Sob minha pele escrita por Bruna


Capítulo 57
Capítulo 57


Notas iniciais do capítulo

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Mel. 

Não faço ideia de que horas deve ser agora. Não faço ideia de que horas finalmente pegamos no sono. Não me lembro de quando paramos. Sinto uma respiração suave em meus ouvidos. A sensação é boa, e eu não a sentia há muito tempo. Sinto uma mão quente acariciar minha cintura. Está chovendo do lado de fora, há um vento frio tomando conta do quarto também, porém as mãos dele estão quentes, muito quentes. Seus dedos acariciam minha pele e eu não consigo mais fingir que estou dormindo enquanto ele me toca dessa maneira.

— Você não dorme? – Pergunto ainda sonolenta.

Ouço sua risada abafada. Estou deitada com a cabeça apoiada em seu peito, minhas mãos estão apoiadas nele. Levanto meu rosto para olhar o despertador ao lado da cama e ele marca quatro e vinte e três da manhã.

— Acho que eu estava com medo de dormir. – Ele confessa depois de um longo suspiro.

Levanto meu rosto e o encaro com as sobrancelhas franzidas.

— Medo, John? Do quê?

Ele leva sua mão até meu rosto, e me acaricia com ternura. Beijo sua mão sem desgrudar meus olhos dos seus. Assisto o sorriso que faz meu coração desandar ser desenhado em seu rosto.

— Eu sonhei muitas vezes com você. Minha vida não foi um mar de rosas quando eu fui embora. Eu sentia muito a sua falta, e eu não conseguia voltar a ser o antigo John. – Diz baixinho encarando nossas mãos entrelaçadas. – E quando eu dormia à noite eu podia te ver, eu podia te tocar, quando eu fechava os olhos éramos nós dois outra vez, quando eu os abria você não estava lá. Acho que eu tenho medo de dormir e quando despertar descobrir que tudo não passou de um sonho.

Sorrio.

— Sabe que eu passei um bom tempo do mesmo jeito. – Confesso baixinho.

A pior parte em todos os sonhos, sempre era quando ele ia embora. Eu o via indo embora, e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar. Eu assistia a mesma cena todas às noites, e se repetia de novo, e de novo, e de novo...

— Acho que precisamos falar disso.

— Disso?

— Sobre o tempo que ficamos separados. Sobre tudo o que aconteceu. Uma hora vamos ter que falar. – Ele me puxa para mais perto. Volto a deitar minha cabeça sobre seu peito. Sinto suas mãos brincando com meus cabelos. Sinto seu peito subir e descer suavemente, essa combinações de John me traz uma paz enorme. Fecho meus olhos me concentrando apenas no som da sua voz.

— Sobre o que você quer saber? – Pergunto finalmente.

— Quando você descobriu que estava grávida?

Respiro fundo tomando fôlego, e coragem para revirar o passado. Uma parte minha ainda não acredita que eu estou aqui com ele.

— Um tempo depois de você ter ido embora. Acho que talvez umas três semanas depois. – Murmuro sonolenta. As caricias de John em meu cabelo e em minhas costas estão me deixando muito sonolenta.

— E como descobriu?

— Eu no inicio não estava prestando atenção em nada ao meu redor. Meu avô ainda estava doente, e eu estava usando todo o meu tempo para ele. Eu passei mal algumas vezes, mas eu achei que fosse por conta do estresse, nunca passou pela minha cabeça que eu poderia estar grávida. Depois de um tempo eu me toquei de que minha menstruação estava muito atrasada, e juntando isso com os enjoos, e com as tonturas – suspiro. – Eu fiquei apavorada.

Lembro-me que por muito tempo eu tentei convencer a mim mesma de que nada estava acontecendo. Como se ignorando o assunto, tudo aquilo fosse desaparecer. Bobeira minha. Meu assunto já está bem grandinho e me chama de mamãe.

— Você poderia ter me procurado logo de cara. – Resmunga John.

— Eu tentei John. – Resmungo de volta.

— Você não me disse nada naquele dia.

Levanto-me para encará-lo outra vez.

— Você pode me deixar terminar? – Pergunto zangada.

