Imperdoável encantamento escrita por Jude Melody


Capítulo 2
Sala comunal da Grifinória – Hermione Granger




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Os sussurros ecoam pela sala como uma música de fundo. Sentada em um dos sofás, tento concentrar-me na leitura do livro. Na mesa à minha frente, separei um pergaminho para fazer anotações dos detalhes mais importantes. Ele ainda está em branco, pois não consigo passar do primeiro parágrafo há quase uma hora. O problema é que essa dificuldade não tem qualquer relação com os alunos de primeiro ano que conversam em voz alta.

Distraída, pego-me pensando naquele garoto arrogante de cabelos prateados. Penso em seus olhos cinzentos e profundos, que me encaram gélidos sempre que nos encontramos nos corredores. Penso em seus lábios finos, que se comprimem em um sorriso debochado sempre que reajo a suas provocações. Penso em suas mãos sempre relaxadas ao lado do corpo, mas que sacam a varinha em uma velocidade impressionante no momento da batalha. Essas mãos que eu desejo secretamente sentir emoldurando meu rosto.

A crueldade que move suas ações causa-me repulsa. Como pode uma garota correta e dedicada como eu sentir-se atraída por um bruxo arrogante e perverso como você? Como pode uma jovem corajosa e inteligente gostar de alguém tão baixo e covarde? Como pode alguém como eu... não se apaixonar por alguém como você?

O grito de um dos meninos do primeiro ano interrompe meus pensamentos. Ele está rindo das bochechas roxas de seu amigo. A alguns passos de distância, Fred e Jorge Weasley fazem anotações em um pergaminho. Eu sei muito bem como funciona a brincadeira. Os gêmeos oferecem uma pequena quantia aos novatos e os convencem a se tornarem cobaias para suas experiências. Eventualmente, os pobrezinhos acabam com espinhas por todo o rosto ou caudas de esquilo. É uma estupidez que se transmite de aluno para aluno.

Irritada, levanto-me e começo a ralhar com os gêmeos. Eles resmungam, dizendo que não sou a mãe deles. Respondo dizendo que sou monitora e que pretendo entregá-los à Professora McGonagall caso não se comportem. Ou pior. À verdadeira mãe deles. Os Weasley fazem uma careta de desdém e desaparecem. Levo o pobre menino de bochechas roxas para a enfermaria, ciente de que, no minuto em que o quadro da Mulher Gorda se fechar, aqueles dois voltarão a testar suas maluquices. Onde está o imprestável do Rony quando preciso dele?

De volta à sala comunal, recolho meus pertences e subo as escadas que levam aos dormitórios femininos. Entro no quarto vazio, coloco o livro, a pena e o pergaminho sobre a mesa de cabeceira e admiro a paisagem lá fora pela janela.

Deito-me na cama, pensando naquele garoto arrogante. Pensando em Malfoy.

Quando foi que perdi o juízo assim? Quando foi que perdi meus escrúpulos assim? Eu não sei dizer... Só sei que me sinto ainda mais humilhada do que quando aquele feitiço atingiu meu rosto e fez meus incisivos crescerem sem parar. Aquela ao menos é uma vergonha com a qual eu posso conviver.

Este sentimento, porém, é algo que eu definitivamente não posso suportar. Ele comprime meu peito e leva minha mente à loucura. Por quê? Por que logo o Malfoy? Por que não o Harry, o Victor ou, ah, que desesperador, o Ronald?! Por que logo um Sonserina? Por que logo bruxo cruel e arrogante?

Com as mãos cobrindo meus olhos, entrego-me às minhas dúvidas. Deixo meus pensamentos correrem soltos e visitarem o garoto genioso que mora nas masmorras. Consigo vê-lo sentado em um dos sofás de couro, bebericando uma taça de vinho enquanto observa os filhos das famílias bem sucedidas torturarem os filhos dos subalternos de seus pais. Seu rosto é iluminado pela lareira, uma lareira com um fogo verde e perverso, não o fogo vermelho e aconchegante que temos aqui em cima.

Não acredito que estou perdendo essa batalha. De novo. Isso acontece sempre que paro para pensar. Por isso, não posso pensar. Eu preciso reagir. Enfrentá-lo. Questioná-lo. Provocá-lo. Preciso fazê-lo perceber o quão podre realmente é.

Então... vejo a mim mesma tocando seu rosto, murmurando palavras de consolo... Vejo-me dizendo a ele que acredito que lá no fundo, bem lá no fundo, existe um coração bom que bate no mesmo compasso que o meu. Um coração no qual existe bravura e humildade... Ao abraçá-lo, sinto o cheiro de tudo aquilo que me faz feliz, como se fosse ele a minha poção do amor.

Penso nas mãos que gostaria de sentir em meu rosto. Penso nos lábios que gostaria de sentir nos meus. Penso nos olhos tempestuosos e em como gostaria de ver aquele gelo derreter diante de mim.

Penso em como ele faz meu sangue trouxa ferver dentro do meu corpo, cálido como a chama azul que crio nas noites frias de inverno em que me sinto sozinha.

Este sentimento é tão humilhante! Eu queria rasgá-lo como se fosse um pergaminho. Rasgá-lo todo e jogá-lo na lareira da sala comunal. Tento inventar mentiras, tento conhecer outras pessoas, tento esquecê-lo... mas nada supera o cheiro inebriante dessa maldita poção do amor que parece emanar dele.

O pior de tudo é que eu sei, com a mesma certeza de que sou uma trouxa, e com orgulho, que, se eu pudesse mudar esse destino irônico e cruel, se pudesse resistir a essa poção, se pudesse ignorar esse olhar gélido, se pudesse, talvez, fazer meu coração escolher o Harry, o Victor ou até mesmo o Rony, se pudesse esquecer o Malfoy de uma vez por todas, eu...

Eu faria tudo de novo, exatamente desta maneira. Porque, afinal, como pode alguém como eu não se apaixonar por alguém como você?


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