P.O.V Emily

Quando acordamos, era bem tarde, um empregado avisou que o café da manhã poderia ser preparado se quiséssemos. Eu, ainda com bastante sono, pedi que entregasse aqui, concordou e se foi preparar uma enorme bandeja.

Brianna acordou cinco minutos depois do café ter chegado, e eu, claro, já estava devorando aquela refeição preparada de maneira tão simplória. Talvez tenha sido o troco que os empregados me deram por ter obrigado a eles arrumarem tudo às pressas de madrugada ou ter arrumado com ainda mais pressa hoje de manhã.

A morena reclamou do pão com queijo branco, uma pêra, uma caneca com café e outra com suco de laranja que tínhamos para comer apenas. Ao contrário dos outros dias, que tínhamos um verdadeiro banquete para comer todos os dias, sete vezes ao dia. A mandei calar a boca mal humorada devorando aquele pão tão pequeno.

Na tarde, fomos convidadas a ir ao salão das mulheres conversar com Frigga. Não tinha quase nada do que tinha ontem. Todos os utensílios que foram usados ontem para nos preparar para a festa haviam sido guardados ou simplesmente sumiram, seja lá como funciona por aqui.

—Queridas, bom dia – nos recepcionou Frigga, sorrindo e estendendo os braços abertos. A abracei com carinho e depois foi a vez de Brianna. Seus vestidos eram sempre dourados e elegantes, e principalmente os penteados que são feitos, tão complicados que nem sei como começaram a fazer.

—Bom dia – desejei simpática e colocando o meu melhor sorriso. Frigga acenou com a cabeça e nos levou para dentro. Percebi que ali havia uma pequena mesa com cadeiras em volta, alguns doces e bolinhos que mais parecem de enfeite de tão lindos e fofos que são.

—Sentem-se – ela pediu e obedecemos. Eu tomei cuidado com o vestido para não sentar e amassar o tecido, mas Brianna não, logo foi pegando um dos bolinhos, pelo menos ela usou o pegador ao invés de usar a própria mão – E fiquem à vontade – a ex-rainha acrescentou risonha ao ver que Brianna já estava se servindo.

—Me desculpe. As vezes minha filha não tem muita noção... – explico e recebo uma testa franzida da morena, e a asgardiana apena ri.

—Tudo bem, eu lhe entendo. Thor quando era garoto, era desse mesmo jeito – ela conta e não me surpreendo. Até mesmo adulto, não mudou nada – Já Loki sempre foi mais comportado. Sempre preferiu usar os talheres a ter que usar as mãos como Thor e seus amigos fazem – assinto com a cabeça concordando totalmente com ela.

—Parece que Loki não gosta muito de toda aquela barulheira que Volstagg faz – Brianna comenta e vejo que ela está certa. Voltasgg, o mais alto e mais gordo entre os três guerreiros, o que estava bêbado ontem na festa e pedindo por mais.

—Ele nunca gostou – Frigga afirma se encostando no encosto da cadeira e cruzando as pernas, tão elegante que poderia dar inveja a uma primeira dama de qualquer país de Midgard. Talvez até mais elegante do que a Pepper.

—Mesmo que eu esteja aqui a pouco tempo, eu acho que eu não me acostumaria a um jantar daqueles todos os dias por anos – Brianna comenta e quase gelo com o seu comentário. Erick participa desses jantares e age como Thor. O que me leva a pensar que ela realmente não quer ficar aqui –Eu ficaria doida – ela acrescenta e Frigga sorri compreensiva.

—Eu lhe entendo, minha querida – a loira acaricia a mão da minha filha que sorri agradecendo –Mas precisamos conversar sobre algo muito importante – ela avisa adquirindo uma postura e tom de voz mais séria. Era sobre o que eu estava pensando?

—Sobre? – pergunto antes de comer um pequeno biscoito com cobertura de limão. Tudo tentando soar e parecer que eu estava tranquila, e não temendo que seja lá o que Frigga disser, irá machucar os sentimentos de Brianna.

—Thor me contou sobre algo muito importante – ela começou e senti minha mão suar frio. Espero que Frigga não perceba – Meu neto a propôs em casamento, certo? – respiro fundo, mesmo que a pergunta seja para Brianna, tento me manter calma, mas coloco o biscoito que eu levaria a boca sobre o prato.

