Raça Brasileira- Brasil Colônia escrita por Rockie


Capítulo 2
Explorando


Notas iniciais do capítulo

Lembrem que este é apenas o diário de uma pré adolescente.



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A vila se expandia cada vez mais, tomando o lugar da floresta. Talvez destruindo a natureza os mosquitos nos dessem um pouco de paz. Às vezes, sentia pena de Ana, pois era alérgica a picadas de mosquito. Quando ela chegou nesta terra, era linda, como uma boneca. Agora, a pequenina está coberta de machucados causados pela picada. Será que era uma praga expulsando-nos daqui? Para essa pergunta, a resposta é um talvez bem provável. Eu gostaria de saber como minha mãe está, já que é a única parente minha agora. É uma pena eu não ter coragem o suficiente para pedir para lhe fazer uma visita. Sendo sincera, eu percebi que não faz diferença sofrer na África ou aqui, sofreria do mesmo modo.
Fiz uma cicatriz do dedão da mão até o início do pulso com a faca enquanto cortava a carne. Ninguém se importou, a comida permaneceu a mesma, não havia motivos para se importar comigo. Não existe um lado positivo e otimista da minha vida para dizer que tudo vai ficar bem, não existe um bom começo, então, já se sabe o que se esperar do fim. Apenas esperar... Não pretendo fugir de novo, mas também não quero ficar aqui. É difícil. Muito difícil. Difícil a ponto de falar que é difícil e as pessoas acharem que é apenas difícil. É mais do que difícil.
Descobri uma nova coisa: A menina que eu vira na floresta era de um grupo de seres humanos chamados Índios, que já moravam aqui antes dos Portugueses. Eu quero descobrir mais de assunto. É triste, mas interessante. Sempre que ia limpar o porão, lia um livro sobre essa cultura maluca. Só tem uma coisa com que estou indignada: Por que tem Índios pelados? Eles são birutas? Parece que sim! Eu nunca tinha visto um homem assim antes... Que feio. E estranho. Muito estranho.
Vou anotar um trecho do livro de Índios no diário: Índios são criaturas que podem atacar dependendo da raça, são sujos e cheios de pulgas. Por um momento, achei que estavam falando de cachorros. Será que foi um Português que escreveu aquilo? Talvez.
Li também um livro que disse que chorar é uma expressão de sentimentos. Chorei. Chorei para valer. Kuat e papai, nunca esquecerei vocês! E mamãe? Cadê? Talvez...Eu realmente não sei.
Fui dormir, mas antes, eu chorei, não muito, mas eu preciso de um abraço da mamãe. Eu estou com saudades. Eu estava errada. Na África, sofriam todos juntos. Eu nunca dei valor para o que realmente importa: minha família. Eu queria ter sido alguém importante, explorando os mais diversos lugares e sendo feliz, mas minha família era o suficiente. Eu perdi. Perdi memórias, momentos... Será que era assim com os Índios? Eu cheguei a ver alguns trabalhando, mas e antes disso? Como era? Eu quero saber. Sendo que eu tenho a impressão de que não falam português.
Será que os portugueses sabem o que é sofrimento? Suor? Dor? Doença? Choro? Morte?
Eu tenho vontade de sair por aí fazendo perguntas e com as respostas, mais perguntas. Seria conhecimento infinito! Será que alguém já tentou fazer isso? Como será que é?
Eu não me acostumei ainda aqui. Quem se acostuma com algo tão ruim?
No meio da noite, senti um cheiro de queimado, com gemidos, então resolvi olhar na janela. Fogo. Tudo pegava fogo, inclusive a casa na qual eu estava dormindo. Eu pulei pela janela e fiquei no início da floresta, esperando alguém aparecer, logo apareceram algumas pessoas me empurrando e gritando para correr. Eu corri e encontrei os Índios novamente. Eu acenei e dei um sorriso quando acenaram de volta. A cada passo que dava, eu encontrava um animal na árvore. Não temi. Porque eles atacariam quem os atacasse, como os Portugueses. A onça era a mais bonita. Mais gentil. Mais delicada. Não havia motivos para me devorar. Ela podia escolher dentro de mil espécies sua refeição. Enquanto corria, eu avistei de longe, a caverna onde tinha passado parte da noite e da manhã, o que era sinal que deveria correr mais, para não ser queimada. Nunca tinha corrido tanto, mas valeu a pena. Conseguimos um lugar bem escondido na floresta para não nos encontrarem, afinal, o incêndio seria uma ótima desculpa para fugir. Tudo estava tão bem. Mesmo sem milha família. Pela primeira vez, passei tanto tempo descansando. Foi perfeito. Eu nunca me senti tão disposta. Devia fazer isso antes de realizar todas as atividades que me mandam fazer. Me senti num sonho. Eu espero que não tenha que acordar deste sonho.
