Oh, Calamity! escrita por Leh Linhares


Capítulo 26
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Então, para quem ainda estiver lendo, esse é o fim.
Espero que gostem!



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Pov. Clarke Griffin

A guerra está oficialmente terminada. Já se passaram meses desde a última batalha e Arkadia parece finalmente estar entrando nos eixos. Abby assumiu seu lugar de líder e vem se mostrando digna do posto. Perder Kane, por mais difícil que tenha sido, não definiu como minha mãe lidaria com o resto da vida. Abby é agora depois de tudo que passamos um motivo de orgulho.

Meu povo é motivo de orgulho. Tudo está bem, na medida do possível ao menos, estão todos bem alimentados, com um bom serviço médico, segurança e felicidade. Finalmente, depois de todos esses anos, tenho a sensação de dever cumprido.

Meu papel de líder está enfim terminado. Ou seja, eu posso enfim seguir adiante com a minha própria vida. Não que eu saiba exatamente o que fazer com essa liberdade, não decidi ainda nem se gosto dela. Repito para mim mesma constantemente:

“Você está livre para fazer o que quiser. Isso é bom...”

 

 Mas será que é mesmo? Nunca fui obrigada a pensar muito sobre o que eu queria fazer. Sempre houve algo mais importante a se pensar, mas agora não há. Finalmente estou livre para viver como uma pessoa comum, porém sequer sei como é ser uma pessoa comum. A tranquilidade e o silêncio me confundem mais do que acalmam. O que devo fazer agora?

Ainda tenho pesadelos todas as noites. Ainda acordo aos gritos todas as noites. Certo que agora tenho Bellamy para me fazer companhia, contudo por mais que fisicamente eu tenha Bellamy. Uma parte minha nunca será dele, como uma parte dele nunca será minha...

Todas as feridas do passado: a traição de Lexa, o modo como eu matei Finn e tantas outras coisas. Ainda me perseguem e provavelmente continuaram me perseguindo por toda minha vida. Será que consigo ser feliz? Esquecer de tudo isso? Queria que fosse possível.

Bellamy tem um elo ainda maior com seu passado do que eu: um filho. Uma criança que nem nasceu ainda, mas que já toma grande parte do seu coração.

Não me entendam mal, estou realmente feliz por ele, mas ainda me sinto insegura sobre o que essa criança deveria significar pra mim: um eterno lembrete do abandono que eu causei a ele?  Um aviso prévio de que logo eu e Bellamy teríamos o nosso próprio filho?

 A verdade é que estou confusa, mais do que posso admitir.

Eu e Bellamy estamos felizes juntos. Desde sua saída do hospital, visto a situação com Raven, ele veio viver comigo. Tem sido ótimo, é bom ter companhia, mas do que isso é bom ter a companhia dele. Acordar ao lado dele, dormir ao lado dele, me divertir com ele. Posso entender porquê Raven não quis abrir mão disso, Bellamy por mais durão que se faça para os outros, é um ótimo homem e será certamente um ótimo pai, mas eu… eu não sou uma mãe. Pelo menos nunca me imaginei nesse papel.

Qual será meu papel na criação desse bebê?  

O bebê de Bellamy e Raven está nascendo nesse exato momento. Se eu quisesse estar lá dentro eu poderia, Bellamy pediu que eu estivesse com ele, mas não achei sensato. Mesmo o término entre ele e a morena tendo sido amigável. Não definiria minha relação com Raven como amizade. Ainda há certa amargura em nós duas, talvez sejam só as lembranças.

Eu a vejo e lembro da vida que tirei de Finn, da vida que tirei dela a voltar para Bellamy, essa criança deveria crescer com seu pai ao seu lado. Raven diz que está tudo bem que a criança terá duas mães e  que isso já basta, contudo não consigo acreditar que ela realmente goste disso.