—Sobre isso, eu ainda iria conversar com ela – aviso e Brianna me olha surpresa, mas disfarça comendo mais um pedaço do bolinho com o garfo.

—Sim, ele me pediu em casamento – Brianna confirma e respiro fundo mais uma vez. Olho para Frigga, que observava Brianna, de maneira calma, até mesmo carinhosa.

—Thor falou com você? – pergunta a asgardiana, Bri nega com a cabeça – E a esposa dele, Rachel? – pergunta novamente e minha filha nega com a cabeça.

—Thor veio falar comigo – aviso e as duas olham para mim – Perguntou se eu concordava com isso e me pediu para falar com você o mais breve possível – respondo e vejo a morena estreitar os olhos para mim.

—Como Thor e você ficaram sabendo? – Brianna pergunta desconfiada e curiosa. Se eu dissesse que a tinha seguido até os jardins para saber o que ela estava fazendo com Erick, seria muito difícil ela me perdoar.

—Erick contou para Thor que contou para mim – respondo numa mentira, mas que graças as minhas habilidades em algo que eu não me orgulho, Brianna acredita e volta a encarar a dama a nossa frente.

—Erick contou de todas as responsabilidades que você terá depois do casamento? – Frigga pergunta e sei que ele não havia feito isso – Ou que você terá que abandonar Midgard e morar aqui? Como Rachel faz? – ela pergunta compreensiva, educada e de maneira sutil. Sei que Brianna é forte, mas não sei como ela está por dentro.

—O pedido foi ontem, não deu para pensar direito – Bri explica e torço para que Frigga entenda – Mas irei primeiro terminar o ensino médio, depois ir para a faculdade, e aí sim me casar com ele – a asgardiana assente com a cabeça –Por enquanto, o plano é esse – ela finaliza e pego em sua mão, olhando em seus olhos e torcendo para que ela me escute.

—Tem certeza de que é isso que você quer? Você nem sabe que faculdade quer fazer, como pode ter tanta certeza que quer se casar com ele? Vocês se conhecem só faz semanas – pergunto ressentida, com receio de que ela está cometendo um erro, um erro que irá se arrepender depois. É o meu trabalho mostrar isso para ela.

Mas ao contrário do que eu esperava, Brianna apenas retira abruptamente a sua mão, provavelmente ofendida pelo o que eu disse, duvidando de seus sentimentos por Erick. Mas eu não estava. De maneira alguma.

—Olha, filha, não foi o que eu...

—Não, mãe, nunca é o que você quis dizer – ela ironiza se levantando e saindo do salão antes que eu pudesse impedir. Respiro fundo passando a mão pela testa e lembrando que Frigga assistiu tudo.

—Me desculpe – peço quase como um apelo, temendo que Frigga a julgasse uma menina, e não uma mulher com maturidade. Temendo até que ela não ache que Bri está apta a ser uma rainha um dia.

—Tudo bem. Como eu te disse, eu te entendo – ela responde e uma parte de mim fica aliviada, mas a outra não. A outra parte é a mãe dentro de mim, que se sente triste por Brianna ter se ofendido com o que eu falei. Mas minha filha é alguém que temos que ter cuidado com as palavras que usamos, que podem se ofender por muito pouco.

—Eu não sei o que fazer... – digo enquanto passo a mão pelo rosto, um pouco estressada por tudo. Steve saberia conversar com ela e faze-la perceber com o que ela estava se metendo. Saberia mostrar a ela a gravidade das coisas aqui.

—Dê um tempo a ela – Frigga aconselha e sei que os conselhos dela, seriam os melhores de todos os nove reinos – Tudo aconteceu muito recentemente. E ela é jovem, está apaixonada. Qualquer um que possa duvidar do amor que ela tem, será uma...

—Ameaça – completo junto com ela a fazendo sorrir ao perceber que eu havia entendido o que ela quis dizer. E com toda certeza entendi. Eu não podia mais deixar claro a minha posição contra, mas sim ser a favor. E desse jeito, sutilmente, aos poucos, mostrar a ela a parte verdadeira de tudo isso.

