Além do Caos escrita por Um Alguém


Capítulo 16
Capítulo 15 - O Final - Paarte 2




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Zeke estava debruçado sobre a Rachel, estrangulando-a com um cinto. Mas ela já havia morrido. O último suspiro de vida se esvaíra quando eu cheguei. Tarde demais. Tarde demais. Prometi salvá-la, protegê-la. E falhei.

Com o ódio dominando todo o meu corpo e queimando minhas veias, apontei a arma e atirei no calcanhar do Zeke, fazendo-o soltar a Rachel e cair. Fui até ele e comecei a chutá-lo. Rosto, costelas, peito, virilha.

– Lembra do que eu disse? - perguntei-lhe com a voz ameaçadora. - Disse que te faria sofrer tanto que você imploraria para morrer. Bom, espero que esteja pronto.

E bati nele. Bati e bati. Com a arma, com as mãos, com as coisas que encontrei pelo quarto. Quanto mais eu batia mais o ódio me impelia. Zeke foi ficando irreconhecível. Estava destroçado. Eu perdera o controle. Batera nele com tanta voracidade que mal notei que ele já havia morrido.

Caí de joelhos ao lado da Rachel. Ela estava nua, com o corpo tão mutilado que era difícil de olhar, e havia sangue por todo lado. Seu rosto estava inchado e cortado. Não conseguia acreditar que nunca mais a veria sorrir. Nunca mais ouviria a sua voz, nem apreciaria a força e a leveza nos seus olhos.

As lágrimas caíam sem o meu controle. Estava com falta de ar, com um buraco no peito, um buraco negro sugando tudo de bom e deixando só dor e tristeza. Havia perdido todos que eu amava. Estava sozinho no caos, perdido na escuridão.

– Meu Deus... - sussurrou uma voz surpresa.

Imediatamente peguei a pistola ensanguentada caída à minha frente e apontei na direção da voz. Parada à porta estava uma garotinha, de uns doze ou treze anos de idade. Suas roupas eram novas e limpas e ela tinha uma aparência saudável. Mas o que mais me chamou atenção foram os seus olhos castanhos. Olhos castanhos que olhavam como se pudessem enxergar minha alma, desvendar meus segredos e acabar com meus medos. Olhos que me lembravam os da Rachel.

– Vá embora. - ordenei-lhe apontando a arma.

– Eu preciso de ajuda, por favor. - pediu ela desesperada. - Lá fora está um inferno. Ouvi alguns homens dizendo que você era o cara que o Zeke estava perseguindo e que você viera para matá-lo. Os homens que andavam com o Zeke estão fazendo coisas horríveis e as pessoas estão tentando revidar.

– Vá embora. - repeti sem querer olhá-la nos olhos.

– Você matou ele, não é? - ela apontou para o corpo do Zeke a poucos metros de mim. - Matou ela também? - indicou a Rachel.

– Nunca faria nada contra ela. - abaixei a arma.

– Me ajude. Saia daqui você também. Se eles te pegarem aqui vão te matar.

– Talvez eu queira isso.

– Era isso que ela queria? - perguntou ela com a voz gentil. - Ela queria que você morresse sem lutar, que desistisse fácil assim?

"Não". A resposta era não. Tudo que ela mais queria era evitar que eu morresse, principalmente por causa dela. Mas a dor no meu peito implorava por um fim. Minha cabeça martela, se enchendo de lembranças. Eu só queria um pouco de pa. Só queria acabar com aquilo tudo.

– Por favor. - implorou a garotinha. Levantei a cabeça para olhá-la. Aqueles olhos tão familiares me encaravam desesperados. Seu cabelo loiro escuro e curto perfeitamente arrumado. Era estranho pensar que aquelas pessoas tiveram uma vida mais tranquila com o Zeke do que os meus amigos tiveram comigo.

– Qual é o seu nome? - perguntei a ela enquanto decidia o que fazer.

– Melanie. E você?

– Dexter.

– Por favor, Dexter. Se você não me ajudar, eu vou morrer. E eu não quero isso.

– Tudo bem. - concordei afinal. Faria pela Rachel.

Levantei-me devagar, cansado e dolorido. Peguei a pistola e parei de frente para a Rachel. A última vez que a veria. Lembrando da última vez em que nos falamos, dei as costas a ela e senti que estava morto também.

" - Eu sou louco por você, Rach. - disse-lhe aproximando mais nossos rostos. - Não posso te deixar ir.

– Eu sei, Dex. Eu sei. "

– Vamos logo. - disse passando pela garotinha parada a porta.

– Obrigada, muito obrigada.





Melanie corria devagar demais, então estávamos demorando mais do que eu gostaria. Conseguimos sair da casa sem ninguém nos ver e estávamos correndo por trás das casas, junto o muro alto do condomínio. Realmente achei que fôssemos conseguir sair sem sermos vistos. Engano meu.

