém já lera um livro sobre todas as espécies criadas pela Capital e algumas que sobreviveram à Terceira Guerra Mundial. O setor de flores era entediante e a instrutora parecia muito grosseira. Acabou por se aproximar do setor de venenos, que, coincidentemente, tinha apenas dois tributos: uma menina de algum distrito qualquer, e ela. Sua Evangelinne.

– Senhorzinho, veio aprender sobre os venenos? – perguntou a instrutora com um sorriso gentil. Ela lhe entregou um frasco pequeno com um líquido incolor. – Isso aí é ácido. Coloque dentro da garrafa de alguém e quando a pessoa perceber, estará se afogando em sangue.

Peter sentiu náuseas. Por outro lado, as outras duas não pareceram incomodadas com aquilo, então ele julgou que era algo que apenas crianças pensavam, excluiu aquilo da mente. Ele não queria ser mais uma criança. Havia uma mesa cheia de folhas, flores, vidros e outros líquidos que ele não saberia identificar. Eram rosa, vermelhos, azuis e outros sem cor que poderiam ser misturados a água. Havia diversos modos de matar alguém com veneno, entretanto a Capital não gostava muito deste método, pois eliminava a parte do combate emocionante que os fazia querer ver os Jogos. Os vitoriosos que se utilizaram de veneno não foram tão aclamados quanto aqueles que utilizaram armas como espadas, lanças ou tridentes. Em qualquer caso, Peter não tinha altura ou força para qualquer uma dessas opções. Ele provavelmente também não tinha uma mira boa, já que utilizava óculos, e não tinha coordenação motora suficiente para combates corpo-a-corpo. Mas ele sabia apanhar.

– Tudo o que há aqui eu já aprendi no meu Distrito. Não tem algo diferente? – perguntou a garota mais bela de toda Panem. Ele a observou de soslaio, enquanto manuseava um vidrinho de veneno feito de sementes de uma planta oriental. De perto, ela tinha lindas maçãs avermelhadas e pequenas sardas pela testa. Tão mínimas que ninguém perceberia caso não se aproximasse bem.

– Lamento, mas isto é tudo. Aconselho a ir em outra plataforma. – disse a instrutora com o mesmo sorriso meigo. A garota revirou os olhos a abandonou-os, deixando o coração de Peter um pouco mais lento e mais tristonho. O menino a acompanhou se juntar ao seu grupo de amigos. Eram todos fortes e bonitos como ela.

Carreiristas – sussurrou alguém em seu ouvido.

Peter levou um susto tamanho que jogou-se para frente. Quando olhou para trás, viu a outra garota que estava lá com eles, embora ela tenha lhe passado quase despercebida. A menina tinha cabelos negros e olhos muito redondos, combinados a um rosto longo e tez branca, porém não pálida como a sua Evangelinne, ela tinha mais cor, quase amarelada. Seus olhos puxados a faziam parecer estar sorrindo o tempo todo, embora estivesse com os lábios franzidos. Peter não notou como ela era fofa, até aquele momento.

– O que disse? – perguntou, recompondo-se.

– Que são Carreiristas. – ela repetiu, apontando. – Ela, e aquele garoto. E todos eles. Você sabe, eles treinaram para isso.

– Eu sei. – Peter olhou novamente para sua musa e engoliu em seco. Ela era uma Carreirista?

– Soube que é do Distrito Um. – informou a outra. – A aliança está com os tributos do Um e do Dois, até o momento. Aparentemente os do Quatro estão demorando a se decidir. Será difícil se eles se juntarem.

– Obrigado pela informação. – ele agradeceu, meneando a cabeça, em seguida sorriu. – Meu nome é Peter, do Distrito Doze. Qual o seu?

– E isso importa? – ela perguntou – Logo estaremos todos mortos, Peter. Saber o nome de alguém não vai salvá-lo. – e então ela suspirou, parecendo contraditória, enquanto esticava a mão. – Eu sou Lizbett, Distrito Cinco.

Peter apertou sua mão, era pequena e macia.

– Prazer em conhecê-la, Lizbett. Posso chamá-la de Liz?

– Eu acho que... sim. – ela olhou ao redor. – Por que estamos nos apresentando?

– Eu não sei, minha mãe me ensinou a fazer isso quando conheço alguém novo. Lizbett, você sabe o nome da menina do Um? A loira.