Ele arregala os olhos e me dá um de seus melhores sorrisos. São vários e eu aprendi a identificar todos.

— Vá em frente, amor. – Diz de um jeito divertido, se inclina e deposita um beijo delicado e muito – muito - tentador em meus lábios.

Volto a me deitar em seu peito, e ele volta a acariciar meus cabelos, e a minha pele descoberta.

— Aquele dia não foi a primeira vez que eu tinha te ligado. – Confesso acariciando os cabelos claros do seu peito. – No dia em que eu descobri mesmo que estava grávida, eu liguei para você. Eu engoli meu orgulho. Eu sabia que você estava muito irritado comigo, você havia deixado isso bem claro quando foi embora sem falar comigo, mas mesmo assim eu achei que você deveria saber, porque nós iriamos ter um bebê. – Ainda me magoa saber que ele me ignorou.

— Não me lembro de ter recebido outra ligação sua. – Diz parecendo pensativo.

— Claro você me ignorou. – Digo deixando que o rancor transborde de minhas palavras.

John suspira alto.

Ele se ajeita para se sentar, e eu sou obrigada a me levantar. Ele encosta suas costas à cabeceira da cama. Em me sento e tento me cobrir do melhor jeito que consigo. Não me sinto mais quente e protegida como estava me sentindo há poucos segundos atrás. Estou me sentindo muito vulnerável agora.

— Eu nunca te ignorei. – Diz com firmeza. – Eu sei que fui um idiota, e na única vez que tomei coragem para te ligar as coisas não saíram como eu havia planejado, mas eu nunca ignorei nenhuma ligação sua.

Suas palavras são firmes, e sua postura me diz que ele não está para brincadeira. Eu sei que ele está sendo sincero. Imaginar que ele havia ignorado as minhas ligações, imaginar que ele estaria me ignorando deliberadamente, esmagava o meu coração. O esmagou durante muito tempo.

— Então porque não me atendeu? – Pergunto sem entender.

— Onde você ligou?

Reviro meus olhos e o ouço suspirar.

Ele odeia quando eu faço isso. Acho incrível que ele ainda não tenha percebido que essa é a principal razão para que eu ainda faça.

— No seu celular. Eu liguei depois que eu descobri, mas você não me atendeu, eu pensei que você não quisesse falar comigo. O que você queria que eu pensasse?

Eu estava aflita, esperando um bebê, querendo dividir a noticia com a única pessoa no mundo que poderia me consolar, e essa pessoa simplesmente virou as costas para mim.

Ele leva uma das mãos ao rosto e com a outra massageia sua têmpora. Eu o assisto respirar fundo.

— No dia em que eu voltei de Madri, no mesmo dia em que fui embora, você lembra que estava chovendo muito? – Pergunta com os olhos verdes cravados em mim.

Franzo minhas sobrancelhas.

Aonde ele quer chegar com isso?

— O que isso tem a ver? – Pergunto confusa.

— Na viagem de volta o carro atolou, eu tive que sair para empurrar. Estava chovendo muito, e tinha lama para todo lado. Meu celular caiu em uma poça. – Arregalo meus olhos entendendo finalmente aonde ele quer chegar. – Eu não estava com meu celular quando fui embora, Mel. Na hora eu nem me lembrei de tirar o chip, eu simplesmente o deixei lá.

Um soluço sai do meu peito, junto com um entendimento muito doloroso.

Eu sou uma burra!

Sinto meus olhos queimarem, sinto meu coração se apertar dentro do peito.

— Então você ... você .... – eu nem ao menos consigo terminar a frase. Eu estou completamente desnorteada. – John. – Choramingo. – Você...

— Amor. – Ele diz me puxando para seus braços me abraçando com força. – Se você me pedisse para voltar, eu teria voltado na mesma hora. Se você tivesse me dito que estava grávida eu teria voltado e teria me casado com você imediatamente.

Meu deus!

Isso é horrível.

É tudo minha culpa.

— Eu sinto muito John. – Digo com a voz embargada sem conseguir mais conter as lágrimas. – Meu deus! Eu fiz tudo errado. É tudo culpa minha! Me perdoa, por favor! – Imploro.

