As Regras do Amor escrita por Suy


Capítulo 18
Capítulo 18 - Sobre ter dois amores.




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Abbie chegou em seu apartamento, após receber uma mensagem de Nick dizendo que ela já poderia voltar, ao abrir a porta, viu que ele estava vazio. Ela avistou um bilhete em cima do balcão da cozinha e o pegou.

Obrigada por tentar, mas infelizmente o resultado não foi como o esperado.

Saí pra respirar um ar puro,

Beijos,

L.

Abbie ficou decepcionada pela sua Operação Cupido não ter dado certo, mas talvez era isso que Nick precisava, um choque de realidade para o fazer perceber que ele não pode agir da maneira que quer e não achar que terá consequências, então ela preferiu confiar no julgamento de Lisa.

A tarde passou vagarosamente, Dom não foi atrás de falar com ela sequer uma vez, nenhuma mensagem, ligação ou sinal de fumaça. Ao entardecer, Lisa voltou para o apartamento e assim contou para Abbie como tudo tinha acontecido com o fracassado pedido de desculpas de Nick.

“E foi isso... Ele pareceu ser muito sincero sabe?!” Lisa falou e Abbie assentiu.

“Mas mesmo assim achou melhor não desculpá-lo?”

“É que não podia ser assim muito fácil, se não ele ia achar que podia aprontar qualquer coisa e depois era só vir pedir desculpas que tudo ia ficar resolvido.”

“Até que faz sentindo...” Abbie concordou pensativa. “Então vai só, basicamente, fazer ele sofrer um pouco. É isso?”

“Exatamente isso.” Lisa sorriu. “Mas posso te falar? Fiquei tão aliviada que ele veio atrás de mim me pedir desculpas, eu achei que tudo tinha terminado mesmo.”

“Ele estava uma pilha de nervos antes de falar com você, tinha que ver.” Abbie riu. “Mas eu concordo que ele merece sofrer um pouquinho mesmo. Esses homens não tem coração.”

“Falando em quem não tem coração...”

“Não estou afim de falar no Dom agora.”

“E como sabe que eu ia falar nele?”

“Que homem mais eu conheço que não tem coração?” Abbie falou com diversão. “Acho melhor falarmos sobre o Ed e sobre o meu encontro mais tarde com ele.”

“Você tá podendo muito Abbie. Dois namorados não é pra qualquer uma.” Lisa jogou uma almofada em Abbie.

“Deus me livre! Não tenho nem um namorado, dirá dois.” Ela lhe deu língua. “Mas confesso que fiquei um pouco balançada sobre se deveria mesmo ir sair com Ed ou não...”

“Mas por quê?”

“Parece que Dom falou que não queria que eu saísse com o Ed. Pelo menos foi o que o Nick disse...”

“E por que raios ele mesmo não veio dizer isso a você?”

“É isso que eu não entendo.” Abbie bufou. “Dom é frustrante.”

“Dom é um banana, isso sim.” Lisa revirou os olhos. “Agora se eu fosse você iria bem linda, maravilhosa e poderosa pra destruir o coração do Ed e ainda por cima, matar o outro palerma de inveja.”

“É... Se já confirmei que vou, o mínimo que posso fazer é ir linda.”

“E eu vou garantir que isso aconteça. Vem...” Lisa levantou e puxou Abbie pelo braço para dentro do closet.

...

Patrick já estava aguardando Abbie, ela pegou sua bolsa e parou em frente a Lisa.

“Ficou bom mesmo né?”

“Se ficou bom?” Ela virou Abbie na direção do espelho.

Abbie usava um vestido rosa claro, sem alças e estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo, deixando soltos alguns fios. Sua maquiagem era leve e ela usava uma sandália branca.

“É... Está muito bom.” Abbie sorriu vitoriosa.

“Aproveita o jantar e me conte tudo depois, quero saber todos os detalhes.” Lisa disse animada, fazendo Abbie rir.

Ela desceu e mostrou para Patrick o endereço que Ed havia mandado momentos antes.

