Encostado no batente da janela, deixo meus olhos seguirem a garota de cabelos cacheados que atravessa o jardim lá embaixo. Ela arruma o cachecol em torno do pescoço e abraça o livro pesado enquanto observa as pessoas à sua volta.

A voz de Parkinson chama meu nome, mas eu faço um gesto, pedindo para ser deixado sozinho. Não volto a escutar a voz dela e me sinto grato.

No jardim, a Granger corre de repente e se junta a seus dois amigos. Potter e Weasley. Aqueles dois miseráveis. Morro de inveja ao vê-los andando ao lado daquela garota, como se fossem seus protetores. Como se eles não a ferissem tanto... Exatamente como eu faço... Que piada... Estou querendo proteger alguém que eu mesmo machuco sempre que posso.

Como se me escutasse, ela vira o rosto e olha para o castelo. Diretamente para a minha janela. Toco o vidro com uma das mãos e sinto o frio do inverno. A neve caiu ontem de noite e já preenche o jardim com um cobertor branco.

Eu fecho os olhos e penso em como seria estar ali embaixo. Só eu e a Granger. Sentados perto do lago. Aconchegados um no outro. Quem sabe até trocando alguns carinhos. Então, eu toco o rosto dela, fazendo-a olhar para mim. Roço meus lábios nos seus...

A imagem despedaça-se na minha frente, e eu abro os olhos, derrotado. Eu posso até estar apaixonado pela Granger... mas a Granger jamais se apaixonaria por alguém como eu.