— Eu não tenho nada que perdoar Mel. – Diz com suavidade enquanto acaricia meus cabelos. – Amor, foi um mal entendido. Você não fez por mal. Você estava grávida e magoada, e eu não fiz nada para melhorar as coisas. Nós dois temos um peso muito grande nessa história. Não é culpa sua. – Diz com firmeza.

Eu quase acredito em suas palavras.

Quase.

— Eu sou uma idiota. – Choramingo. – Podia ter sido tudo diferente, se eu fosse menos burra. Eu achei que você não queria mais nada comigo. Antes de ir embora você disse que queria esquecer esse lugar. Esquecer de mim. – Lembrar daquele dia ainda me faz sofrer muito. Lembrar de suas palavras ainda jogam sal em minhas feridas. – Quando você não atendeu eu achei que era isso que você estava fazendo. Eu fiquei com muita raiva, e pensei que se você não me queria mais na sua vida, você também não iria querer o meu bebê. – Digo soluçando.

— Como você pôde achar isso? – Sua voz demonstra magoa. Outra vez me sinto um monstro. – Eu achei que você me conhecesse melhor. Eu teria dado tudo para estar ao seu lado em todos os momentos.

Fecho meus olhos e sinto as lágrimas escorrerem por meu rosto. Me sinto envergonhada. Me sinto uma menina boba. Todos esses anos. Todo esse tempo.

— Eu senti tanto a sua falta. – Choramingo me agarrando a ele com toda a minha força. Enterro meu rosto em seu pescoço. – Eu sinto muito John. Eu te amo, te amo muito, muito mesmo. Desde a primeira vez que te vi. Nunca consegui arrancar você daqui. – Digo pegando sua mão e a depositando em cima do meu coração. – Eu fui tão injusta.

— Você não foi injusta. Você não tinha como adivinhar. Eu fui teimoso Mel. Eu deveria ter vindo atrás de você, mas eu havia ficado tão mal por você ter desistido de tudo. Achei que você não me amasse de verdade. Eu fui egoísta. – Diz limpando com ternura as minhas lágrimas. Seus olhos verdes encaram os meus com intensidade. Eles demonstram um amor que me faz perder o fôlego. – Quando eu decidi tomar coragem eu pensei que tinha sido tarde de mais. Eu achei mesmo que você iria se casar com aquele seu amigo.

— Não sei se somos mais amigos. – Murmuro limpando minhas lágrimas.

Ele abaixa minha cabeça até se encostar ao seu peito outra vez. Cobre meus ombros com o lençol e me abraça forte,

— Por que não? – Ele acha que disfarça, mas eu sei muito bem que isso o deixa muito satisfeito. Ele nunca gostou do Mateo.

Eu fiquei triste durante muito tempo depois dele ter se afastado de mim. Ele nem ao menos me cumprimentava quando me via na rua, principalmente se eu estivesse com Max. Ele fazia um esforço enorme para fingir que eu não passava de uma estranha.

— Naquele dia, antes de você ligar, eu havia contado para ele que estava grávida. Primeiro ele ficou surpreso, depois ele ficou meio fora de si quando se tocou de que meu filho era seu também.

— Claro que ficou. – Murmura John entredentes.

— Ele se ofereceu para assumir o Max. – Sinto o corpo de John tencionar embaixo do meu. Sei que isso o irrita, mas eu não quero que haja mais nada entre nós dois. Quero que ele saiba de tudo. Sei que isso nunca vai justificar o que eu fiz. Mas talvez, com sorte, ele possa me entender.  – Ele disse que poderia ser o pai do meu filho. – Aperto a mão de John. – Eu disse para ele que meu filho já tinha um pai. Eu disse que você era o pai dele. – Assim que as palavras saem da minha boca eu sinto o corpo de John relaxar embaixo do meu. – Ele ficou furioso. Disse um monte de besteiras, e quando eu não quis mais ouvi-lo eu o deixei do lado de fora falando sozinho. Ele veio atrás de mim ainda fora de si, e foi nessa hora que o telefone tocou. – Abraço sua cintura. – Era você. – Deixo um beijo em seu peito. John beija minha cabeça. – Ele disse aquilo que você já sabe, e quando eu peguei o telefone eu achei melhor não desmentir. Eu havia ligado e aquela mulher havia atendido, eu havia ligado e você havia ignorado. – Fecho meus olhos com força quando penso no quão estupida eu fui. – Achei que você não se importasse. Então eu decidi que teria o meu bebê sozinha.

