Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 58
Capítulo 58


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo para vocês!
Já estamos na reta final!
Vamos começar a nos despedir do nosso casal favorito! :(
Eu sei, eu também estou de coração partido.



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John.

Não lembro quando foi a última vez em que dormi tanto. Estou me sentindo seguro e reconfortado como eu não me sentia há muito tempo. Em tudo o que eu consigo pensar é que eu não quero nunca mais me afastar da minha família. Eu quero isso para sempre. Eu quero os dois bem perto de mim. Tenho que conseguir arranjar um jeito de fazê-la perceber que o lugar dela e do nosso filho é ao meu lado, porque eu não tenho a menor dúvida de que o meu é ao lado dos dois.

Levanto meu rosto que está afundado em um emaranhado de cabelos castanhos escuros. Vejo que são 10:30 da manhã.

Droga!

Estou atrasado!

Max está deitado em meu peito ainda dormindo. Ele é adorável quando está dormindo. Ele é tão pequeno. Ele é uma parte de mim.               Não acredito que fiquei todo esse tempo sem conhecê-lo.

— Não quero mais me afastar de você. – Murmuro perto do rostinho do meu filho.

A tarde ontem foi tão divertida. Eu finalmente pude ser o pai dele, e eu não quero deixar de ser. Quero fazer parte de tudo que for a respeito dele. Quero ser positivo e quero pensar que tudo dará certo, porém ela me deixou apreensivo com essa história de ir devagar. Nós não podemos ir devagar. Nós não somos mais aquelas duas pessoas de antes. Nós somos pais agora. Nós temos um filho. Não quero esperar mais três anos para tê-la ao meu lado.

Eu deveria dizer isso para ela!

Mas não quero assustá-la!

Droga.

Suspiro.

Eu tenho uma reunião, e já estou atrasado. Tenho que ir embora. Levanto-me com cuidado para não acordá-lo, coloco ele ao lado da mulher linda e encantadora que está dormindo meu lado.

Os longos cabelos despenteados jogados por sobre o travesseiro. O leve rubor que sobe por sua bochecha. Os lábios finos entreabertos. Essa imagem faz meu coração bater acelerado no peito.

Eu quero muito ver essa imagem todos os dias, para o resto da minha vida.

Me perco na imagem perfeita a minha frente. Fico admirando os dois e pensando no quanto eu sou sortudo. Eu não tinha a menor ideia do que aconteceria assim que eu colocasse os pés nesta cidade outra vez. Na pior das hipóteses Mel iria me mandar para o inferno. E foi isso o que ela fez, mas nem em um milhão de anos eu imaginaria que teria uma família esperando por mim aqui.

Eu sempre quis ser pai, eu apenas não tinha conhecido a pessoa certa ainda. Isso mudou quando eu a conheci. Eu tive certeza de que seria com ela. E é com ela. Agora que eu tenho isso eu não quero perder.

Eu tenho que me esforçar. E vai ser exatamente isso o que vou fazer.

Procuro pela minha calça jeans e eu a encontro jogada perto da janela. Sorrio. A alcanço e a visto. Minha camisa está jogada em cima de um sofá no canto. O cheiro dela não está bom, assim como o seu aspecto.

Como eu posso ir para uma reunião assim?

Será que dá tempo de passar na pousada?

Caminho até o banheiro e jogo um pouco de água em meu rosto. Encontro um enxaguante bucal e já que estou sem escova vai ter que servir.

Não posso reclamar por estar sem escova de dente e sem roupas limpas. Essa com toda a certeza foi a melhor noite da minha vida.

Seco meu rosto em uma toalha branca pendurada ao lado do espelho. Quando saio do banheiro dou de cara com a visão mais linda e encantadora de todo o mundo.

Mel está sentada na cama com os cabelos desgrenhados. Seus olhos estão semicerrados, a alça da camisola está caída em seu ombro. O sorriso preguiçoso em seu rosto faz meu coração se aquecer no peito.

É a melhor sensação do mundo!

