O cão do Central Park escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 6
Capítulo 6 – Monstro no Central Park




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Capítulo 6 – Monstro no Central Park

– Não diga que foi isso que perseguiu você na noite passada... – Joan sussurrou.

Ele não precisou responder, seu olhar foi suficiente. Caminharam no mais puro silêncio até o portão, ignorando que a chuva aumentava e ensopava suas roupas. Tudo parecia ter se acalmado, e por um instante se perguntaram se não fora apenas algum bêbado caindo por aí. Sherlock tentou ver através da escuridão da noite e detectar algo se movendo. E foi rápido. Joan estava a meio metro do portão quando um vulto cinzento e gigantesco colidiu contra ele por não mais que um segundo, acompanhado de um rosnado terrível, antes de desaparecer em algum lugar. Ela assustou-se e lutou para não gritar, andando em passos vacilantes para trás e por pouco não caindo. Sherlock olhou rapidamente para o exterior e correu para ela.

– Tudo bem?!

– Sim, eu só... – ela ainda se sentia chocada – Me assustei... Foi isso que correu atrás de você?!

– Foi. Mas agora temos que decidir alguma coisa.

Os gritos ecoaram novamente, mas dessa vez muito piores. Sherlock adiantou-se para arrombar a fechadura do portão.

– Por que não pensou nisso ontem?!

– Pensei, mas não teria tempo de abrir antes que a criatura me jantasse. Fique aqui.

– Não vai sozinho! Já falamos sobre isso. Acha que só você deve me proteger e não o contrário? Você já está ferido.

– Eu sei Joan, mas eu sei o que eu vi e eu não posso garantir que terei tempo e condições pra que nós dois fiquemos bem se algo acontecer. Por favor, fique aqui. Os barulhos pararam. Devemos ter um corpo e nenhum assassino. Vou verificar.

Sherlock passou pelo portão e adentrou a vastidão do parque. Joan olhou na direção da casa, vendo luzes se acenderem e vozes ecoarem à distância dentro da mansão. Menos de um minuto depois, Sherlock voltou.

– O assassino está morto. Está horrível, Joan. O animal dilacerou o pescoço daquele homem. Apesar de que penso que ele morreu na pancada de quando foi derrubado. A senhora Barrymore não vai gostar disso.

A chinesa insistiu em ver o corpo e Sherlock seguiu com ela por alguns metros após encostar o portão.

– Ele morreu com uma pancada forte na cabeça. Seja o que for que fez isso, deve tê-lo derrubado usando o peso do próprio corpo. Depois esmagou a cabeça enquanto mordia o pescoço. Ele queria mesmo invadir a casa?

– É provável. Mas foi morto por um motivo bem mais interessante. Usava roupas muito parecidas com as de Henry Baskerville. Nosso criminoso deve estar comemorando. Não sei quanto tempo temos até perceber seu erro.

– O corpo vai ficar aqui? Temos que chamar o capitão.

– Ele já veio e vai cuidar de tudo junto com Bell e o reforço. Pedi que não aparecessem até sairmos. Podemos estar sendo vigiados. Amanhã vão nos ligar com notícias.

– E se essa coisa os pegar?!

– Não vai. Sempre volta a se esconder depois de matar alguém. E ainda que tenha sido um engano, nosso assassino vai se esconder por no mínimo alguns dias. Ganhamos tempo. E como eu já disse, eles estão trazendo reforço, inclusive armado.

Os dois voltaram o mais rápido possível ao portão de entrada da casa, encontrando movimentação.

– O que aconteceu aqui?! – O mordomo Barrymore vinha andando pelo jardim.

Henry e a senhora Barrymore estavam na porta na mansão, receosos em atravessar o lugar.

– Senhorita Watson, o que faz aqui a essa hora da noite?! É muito arriscado – ele falou antes de reparar em Sherlock – Mas... O senhor é...

– Sherlock Holmes. Minha parceira tem conduzido bem a investigação e me apresentou resultados que tornaram necessária minha presença.

– É um prazer finalmente tê-lo conosco. Mas o que aconteceu aqui? Como abriram o portão? Que gritos e barulhos horríveis foram aqueles?

– Eu sinto lhe informar que o irmão de sua esposa foi vítima de um crime.

Sherlock relatou superficialmente algumas informações, deixando o mordomo de olhos arregalados, enquanto olhava dos consultores para a esposa na porta da casa. Ele insistiu para Sherlock permanecer na mansão aquela noite. Ele concordou, afinal não havia mais como se esconder, e não deixaria Joan sozinha por mais nenhum segundo. Viram o mordomo falar alguma coisa com a esposa e abraça-la quando a mulher caiu em prantos, e depois leva-la para dentro.