“Grande noite hoje?” Patrick perguntou a olhando pelo retrovisor.

“Não sei ainda, mas espero que sim.” Ela falou sentindo um pouco de nervosismo a invadir.

Afinal, o que ela estava pensando? Era Ed e talvez as pessoas possam mesmo mudar, mas Ed ia ter que ter se esforçado muito para mudar do cara que era antes.

“Chegamos Abbie.” Patrick a avisou.

Ela olhou pela janela e viu o restaurante que Ed havia combinado o encontro. Parecia ser um ótimo lugar, bem próximo a praia, simples e elegante.

“É... Talvez não seja assim tão horrível.” Ela disse mais como um pensamento.

“Devo vir buscá-la?”

“Não, pode ir para casa. Amanhã você me busca no mesmo horário?”

“Com certeza.” Ele sorriu educadamente e Abbie desceu do carro, se despedindo de Patrick.

Abbie parou na entrada do restaurante e quando ia tirar seu celular de dentro da bolsa, ouviu alguém a chamando.

“Hey, Abbie!” Ed disse sorridente ao se aproximar dela. Ele usava uma calça escura e blusa de mangas branca. “Uau, está linda!”

“Obrigada.” Ela sorriu. “Já ia entrar no restaurante.”

“Não é aqui que vamos jantar.”

“Não?” Ela perguntou confusa. “Mas é o único restaurante aqui.”

“Não lembro de ter lhe dito que iríamos a um restaurante.” Ed falou vitorioso e Abbie cerrou os olhos. “Vem comigo?!” Ele estendeu sua mão para ela, que a pegou, mesmo relutante e eles começaram a caminhar em direção a praia.

“Vai me matar e esconder o corpo aqui na praia? Não é uma ideia muito brilhante, me achariam fácil.” Ela tirou os sapatos, se apoiando em Ed.

“Muito engraçada...” Ele riu. “Mas não, não vou te matar se é isso que te preocupa.”

“Um assassino não admitiria mesmo.” Abbie deu de ombros.

“E posso saber o que raios você tem na cabeça de vir jantar com um homem que você considera suspeito de ser assassino?”

“Acho que tenho muito tempo livre.” Ela falou com diversão.

“Acho que não tanto quando eu...” Ed a virou delicadamente para o lado, onde havia uma tenda branca cobrindo uma mesa rodeada por almofadas.

“Nossa!” Abbie falou surpresa, andando para mais próximo da tenta. “É sério?” Ela olhou para Ed que apenas sorria de orelha a orelha. “Não acredito que fez isso.”

“Não fiz, é um fato!” Ele levantou as mãos, se rendendo. “Apenas contratei pessoas para fazerem. Você sabe que meus dotes na cozinha são bem limitados.”

“Ah, eu lembro bem...” Ela falou voltando sua atenção à mesa posta em sua frente.

Ela tinha uma salada, salmão, várias frutas, uma pequena torta e vinho para eles.

“Gostou?” Ed perguntou esperançoso de que a resposta fosse positiva.

“Se eu gostei?” Abbie o olhou ainda sorrindo. “Achei tudo incrível! Posso sentar?”

“Claro, por favor.” Ele pegou a bolsa e os sapatos de Abbie, os colocando de lado e ela sentou no chão, que estava coberto por um pano branco e pegou uma almofada, colocando em seu colo.  Após acomodar Abbie, Ed tirou seus sapatos e sentou ao lado dela. “Salada primeiro?”

“Por favor.” Ela assentiu e ele começou a servi-los com a salada, depois pôs vinho nas duas taças. “Está maravilhosa.” Abbie falou enquanto terminava de comer.

“Não mais que você.” Ed falou sério e Abbie sentiu-se corar.

“Desde quando leva tanto jeito assim com as mulheres?”

“Acho que desde que eu deixei de ser um moleque e me tornei um homem.” Ele riu e Abbie bateu em seu ombro.

