Abro meus olhos e tudo o que vejo é um forte clarão que me obriga fechá-los logo em seguida. Fico uns segundos até tornar a abri-los desta vez com mais calma.
Estou em um quarto de hospital, sei disso por que tudo é branco, a cama é estreita, tem soro sendo injetado direto nas minhas veias. Há uma pequena TV a minha frente.
O jornal está passando, estão falando de como salvei o dia, o que como o próprio repórter diz, é considerado um grande feito.
A porta do quarto se abre e vejo uma senhorinha muito fofa entrando, ela checa o meu soro e só então olha nos meus olhos e sorri.
"Se sente melhor pequena dos cabelos de fogo?" Seu tom de voz é tão doce e angelical que não me importo com sua piada, sei que foi uma forma amorosa de falar.
"Sim senhora" Tento sorrir para ela mais não consigo muito sucesso, meu estomago dói apenas com esse gesto.
"Vou colocar um pouco de analgésico no seu soro para que não sinta dores tudo bem?" Ela acaricia meus cabelos com carinho e eu apenas resmungo um sim quase como o ronronado de Bela.
Ela faz o que disse e deixa o quarto me deixando sozinha e com sono. Quando dou por mim meus olhos se fecharam e eu estou dormindo novamente.
Não sei quanto tempo passam-se quando torno a acordar. Não abro os olhos de imediato, pois escuto a voz dos gêmeos parada dura.
"Você conseguiu pegar os caras?" É a voz de Anabeth
"Não eles fugiram" Desta vez é a de Anthony, sua voz soa frustrada. "E ela como está?"
"Está bem, precisamos mantê-la segura, vai fazer guarda, não podemos bobear um segundo, da última vez eles quase entraram no quarto" Anabeth parece preocupada.
"Eu sei" Minha cabeça pude ver Anthony revirando os olhos para irmã. É verdade que Anabeth faz bem o tipo mandona.
Ouço o barulho de alguém batendo a porta, imagino que seja Anthony saindo, só então me permito abrir os olhos.
"Olá bela adormecida" Vejo Annie que sorri formando-se covinhas em suas bochechas. Ela está vestida de enfermeira.
"Você é enfermeira?" Sinto minha cabeça girar de confusão, ou vai ver é só enxaqueca mesmo.
"Não, é só um disfarce, assim eu posso vigiar melhor você, Anthony está de segurança do hospital" A garota age como se fosse a coisa mais normal do mundo.
"O que você sabe sobre enfermagem?" A encaro, mas minha cabeça dói tanto que me obrigo a fechar os olhos.
"Minha profissão me faz aprender muito sobre muitas coisas" Annie parece mexer no meu soro. "Agora durma, seus amigos vão vir te visitar, você precisar estar melhor para recebê-los".
"Okay...hum...legal" Minha voz fraqueja enquanto sinto o sono me levar "Você é mesmo uma agente da CSI então".
Apos isso entro em um abismo negro.
(...)
"Não meche nela!"
"Olha quem fala"
"Ela precisa descansar"
"Ela esta bem? Parece morta"
"Cruz credo Henry!"
Demora um pouco para que eu consiga organizar as vozes que invadem meu sono, mais ainda para que eu consiga abrir os olhos.
"Jemime!" Vejo os cabelos loiros platinados inconfundíveis de Mica e sorrio.
"Oi" Sibilo.
"Ela está grogue, será que deram drogas pra ela?" Agora noto o rosto gorducho de Henry e sorrio.
"Estou muito feliz em te ver também obrigada" Minha voz soa lenta até pra mim mesma.
"De nada gata" Henry pisca pra mim e eu sorrio.
"O que fizeram contigo?" Mica pergunta. Penso seriamente entre mentir ou não, porém, contar a verdade implica em falar dos possíveis dons, contar dos gêmeos e do então perigo que estou correndo.
Não preciso me dar trabalho de responder, a porta do quarto se abre e toda atenção se volta para ela. Anabeth entra acompanhada de seu irmão, que aparentemente mudou o disfarce, ele agora está com roupa de faxineiro, trás consigo apetrechos para limpeza.
"Olá crianças" Anabeth diz; noto na face de Henry que se hesita com o mero som da voz da gêmea. "Vocês me desculpam, mas ela precisa descansar e o moço aqui fazer o trabalho dele".
Eu já me sinto descansada, na verdade tenho a sensação de que já dormir demais, o quarto por sua vez parece tão limpo quanto é possível. Não digo nada.
"Okay" Mica suspira frustrada, a loira deposita um beijo em minha bochecha e abre espaço para que Henry se aproxime.