– Ah, acho que é algum dessas pedras preciosas. O Distrito Um tem essa mania. É Diamante ou Rubi, algo assim. Eu não me lembro, não preciso lembrar. O nome dela não vai mudar nada. – Lizbett olhou novamente para ele – Assim como o seu não vai. Quando a Arena chegar, estaremos todos fadados a ser apenas peças para a Capital manipular, não existirá nossos nomes, nossas famílias, nossos sonhos. Apenas a sobrevivência e o vitorioso.

– Mas não adianta nada viver estes últimos dias como se fossem os últimos de sua vida. – ele respondeu – Pois você não sabe o que vem a diante. Não sabe como as coisas podem mudar com apenas uma palavra. – e então olhou para Melody dando nós, e para a garota do Distrito Um, rindo com seu grupo de Carreiristas. Não queria ficar sozinho, não queria ser um peso. Novamente Peter desejou ser mais velho.

– Parece que o almoço está chegando. – ela comentou, apontando as Avox que entravam com uma mesa cheia de pratos diferentes. Os tributos se juntaram ao redor dela, ávidos pela comida. Quando todos estavam lá, reunidos, a instrutora permitiu que comessem. Os Carreiristas se juntaram em uma das mesas maiores, no centro , enquanto os outros se espalharam em duplas ou em solidão. Peter pensou em se sentar com Lizbett, porém viu Melody comendo sozinha em uma cadeira afastada e resolveu se juntar a ela.

– Está tão bom quanto parece? – sorriu ao se aproximar.

– Melhor – ela respondeu, abaixando a cabeça loura e colocando outra colher na boca. – Está uma delícia.

– Seria legal ter isso no Distrito, não?

Melody o observou com o canto dos olhos e então deu de ombros, como sempre fazia quando queria discordar dele, mas não queria brigar. Aos poucos, Peter aprendeu a ler os movimentos dela. Era fácil. Depois de ler seis livros de psicologia, ler as pessoas era natural. Devorou a comida em seu prato, sentindo-se cheio, uma sensação que poucas vezes experimentou. Encontrou também com os olhos Lizbett, sentada longe e sozinha. Quando terminou, tratou de convidar Melody para treinar junto com ele e Lizbett. Assim todos estariam juntos e não sozinhos. Ele achou a ideia incrível.

– Não. – Melody colocou o prato limpo de lado.

– Mas ela é legal. É inteligente e gentil, você vai gostar dela, Mel...

– De inteligente e gentil eu já estou bem com você. – ela negou, com os olhos afiados feio um lince. – Se quiser ficar com ela, eu não me importo.

– Mas...

– Não insista, Peter. Você sabe que não podemos criar raízes, ela te mataria em menos de um segundo, sem piscar ou pensar. – Melody suspirou, segurando seus ombros. Ela, um pouco mais alta, o que era irritante, com os olhos sérios. – Eu não quero fazer amizades. E você deveria pensar o mesmo.

– Mas nós somos amigos! – ele revidou, quase suplicante. – Você não me mataria!

– Não somos amigos e nunca fomos. Você mal falou comigo em três dias! – Melody rebateu com a mesma força. – Você acha que sabe o que são amigos, mas não sabe. Você nunca os teve para saber.

– Mas qualquer pessoa que eu goste, já é meu amigo.

– Você é estranho. – ela bufou, dando-lhe um leve tapa na orelha, e então revirou os olhos – Vá com sua amiguinha, eu vou fazer nós.

E então virou as costas. Peter sentiu um leve rubor, afinal nunca uma menina havia lhe tocado daquele jeito. Estava envergonhado, claro, principalmente porque Melody lhe dera uma bronca. Então virou-se em direção a Lizbett e encontrou-a perto da estante de facas, ela observava as armas com cuidado, avaliando-as. Parecia interessada. Sim. eles estavam lá para aprender a matar um ao outro, não para fazer amigos. Mas nada o impedia de fazer aliados. Sorriu consigo mesmo e saiu correndo para a estante de facas.



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Notas finais do capítulo

Peter: https://albusyharry.files.wordpress.com/2008/10/fred-weasley-ii-forrest-landis.jpg?w=375
Personagem da Lord.
Lizbett: http://i57.tinypic.com/6qgumq.jpg
Personagem da Kira.
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Como a Lizbett não tinha photoplayer, eu escolhi um para ela a partir da descrição. E sobre a minha assinatura, quem perguntou, a menina ruiva não tem nenhuma relação com a história, ela é só uma modelo que eu gosto e fiz uma assinatura com ela.