— Bom dia, flor do dia.

— Bom dia. – Diz ainda sonolenta. – Acho que dormi demais.

Caminho até ela me sento em sua frente e deixo um beijo delicado em seus lábios.

— Você é linda quando acorda. – Murmuro encantado. – Acabo de perceber que nós nunca havíamos passado uma noite inteira juntos.

Naquela época o avô dela nunca permitiria. Ele não me permitia nem ao menos subir até seu quarto. Mas é claro que nós dávamos um jeito.

— Verdade. – Sussurra baixinho. – Eu sempre tinha que sair correndo no meio da noite. Se meu avô não me visse saindo do meu quarto no outro dia, nem sei o que ele faria comigo. – Diz com uma risadinha.

— E comigo. – Digo de brincadeira.

Sorrio.

— Estou atrasado para uma reunião. Eu queria ir direto daqui, mas a minha camisa não está em um estado muito bom. – Digo fazendo uma careta.

Mel me olha com uma expressão estranha. Ela morde o lábio e olha para baixo. Estranho sua reação. Ergo seu rosto até seus olhos grandes e castanhos encararem os meus.

— Algum problema? – Pergunto preocupado.

Eu vivo com esse medo trancafiado dentro de mim. Qualquer expressão, qualquer coisa que venha dela é capaz de soltá-lo. Tenho medo de perdê-la outra vez. Tenho medo de que alguma coisa nos atrapalhe.

— Não. – Responde baixinho parecendo culpada. – Acho que eu posso arranjar uma camisa para você.

Seus olhos castanhos brilham com algo parecido com travessura.

Ela se levanta da cama com um sorriso travesso no rosto. Vai até a cômoda perto da janela e revira uma gaveta. Eu a observo hipnotizado não querendo perder nenhum detalhe. Suas pernas bem torneadas, a cintura fina, os longos cabelos negros caídos pela costa.

Ela é um colírio para os olhos de qualquer homem.

Mas ainda bem que eu sou o único privilegiado.

— Quando você foi embora, um tempo depois eu achei essa camisa perdida na cabana. Acho que você esqueceu. – Diz me entregando uma camisa da qual eu me lembro muito bem.

Lembro-me de ter procurado por ela, mas nunca me passou pela cabeça que eu teria deixado por aqui, e mais ainda, que ela teria guardado.

— Você guardou? - Minha voz sai mais rouca do que eu pretendia.

Vejo o rubor cobrir suas bochechas.

— Eu pensei em jogar fora, mas não tive coragem. – Quando seus olhos encaram os meus ela parece estar em uma disputa interna. – Eu queria ter o seu cheiro perto de mim.

Ela sabe o que faz comigo?

Passo meus braços por sua cintura e a puxo até estar bem colada a mim. Passo meus lábios pelo contorno do seu rosto, a ouço suspirar.

— Você não disse que tinha uma reunião? – Pergunta ofegante.

Rio.

— Tenho. – Admito. – Você me faz esquecer do mundo.

Ela ri. Sua risada é como uma melodia para os meus ouvidos. Faz tudo ficar mil vezes melhor.

— Gosto de te fazer esquecer das coisas. – Diz deixando um beijo em meu pescoço. Beijos delicados, e com a total intensão de me atiçar.

Deus como eu senti falta disso!

Colo meus lábios aos seus e a beijo com tudo o que tenho. Seus lábios nos meus, nossas línguas se tocando. Nossos corpos colados. É como fogo, e eu quero me queimar nela. Quando estou prestes a empurrá-la para o banheiro, afinal Max está aqui, ela me empurra e me deixa desnorteado. Me encara com um sorriso vitorioso de quem sabe exatamente o que acabou de provocar.

— Eu vou passar o café enquanto você se arruma. – Diz contendo o riso. – Te espero lá embaixo Senhor Ackes.

Ela está de bom humor.

E eu amo isso.

— Acho que o café pode esperar alguns minutos. – Digo me aproximando. – Nem gosto tanto assim de café.