— Esse cara é um imbecil. – Diz John irritado. – Me ferve o sangue pensar na possibilidade dele criando meu filho como se fosse dele.

— Eu sabia que seria errado John, por isso eu disse que não. Depois disso ele parou de falar comigo. Nem olhava para mim quando nos esbarrávamos na rua, e se eu estivesse com Max então. Ele nem ao menos me encarava.

— Ele me odeia. Ele não deve ter ficado muito feliz de te ver carregando um filho meu, e nem com ele nos braços, e ainda por cima, Max é muito parecido comigo. – Diz com orgulho.

Sorrio.

— Ele foi embora. Ele não vive mais por aqui. Eu não o vejo há quase dois anos.

— Com quantos meses você estava? – Pergunta de repente.

Faço um esforço para me lembrar. Um dia antes eu havia passado mal. Um dia antes eu havia descoberto que estava esperando um garotinho.

— Não lembro muito bem, mas acho que eu estava com uns cinco meses, mais ou menos. – Digo pensativa. Nesse mesmo dia eu havia contado ao meu avô que estava grávida. Sorrio ao me lembrar do quão compreensivo ele foi. – Eu havia contado ao meu avô alguns minutos antes.

John se ajeita para me encarar. Ele tira algumas mechas do meu cabelo da frente dos meus olhos com doçura.

— Como ele reagiu?

Um sorriso se abre em meu rosto. Essa memória é muito bem-vinda.

— Melhor do que eu esperava. – Confesso rindo. – Eu estava morrendo de medo. Pensei que ele iria ficar uma fera. Eu tinha apenas dezenove anos, e iria ser mãe solteira. Eu não deveria ter pensado que ele iria reagir mal, ele era a melhor pessoa do mundo.

— Ele deve ter me achado um cretino. – Diz John baixinho, parecendo envergonhado.

Seguro seu rosto entre minhas mãos. Me inclino e deposito um beijo em seus lábios.

— Ele nunca achou isso. Apesar de tudo ele sabia que havia sido uma escolha minha não falar nada.

— Isso não faz eu me sentir melhor. – Diz soando triste. Acaricio seu rosto e ele inclina sua cabeça para a minha mão como um garotinho carente. Encosto meu rosto ao seu. – Isso faz eu me sentir melhor. – Murmura com manha.

Isso arranca uma gargalhada minha.

— Maximillian era o nome do meu bisavô. – Confesso com timidez. – Não lembro exatamente quando foi, acho que eu ainda era criança, mas eu me lembro de tê-lo ouvido dizer uma vez que se ele tivesse tido um filho ele teria dado o nome do seu pai. Achei que ele ficaria feliz se eu fizesse isso.

— E ele ficou? – Pergunta John sorrindo.

— Muito. – Digo baixinho deixando que a lembrança me invada. Eu ainda consigo ver seu sorriso. Ainda posso ouvir o som de sua risada. – Ele amou muito o Max no pouco tempo que ficou com ele.

John segura meu rosto entre suas mãos, exatamente como eu havia feito há poucos segundos. Encosta seu rosto ao meu. Ele deixa um beijo delicado em meu nariz, o que me faz rir, deixa outro beijo em meu queixo, e quando seus lábios se encostam aos meus nós simplesmente não conseguimos nos conter. Eu o beijo com desespero. Sentindo meu peito mais leve por finalmente estarmos conversando sem nos atacar. Sentindo que eu o amo mais agora. Se é que isso é possível.

— Você é adorável. – Murmura. – Você é linda demais.

Sorrio.

Ficamos quietos por um tempo. Sinto meu corpo relaxar. Sinto a conexão que temos um com o outro. Eu sempre soube que não poderia ter isso com mais ninguém. Apenas com ele. John respira fundo. Parece estar tomando coragem para alguma coisa.

— Como aconteceu? – Pergunta.

— Como aconteceu o quê? – Pergunto não entendo ao o que ele se refere. Estamos falando de tantas as coisas nos últimos minutos. Aconteceram tantas coisas nos últimos anos.

