Mascarade escrita por Last Mafagafo


Capítulo 22
Capítulo 22 - Don Juan Triunfant




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As luzes do teatro se apagaram e o palco se ascendeu. O cenário exibia chamas e labaredas e as dançarinas apareciam como prostitutas espanholas. Blanche estava no palco com os outros e observava Piangi contar seu plano maligno para seduzir a personagem de Christine a uma vida de perdição. Ele saiu do palco e Christine apareceu, um anjo entre todos, cantando sua ária como uma doce camponesa. Em seguida, uma figura mais alta e magra que o cantor apareceu. As roupas e a máscara negra eram as mesmas, mas era claro que aquele não era Piangi. Ela o reconheceu imediatamente como Erik e, pelo olhar assustado de Christine,  Blanche não fora a única. A voz de Christine se misturou à de Erik no palco e âmbos pareciam envolvidos um pelo ao outro. Havia certa atração, física, carnal, que assustava e seduzia à plateia e ao restante do elenco. 

Blanche pensou no beijo que haviam trocado havia pouco e se entristeceu. Aparentemente, aquilo não havia significado nada para ele. O coração doeu ao imaginar que Erik estava melhor alí, cantando com Christine. Ainda assim, não conseguiu deixar de observar a cena, enfeitiçada como os outros. Erik começou a entoar outra melodia, diferente daquelas que compunham a peça. Estava claramente se declarando a Christine na frente de todos. Foi o golpe final, a certeza de que nada daquilo era encenação, e todas as suas esperanças caíram por terra.

Bastou um segundo para que o quadro se revertesse, Christine arrancou a máscara do Fantasma e ele deu um urro de raiva e decepção. Ele fora traído no momento mais sublime de sua existência. O anjo que então cantava e abria seu coração frente à plateia havia se transformado em um demônio. Ele segurou o braço de Christine, a arrastando para longe da vista de todos. A plateia não entendeu bem, acreditaram que tudo fazia parte da peça até perceber a polícia tomando conta do palco e o elenco em agonia. Só então perceberam que haviam presenciado um sequestro.

A aflição tomou conta de todos. O inspetor de polícia fazia perguntas para cada uma das pessoas que lá estava e ninguém sabia responder mais do que havia presenciado. Raoul, aparentemente, contou tudo o que sabia sobre o Fantasma, mas ninguém deu crédito a ele, já que saiu da entrevista com o investigador irritado e se trancou no camarim de Christine. No meio de toda aquela bagunça Blanche encontrou o Persa e se aproximou dele.

— Foi tudo culpa minha. Eu tentei avisá-lo sobre a emboscada. Ah, eu não deveria ter sido tão impulsiva! - ela disse.

— Não se preocupe, menina. Não foi só você quem falhou. Eu também tentei avisá-lo e tive que enfrentar seu péssimo humor.

— O que vamos fazer? - perguntou, aflita.

— Eu vou atrás de Christine. Vamos ver se o Visconde também está interessado? - ele disse, andando rápido. Blanche tentava acompanhá-lo.

Quando abriram a porta do camarim, encontraram o visconde prostrado, sentado em uma banqueta. Seu rosto era a própria tristeza. Ele havia encontrado uma garrafa de vinho que as bailarinas escondiam no camarim e a estava tomando diretamente pelo gargalo. O camarim estava revirado, com roupas largadas por todos os cantos e caixas e objetos jogados no chão de forma agressiva.

— Senhor Visconde, fico feliz de encontrá-lo aqui - disse o Persa quando entrou no camarim de Christine.

— Quem é você? - Raoul perguntou.

— Sou o Persa e esta é Blanche - ele a apresentou e o Visconde demonstrou que já a conhecia - Precisaremos da sua ajuda para encontrar Christine.

— Claro, senhor. Mas não sei onde encontrá-la. Já tentei abrir este maldito espelho centenas de vezes.

— Não! Não vamos pelo espelho! Me siga, tem um lugar melhor para irmos. Por acaso tem uma arma? - ele perguntou e Raoul assentiu - Ótimo! Pegue-a e a coloque em posição de duelo. Me siga e faça o que eu fizer.

Raoul e Blanche seguiram o Persa a uma área desconhecida do teatro, descendo para o terceiro e quarto nível dos subterrâneos. No meio do caminho, o trio se deparou com uma figura assustadora, com a cabeça em chamas. Por um minuto, Blanche pensou que era Érik, tentando assustá-los, mas na verdade era o caçador de ratos com uma dispositivo moderno que afugentava os roedores. Continuaram seu caminho entre cenários antigos e esquecidos e chegaram a um ponto em que o Persa abriu um alçapão.

— Menina, sua jornada acaba aqui. Estamos entrando na casa do Fantasma e eu não quero que você se machuque - disse o Persa.

— Eu não posso ficar aqui. Tenho que ajudar! Eu não vou me machucar, eu sei! - retrucou Blanche. Ela não queria ficar sozinha, nem deixá-los seguir na expedição sem ela.

— Fique aqui - disse o Persa - se não voltarmos em duas horas, chame alguém para buscar nossos corpos.

Ela sentiu um arrepio ao pensar naquilo. Assentiu e concordou com o plano do Persa, apesar de contrariada. Viu os dois homens entrarem no alçapão e desaparecerem de sua vista. As duas horas seguintes foram as piores e mais angustiantes da sua vida. A imaginação de Blanche a fez ver os piores cenários, as cenas mais sangrentas de modo que é melhor que não sejam relembradas e nem descritas.


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