Isso a faz rir mais.

— Ah! Nada disso. Você disse que estava atrasado, e eu não vou deixar você sair daqui sem tomar seu café da manhã. – Diz decidida. – Que tipo de anfitriã eu seria?

— Não estou com fome. – Afirmo a encurralando na pia do banheiro. – Não de comida, pelo menos amor. – Digo com um sorriso sedutor no rosto.

Isso a faz vacilar. Sua respiração fica mais alta, mais rápida. Ela está ofegante. E eu estou disposto a aproveitar isso. Roço meus dedos na bainha de sua camisola sentindo sua pele macia por sob meus dedos enquanto deixo beijos delicados em seu ombro. Sinto sua pele se arrepiar debaixo dos meus dedos. Subo deixando um rastro de beijos de seu ombro esquerdo até seus lábios, emaranho uma de minhas mãos em seus cabelos e o puxo de leve a fazendo me encarar.

— O café pode esperar? – Pergunto sem deixar de olhá-la, e sem tirar minha mão da bainha de sua camisola.

— Pode. – Sua voz sai quase inaudível. E isso é exatamente o que eu esperava.

Sorrio.

— Ótimo.

Com o pé eu empurro a porta do banheiro para que se feche. Passo minhas mãos pela cintura dela e a ergo até ela passar suas duas pernas envolta de mim.

— Acho que vamos demorar mais do que alguns minutos. – Murmuro com os lábios colados ao seu pescoço.

 [...]

Durou bem mais que alguns minutos. Durou o suficiente para fazer um homem passar o dia todo com um sorriso idiota no rosto.

Assim que as pernas dela voltaram ao normal, e ela conseguiu ficar firme no chão, saímos de banheiro e graças a deus Max ainda estava dormindo. Mel desceu para fazer o café, e eu decidi que eu precisaria de um banho. Mandei uma mensagem dizendo que iria me atrasar para a reunião.

Não estou a fim de me aborrecer hoje. Tudo está dando muito certo, e eu quero que continue assim.

Quando saio do banheiro, já vestido, vejo Max com os olhos bem abertos ainda no meio dos lençóis.

Sorrio.

— Ei garotão! – Chamo andando até seu lado. – Bom dia. – Murmuro. Ele sorri e estica os bracinhos para que eu o pegue no colo. Beijo seus cabelos loiros. – Dormiu bem? – Pergunto encantado.

Incrível como eu já o amo tanto.

Ele não responde. Ainda parece meio sonolento. Deita a cabeça em meu ombro e eu acaricio suas costas.

— Vamos tomar café.

Desço as escadas com um garotinho manhoso em meus braços. Mel deve estar caprichando na cozinha, o cheiro faz meu estômago roncar.

— Bom dia, mamãe. – Digo quando entro na cozinha.

Um sorriso radiante se abre no rosto da mulher que amo.

— Bom dia, meu amor. – Diz se aproximando. – Tudo bem, Ursinho? – Pergunta acariciando o cabelo de Max.

— Ele está meio manhoso.

— Ele é assim. Não é de muito papo de manhã. Daqui a pouco ele desperta e ai você vai ver, ele não vai parar mais. – Diz rindo. – Eu vou pegar a mamadeira dele.

Sento-me em uma das cadeiras e ajeito Max em meu colo.

Passamos um café da manhã muito animado. Mel fez panquecas. Ela disse que como um americano não foi difícil adivinhar do que eu gostaria no café da manhã. E ela acertou em cheio. Minha mãe costumava fazer panquecas todos os dias quando eu era criança. Max parece aprovar.

Passo a maior parte do tempo observando a interação dos dois. O carinho com que Mel faz tudo. O olhar que transborda amor todas as vezes que o assunto é Max. Cada vez eu tenho mais certeza de que quero isso todos os dias.

Depois do café, Mel deixa Max na sala assistindo seus desenhos e me acompanha até o lado de fora.

— Você pode usar o carro pelo tempo que precisar. – Diz me entregando a chave.