— Como seu avô ... – ele hesita - ... como ele morreu? – Pergunta finalmente.

Minha vez de respirar fundo. Esta parte da história ainda dói muito.

— Ele estava bem, foi de repente, coisa de um dia para o outro. Ele estava contente, e parecia que a parte ruim havia ficado para trás, ele tinha se recuperado. Ele ficava o tempo inteiro com Max nos braços, era terrível depois, porque ele acabou o acostumando mal. – Digo rindo. John ri também. – Um dia ele não se sentiu bem para levantar da cama, e depois disso ele não tinha mais forças. Eu já havia conversado com o médico e ele já havia me dito que eles não podiam fazer mais nada, mesmo assim eu torcia para que um milagre acontecesse, e foi assim. Ele ficou mais tempo do que os médicos achavam. Ele viu o Max nascer, viu ele engordar e virar uma bolinha loira. - Rio outra vez me lembrando de como meu ursinho era adorável. – Uma tarde eu havia deixado ele com o Max no quarto. Max era a companhia dele enquanto eu trabalhava no restaurante. Eu subi para vê-los e percebi que ele não estava respirando. Eu fiquei apavorada. Já havia acontecido muitas vezes, mas alguma coisa dentro de mim me dizia que aquela vez era diferente. – Me agarro mais a John, e como por reflexo seus braços me apertam com mais força. – Não havia mais nada que pudesse ser feito. Ele foi para o hospital, mas não voltou mais. – Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto outra vez. – Eu tinha tanto medo de ficar sozinha. Se não fosse pelo Max eu não sei o que eu teria feito.

— Queria ter estado com você em todos esses momentos. – Diz John com a voz embargada. – Queria ter estado aqui para te abraçar e para te dizer que tudo iria ficar bem. Eu nunca vou conseguir me perdoar por ter sido tão egoísta com você. Eu deveria ter entendido, deveria ter ficado.

Fecho meus olhos e deixo que suas palavras se infiltrem dentro de mim.

— Você não sabe o quanto eu desejei ouvir isso de você. O quanto eu desejei que você estivesse perto de mim. Me senti tão sozinha. Depois de ter visto o último suspiro do meu avô eu fiquei um bom tempo sentada em uma cadeira no corredor sem saber o que fazer a seguir. Eu estava tão perdida, até que o Rafael apareceu. – Sinto o corpo de John tencionar outra vez. – Ele foi um ótimo amigo.

— Eu queria poder não gostar desse cara. – Resmunga John parecendo contrariado. – Mas ao contrário do que eu sentia quando eu via o Mateo, vendo esse tal de Rafael eu não sinto meu estômago embrulhar. Ele parece ser um cara legal. – Termina fazendo uma careta.

Beijo seu rosto e ele sorri.

— Ele é. – Afirmo.

— Chega de falar dele. – Diz enlaçando minha cintura e me girando na cama até seu corpo estar sobre o meu. Rio feito uma garotinha. Seus olhos estão brilhando e seu sorriso, e sua felicidade são contagiantes. – Sei de uma coisa que é muito melhor.

— Sabe? – Pergunto séria, me fazendo de inocente. Isso parece animá-lo mais. Seus olhos queimam minha pele como fogo enquanto me olha dos pés a cabeça. Sei que não estou usando nada, e isso não me incomoda.

— Sei. – Diz mordendo o lábio. Sinto uma corrente elétrica subir dos meus dedos dos pés, até os fios dos meus cabelos. – E acho que você vai amar.

— Também acho. – Digo ofegante.

Ele sorri. Seu sorriso convencido. Seu sorriso cafajeste. Seu sorriso que me faz perder a cabeça. O sorriso que amo tanto.

John enterra a cabeça em meu pescoço e começa a deixar beijos delicados em sua extensão. É difícil respirar agora sem fazer um barulho enorme. Suas mãos agarram minha cintura me mantendo no lugar, minhas mãos se espalmam em suas costas o agarrando contra mim com mais força.  Ele continua seu caminho deixando vários beijos por onde passa. Meu coração bate acelerado no peito. Levo minhas mãos até estarem emaranhadas em seus cabelos. O ouço suspirar. John rodeia meu umbigo com os lábios muito lentamente. Sinto um calafrio percorrer o meu corpo. Ele levanta o rosto e me encara com um sorriso sedutor. Desce com beijos demorados me deixando impaciente, sem nunca tirar seus olhos dos meus.

