Além do Caos escrita por Um Alguém


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos, Sobreviventes!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/647365/chapter/1

Acordei sobressaltada, olhando freneticamente ao redor. Felizmente não havia ninguém. Infelizmente...Não havia ninguém. Eu estava sozinha. Desde o Caos eu estava sozinha.

A alguns meses um asteroide (comicamente) denominado Ignoto atingiu a Terra destruindo tudo pelo caminho, causando o Caos. Além das milhares de pessoas que morreram com a queda do Ignoto, os que restaram começaram uma guerra pela sobrevivência contra as tempestades, a fome e contra as outras pessoas. Quando humanos ficam com medo e desesperados fazem coisas que nunca fariam. Tornam-se monstros.

O Caos levou tudo. Perdi meus pais, meus amigos, tudo que tinha. Desde então tenho vagado por ai, por entre os destroços, tentando sobreviver. Às vezes é dificil levantar e seguir enfrente. Quer dizer, para que continuar? Vale a pena continuar? Na realidade acho que não há mais motivos para continuar, mas desistir estava fora de questão. Quase o mundo todo havia morrido, mas eu ainda estava ali. Deveria haver algum motivo para isso. Então enquanto eu pudesse, seguiria enfrente.

Com isso em mente comecei a me preparar para seguir viagem. Havia passado a noite na sacristia do que um dia foi uma pequena capela. Era estranho pensar que nem a casa de Deus resistiu a tudo aquilo. Peguei uma lata de sopa e depois de abri-la, com certa dificuldade, tomei a sopa, que estava longe de ser gostosa. Tomei um gole de água da minha garrafa quase vazia.

Fechei o casaco de gola alta até em cima e cobri o nariz e a boca com um pano para me proteger da poeira e da cinza que empesteavam o ar. Muitos do que sobreviveram a queda do Ignoto morreram por conta das cinzas tóxicas.

Saí da capela passando por entre os escombros. Com a mochila nas costas e o pano no rosto comecei mais uma vez minha caminhada por entre a cidade destruída.



Já estava quase de noite quando resolvi parar. Precisava encontrar algum lugar para dormir. Estava no centro comercial, onde várias lojas haviam cedido ao Caos. O ar ali parecia um pouco melhor, então tirei o pano do rosto. Passei pelas vitrines das lojas tentando ver através dos escombros. Acabei escolhendo uma loja pequena que parecia não ter sido tão afetada quanto as outras. Na verdade era um estúdio de tatuagem.

Na parte da frente, onde antes havia uma recepção agora só havia móveis quebrados e uma parte do teto que havia despencado. Já nos fundos, onde era de fato o estúdio de tatuagem, as coisas pareciam quase intactas. Tintas, agulhas, máquinas de tatuar, tudo arrumado e organizado. Por um momento me imaginei ali, sentada naquela cadeira reclinável, fazendo uma tatuagem.

Meus devaneios foram interrompidos por passos atrás de mim. Virei-me apressada e deparei-me com um homem me apontando uma arma.Ele parecia um mendigo, ou um maluco(talvez os dois). Suas roupas estavam rasgadas e ele mantinha um olhar lunático. Seu cabelo comprido era de um loiro aguado.

- Olá, docinho. - disse ele com um sorriso macabro. - Você não devia andar sozinha por ai. Alguém pode querer te fazer mal. - ele se aproximava de mim enquanto eu recuava, tentando manter uma distância razoável entre nós. - Mas não se preocupe, querida. Eu não vou te machucar.

Recuei mais um passo e bati com as costas na parede. "Merda", pensei furiosa. Avaliando as opções, a situação não era nada boa. A cada passo que ele dava seu sorriso se distorcia mais, e meu coração batia com mais força. Minha cabeça girava a mil em busca de uma saída.
Por fim não havia mais espaço entre nós. Ele estava bem a minha frente, com a arma encostada na minha barriga. Sua mão livre segurou meu queixo, apertando meu rosto. Ele me beijou e instantaneamente eu o mordi, fazendo-o se afastar com um grito. Eu o mordi com tanta força que sua boca sangrava. Agora era eu quem sorria.

- Vadia! - xingou ele furioso vindo para cima de mim e dando com a coronha da arma no meu rosto.

Perdi o equilíbrio com o golpe e caí de lado. Ele me rolou no chão, me fazendo ficar deitada de frente pra ele, depois subiu em cima de mim. Pressionou meu rosto com a arma enquanto abria a sua calça com a mão livre. Minha visão estava turva por causa da pancada na cabeça, mas eu já me preparava para tentar ataca-lo, quando alguém chegou por trás dele, arrancando-o de cima de mim, e jogando-o contra a parede.