“E só levou cinco anos!” Ela respondeu debochando.

“Antes tarde do que nunca, não é?”

“Vai ficar muito tempo por aqui?”

“Mais algumas semanas. Consegui adiantar alguns projetos no trabalho, ou me dedicar ao Liam.” Ele pegou sua taça. “Ao Liam e a você também, quero dizer.” Ele piscou para Abbie e deu um gole em seu vinho.

“Melhor irmos um passo de cada vez Ed...”

“Ainda não confia em mim?”

“Sinto que estou conhecendo um outro Ed, uma outra pessoa. E confiança leva-se algum tempo a ser conquistada.”

“Bom... Sua sorte é que eu tenho bastante tempo e sou um homem muito, mas muito paciente.” Ele respondeu com diversão.

“Sorte a minha.” Ela riu.

“E como estão as coisas no seu trabalho?”

“Ah, tudo normal. Como sempre.”

“Normal?” Ele a olhou curioso.

“É, você sabe... É um trabalho bastante burocrático.”

“Estranho não ver mais o brilho nos olhos que tinha quando falava em ser uma advogada antes.”

“Acho que é assim mesmo...” Ela apoiou seu queixo na sua mão, olhando para Ed. “A gente se acostuma com o que faz e acaba perdendo um pouco a graça.”

“Você ainda é muito nova para se prender em uma carreira que considera sem graça.”

“Não é sem graça o tempo todo, só ás vezes.” Ela sorriu. “Você não se sente um pouco entediado ás vezes no seu trabalho?”

“Acho que não tem como... Estou sempre viajando, cada contrato é tão diferente um do outro... Acaba que não sobra muito tempo para ficar entediado.”

“Entendi.” Abbie falou pensativa. “Bom, mas não vamos falar de trabalho. Só por hoje, pelo menos.”

“Eu concordo. Até proponho um brinde a uma ótima noite, em ótima companhia.” Ed pegou sua taça e Abbie fez o mesmo, brindando e depois bebendo um gole.

“Bem diferente do nosso primeiro encontro...”

“Ah, uma pizza na saída da aula é um ótimo encontro.” Ed se fez de ofendido.

“Seria se a pizza não tivesse vindo queimada.” Abbie falou sem conseguir conter o riso.

“Pensando por esse lado... Eu poderia ter feito melhor.”

“Mas hoje foi sua noite de redenção, tenho que admitir.”

“Ah é?”

“Claro... A comida está incrível e ainda temos essa vista do mar. Você se superou dessa vez Ed.”

“Realmente, muito diferente do nosso primeiro encontro. Você reclamou daquela noite todos os dias enquanto estivemos juntos.” Ed falou com diversão.

“Não fala assim, vai fazer eu me sentir uma chata!” Ela cobriu o rosto com as mãos.

“Ah, você lembra o que me disse quando te acompanhei até em casa naquela noite? Quando eu tentei te dar um beijo de boa noite.”

“Lembro...” Ela sorriu. “Disse que não beijava em primeiros encontros. O que foi bem irônico, já que a gente já tinha se agarrado na faculdade antes de você me chamar pra sair.”

“Eu concordo.” Ed assentiu.

“E você? Lembra o que respondeu?”

“Lembro, claro que lembro. Falei que infelizmente eu não costumava seguir regras.”

“Não seguia mesmo...” Abbie riu. “Acho que você me ganhou ali, tenho que confessar.”

“Que nada... Eu te ganhei bem antes. Tudo culpa desse meu charme encantador.”

“Ou dessa sua incrível modéstia.”

“Autoconfiança é tudo nessa vida, não me julgue.”

“Não vou, prometo.”

Após o prato principal e sobremesa, os dois continuaram conversando sobre planos futuros e sobre recordações do passado.

“E daqui a 10 anos, onde pretende estar?” Ed perguntou para Abbie, que agora estava sentada de frente para ele.

“Em uma mansão, em Hollywood, sendo vizinha do Johnny Depp.”