Não que eu não vá ter relações com a criança, sei que ela será grande parte da nossa vida, sei que com o tempo a amarei como meu filho ou filha. Eu só não quero passar dos limites, mesmo que eu ame essa criança como meu filho, ela nunca será realmente meu filho. Eu nunca serei realmente mãe dele, Raven será e esse não é um tipo de função que deva ser dividida. Raven merece esse amor incondicional, eu nem tanto.

— É uma menina!- diz Bellamy saindo da sala de parto tão feliz que eu paraliso. O que eu deveria dizer a ele? E se Bellamy quiser um filho comigo? Será que estou preparada? Já estudei muito sobre gravidez, mas nunca imaginei realmente viver uma, carregar um outro ser dentro de você pode parecer bonito para muita gente, porém pra mim soa apenas assustador. Não é que eu não goste de crianças, só não sei se queria uma dentro de mim.

— Parabéns! Já escolheram o nome?- fala Octavia. Ela também parece muito alegre, radiante na verdade, sua primeira sobrinha. Permaneço em silêncio, com um sorriso nervoso no rosto, tentando definir o que deveria dizer, não que algum deles perceba.

— Já escolhemos, mas queremos que todos estejam presentes antes de contar.

Bellamy aguarda conosco por um tempo. Abby e os enfermeiros estão terminando de recolher a placenta. Imagino o quão cansada ela deve estar foram sete horas em trabalho de parto e isso nem é considerado muito para um trabalho de parto em uma mãe de primeira viagem. É comum que um parto leve doze, catorze horas, algumas vezes até mais.

Quanto mais eu penso, mas assustada e confusa eu me sinto. É essa a vida que eu quero pra mim?

— Clarke, está tudo bem com você?- fala Bellamy quando Octavia se afasta.

— Sim. Por que não estaria?- digo com o mesmo sorriso de antes.

— Se está tudo bem, por que você está sorrindo como alguém que acaba de ter um AVC? O que foi? Aconteceu alguma coisa que eu não sei?- eu rio e olho bem pra ele. Bellamy está tão feliz, será que ele ficaria desse jeito se fosse um filho nosso? Será que eu sentiria algo parecido? Nunca o vi tão radiante e por um instante ter um filho não parece tão assustador.

— Nada. Eu só estou nervosa, confusa. Nada com que você deva se preocupar.

— Nervosa com o quê? A bebê? Ela não muda nada entre nós, você sabe disso...

— Aí é que está Bellamy, ela muda tudo…

— Está terminando comigo?

— Claro que não. Claro que não, mas tudo será diferente de agora em diante. Cada decisão que tomarmos teremos que levá-la em consideração, isso não é necessariamente ruim, é só diferente e tem tantas coisas mudando… Não sei ao certo meu papel na vida dela, com o povo de Arkadia ou com qualquer coisa. Eu me sinto tão perdida, Bellamy.

— Eu queria poder dizer que posso fazer tudo ficar bem, mas não posso. Só posso prometer que estarei ao seu lado, segurando sua mão em todos os momentos, nos ruins, nos bons, até nós mais ou menos. Você pode confiar em mim, conversar comigo, estou sempre á ouvidos, estou sempre disposto a te acordar dos seus pesadelos e te ajudar a se encontrar…- ele passa a mão no meu rosto, em cada frase/promessa que faz e eu não consigo conter as lágrimas. Finalmente sei o que eu quero, o que preciso, e Bellamy não gostará disso, nem eu mesma gosto.

— Você não entende, Bel.

— O que eu não entendo?

— Prefiro conversar sobre isso depois. Não é hora, você está tão feliz.

— Vou perguntar de novo: você está terminando comigo?- sua voz soa decepcionada e mais lágrimas escorrem.

— Não é isso. Eu só não sinto que meu lugar seja aqui.

— Como assim?

— Não sei explicar. Não sei onde eu me encaixo, não sei se me encaixo em algum lugar, mas preciso descobrir. Eu só sinto que preciso de um tempo longe de todos para ter mais perspectiva. Não sei se estou pronta para essa liberdade.