— Você não vai precisar? – Pergunto receoso.

Ela sorri.

— Eu não uso muito. A caminhonete resolve todos os meus problemas. E eu não acho que eu vá precisar ir até a cidade nos próximos dias.

— Eu posso alugar outro carro. – Insisto.

Ela me encara com os olhos castanhos semicerrados. Parece contrariada.

— Não tem necessidade John. – Diz parecendo zangada. – Eu já disse que está tudo bem, tudo o que você precisa fazer é aceitar, e ponto final.

É, ela acabou de colocar um ponto final nisso.

Sorrio e aproximo meu rosto do seu.

— Você fica linda zangada. – Digo como um bobo.

Ela ri.

— Quando posso te ver outra vez? – Pergunto acariciando seu rosto. – Sabe que dormir sozinho naquela pousada é muito solitário.

Mel passa os braços por minha cintura e me encara com os olhos zombeteiros.

— Muito solitário? – Pergunta fazendo um biquinho.

— Muito. – Afirmo.

Ela se inclina e deposita m beijo em meus lábios.

— Sorte sua que eu tenho uma cama bem grande. – Diz com inocência, o que faz meu sangue entrar em erupção dentro das veias.

— Isso é um convite? – Pergunto me fazendo de desentendido.

— Talvez.

— Então te vejo a noite? – Pergunto.

Por favor, diga que sim!

— Até que horas você acha que trabalha hoje?

— Até a noite. Tenho algumas coisas para resolver. – Digo já desanimado imaginando o trabalho que me espera.

— Então eu vou te esperar para o jantar. – Diz com um sorriso lindo no rosto. – E depois você não precisa ir embora, pode ficar e dormir comigo. Se quiser, é claro. – Diz piscando os olhos angelicalmente.

Olho para o céu e demoro alguns segundos e encaro seus olhos outra vez.

— Não tenho nada melhor para fazer mesmo. – Digo dando de ombros.

— John! – Grita me dando um tapa no peito, sem conseguir conter o riso. – Você não vale nada.

— E você ama isso. – Digo convencido.

— Eu amo você. – Diz com timidez.

— E eu amo você, meu anjo. Mais que tudo.

A beijo ao mesmo tempo com ternura, e com paixão.  A beijo até nossos lábios estarem inchados, e doloridos. Até nosso fôlego faltar.

— Até a noite. – Murmuro.

— Até.

[...]

 Eu me lembro da sensação de ganhar um presente quando eu era criança. Uma coisa que eu queria muito, mas que tinha que esperar até o natal, ou até o meu aniversário.  Eu aguardava ansioso. Lembro de ter ganhado uma viagem uma vez, e de ter pensado que aquele era  o melhor presente do mundo, pensava que nada poderia superar aquilo. Esses últimos dias superaram e muito qualquer outro presente que eu já tenha ganhado na vida.

Ter uma família com a mulher que eu amo, e poder aproveitá-la é uma sensação de outro mundo.

A cada dia eu me apaixono mais por ela, se é que isso é possível. E cada dia mais, eu tenho muito mais certeza de que eu não quero nunca mais me afastar do meu filho.

Há dois dias nós fomos ao cartório, e agora Max é oficialmente um Ackes. Não consigo descrever o tamanho do meu orgulho. Tive vontade de pedi-la em casamento ali mesmo, mas tive que me conter. Tenho medo de fazê-la sair correndo para as colinas. Eu não quero afastá-la. Eu a quero cada vez mais perto de mim.

Eu enviei algumas fotos que eu tirei do Max nos últimos dias para Nova Iorque. Minha mãe ficou histérica. Meu pai assim como eu, ficou orgulhoso, e minha irmã não vê a hora de poder mimá-lo, e quanto a mim, eu estaria mentindo se dissesse que não gostaria de leva-los para Nova Iorque.

Ainda consigo ouvir a histeria da minha irmã.