– É verdade? – Henry perguntou com tristeza quando entraram na mansão.

– Sim – Joan lhe disse.

– Senhor Holmes – Henry apertou sua mão – É uma honra tê-lo conosco finalmente. O que vai acontecer com o corpo? Está jogado lá?

– Nossos amigos estão cuidando disso. É melhor ninguém mais sair daqui hoje. A senhora Barrymore seja chamada em breve para reconhecimento.

Após todos os criados se acalmarem e retornarem a seus quartos, Henry foi deixado em segurança em seus aposentos e os dois consultores seguiram para o quarto de Joan.

– Pode me explicar? – Ela pediu cruzando os braços e sentando na cama.

– Houve um bazar há alguns dias nas proximidades do Central Park. Coisas sendo vendidas por preços irresistíveis, outras sendo doados a moradores de rua. Henry falou alguma coisa sobre doar roupas?

– Ele deve ter dito algo assim. Falou que doou algumas coisas quando se mudou pra cá... Não achei relevante, mas... Você acha que o homem lá fora esteve lá?!

– Agora eu tenho certeza. Talvez tenha conseguido as roupas do nosso cliente intencionalmente, para facilitar sua vinda aqui na escuridão da noite. Apesar de ser um assassino perigoso, nem todos conhecem seu rosto, pode ter dado as caras no bazar com algum disfarce ou até ter roubado as roupas num momento de distração.

– Mas uma vez que estivesse aqui dentro como ia se esconder?

– Há mais esconderijos aqui do que você pensa. Amanhã quero ver o pergaminho original. Talvez ele possa explicar porque embaixo dessa casa há uma espécie de andar subterrâneo que se conecta ao exterior, mais precisamente à rua do professor Stapleton.

– Mas o mordomo disse que nunca encontraram esse lugar, que foi lacrado há muito tempo. Eu mesma procurei, não encontrei nada que parecesse uma passagem. Há uma parede suspeita em um dos quartos. Mas tentei de tudo e não abre.

– E não vai abrir. O trabalho para lacrar o lugar foi muito bom. Eu cheguei até lá por baixo da casa, mas também não abre do outro lado. Lá embaixo não tem nada além de poeira, aranhas e armas tão velhas e enferrujadas que talvez nem museus as queiram. Devo ter derrubado algumas enquanto fugia.

– Então os barulhos na última noite... Foi você?! Do que estava fugindo?

– Não havia saída. Consegui confundir o cão espalhando as armas metálicas pelo chão enquanto corria de volta até a saída. Aproveitei que ele me perseguiu pra comprovar algumas circunstâncias da morte do senhor Charles.

– Então há mesmo um cão?! E o que queria provar?

– Eu vim pra cá e pulei o muro. O cachorro fez a mesma coisa. Então o aticei e o fiz sair daqui antes que alguma catástrofe se concretizasse.

– O que?! Como você fez isso?!

– Roubei isso da casa de Stapleton – Sherlock lhe estendeu um saco plástico com uma luva preta.

– Isso é...? É uma das luvas de Henry?

– Sim. Ele usa pra atiçar o cão. Trouxe apenas uma para evitar reações adversas em nosso suspeito. Se tudo que ele tem desaparecer, o que acha que ele pode fazer pra conseguir de volta?

– Então foi você que se feriu no portão...

– Sim, isso pode ter me salvado. O cão se entreteve farejando o sangue enquanto eu corria. Antes que eu fizesse qualquer coisa ele ergueu as orelhas e saiu correndo. Acredito que Stapleton usou um daqueles apitos que só cães ouvem.

– Você ainda não descreveu o cachorro.

– Eu vi, e achei difícil no começo acreditar no eu estava vendo... Eu não quis dizer nada a Henry para evitar pânico. Eu achei as descrições de todas as testemunhas fantasiosas e impossíveis até ver o que vi ontem.

– É mesmo um cachorro pra começar?

– É um mestiço de cães com parentesco próximo aos lobos e mastin. É ridiculamente enorme e agressivo. A agressividade não se deve pela mistura, ele deve ser induzido a isso. Não cheguei tão longe na casa de Stapleton pra encontrar o esconderijo do cachorro, mas encontrei uma parede que não tive tempo de abrir porque ele voltou pra casa na mesma hora. Foi quando fugi pelos fundos e ele soltou o cão atrás de mim, mas não sei de onde veio.

– Descreva logo.