“Sério? Ainda não desencanou desse Johnny Depp?”

“Hey! Não se meta entre meus amores platônicos e eu.”

“Tudo bem, tudo bem. Não vou me meter entre o seu mau gosto e você.” Ed debochou e Abbie o olhou, incrédula e pegou um pouco de areia da praia, jogando em Ed. “Você não fez isso...”

“Acho que eu fiz.” Abbie levantou a sobrancelha.

“Então eu sugiro que você corra.” Ed a olhou sério e Abbie levantou rapidamente correndo, enquanto Ed corria atrás dela.

“Não é justo, suas pernas tem o dobro de tamanho das minhas!” Abbie falou já perdendo a velocidade e o ar.

“Quem mandou jogar areia em mim?!” Ed falou rindo e alcançou Abbie rapidamente, a pegando no colo pela cintura. “Um bom motivo pra eu não te jogar no mar.”

“Você vai perder muitos pontos comigo se fizer isso rapazinho...” Ela respondeu gargalhando.

“Hum... Não me convenceu...” Ed correu entrando no mar, ainda com Abbie no colo e os dois começaram a jogar água um no outro.

“Você é o pior em primeiros encontros!” Abbie falou com diversão.

“Acho que não tão ruim. Se me lembro bem, depois do nosso primeiro encontro de verdade, ainda ficamos juntos por um longo tempo.”

“É porque tenho um coração muito generoso, apenas por isso.” Ela deu de ombros e Ed se aproximou.

“Sei...” Ele tirou um fio de cabelo do rosto de Abbie, o colocando atrás da sua orelha. “Ainda segue aquela regra de não beijar em primeiros encontros?”

“Por que a pergunta?”

“Nada demais... Acho que não faz muita diferença mesmo.” Ed falou e Abbie franziu a testa, sem entender o que ele quis dizer. “É que por sorte esse não é o nosso primeiro encontro.” Ele sorriu e puxou Abbie, a beijando.

Era impossível para Abbie não comparar com a noite anterior que teve com Dom, mas o grande problema é que para o seu desespero, ela tinha gostado das duas noites. Gostado até demais.

Após saírem de dentro do mar, Abbie e Ed ainda ficaram conversando um pouco e depois ele foi deixá-la em casa. Ao descer do carro e se despedir de Ed, Abbie não conseguiu notar que do outro lado da rua, olhando pela janela, um nada contente Dom observava tudo de longe.

...

Abbie abriu os olhos ainda sonolenta ao ouvir um terrível barulho irritante que não parava de a atormentar. Ela virou de lado e cobriu a cabeça com o travesseiro, mas de nada adiantou. O mesmo barulho infernal insistia em irritá-la, até que ela finalmente percebeu que era o seu celular tocando.  Abbie bufou e começou a tatear a mesinha ao lado da sua cama, em busca do celular e quando enfim o encontrou, atendeu.

“Alô...” Ela falou ainda sonolenta.

“Abbie? Ainda está dormindo?”

“Quem é?” Ela bocejou.

“É Patrick.” Abbie ouviu uma risada. “Eu estava preocupado, você não costuma se atrasar tanto. Vai ficar em casa hoje?”

“Não... Mas atrasar? Que horas são?”

“São 8h40.”

“O quê?” Ela gritou olhando para o relógio do celular. “Mas que porra... Quero dizer, desculpa Patrick. Eu já vou descer, só 10 minutinhos, vai ser rápido eu juro!”

“Não tem problema algum, estou no aguardo.”

Abbie pulou para fora da cama, tomando o banho mais rápido do mundo e escolheu uma calça preta, com uma blusa de botões branca e blazer preto.

“O básico nunca erra.” Ela disse para si terminando de se vestir e colocando os seus saltos.

Depois penteou os cabelos e os secou rapidamente. Jogou suas coisas em uma bolsa, foi até a cozinha, pegou um copo com suco de laranja e fez um sanduiche de peito de peru. Ao fechar a geladeira, ela viu um bilhete de Lisa, dizendo que tinha ido ao mercantil fazer umas compras para Abbie e ela saiu de casa, contabilizando exatos 24 minutos.