— Ai meu deus! John, eu preciso conhecê-lo, ele é a coisa mais fofa do mundo! Não acredito que sou tia! Não acredito que eu ainda não o conheço! Você devia ser mais legal comigo!

Kelly sabe como divertir uma pessoa.

Eu estendi a minha viagem o máximo possível, e não sei quanto tempo mais eu poderei ficar. Eu só tenho certeza de uma coisa.

Não quero deixá-los para trás.

Eu venho tentando ler a Mel. Venho tentando decifrar em seus gestos o que ela quer e o que ela não quer. Eu tenho certeza de que ela me ama, disso eu não tenho a menor dúvida, porém eu não sei até onde seu coração está magoado. Não sei qual seria sua reação em relação a minha proposta.

Mark voltou há dois dias, porém desde o dia do piquenique eu passo todas as minhas noites bem agarrado a ela. Durante várias noites eu me pego a observando dormir, quase como se fosse algo automático. Venho passando noites em claro buscando no fundo de mim coragem, e as palavras certas.

Quero que eles venham comigo.

Entretanto, eu conheço bem a dona do meu coração. E por esse motivo eu sei que não será nada fácil. 

— Você parece distraído.

Viro-me para encontrar Mark de braços cruzados e me encarando com curiosidade.

Estou sentado no alto da colina sozinho com meus pensamentos. Eu vejo que a Mel ama esse lugar. Vejo o quanto ela ama morar aqui, e essa certeza faz meu coração se apertar.

— Estava pensando. – Murmuro.

Ouço Mark se aproximar. Ele se senta ao meu lado.

— Pensei que estava tudo bem. Afinal, vocês estão juntos de novo. A não ser que você esteja me enganando e esteja dormindo no banco da praça todos esses dias. – Diz segurando a risada.

Sorrio.

— Está tudo bem. Nós estamos a cada dia mais próximos. Eu estou muito mais próximo do meu filho. – Suspiro. – Mas eu não posso ficar aqui para sempre. Eu tenho que voltar.

— Já falou com ela sobre isso? – Pergunta Mark com curiosidade.

— Ainda não.

— Por quê?

— Por que eu sou um covarde. – Resmungo irritado.

Durante esses dias eu venho tentado tocar no assunto com ela. Mas quando as palavras estão prestes a sair eu sinto o monstro do medo se amarrar com mais força dentro de mim.

— Você precisa falar com ela. – Enfatiza Mark. – Já percebeu que esse é o problema de vocês dois? – Pergunta com a sobrancelha arqueada. – Vocês sempre deixam para resolver as coisas no último minuto. Do que você tem medo?

— Tenho medo de perdê-la, de perder o Max. Eles são minha família, não quero ficar longe deles. – Digo sentindo um nó se formar em minha garganta. – Eu acabei de conhecer meu filho. Eu estou descobrindo como ser pai, não quero estragar tudo tendo que me afastar.

Não quero que ele se esqueça de mim. Ele é muito pequeno. Não quero aquele médico substituindo o meu lugar outra vez. Por mais que ela diga que ele é um cara legal, eu ainda não consegui engolir.

— O que você pretende fazer, então? – Pergunta Mark.

— Eu quero pedi-la em casamento. – Murmuro baixinho. – Mas não tenho certeza se ela irá aceitar.

— Por que ela não aceitaria? – Pergunta Mark cético.

Bufo.

— Por que eu fiz burrada da outra vez. Eu fiz bobagem. Ela me ama, eu sei que sim, mas eu não acho que ela confie em mim inteiramente como antes. Você tem noção do que eu estaria pedindo a ela?

— Não tem mais nada que a prenda aqui John. – Diz Mark como se fosse óbvio.

— Não tenho tanta certeza disso. – Resmungo.

— É o médico?

Sinto meu sangue ferver nas veias. O monstro do ciúme ainda está presente em mim. Eu o olho como se ele fosse um idiota apenas por mencionar o médico.

— Não tem nada a ver com esse cara. – Enfatizo deixando bem claro. – Ela não tem mais nada com ele.