— Está dizendo que vai me abandonar de novo? É isso? Por favor, me diz que eu entendi errado, que depois de tudo que vivemos não é isso que você está dizendo.

— Não quero te abandonar. Quero que venha comigo, mas vou entender se não puder. Não é racional o que estou te pedindo, eu sei, não quero que você deixe sua filha, não quero ficar sem você, mas não sei mais quanto tempo posso suportar esse vazio sem enlouquecer…- minhas lágrimas antes tímidas já são nítidas e ele me abraça. Não responde nada, só me abraça e sussurra no meu ouvido que tudo ficará bem.

— Perdão, Bellamy… Me perdoa, por favor.

— Não tem nada pra perdoar. Nós vamos fazer funcionar, eu não vou te abandonar. Obrigada por ser honesta.

— Raven está chamando a todos-fala Abby, um pouco constrangida de nos interromper.

— É hora de você conhecê-la, ela é linda, Clarke. É impossível não se apaixonar- de novo o mesmo sorriso, não posso tirá-lo daqui, ele ao contrário de mim sabe o que quer e aonde pertence.

— Como o pai ou como a mãe?

— Um pouco dos dois. Mais bonita até que Octavia quando nasceu...

Bellamy segura a minha mão e me direciona para o lado esquerdo de Raven. Todos estão ali: Abby, Octavia, Lincoln, Monty, Jasper, nós dois e Nathan que segura a mão de Raven de maneira carinhosa. Cada dia que passa eles tem estado mais juntos. Os dois ainda negam estar juntos, porém acho que é só questão de tempo para eles admitirem. Fico feliz pelo casal, os dois merecem ser felizes. Principalmente Raven.

A morena tem um sorriso radiante, apesar do cansaço nítido, nos seus braços tem um pequeno embrulho com a pele morena como a dos pais. Mesmo não dando para ver claramente acredito em Bellamy: ela é linda.

— Deem as boas vindas a Aurora Collins Reyes-Blake- Raven sorri e eu caio no choro de novo. Estou tão sensível ultimamente. Essa homenagem é linda, uma maneira de manter Finn em nossas vidas. Octavia também fica emocionada. Bellamy sorri contente, ele obviamente já sabia disso, mas não quis nos contar.

— Isso é lindo, Raven. Se Finn estivesse aqui ele ficaria encantado.

— Quer segurá-la?

— Eu posso?-pergunto um pouco sem jeito.

— Claro, você será grande parte da vida dela, vocês deveriam se conhecer logo-pego Aurora nos braços nervosa e finalmente olho bem para a bebê em meus braços. Para seu rosto, suas pernas e braçinhos pequeninos… Ela é tão linda, tão pequena, tão frágil, tão pura e de repente eu só sei que ao que depender de mim ela continuará tão pura e inocente como nasceu. A protegerei da guerra, da fome, ela não vai precisar passar por nada disso. Eu não permitirei. Nunca.

— Oi, bebê. Não nos conhecemos ainda, mas você vai me ver muitas vezes. E sempre que precisar estarei aqui, pequena Colly. Eu te amo- o bebê passa nos braços de todos e quando eles se distraem eu saio do quarto. Ainda preciso pensar. Não demora muito para que Bellamy me encontre.

— Fiquei com medo de você ter fugido de novo.

— Eu não faria isso. Não quero perdê-lo.

— Eu vou com você.

— Como?

— Me sinto tão perdido quanto você. Não cogitei sugerir, porque queria estar aqui para o nascimento da Aurora, mas agora que ela nasceu e eu sei que Raven não está sozinha posso dar esse tempo a mim mesmo.

— Mas e a sua bebê? Vai deixá-la?

— Nós vamos voltar, Clarke. Só precisamos de um tempo: sozinhos. Voltaremos logo, e se você não quiser voltarei sozinho. Não estou indo só por você, também preciso disso.

— Você tem certeza, Bel?