“Foi uma noite animada, eu presumo.” Patrick falou com diversão e quando Abbie olhou para ele, através do retrovisor, se deparou com sua cara horrível de quem havia acabado de acordar e colocou óculos escuros, afim de tentar esconder isso.

“Não vou negar que foi.” Ela riu dando mais uma mordida em seu sanduiche. “Precisava estar no escritório ás 7h30, já são quase 9hrs.” Ela falou pensativa olhando para o celular e ficou desanimada ao ver que não havia nenhuma mensagem de Dom, sequer um ‘Boa noite’.

“Fique tranquila, tenho certeza que seu chefe vai entender.” Patrick piscou para Abbie, que apenas sorriu de volta.

Ao chegar ao escritório, Abbie saiu do elevador ainda carregando os restos do seu sanduiche e se deparou com uma quantidade considerável de mulheres sentadas na recepção.

“Bom dia...” Ela falou confusa e as mulheres responderam educadamente. “Kelly!” Abbie gritou e Kelly veio rapidamente ao seu encontro. “O que está havendo aqui?”

“É que o Landon...”

“Ah! Claro!” Abbie falou irônica. “Por que perguntei? A resposta era óbvia!” Ela saiu pisando forte e invadiu o escritório de Dom.

“Boa tarde Srta. Thomas.” Dom falou ainda concentrado na tela do seu computador. “O sol está muito forte aqui dentro?” Ele perguntou se referindo aos óculos escuros de Abbie, ela bufou e os tirou. “Esquece o que eu falei, melhor colocar de volta.” Abbie respirou fundo se controlando para não cometer um assassinato.

“Só vou perguntar uma vez...” Ela colocou sua bolsa em cima de uma cadeira. “Por que parece que está havendo uma seletiva para o elenco do desfile da Victoria Secret’s ali fora?”

“São as candidatas a minha nova assistente.” Ele deu de ombros. “É peito de peru?” Ele perguntou para Abbie apontando para o sanduiche e o pegou da sua mão, terminando de comê-lo e Abbie revirou os olhos.

“Isso é impossível.”

“E por quê?” Dom falou ainda de boca cheia e esticou suas pernas na mesa.

“Porque eu mesma separei os currículos de três ótimos candidatos para ser o seu novo assistente.”

“Aí que estava o problema. Você queria contratar um assistente, eu prefiro uma assistente. Então eu mesmo decidi fazer a seleção.”

“E o que uma assistente pode fazer por você que um assistente não pode?” Abbie cruzou os braços.

“Quer mesmo que eu responda a essa pergunta?” Dom levantou a sobrancelha, rindo cinicamente.

“Elas podem te processar por abuso sexual, seu idiota. E honestamente, eu faria questão de ser a advogada de acusação.”

“Deixa de ser chata Abbie, eu separei ótimas candidatas.” Ele pegou alguns papéis. “Tem a Hillary, que trabalhou dois períodos como modelo de uma marca de roupas local.” Dom olhou para Abbie. “Já trabalhou como modelo?”

“Eu tenho 1,58cm Dom.” Ela cerrou os dentes. “Só se for para ser modelo infantil.”

“Eu imaginei...” Ele voltou a sua atenção para os papéis. “Tem a Vanessa, que segundo aqui, gosta de fazer compras e de longas caminhadas na praia...”

“Eu não aguento...” Abbie sentou na cadeira de frente a mesa de Dom, ouvindo incrédula.

“Tem a Amanda também e olha só... Ela fala latim.” Dom olhou para Abbie. “Você fala latim?”

“Não Dom, não falo latim.” Ela falou impaciente. “Na verdade ninguém fala latim... Não é uma língua morta?”

“A Amanda fala. Confesso que agora vejo que você não era muito qualificada para esse trabalho...”