Era um garoto pouco mais velho que eu. Ele me lançou um olhar rápido como se quisesse ter certeza que havia chegado a tempo, depois partiu em direção ao maluco da arma, que já se levantava. O garoto era consideravelmente mais baixo e fraco que o outro, mas parecia mais bem preparado para aquele embate.

O homem tentou acertar uma coronhada no garoto, mas este foi mais rápido e desviou. Em seguida acertou uma sequência de três ou quatros socos. O sujeito mal encarado caiu no chão parecendo estar desnorteado, mas ainda segurava sua arma. Ele a apontou e atirou no garoto. O estampido do tiro zuniu nos meus ouvidos. Mesmo com um tiro o garoto caiu sobre o homem desferindo-lhe socos e mais socos. Ouviu-se outro tiro e depois um terceiro. E então acabou. O garoto rolou e caiu deitado ao lado do outro sujeito, que parecia estar morto já que uma poça de sangue começava se formar embaixo dele.

Ainda assustada com tudo aquilo arrastei-me lentamente até o garoto. Vi que um dos tiros havia pego no seu ombro direito. Seu rosto estava respingado de sangue, mas não parecia haver nenhum machucado. Em uma das mãos cobertas de sangue ele segurava a arma.

- Dana... - sussurrou o garoto. Ele me olhava mas parecia não me ver. - Dana, me perdoa...

- Não, eu não sou a Dana. - disse-lhe gentilmente. - Meu nome é Rachel. - seus olhos azuis entraram em foco. - Aguente firme, tá? - pedi-lhe enquanto pressionava o ferimento no ombro dele para parar o sangramento.

- Me ajuda. - pediu ele com a voz sumindo.

- Eu estou tentando. Estou tentando. - rasguei um pedaço da manga da sua camisa e coloquei sobre o machucado. Ele sufocou um grito de dor enquanto eu apertava o pano no ferimento.

- Você... precisa me tirar daqui.

- Mas...

- Eles... ouviram os tiros. Vão vir atrás... dele. - e apontou para o corpo inerte do homem. - Por favor.

- Como vou tirar você daqui? - questionei-o preocupada. Ele era pelo menos dez centímetros mais alto que eu, e com certeza eu não teria forças para carrega-lo machucado por aí.

- Me ajude... a levantar. - pediu ele.

- Péssima ideia. - reclamei. - Me deixa pensar por um minuto. - olhei rapidamente ao redor procurando uma solução plausível. Avistei a cadeira reclinável. Talvez ela tivesse rodinhas. Podia coloca-lo ali e ir empurrando. Mas as ruas estavam tão quebradas... - É isso. Espere aqui. - disse-lhe levantando apressada.

- Eu não tenho muito para onde ir. - respondeu ele. Ignorei o sarcasmo.

Saí pela porta dos fundos. Como eu imaginava, havia vários carros abandonados pela rua. Escolhi o mais próximo e rezei para que estivesse funcionando. As janelas estavam quebradas então foi fácil destrancar a porta. Me abaixei sob o painel e puxei os fios. Depois de algum esforço o motor pegou. Dei graças a Deus e voltei correndo para dentro do estúdio.

- Ei, você voltou. - comentou o garoto quando ajoelhei ao lado dele. - Achei que... fosse me deixar aqui.

- Não é hora de fazer drama. Precisamos ir. Está pronto?

- Sim, senhora.

Com um puxão coloquei-o sentado, o que rendeu um urro de dor. Depois com um solavanco consegui faze-lo ficar de pé. Passei seu braço esquerdo sobre meus ombros para lhe dar apoio. Como um tiro no ombro o havia deixado tão fraco? Saímos o mais rápido possível. Coloquei-o dentro do carro e voltei ao estúdio para pegar minha mochila. Vi que largada em um canto havia outra mochila. Peguei-a também. Voltei correndo ao carro.

- Você fez ligação direta? - perguntou ele enquanto eu manobrava o carro.

- Sim.

- Você é ladra?

- Não! - respondi ultrajada. - Meu pai era mecânico e me ensinou umas coisinhas.

- Sorte nossa. - ele fechou os olhos e encostou a cabeça no banco.

- Ei! - chamei-o. - Para onde eu devo te levar? Não temos muita gasolina.

- King's Avenue. Conhece?

- Sim, mas achei que as coisas para aquele lado estivessem bem ruins. - comentei preocupada.

- Nem tanto. - respondeu ele com uma cara de dor. - Já estiveram piores.

- Que ótimo.

- Vai ficar tudo bem. - disse ele tranquilamente e voltou a fechar os olhos. - Obrigado, Rachel.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)
Nos vemos no próximo capítulo. Aguardo vocês!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Além do Caos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.