Capítulo 23

Largar na frente

Selecionada Skyler Angel Chase

Quando Skyler desceu para o café da manhã de sexta-feira, logo reparou que a cadeira em que Piper costumava se sentar estava vazia. Outras selecionadas repararam também, lançando olhares para lá ao passarem, mas nenhuma falou nada. Na Sala de Jantar, procuravam se portar com a maior classe possível, pois compartilhavam a mesa com toda a família real, e isso implicava não dizer coisa alguma além do estritamente necessário. Porém, durante toda a sua refeição o olhar de Skyler teimava em recair sobre a cadeira de Piper. Depois do ocorrido com Anastácia, o desaparecimento de alguma selecionada era sempre visto com maus olhos por ela. E se tivesse acontecido alguma coisa? Alguma coisa séria? Os piores cenários passavam por sua cabeça, até que não aguentou mais e sussurrou para Lysana, que sentava logo ao seu lado.

— Você sabe por que a Piper não desceu para tomar o café? Aconteceu alguma coisa? Está tudo bem com ela?

— Mais ou menos – respondeu Lysana - Ela foi eliminada. Vi quando saiu do palácio. Coitada, estava inconsolável. Bom, pelo menos agora sabemos que o príncipe cumpre com sua palavra. Afinal ele anunciou ontem que eliminaria alguém.

Skyler concordou com a cabeça, mas sinceramente não sabia se era realmente uma notícia tão boa Nicholas ter cumprido com a palavra dele. Claro, menos selecionadas significavam mais chances de ela ganhar, mas não havia se inscrito na seleção só por isso. Era também uma oportunidade de conhecer pessoas novas e construir amizades, e sentia que não estava fazendo um trabalho muito bom quanto a isso. Tinha feito amigas, entretanto não tantas quanto gostaria. Afinal, pouco mais de uma semana havia se passado desde o começo da seleção, e as selecionadas já estavam organizadas em grupinhos, como na escola. Serena, Melissa e Luna. Elena, Samantha e ela própria. E, o mais surpreendente de todos, Harriet e Virginia.

Pelo pouco que Skyler conhecia das duas, elas não eram nada parecidas. Não acreditava naquela baboseira de opostos se atraem, para ela, ter interesses parecidos é que juntava as pessoas. Mas independente disso, desde a noite do baile, Virginia se sentava perto de Harriet no Salão das Mulheres. Skyler se sentia um pouco nervosa por ela, afinal, depois do que aconteceu com o vestido de Lira, aprendeu a nunca subestimar Virginia e sua vontade de vencer. E se ela estivesse usando Harriet ou se aproveitando de Harriet?

Pretendia investigar isso, mas não teve chance naquela tarde, pois nenhuma selecionada se dirigiu até o Salão das Mulheres. Estavam todas com a atenção voltada para o Jornal Oficial que aconteceria ao pôr do sol e nas entrevistas que seriam obrigadas a dar. Skyler então estava uma pilha de nervos. Era tímida com primeiras conversas, quem dirá uma primeira conversa com um apresentador experiente e sendo transmitida para Illéa inteira. Tentou passar o tempo escrevendo para sua mãe e seus irmãos, mas seis cartas depois, ainda se sentia como se tivesse comido algo estragado e estivesse prestes a vomitar.

As quatro horas, Skyler mergulhou na banheira fumegante de seu quarto enquanto as criadas esfregavam sua pele e lavavam seus cabelos. Era estranho ter alguém para fazer isso por ela, e a ideia de ficar nua em frente a outras pessoas, mesmo que mulheres, ainda a incomodava. Skyler não pôde deixar de pensar em Nicholas e se as criadas dele também o viam nu, mas afastou o pensamento assim que sentiu suas bochechas corarem.

Depois do banho, Skyler foi enfiada dentro de um vestido azul, sua cor favorita. Ele era tomara que caia, longo e com a barra da saia rendada. A frente de seus cabelos foi puxada para trás e presa com uma presilha, e nos seus pés foram postos um par de saltinhos com não mais de cinco centímetros. Skyler se sentia bonita, e sorriu para si mesma antes de se juntar as selecionadas no pé da escada que levava do segundo para o primeiro andar.