"Tchau gata" Henry deposita um beijo em minha testa, ele também parece frustrado, porém frustrado por deixar Anabeth.
"Tchau, obrigada por virem" Digo tentando ao máximo parecer natural; sendo que na verdade tenho uma grande pulga na orelha me incomodando.
Quando os dois saem do quarto me viro para os gêmeos.
"Que historia é essa?" Apesar de minha voz estar falha tenho certeza que meu olhar é bastante ameaçador. Anthony cruza os braços e também encara a irmã.
"Você realmente precisa descansar" Anabeth tira um seringa com um liquido transparente dentro, antes que eu possa dizer qualquer coisa ela espeta meu soro e derrama o líquido ali.
"Não preciso não, tenho a sensação de que eu só durmo e acordo a um bom tempo" Eu teria gritado se conseguisse ou ao menos transpareceria toda a minha raiva. "A quanto tempo eu estou aqui?" Indago, passam-se segundos sem resposta. "A quanto tempo estou aqui?" Agora tenho certeza que minha voz soa furiosa apesar da minha vista estar novamente pesando.
"Quatro dias" É Anthony quem responde. "Se serve de consolo, apesar de eu achar uma péssima idéia você como agente, acho que fazê-la de bela adormecida não é lá uma boa idéia" O deboche de sempre, ele me ama não?
Com a explicação de Anthony eu torno a encarar Anabeth que da de ombros.
"Eu cumpro ordens, eles querem você dormindo, eu te coloco pra tirar um cochilo, simples assim" Anabeth começa a ficar manchada, ou minha visão fica manchada, não faço idéia, meus pensamentos também se tornam confusos.
"Por que?" É a única pergunta descente que consigo formular.
"Pra te manter segura enquanto pensam no que fazer" É Anabeth quem responde.
Minha visão se escurece por completo, de forma que a última coisa que penso é: Se eles mandassem ela me matar ela também mataria? Infelizmente... algo me diz que sim.
(...)
Acordo de novo, desta vez sem sono, sem dor, com raiva da cama, com a sensação que hibernei mais que ursos no inverno. Felizmente agora ao menos tenho certeza que realmente dormi mais do que deveria.
"Annie, sua preciosa acordou" Desta vez Anthony esta sentado em uma poltrona, sem roupa de faxineiro ou terno, está de bermuda jeans claro e uma camisa social branca com alguns poucos botões abertos de forma que deixa seus corpo mais...atraente.
"Sim senhor" Só então noto Anabeth do outro lado do quarto falando ao telefone, ela o desliga e sorri pra mim.
"Juro que se você der outra seringada no soro antes de dormir eu a enfio na sua goela" Minha voz é realmente ameaçadora.
"Tenta a sorte" Anthony diz com um sorriso brincalhão em seus lábios. Veja só, ele ri! "Anabeth é a melhor mulher em luta corporal da CSI, isso sem falar na sua capacidade de persuasão". Okay, realmente ameaçador.
"Mas você não precisa se preocupar com isso Jemime" Annie usa o mesmo tom descontraído do irmão. "E quanto a te apagar novamente, não será preciso, eles já tem a decisão deles".
"Eles tem visto você aqui" Anthony aponta para uma câmera perto da porta. "Eles gostaram de todo o seu showzinho e de como você fala grosso as vezes, eu considero bastante irritante mas, fazer o que".
"Vai ver você acha tão irritante por que você é exatamente assim" Rebato.
"Sem briga crianças, enfim Jemime, a decisão final é a seguinte: Agora você é um talento da CSI" Anabeth diz isso como se fosse a melhor coisa do mundo.
"E se eu não quiser ser um talento da CSI?" Questiono.
"Bom, ai você deverá reclamar com o presidente da república". Annie abre um largo sorriso. "Agora vou buscar suas roupas”.
Anabeth sai como uma princesa saltitante de tão feliz, eu fico ali com cara de mal humor de frente para Anthony que também está com cara de mal humor. Não quero ser um talento, eu nem sei o que um talento da CSI faz, e afinal, quem vai cuidar de Bela?
Se eu fosse você não reclamava
Olho para Anthony que tem um sorriso malicioso nos lábios.
Eles não gostam de um não como resposta, a idéia deles é transformá-la em uma agente por bem...nunca se sabe o que eles fariam por mal.
"Você é um grande bosta" Digo.
"Vai se acostumando docinho, sou seu guardião agora" Com isso ele volta a sua habitual expressão de mal humor.
O que vai ser da minha vida agora, só Deus sabe, só sei que não faço idéia de quem eu realmente posso confiar.