“Eu estou realmente muito, mas muito curiosa pra saber o que o fato de uma criatura saber falar latim interfere no seu desempenho como assistente.”

“Com o desempenho não interfere, mas interfere no fato de eu poder me gabar que a minha assistente fala latim.”

“Já falei que ninguém fala latim. Tem gente que lê latim, que traduz... Mas ninguém fala latim.” Abbie ficou de pé. “Quer saber? Eu mesma vou lá fora por um fim nessa palhaçada.”

“Ah não vai não...” Dom se levantou também, a impedindo de passar. “Não vai fazer um dos seus shows lá fora.” Ele trancou a porta.

“Show? Meu amor, eu vou lhe dar um musical da Broadway inteiro.”

“Algo que poderia ter evitado se tivesse chegado mais cedo, mas pelo que vejo, a noite foi muito animada...”

“Ah, então é isso?!” Abbie o olhou chocada, enquanto Dom franziu a testa. “Tudo isso que você aprontou hoje, é claro... Como não notei logo de cara?”

“Não faço ideia do que está falando...”

“Pois bem, eu lhe explico.” Ela cruzou os braços. “Está tentando me punir porque eu saí com o Ed ontem.”

“Eu? O quê? Ah... Faça-me o favor!”

“Nem tente fingir que não é por isso, porque eu sei que é.” Abbie disse. Dom bufou e saiu de perto da porta.

“Você está louca Abbie, é a única certeza que tenho.” Dom tentou desconversar. “Sequer lembrava que saiu com aquele cara.”

“Não foi isso o que Nick me disse...”

“Nick disse o quê?” Dom a olhou incrédulo. “Enfim, nem quero saber, porque obviamente era mentira.”

“Não era, eu sei que não era.” Abbie disse com raiva. “Mas sabe qual a solução pra isso, não é?”

“Não estou entendendo aonde quer chegar.”

“Dá próxima vez diga na minha cara que não quer que eu saia com outra pessoa, não mande recado por terceiros, tenha uma atitude de homem decente pelo menos uma vez na sua vida!” Ela gritou.

“Mas que droga Abbie!” Dom deu um soco na sua mesa. “Sim, eu me incomodei que tenha saído com aquele cara, da mesma forma que me incomodei quando saiu com aquele Caleb e da mesma forma que vou me incomodar com qualquer outro que se aproxime de você. Satisfeita agora?” Ele gritou também. “E agora Abbie, o que você quer de mim?”

“Eu...” Ela abaixou a cabeça. “Sinceramente, eu não sei.”

“Chegamos a um impasse então.”

“Parece que sim...” Ela concordou e eles ficaram alguns momentos em silêncio.

“Vocês se beijaram?” Dom perguntou com receio da resposta.

“O quê?” Abbie falou surpresa. “Eu não vou responder isso.”

“É... Já até imagino.” Dom disse com raiva. “Mulher é trouxa mesmo. O cara é um cafajeste, faz tudo errado e ainda tem quem corra atrás dele.”

“Ei, ei, ei! Alto lar! Ele que veio correndo atrás de mim, não o contrario!”

“E você odiou não é Abbie?” Ele disse com ironia.

“É bom ficar ao lado de um homem que sabe como tratar uma mulher.”

“Quer dizer que eu não sei como tratar uma mulher como esse tal de Ed sabe? Tá falando sério?"

“Muito sério. Pois saiba que ele teve todo um trabalho para preparar uma noite especial para nós dois.” Abbie falou afim de provocar Dom. “E foi ótima, se quer saber.”

“Mesmo?” Dom disse. “Ele te levou para um jantar tão bom quanto o que eu te levei?” Ele deu um passo à frente, se aproximando dela.

“Sim, foi muito bom. A beira mar, uma vista incrível.”

“Se sentiu tão à vontade como você se sente quando está comigo?” Ele deu mais um passo.

“Na verdade, sim.”

“E quando ele te beijou foi tão bom quanto foi quando nós nos beijamos?”