Ele ri.

— Impaciente como sempre. – Diz com os lábios colados a minha pele.

— John. – Choramingo sem conseguir me conter mais.

Sinto seus beijos em minha pele se intensificarem e irem cada vez mais para o sul. Jogo minha cabeça para trás, deixando meus cabelos caírem como cascatas por minhas costas. Agarro com força os lençóis, os prendendo entre os nós dos meus dedos. Chamo seu nome, várias e, várias vezes.

[...]

A cama está confortável. A sensação de estar no lugar onde eu sempre deveria estar é revigorante. Braços fortes estão em volta da minha cintura. Sinto um peito quente grudado as minhas costas. Assim como sinto alguém ressonando baixinho em meu ouvido.

A janela está aberta desde a noite passada. O sol está brilhando, igual à manhã passada, e completamente diferente da tarde e da noite depois. Espreguiço-me. Fico alguns minutos encarando o teto sem saber o que pensar direito. Não acredito que tudo aquilo aconteceu. Olho para o meu lado e sorrio.

Não foi um sonho.

Foi a pura, e doce, realidade.

 Ele e Max se parecem até quando estão em sono profundo. A boca de John está entreaberta, seu cabelo despenteado, os fios de uma cor dourada, meu coração tem um descompasso no peito.

— Você costuma encaras as pessoas assim? – Pergunta ele com o rosto amassado contra o travesseiro.

Rio.

— Como você sabe? Você está de olhos fechados! – Digo incrédula.

— Eu sinto você. – Murmura.

Ele abre os olhos devagar, e eu sinto o ar sair dos meus pulmões assim que encaro seus olhos verdes. Seu sorriso brincalhão. Sinto as borboletas despertarem em minha barriga. As mesmas borboletas que eu não sentia há muito tempo.

— Você devia se vestir.

— Por quê? – Pergunta se espreguiçando.

— Por que eu conheço o meu ursinho e não vai demorar muito para ele chegar aqui.

—Tão cedo? – Pergunta franzindo as sobrancelhas.

— Ele vai dormir de novo. Ele não gosta de dormir sozinho, e eu estou tentando mudar isso. Sempre que eu o coloco em seu quarto no outro dia de manhã ele aparece aqui.

— Não posso culpá-lo. – Murmura John me puxando para perto. – É maravilhoso dormir com a mamãe.

Sinto minhas bochechas esquentarem.

Junto nossos lábios e o beijo longamente enquanto nosso fôlego permite.

— Vista-se John. – Ordeno de brincadeira.

— Sim senhora. – Diz fazendo uma continência.

Pego a camisola que fica em meu criado mudo e a visto. Quando volto meus olhos para John ele já está vestido com sua cueca. Ele volta a se deitar ao meu lado. Leva uma mão ao meu rosto e o acaricia.

— Então estamos juntos. – Isso com toda a certeza não foi uma pergunta.

Engulo em seco.

— Acho que deveríamos deixar as coisas acontecerem devagar John. Sem pressa, sem planos. – Digo hesitante com medo que ele entenda tudo errado.

Ele me encara com seus olhos indecifráveis. Não consigo desvendar suas expressão. Ele encara os lençóis antes de me olhar outra vez.

— Não estou entendendo.

Sua expressão me diz que ele entendeu tudo errado.

Suspiro.

— Nós fizemos muitos planos da última vez e nenhum deles se concretizou. Vamos com calma. Eu amo você.

Eu apenas não quero me magoar outra vez...

— Mesmo sem entender o que você quer dizer, eu vou fazer como você quer. Não vou ter pressa, vou te dar todo o tempo do mundo.

— Obrigado. – Murmuro encantada com suas palavras.

Nesse mesmo instante percebemos uma movimentação na porta. Max está parado perto da cama coçando os olhinhos com uma mão, e segurando seu precioso ursinho na outra.