Mark joga a cabeça para trás e solta uma gargalhada.

— Queria que você pudesse ver a sua cara. Você está prestes a soltar punhais pelos olhos. – Diz ainda rindo.

Reviro meus olhos.

— Não gosto de pensar nela com ele. Não quero falar desse médico.

— Tudo bem. – Diz Mark erguendo as mãos em sinal de rendição. – Mas se não for por esse motivo, não tenho a menor ideia do que a prenderia aqui.

— Esse é o lar dela.

— Bom, uma vez você me disse que o seu lar era ela. Talvez ela pense do mesmo jeito. - Olho para ele como se tivesse acabado de brotar outra cabeça em seu corpo. Boquiaberto. – O quê? – Pergunta espantado. – Eu já disse que presto atenção nas suas maluquices.

— Você me assusta. – Digo ainda boquiaberto.

— Eu não sou apenas um rostinho bonito, cara. – Diz me lançando uma piscadela. – Vou te dar um conselho de amigo. – Esforço-me para não rir. – Essa noite quando você for para a casa dela, antes de dormir, deixe ela bem feliz e bem relaxada, ai então você toca no assunto. Mulheres analisam menos as coisas depois de ... bem ... você sabe.

— Talvez eu siga seu conselho. – Digo achando graça.

— Talvez? – Pergunta incrédulo. – Depois você se pergunta porque faz burrada. Você nunca me ouve garanhão. Eu sou um gênio nessa matéria. Eu deveria escrever um livro um dia, eu salvaria os caras como você.

[...]

Repasso em minha cabeça a conversa que eu pretendo ter com ela assim que eu chegar. Eu vou dizer que a amo, que não vejo um futuro sem ela e sem o Max. Vou dizer que não quero me afastar dois, que eles são tudo para mim. E então vou dizer o mais difícil.

— Mel, eu preciso voltar para Nova Iorque. – Murmuro para mim mesmo enquanto faço a curva que me leva para o restaurante. – Eu não posso ser tão direto. – Repreendo-me baixinho. – Eu preciso pensar direito.

Talvez eu deva seguir o conselho do Mark.

Me aproximo do restaurante com o coração a mil, e com uma sensação dolorosa dentro do peito. Eu preciso me livrar dessa angustia. Uma hora eu vou ter que dizer, e não quero que seja na última hora.

Eu tenho que dar um tempo para ela pensar.

Há um carro parado em frente ao restaurante, porém há essa hora o restaurante não está mais funcionando. Isso me faz ficar alerta. Estaciono o carro e assim que abro a porta vejo o médico caminhando porta a fora.

— Boa noite. – Digo me aproximando me perguntando que diabos ele está fazendo aqui.

Ele parece meio distraído. Parece não me ver chegar. Quando me nota demora a responder. Me encara com curiosidade.

— Boa noite. – Responde finalmente.

Coloca minhas mãos no bolso e tento parecer o mais relaxado possível. Tenho que demonstrar que vê-lo saindo da casa da minha mulher não me incomodou, mesmo que seja o contrário.

— Você veio ver a Mel?  – Pergunto.

Calma John.

Eles são amigos.

Eu o veja apertar com força a chave entre seus dedos.

— Na verdade, eu vim ver o Max. A Mel me ligou, ele está com febre, e como eu sou seu médico desde que ele nasceu, ela me pediu para vir dar uma olhada nele.

Sinto meu coração bater desesperado dentro do peito.

— Tem alguma coisa de errado com o meu filho? – Pergunto assustado. Nunca senti nada parecido antes. É desesperador.

Rafael sorri.

— É só uma virose. Eu já passei um remédio. Logo ele ficará bem. Ele só precisa descansar um pouco, e do colo da mãe. – Diz Rafael com afeição. O carinho em sua voz me faz engolir em seco.

— Obrigado. – Digo de repente. – Não apenas por hoje, mas por tudo que você já fez por ele.

Rafael olha para os seus pés por uns instantes, depois exala alto.