Pouco tempo depois, Kate as estava acompanhando até o estúdio do Jornal Oficial, que ficava no subsolo do palácio. A família real já estava acomodada nos tronos que eram destinados a eles, porém invés de estarem no centro do palco, ele agora era ocupado por duas cadeiras elegantes, que Skyler imaginava que era onde as entrevistas seriam ministradas. Os assentos das selecionadas estavam distribuídas em três fileiras, e foi para lá que as garotas se dirigiram. Skyler se sentou ao lado de Samantha e sem que percebesse, puxou uma mecha do cabelo e começou a brincar com ela, enrolando-a na ponta do dedo. Sempre fazia isso quando se sentia tensa.

— Muito bem garotas! – disse Kate, chamando a atenção das selecionadas – Quando Dylan anunciar o nome de vocês, quero que se levantem e sentem na cadeira ao lado dele. Responderão perguntas simples, e depois poderão voltar a seus lugares. Entendido?

As selecionadas murmuraram afirmações, já Skyler não disse nada. Estava mais concentrada examinando Dylan, o excêntrico apresentador do Jornal Oficial. Ele parecia tão tranquilo, ela o invejava por isso.

— Estamos prontos para começar a filmar? – perguntou ele para um homem de cabelos grisalhos usando uma roupa totalmente preta – Estamos? Maravilha! Selecionadas se preparem.

Os próximos minutos foram excruciantes para Skyler. Mais e mais selecionadas eram chamadas, mas não ela, nunca ela, e tudo que queria era acabar com isso logo. Samantha percebeu seu nervosismo e segurou sua mão, que logo Skyler está apertando tão forte que Sam teve que lhe dar um chute discreto na canela.

— A próxima é a senhorita Skyler Angel Chase. Venha até nós, Skyler! – Dylan chamou.

Skyler se sentiu estranhamente leve enquanto se dirigia até o centro do palco, como se estivesse observando a cena dum ponto de vista que não era o dela. Dylan lhe deu um sorriso radiante, que ela retribuiu, concentrando seus pensamentos só nele e bloqueando de sua mente as câmeras, as selecionadas, a família real e os milhões de illeanos que a observavam.

— Então Skyler, qual está sendo para você a melhor parte da seleção até agora?

— Uau, é uma pergunta difícil. Afinal são tantas coisas boas! Mas devo dizer que é poder me cercar de tantas coisas luxuosas que de outra forma não teria oportunidade nem de ver.

— Por um momento achei que fosse dizer que era o príncipe – disse Dylan, com um sorriso travesso.

Skyler riu e relanceou o olhar em direção a Nicholas, que olhava para ela com uma sobrancelha erguida.

— Claro, o príncipe está sendo incrível também.

— E vocês já conversaram muito?

Skyler corou.

— Na verdade só uma vez, no meu primeiro dia no palácio.

— Tenho certeza que você terá oportunidades de aumentar esse número, que no momento parece estar sendo liderado por Elisabeth! A primeira selecionada a ter um encontro com o príncipe Nicholas. Como você se sente em relação a isso, senhorita Skyler? Intimidada? Temerosa?

Skyler franziu a testa e disse, com sinceridade:

— Estou feliz por ela e espero que os dois tenham se divertido. Não, não me sinto temerosa, afinal um encontro não significa casamento, certo? Além de que o príncipe tem liberdade para sair com a selecionada que quiser, quem sou eu para dar palpite? – Skyler deu uma risadinha nervosa.

— Então você acha que todas vocês têm a mesma chance de ganhar, incluindo a Elisabeth? – Dylan perguntou.

— Bom, não. Temos personalidades diferentes, então não há como todas termos chances iguais de ganhar o coração do Nicholas. Mas não será eu a determinar isso, e sim ele, e não acho que um encontro significa necessariamente largar na frente.

— Pensamento positivo, é isso aí senhorita! – falou Dylan, um grande sorriso em seu rosto – Pode se dirigir ao seu lugar, e vamos chamar a próxima.

Skyler voltou a se sentar ao lado de Samantha, seu coração consideravelmente mais leve.

— Você foi ótima! – elogiou Sam – Dylan estava tentando te colocar contra a parede, esperando que você falasse alguma coisa comprometedora, coisas assim dão audiência. Mas você conseguiu contornar a situação muito bem.

Skyler assentiu, mas um pensamento insistia em martelar em sua cabeça. Elisabeth podia não estar em vantagem, mas Sky não conseguia evitar se sentir em desvantagem. Conversara com Nicholas uma única vez. Nem no baile, ocasião em que ele passara o tempo com várias selecionadas, dirigiu uma única palavra a ela. Sentiu Sam a encarando e lhe dirigiu um sorriso, mas se sentia mais perto de cair no choro do que de sorrir genuinamente.