— Mamãe. – Ele resmunga baixinho.

Sorrio para John.

— Eu disse. – Sussurro.

John engatinha até a beirada da cama e levanta Max em seus braços. Ele vem com ele até mim, encosta suas costas à cabeceira da cama e deita Max em seu peito.

— Ainda está cedo, ursinho. – Digo fazendo bico para o meu anjinho loiro. – Volte a dormir. A mamãe vai ficar aqui com você.

— Papai também. – Diz John baixinho depositando um beijo em sua bochecha.

Essas duas palavras puxam as cordas do meu coração. Fazem uma felicidade enorme aquecer o meu peito, e ao mesmo tempo em que isso me alegra, eu também sinto uma pontinha de medo. Medo de que tudo não passe de uma ilusão outra vez.

Max luta para manter os olhos abertos. Tenho certeza de que ele acha que eu irei colocá-lo em seu quarto outra vez. Ele dorme comigo desde que nasceu. Eu o acostumei assim. Eu várias vezes tentava me convencer de que eu o trazia para dormir comigo porque ele era muito pequeno, porque ele era indefeso, mas lá no fundo eu sei que a razão verdadeira é que eu sempre me sinto a beira de estar completa quando meu filho está comigo. Quase completa. Porém agora ter os dois juntos, pertinho de mim, faz eu me sentir completa de novo. Pergunto-me por quanto tempo.

Quanto tempo, meu deus?

Quanto tempo até tudo desabar outra vez?

Tento me livrar desses pensamentos tristes. Não quero me atormentar agora. Aproximo-me de John. Encosto meu rosto em seu ombro ficando de frente para o meu garotinho. John passa um dos seus braços pelos meus ombros. Abraçando a mim e ao Max da melhor maneira que ele consegue.

— O melhor jeito de começar o dia. – Murmura John sem conseguir disfarçar o contentamento.

Ficamos um tempo assim, juntos, sem querer desfazer esse abraço tão bom. Encaro o meu ursinho que parece encantado com John. Seus olhinhos verdes sonolentos, assim como os olhos de John estavam na noite passada.

— Vou descer para buscar a mamadeira do Max. – Digo me levantando a contragosto. – Talvez depois de mamar, ele durma outra vez. Ainda é muito cedo. – Calço as sandálias que estavam perto da cama e sorrio para a imagem que vejo a minha frente. É simplesmente de tirar o fôlego.

— Nós vamos esperar aqui, não é garotão? – Pergunta John acariciando os cabelos de Max.

— Sim papai. – Responde Max de uma forma que eu mal consigo decifrar por conta da chupeta que ele não larga por nada.

Desço até a cozinha deixando os dois homens da minha vida à minha espera. Olho o relógio pendurado na parede e ele marca seis e meia da manhã. Eu estava com a sensação de não ter dormido muito essa noite. Agora eu tenho certeza. Sorrio me sentindo uma boba por estar tão feliz.

Por que ele tem esse efeito em mim?

Só ele pode me fazer flutuar como se eu fosse a pessoa mais feliz do mundo com apenas algumas palavras.  Só ele é capaz de fazer o contrário com a mesma rapidez.

Eu o amo tanto.

Tenho medo de dar errado outra vez.

Esquento o leite e o faço do jeito que Max gosta. Assim que termino pego a mamadeira e voo em direção ao quarto. Chegando lá John e Max estão na mesma posição em que eu os deixei. Eles são adoráveis. A luz fraca que passa por entre as frestas da janela ilumina o rosto dos dois. Ilumina o tom loiro do cabelo dos dois. Os dois estão de olhos fechados. Sento-me e fico os admirando.

Eles são lindos.

— Cabe mais um aqui. – Murmura John ainda de olhos fechados.

— Parece que você desenvolveu um tipo de poder paranormal. – Digo rindo enquanto engatinho até ele. Deixo a mamadeira no criado mudo. Talvez Max queira depois quando despertar.

Ele ri.

Deito-me ao seu lado, e ficamos os três ali, abraçados, juntos.

Eu sonhei tanto com isso. Eu preciso aproveitar o presente, deixar o passado no passado, e não me preocupar tanto com o futuro, afinal, ele ainda nem chegou.


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