— Você é um cara de sorte. – Franzo minhas sobrancelhas. – Sei que eu não deveria me intrometer, mas eu preciso. Você tem muita sorte em tê-la. – Posso sentir o amargor em sua voz. – Eu amo aquela mulher, e amo aquele garotinho. – Cerro meus punhos com força tentando controlar a ira. – E eu daria tudo para que eles fossem meus.

— Não sei aonde você quer chegar com isso. – Digo entredentes.

Mas que porra!

— Eu a amei desde o primeiro momento. – Diz ignorando minhas palavras. – Desde a primeira vez que eu a vi. Eu nunca me importei com o fato dela estar grávida. A única coisa que me impediu de me aproximar dela era a dor que eu via em seus olhos. Ela sofria por você, e eu juro que eu odiava isso. – Ele ri, mas sem humor. – Eu queria que ela olhasse para mim de um modo diferente. Mas sempre que eu a olhava eu sabia que ela estava pensando em você. E eu me perguntava: Mas que droga que esse cara tem na cabeça para ter o amor dela e descartar desse jeito? Ele só pode ser muito burro. Eu daria tudo para estar nos pensamentos dela, daria tudo para ser o dono do amor dela.

Tento controlar minha respiração, e meu impulso para não partir para cima dele a qualquer minuto. 

— Depois de um tempo eu decidi me aproximar mais, eu tinha a esperança de que a amizade, o carinho que ela sentia por mim em algum momento iria virar amor. E se eu tivesse que lutar por isso, eu não pouparia esforços. Até que finalmente ela começou a se abrir, e me deu um pequeno espaço em seu coração. – Ele suspira. – Cara, eu me agarrei aquele lugar com todas as minhas forças. Foi o maior presente que já recebi em minha vida.

Eu sei bem como é essa sensação...

— Eu fiz de tudo. Sempre estive ao lado dela, sempre disposto a dar tudo o que ela precisasse, não só para ela, mas para o Max também. – Ele sorri. – Depois de um tempo eu vi que ela começou a corresponder aos meus sentimentos. Eu via em seus olhos, sentia quando estávamos juntos.

Agora ele está indo longe demais...

Porra!

— E eu pensava. – Ele continua. – Finalmente eu a fiz esquecê-lo. Agora nós podemos das um passo adiante. Ela me ama. – Ele para e respira fundo antes de recomeçar a falar.  – E então, você aparece, e então eu percebi que ela nunca me olhou do jeito como olha para você. – Diz com a voz embargada. – Seus olhos nunca brilharam para mim, como brilham para você, aquele instante foi o pior momento da minha vida.

Fico paralisado apenas ouvindo suas palavras. Decidindo entre deixá-lo terminar, ou dar um soco no meio de sua cara. Não estou em uma posição confortável permanecendo aqui escutando esse cara falar com tanto amor da minha mulher.

— Você é um cara de sorte. – Repete. – Espero que você saiba a mulher que você tem ao seu lado. Espero que você dê valor a ela, porque ela é a mulher mais incrível que eu já conheci. Ela é linda, meiga, carinhosa...

— Eu sei de tudo isso. – Digo irritado. – Você não precisa me apresentar uma lista das qualidades dela, porque eu já as conheço.

— Espero que saiba mesmo. Espero que você a faça feliz, espero que você cuide bem daquele garotinho maravilhoso, e que você dê valor a sorte que tem.

— Acho que você já falou demais, mas eu não tenho ideia do que você realmente quer dizer. – Digo sem rodeios. Eu não sou idiota. Ele está me contando isso tudo porque ele quer chegar a alguma coisa.

Ele suspira.

— Você desistiu dela uma vez, e eu estava aqui. Eu a fiz feliz. Eu não vou atrapalhar vocês dois agora, porque eu sei que é isso o que ela quer, então eu vou ficar fora do seu caminho, mas eu quero te avisar uma coisa. – Diz me encarando sério. – Se você a magoar outra vez, eu não irei mais abrir mão dela, e aí meu amigo você vai ter um problema.