— Não quero mais fazer parte do exército e não sei em que outro lugar pertenço. Vai ser bom para nós dois. Conversei com Raven e ela achou uma boa ideia, não é segredo pra ninguém que você anda um pouco cabisbaixa.

— Obrigada, Bellamy. Eu te amo.

— Eu também te amo, Princess.

                                       Três semanas depois…            

Não foi tanto tempo, mas a oportunidade de estar sozinha com Bellamy sem nenhuma responsabilidade além de nos encontrar, foi ótima. Conversamos sobre tudo, sobre nossos passados na Arca, os sonhos que costumávamos ter, nossas infâncias, um pouco de tudo...

Lembramos de quando nos conhecemos e da vida que queríamos ter. Da vida que eu achava que merecia e da vida que podíamos construir juntos. No fim das contas, realmente precisávamos disso e depois dessas semanas percebi que meus anseios, todo os medos que eu sentia eram em vão.

Sou sim capaz de ser feliz. Mais que isso, mereço meu final feliz como qualquer outra pessoa, mas quero continuar a ajudar as pessoas nesse processo agora como médica e não como líder. Bellamy está pensando em dar aulas de história, isso sempre foi algo que ele gostou muito e agora que finalmente as guerras terminaram alguém precisará educar nossas crianças.

 Queremos uma vida pacata, ele dando suas aulas, eu atendendo meus pacientes, finais de semana com os amigos, brincar a noite com os nossos filhos. Uma vida bem sem graça, sem nenhuma aventura, já vivemos muito disso. Coloco minha mão sobre meu ventre imaginando tudo isso...

— É bom finalmente ter vocês de volta- fala Raven sorridente, carregando uma Aurora bem maior e pesada do que nos lembrávamos.

— Ela está tão crescida. Perdemos tudo, Bel- a pego nos braços e Bellamy sorri pra mim cúmplice. Prometemos esperar mais tempo para contar, porém não acho que ele vai resistir. Blake está tão feliz.

— Perderam só o choro constante na madrugada e a minha insônia.

— Nós deveríamos estar aqui para te ajudar-digo me sentindo culpada.

— Nathan e Octavia me ajudaram bastante, eu sei o quanto vocês precisavam disso: férias. Logo será minha vez e vai ser com vocês que essa bebê linda vai ficar- Raven parece feliz, mais feliz do que da última vez, apesar de cansada.

— Ficaremos felizes de tê-la conosco. Vai ser bom para Clarke treinar um pouco antes do nosso chegar- fala Bellamy sorridente, não era assim que tinhamos planejado contar a todos.

— Você está grávida?

— Sim, descobrimos há alguns dias atrás- falo sorridente, esse tempo fora esclarecedor e muito bom para me fazer refletir sobre o que eu queria para minha vida no futuro.

Não que eu planejasse ter um filho agora, ainda tenho minhas inseguranças, mas agora sei que sou capaz, que mereço ser feliz. Mereço todo o pacote que a vida está proposta a me oferecer e dessa vez nada vai me impedir de conseguir.


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Notas finais do capítulo

Enfim último capítulo...
Meu Deus o que eu posso dizer?
Espero realmente que vocês tenham amado ler tanto quanto eu amei escrever.
Não foi fácil, tive que lutar muitos dias com a falta de inspiração e problemas pessoais que travaram minha escrita completamente. Obrigada por todos os favoritos, reviews e pessoas acompanhando. Não podia significar mais pra mim. Obrigada por não terem desistido da fic, quanto até eu pensava que tinha desistido.
É a única palavra que posso dizer para vocês: obrigada! Eu escrevo porquê preciso, mas vocês leem porque querem, porque alguma coisa que eu escrevi é bom o suficiente para tocar vocês e isso é simplesmente incrível.
Obrigada até aqueles que nunca comentaram! A todos vocês, quero me deixar a disposição, se precisarem de um conselho ou ajuda com alguma fanfic estou disponível. Não sou a melhor escritora do mundo, mas estou sempre disponível.
Por fim, não se esqueçam de mim, porque eu não me esquecerei de vocês



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