– Parece um lobo cinza escuro gigantesco, com patas enormes capazes me matar uma pessoa em um único empurrão. Mas o que me intriga é que ele brilha, tem olhos vermelhos e soltava fogo pela boca. Parece realmente um cão dos infernos – Sherlock se balançava nos calcanhares com um sorriso.

– E por que está tão feliz?!

– Você foi médica. Me diga.

Ela ficou alguns minutos em silêncio tentando entender onde ele queria chegar, até que entendeu e seus olhos se arregalaram em surpresa.

– Nosso caso não é sobrenatural! – Ela disse.

– Isso mesmo! E talvez você possa me dizer alguma coisa sobre Stapleton.

– Não gosto dele.

– Imaginei que não. Você parece ter um instinto pra essas coisas. O que mais?

– Não sei... Alguma coisa nele me incomoda, aquele olhar me incomoda. Parece que já o vi antes, mas não sei de onde.

– Amanhã vou pedir que nos mostrem o pergaminho original e vou dar uma olhada melhor nessa casa. Isso pode esclarecer bastante.

– Mas por que Stapleton ia querer Henry morto?

– Não sei. Pode estar sendo pago por alguém. O que precisamos é chegar até o mandante.

No momento seguinte uma expressão de dor cruzou o rosto de Sherlock, o que não passou despercebido à oriental.

– Você vai me deixar ver isso agora.

Joan o fez sentar-se na cama e começou a desabotoar a camisa do consultor, vendo o as bandagens que envolviam a ferida. Estavam manchadas de sangue e ela pediu interiormente que não estivessem grudadas. Desenfaixou com todo o cuidado, por sorte estava soltou. Sentiu cheiro de sangue, percebendo que o ferimento ainda estava um tanto aberto. Eram quatro cortes um tanto profundos, que iam do peito ao começo do abdômen.

– Foi mais profundo do que eu pensava.

– Eu caí pra o lado oposto do portão enquanto o metal cravava na minha pele. Achava esse meio de proteção bem antiquado, agora vejo que ainda funciona bem.

– Vejo indícios de inflamação. Vamos cuidar disso.

– Você tem um kit de primeiros socorros com você?

– Aprendi a carregar um comigo em casos perigosos. É melhor você se deitar, Sherlock.

O detetive obedeceu e logo Joan estava sentava ao seu lado, molhando um algodão com água oxigenada e aplicando nos ferimentos. Sherlock conteve uma exclamação de dor quando o líquido transparente começou a borbulhar em contato com sua pele. Em poucos minutos Joan aplicou um cicatrizante e enfaixou o local novamente. Sherlock relaxou com o toque gentil das mãos suaves em contato com sua pele. Eram tão pequenas que pareciam de uma criança perto das dele.

– A água oxigenada vai ajudar a fechar as feridas mais rápido. Isso deve parar de doer em alguns dias. Não vai deixar cicatriz.

Naquela noite, por mais nervosos que todos estivessem, foi quando finalmente Joan conseguiu dormir outra vez, mesmo que pouco. Sherlock permaneceu com ela em seu quarto. Não puderam evitar conversar mais um pouco sobre o que havia acontecido entre eles e também sobre o que fariam a respeito do caso no dia seguinte. Joan estava exausta, seus olhos começavam a se recusar a continuar abertos.

– Se eu vir aquelas irmãs Linch ou qualquer outra com você... Eu mato você e todas as outras – a oriental disse mais dormindo do que acordada quando deitou ao lado de Sherlock.

Ele estava sentado com as costas apoiadas na cama, revisando algumas informações no celular. Joan repousou a cabeça no colo dele e sentiu o peso do cobertor que ele puxou sobre suas pernas e sobre ela.

– Você sempre foi a única, apesar de todas aquelas garotas. Me desculpe, Joan.

– Você também, apesar de eu ter tido tantos namorados – sussurrou de olhos fechados com um sorriso brincando em seus lábios – Acho que já chega de tentarmos manter distância um do outro assim.

Ela percebeu Sherlock rir baixinho e acariciar seu cabelo, logo a fazendo adormecer. Ele a observou por vários minutos, até sentir-se sonolento também. Tirou-a de seu colo com todo o cuidado para não despertá-la e verificou a segurança do quarto, mantendo porta e janela bem trancadas e a cortina fechada. Voltou para a cama e deitou-se, puxando Joan para perto. Ela aconchegou-se melhor a ele e, ignorando a leve dor que sentia, Sherlock a protegeu em seu abraço quando suas pernas se entrelaçaram confortavelmente, antes dos dois adormecerem bem aquecidos sobre as cobertas e o som da chuva que começava a bater na janela.


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