“Foi... É...” Ela deu de ombros. “Foi legal sim, bem legal.”

“Eu duvido muito.” Dom tirou o cabelo do ombro e a puxou pelo pescoço a beijando.

O coração de Abbie parecia que iria saltar para fora pelo susto, mas ela sequer ousou se retrair ou empurrá-lo para longe dela. Eram sensações diferentes entre Dom e Ed, não tinha nada em comum um com o outro e na verdade, ela não conseguia pensar nas diferenças naquele momento.

Abbie o puxou para si e Dom entendeu a deixa para beijá-la de forma mais intensa. Ele a levantou pela cintura e ela envolveu suas pernas ao redor do corpo de Dom. Ele andou até sua mesa, onde colocou Abbie sentada sem nunca afastar seus lábios dos dela e ela tirou o blazer dele, o jogando do chão, ele por sua vez agarrou sua perna e começou a beijar seu pescoço e mordê-lo. Abbie gemeu em resposta e Dom decidiu guardar aquele momento na memória, a primeira vez que Abbie gemeu por sua causa. Ele começou a abrir os botões da camisa de Abbie e voltou a beijá-la, ela mordeu seu lábio com força e Dom encostou sua testa na de Abbie, ofegante e a olhou nos olhos.

“Tem uma coisa que eu quero te dizer...” Ele falou ainda sem ar.

“Agora? Tem que ser agora?” Ela respondeu incrédula e sem fôlego.

“É tem que ser agora.” Dom franziu a testa decidido.

“Ok... O que foi?”

“É que eu...” Ele parou por um momento, procurando por alguma coragem para admitir o que estava prestes a admitir. “Abbie eu...”

“Sim... Você o quê?” Ela perguntou confusa.

“Abbie eu te a...” Antes que Dom pudesse terminar de falar o que tinha a dizer, ele foi interrompido por uma batida na porta.

“Abbie? Está ai dentro?” Lisa bateu novamente na porta. “Eu sei que está, a sua secretária me disse que está, abre logo.”

Abbie olhou em pânico para Dom e o empurrou descendo da mesa e fechando rapidamente a sua blusa, enquanto um muito frustrado Dom sentou em sua cadeira.

“Tinha que ser a Sacana...” Ele bufou de raiva.

“Xiu!” Abbie o olhou feio e se abaixou pegando o blazer de Dom que estava no chão, o jogando para ele que pegou no ar. “Oi Lisa!” Abbie abriu a porta sorrindo.

“Até que enfim, estavam se pegando aqui ou o quê?” Lisa entrou no escritório de Dom distraída.

Dom e Abbie trocaram olhares e tentaram conter o riso.

“O que houve?” Abbie perguntou para ela.

“Estava cansada de ficar sozinha em casa, posso ficar aqui com você um pouco?”

“Claro que pode, não tem problema algum.”

“Agora que levou um pé na bunda descobriu que tem amiga de novo, interessante...” Dom disse irônico e Lisa o olhou fuzilando.

“Eu não lembro de ter dirigido a palavra a você.”

“E eu não lembro de ter te convidado para entrar aqui, na minha sala.” Ele sorriu cinicamente.

“Vá se foder Dom...” Lisa revirou os olhos e se voltou para Abbie. “O Nick me ligou agorinha.”

“E aí, o que ele falou?” Abbie sentou em uma das cadeiras e puxou Lisa para sentar na cadeira ao seu lado.

“E aí que eu não atendi né. Acha que eu ligo de volta?”

“Liga sim, mas não liga agora, deixa passar um tempinho sabe?”

“Sei, é melhor mesmo. Senão ele vai achar que eu estou desesperada para fazer as passes...”

“Mas você está né Lisa.” Abbie riu.

“Mas ele não precisa saber!” Ela bateu no braço de Abbie.

Dom olhava impaciente para as duas e pegou o seu potinho de jujubas comendo entediado com aquela conversa.

“E as malas? Você terminou?” Abbie perguntou.