Um sujeito, no mínimo, três vezes maior que eu surgiu de repente a minha frente. Aproveitando que eu fui pego de surpresa ele acertou-me um soco tão forte que eu pensei que havia sido atropelado por um caminhão, fazendo-me cair de costas no chão. No segundo seguinte ele já estava sobre mim. Com uma mão apertava meu pescoço, com a outra socava meu rosto.

Ouvi Melanie gritar. Entre um soco e outro consegui ver um garoto de, no máximo, dezenove anos, segurando ela. Melanie gritava e esperneava. Podia ouvi-la chamar meu nome, pedir socorro e implorar por ajuda. Mas eu não reagia. Meu rosto estava ficando dormente por causa dos socos e meus pulmões ardiam. Eu ia morrer. Simples. E talvez isso fosse bom. Talvez eu encontrasse a Rachel, a Dana, o Luke, o Jeremy, a Sally e a Kristin. Talvez eu fosse para algum luar bom. Talvez pudesse ter um pouco de paz.

Mas então, eu ouvi. A voz dela. A voz da Rachel. Doce e firme. Avistei ela parada atrás do sujeito que batia em mim. Ela estava como da primeira vez que a vi no estúdio de tatuagem. Ela dizia algo, mas eu não conseguia entender. Continuei olhando-a, tentando entender o que ela queria.

– Sobreviva. - disse ela em um sussurro. - Sobreviva.

O homem sobre mim parou de me bater e começou a apertar meu pescoço com as duas mãos. Seria um tanto quanto cômico se eu morresse estrangulado igual a Rachel. Rachel. Seu nome ardia dentro de mim." Sobreviva", dissera ela.

– Dexter! Dexter! – gritou Melanie desesperada.

Segundos. Talvez eu só tivesse mais alguns segundos de vida. Era difícil me mexer. Meu corpo não obedecia os meus comandos. Mesmo assim, com grande esforço, consegui alcançar o pequeno revólver preso a minha cintura. Coloquei a arma sob o queixo do sujeito e atirei. O estampido do tiro ecoou nos meus ouvidos. O corpo dele caiu flácido sobre o meu, mas não me movi. Não tinha mais forças. Respirava ofegante, tentando recuperar o ar.

– Dexter! – chamou Melanie vindo até mim. - Me ajuda, Lauren!

Uma garota ruiva pouco mais nova que eu apareceu no meu campo de visão. Ela e Melanie puxaram o corpo do cara morto, tirando-o de cima de mim. Melanie e a garota me ajudaram a levantar.

– Quem é você? - perguntei com a voz fraca ainda recuperando o ar.

– Lauren. - respondeu a menina ruiva. - Sou meia-irmã da Mel.

– Ela me salvou. - disse Melanie.

As duas não tinham muitas semelhanças. Na verdade a única coisa em que eram iguais era na magreza. O cabelo da Melanie era curto e loiro escuro, o da Lauren, ruivo e comprido, com uma franja. Felizmente os olhos da Lauren não tinham aquele tom quente e familiar da Rachel (e da Melanie). Eram de um castanho tão claro que pareciam verdes.

– Precisamos sair daqui. - disse Melanie apontando para a saída do condomínio a poucos metros.

Corremos em direção ao portão, ou o lugar em que um dia estivera o portão, já que eu o arrancara. Estava correndo tão lento quanto a Melanie, algo um pouco constrangedor. Por fim conseguimos sair. Mesmo assim não paramos de correr, colocando uma distância segura entre nós e os psicopatas no condomínio.

– Acho que já estamos longe. - comentou Lauren parando perto de uma pequena praça destruída.

– Como você está? - perguntou-me Melanie.

– Bem. - menti. Nunca mais ficaria bem de verdade. Não depois de tudo. Mas falar isso a elas não mudaria nada. - Vocês estão seguras agora. Achem um lugar para passar a noite, depois saiam da cidade. Aqui não tem mais nada.

– Como assim? - questionou Melanie surpresa. - Você não vai ficar com a gente?

– Não. Vocês não precisam de mim. Vão ficar melhor sozinhas.

– E você vai ficar sozinho por aí? Vai acabar morrendo. - disse Lauren.

– Eu já morri. - disse soturno. - Boa sorte para vocês.

E então, sem dizer mais nada, sem olhar para trás, fui embora. Deixei aquelas garotas sozinhas com a própria sorte. Deixei meu coração se desfazer em cinzas sopradas pelo vento. Deixei que as partes fragmentadas de mim se desprendessem.

Eu estava livre. Sem nada a perder, nada com que me preocupar. Nada além do vazio que me preenchia. Mas a liberdade, as vezes, é assustadora.


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Notas finais do capítulo

É isso, acabou. Espero que tenham gostado :)
bjss



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