—Eu soube que você e Loki ficaram até tarde dançando – ela comenta distraidamente levando uma xicara de chá até a boca levemente. Como Frigga ficou sabendo disso? Ah, claro, o filho dela é importante para ela e tudo o que acontece com ele, ela vai ficar sabendo de um jeito ou de outro. Respiro fundo antes de responder.

—Foi, o tempo passou rápido demais – explico e ela sorri levemente, quase imperceptível – E seu filho dança muito bem também – acrescento risonha e ela ri também deixando a xicara sobre o pires.

—E sobre o que conversamos ontem... – ela lembra soltando no ar como uma pena, mas me atingindo uma pedra. Eu não podia ter permitido ficar tanto tempo com Loki sozinhos. Mas ele estava indo viajar no dia seguinte.

—Ele me pediu para ficar mais tempo – justifico e percebo que ela merece mais explicações – Loki iria viajar, e foi. Disse que queria um pouco mais da minha companhia antes de ir – completo e a loira assente com a cabeça aceitando a justificativa.

—Eu entendo, querida – ela diz enquanto pega na minha mão com carinho, assim como fiz com Brianna – Mas lembre-se, a imagem de um rei perante ao povo é muito importante, é tudo – ela explica e assinto com a cabeça –Não dificulte ainda mais as coisas para ele, ser um rei temporário não é fácil – ela explica e levo um susto. “Rei temporário”? Como assim?

—Loki não é um rei... Definitivo? – pergunto pensando por um momento na palavra ideal. E Frigga nega com a cabeça.

—Loki pode ser o meu filho, mas devido a descendência... Jotun— ela sussurra bem baixo, eu quase não consegui ouvir – Se o povo ficar sabendo, ele caí – ela explica e me assusto, verdadeiramente. E isso poderia acontecer por minha causa? Apenas porque fiquei muito tempo com ele na festa sozinhos?

—E por isso ele é temporário? – pergunto e ela assente – Só esperando Erick crescer e se casar, talvez? – pergunto novamente e visivelmente surpresa, e quase que assustada. Frigga confirmou mais uma vez –Ele sabe disso?

—Sim, sabe – Frigga confirma e respiro fundo me acalmando. Menos mal, pelo menos. Porém, Loki sempre desejou o trono. Tenho medo de quando ele deixar de ser rei. Tudo para ser substituído pelo filho do Thor, só porque ele é legitimo na família. Porque Loki também não poderia ser?

Agora o entendo perfeitamente. Se esforçar como rei para depois ser substituído como uma pilha velha de um controle remoto por uma mais nova, e original até.

Frigga percebeu que eu não aprovava nada tudo isso, pois respirou fundo pronta para explicar. A minha vontade era sair daqui, mas ela ainda merecia respeito, afinal, ela ainda é a ex-rainha e mãe de Thor e Loki, meus amigos.

—Não espero sua aprovação, e nem seu apoio. Mas saiba que eu sou contra. Mas faz parte das leis de Asgard. No momento em que for comprovado que o rei regente é... impuro, ou seja, com descendências inimigas ou sombrias, ele será desposto imediatamente e o próximo na linha de sucessão assumirá – explica e ouço atentamente.

Eu achava essa lei uma bobagem. Loki foi criado como filho legitimo. Porque quando rei deixará de ser? Filho adotivo também é filho.

—Então ele ainda tem mais quatro anos de reinado? – pergunto e Frigga confirma – E onde eu entro nisso tudo? – pergunto acuada e temerosa. Será que eu estava agindo de maneira infantil perguntando isso a ela. Mas pelo sorriso dela, acho que não.

—Não chamando mais atenção – responde se pondo de pé.

—Mas ele é o rei! – justifico e Frigga sorri complacente. Me oferece uma mão e me levanto da cadeira  –Já chama atenção mesmo que eu não esteja presente.

—Então não faça as pessoas pensarem que estão envolvidos de uma forma além da amizade como aconteceu ontem – explica e a encaro assustada –Boatos circulam entre a criadagem e alguns grupos sociais justamente sobre isso – ela explica e encaro o chão sem saber o que fazer, sem saber como reagir.

—O que eu faço para parar então? – pergunto e ela abre um sorriso, não um complacente ou carinhoso, compreensivo ou amigável, mas sim travesso e até que perigoso, tão parecido quanto o do Loki. Sei que seja lá o que ela propor, não será baseado a doces e biscoitos.