“Faltam algumas coisas, o problema é que não cabe mais nada!”

“Acho que você comprou mais do que deveria...” Abbie falou e as duas riram. “Mas faz assim, o que não couber na sua mala eu envio pra você, sem problema. Chega rapidinho.”

“Ia ser ótimo, vai me poupar muito trabalho e...”

“Olha só...” Dom falou com a boca cheia de jujubas. “Sem querer cortar o papo, será que não dá pra terem essa conversa chata e irritante em outro lugar?”

“Eu adoraria ir sentar, por exemplo, na recepção. Mas está lotada de mulheres que não calam a boca.” Lisa cruzou os braços e Abbie olhou séria para Dom.

“Obrigada por me lembrar Lisa.” Ela se levantou. “Você vai por um fim naquela bagunça ali fora Landon e agora.”

“Eu joguei pedra na cruz, só pode...” Dom se levantou também. “Eu vou, mas vocês vão pro outro escritório me dar um pouco de paz.”

“Muito bem.” Abbie concordou. “Ah e temos que terminar aquela conversa, não esqueça.”

“Vamos sim. Mais tarde.” Dom piscou para Abbie, que sorriu em resposta e saiu sendo acompanhada de Lisa.

“O que foi aquilo ali dentro?” Lisa perguntou com diversão.

“Aquilo o quê?” Abbie se fez de desentendida.

“Você sabe o quê!”

“Nada demais, acredite...” Abbie abriu a porta do seu escritório e entrou com Lisa.

“Então que conversa vocês vão terminar de ter?”

“Negócios, apenas negócios.” Abbie deu de ombros.

Dom se pegou olhando pela janela com um sorriso no rosto. Abbie o fazia se sentir bem, a vontade e feliz, era isso que importava para ele. Antes de sair do escritório, ele percebeu que ela havia esquecido sua bolsa e ele pegou para entregar a ela.

“Kelly...” Ele falou ao avistá-la. “Pode dar por encerrado essas entrevistas, diga que ligaremos de volta e todo aquele blá blá blá de sempre.”

“Certo Landon.” Kelly assentiu rindo.

Dom ouviu uma música tocando e percebeu que vinha da bolsa de Abbie, ele procurou o celular e viu que era uma ligação de Ed. Ele não pensou duas vezes, rejeitou a chamada e desligou o celular dela.

“Com licença!” Uma moça se aproximou dele e de Kelly. “Eu vim participar da entrevista, me atrasei um pouco, ainda dá tempo?”

“Na verdade nós já encerramos por hoje.” Kelly respondeu cordialmente.

“Nossa... Que azar! Meu carro parou de funcionar no meio do caminho, foi um pesadelo!”

Dom olhou para a mulher de cima abaixo. Ela era morena, não muito alta e muito bonita.

“Você é...?” Ele a perguntou.

“Samantha, Samantha Clarkson.”

“Prazer Samantha.” Ele sorriu. “Deixa o seu currículo com a Kelly, nós vamos entrar em contato para marcar um outro dia, pode ser?”

“Pode! Claro que pode, vai me ajudar muito. Como se chama mesmo?”

“Landon Hunter.”

“Sr. Hunter, muito prazer!” Samantha disse surpresa.

“Só Landon, não usamos essas formalidades por aqui.” Ele disse com diversão. “Kelly deixa o currículo na minha mesa está bem?”

“Pode deixar Landon.”

“Ah, pede um café da manhã pra Abbie, ela não conseguiu comer direito.”

“Peço algo para a Lisa também?”

“Veneno pra rato está bom.” Dom falou saindo e Kelly riu.

Ele voltou para o seu escritório ainda com a bolsa de Abbie, já pensando que seria uma desculpa para ela ir lá depois, foi quando ele se tocou do que quase ia falando para ela um pouco antes de Lisa chegar. No fundo ele achou bom ser interrompido, talvez não fosse o melhor momento para falar dos seus sentimentos, mas como ele não tinha muita experiência com isso, estava completamente perdido.


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