— Está me ameaçando?

— Estou te alertando. Deixando bem claro para você que estou abrindo mão dela exatamente por isso, porque eu a amo, e eu sei que ela não me ama. Ela ama você, e eu quero que ela seja feliz. Mas se você a fizer infeliz não vai ter nada que me impeça de tentar voltar para a vida dela. Eu não vou abrir mão uma segunda vez.

Me sinto irritado com suas palavras. Ele claramente é um homem apaixonado, e eu até poderia perdoá-lo se ele não estivesse apaixonado pela minha mulher.

Minha mulher, porra!

— Você já disse o que queria. E pode ficar tranquilo porque você não vai ter uma segunda chance, porque eu não vou abrir mão dela. – Enfatizo para ele. – Eu a amo, e nunca mais vou me afastar dela.

— Bom, de qualquer modo, minhas palavras ainda são validas. Se você vacilar, eu não vou mais ser tão bonzinho.

Porra. Eu deveria dar umas porradas nesse cara, e eu com toda a certeza faria isso se eu não soubesse que a Mel ficaria muito irritada.

Não vale a pena arranjar um problema com ela agora por cauda dele!

Passo por ele e vou em direção ao restaurante. Ouço a porta do carro se abrir e se fechar, ouço os pneus acelerarem, e eu dou graças a deus por não ter mais que encarar aquele almofadinha.

— Mel. – Chamo subindo as escadas.

Ando pelo corredor e ouço sua voz vindo do quarto do Max. Abro a porta e a encontro deitada abraçada ao nosso garotinho.  Encosto-me a porta e observo a cena a minha frente.

Em uma coisa aquele cara tem razão.

Eu sou um homem de sorte.

— John. – Murmura Mel levantando o rosto para me encarar. Ela parece um pouco sonolenta. – Vem aqui.

Caminho até a cama. Mel abre um espaço para que eu me deite ao seu lado. Tiro meus sapatos e subo na cama. Passo meus braços por sua cintura e deixo um beijo demorado em seu pescoço.

— Ele está bem? – Pergunto preocupado. – Encontrei com o médico lá fora.

— Está. Só está um pouquinho chatinho, mas é normal. – Diz se virando para me encarar. – Senti sua falta. – Murmura baixinho.

Sorrio.

Ela sabe como puxar as cordas do meu coração.

— Também senti a sua. – E não há nenhuma mentira nesta frase. – Você está tão cheirosa. – Digo exalando o cheiro de sua pele.

Ouço sua risadinha.

— Estou cheirando a bolinhos. – Diz rindo. – Fiz bolinhos o dia todo. Bolinhos de todos os sabores que você puder imaginar. É para a festa da escola. As crianças adoram.

— Adoro bolinhos. – Digo e isso a faz rir mais.

— Eu te amo. – Diz baixinho enquanto acaricia meu rosto. Fecho os olhos e deixo essas palavras levarem todos os meus medos para longe. Vai dar tudo certo. – Está tudo bem? – Pergunta.

— Tudo ótimo. – Respondo com um sorriso para não deixar dúvidas. – Eu amo você.

Ele se inclina e encosta seus lábios aos meus me beijando com doçura, do jeito que apenas ela sabe fazer.

— Quero ficar aqui com ele. Quer ficar também? – Pergunta com timidez.

Será que ela faz ideia do que faz comigo? Do que me faz sentir? Será que ela faz ideia do quanto eu preciso dela para sobreviver?

— Não a outro lugar no mundo que eu queira estar. – Respondo com sinceridade. – Vocês dois são o meu lar.

— E você é o nosso. – Diz e essas palavras reacendem a esperança em meu coração.

Passo meus braços por cima dela, ela se ajeita contra mim, seguro a mãozinha pequenininha do meu bem mais valioso.

Seguro meu mundo inteiro em meus braços.

Sim, ele tem razão.

Eu sou um homem de sorte.


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