Dentro da floresta, a única cor visível era verde. Eu gosto mais da cor amarelo. É a minha favorita. Me lembra a felicidade que nunca tive, às vezes, até como motivação para não desistir. Eu tive tempo para pensar em tudo que eu já desejei ter pensado. Tempo, para mim não faltava. Com um esconderijo, com boa alimentação e toda a liberdade para usufruir dela como eu bem entender era a única coisa que eu precisava. Pronto. Estou feliz. Era pedir muito ter isso?
Eu me senti calma. Eu me senti aliviada. Eu me senti feliz.
Me veio a cabeça, quando uma brisa suave passou: O que acontece quando os portugueses chegarem? Aí está um problema. Um grande problema. Que no meu ponto de vista, não tinha solução. Quando eu estiver sendo escravizada, eu não vou lembrar com alegria do tempo que passei descansando. Tudo bem. Vou só esperar mesmo. Eu tenho tantas dúvidas. Todas elas, trancadas em minha mente. Para não me acostumar ao conforto, fui brincar com um passarinho. Era amarelo, meio verde. Ele não se importou de ficar comigo. Nem eu com ele. Ele me ouvia bem mais que meus pais, porém, não falava minha língua. Não era ruim falar com ele. Deixei ir embora e voltei a descansar. Depois, comi uma fruta que estava na árvore, vermelha e azedinha, parecia a bola que eu vi meus vizinhos brincar, só que menor.
Será que os Índios conheciam aquele lugar? Será que comiam as frutinhas? Não sabia que ter uma certa segurança era bom. Eu me senti segura. Eu havia mudado tanto que nem eu me entendi tão bem quanto eu mesma. Isso não fez sentido. Nem o fato de eu ter sofrido tanto durante minha vida.
Depois de tanto procurar, achei um defeito naquele lugar: fiquei doente. Talvez fosse por causa do clima úmido, ou o ar frio, ou porque dormi molhada por causa do banho no riacho.
Bem, um resfriado já era mais um motivo para descansar, então, fui descansar.
Ouvi pessoas falando que aqui também não nevava, igual na Angola. Parece que raramente faz frio. É agradável estar aqui.
Um garoto pegou uma flor amarela e me deu. Eu gostei. Nunca recebi flores como presente...Comecei a ouvir barulho de cavalos e todos imediatamente foram para o abrigo. Ninguém quis observar entre as folhas o que ou quem era, já que estava bem óbvio. Cada um, contribuído com o seu silêncio. O barulho foi se afastando, mas éramos espertos: alguém ficara ali procurando algum escravo fugitivo. Eu pensei se realmente valia a pena ficar aqui. Pensei e eu não achei um resultado. Apenas esperar...
Eu sonhei: Eu, minha mãe e um Português juntos. Será que eu trabalharia junto a minha mãe? Talvez só signifique que tenho que ficar mais atenta...Sei lá. Mas depois do sonho, não me recordei do rosto dele.
Depois de algumas horas, um de nós tomou coragem e deu uma espiada pelas folhas só para confirmar que tinham ido embora. Voltamos a agir naturalmente. Na verdade, nem somos barulhentos, todos preferem descansar no tempo livre. Fui para o riacho. Ele era cheio de peixes e pedrinhas douradas, que eu não sabia dizer se era ouro, mas se fosse, eu já estava com um pedaço comigo. Resolvi não contar para ninguém dessa descoberta e mostrar o riacho mais longe. Eu confesso que estava sendo egoísta, mas não sabia o que fazer nessa situação. Nessas horas que uma mãe é muito útil...
Por um momento, achei que fosse morrer, pois me deram amendoim e eu comi achando que era outra frutinha azeda. Sou alérgica e fiquei inchada por 3 dias. Agora estou bem e aprendi que só vou comer o que eu mesma encontrar, ou souber o que é. Eu gravei meu nome ali e todos reclamaram comigo, aquilo podia ser uma pista indicando o esconderijo, que era assim: Havia uma subida que dava na maior árvore da floresta. Do topo da árvore, dava para pular para uma caverna cheia de folhas em cima, que parecia uma simples rocha, sem contar com os obstáculos pelo caminho. Quem foi descalço sofreu bastante.
Admirar a paisagem era completamente inútil. Como se fosse ajudar em alguma coisa. O sol nem podia ser visto, pois ao olhar para cima, eu via apenas árvores. O pássaro voltou para mim. Depois de ter segurado o pobrezinho com força, ele voltou, abaixando a cabeça, como se quisesse carinho. Naquele momento, era o único que gostava de mim. E o garoto que me deu a flor, mas eu não fui com a cara dele. Vou passar o dia dormindo e viver a vida aos poucos. Eu nunca sei se isso é sonho ou pesadelo. Talvez porque é realidade. A pura realidade. Realidade...
Eu comecei a ser atormentada pelo medo. Pelo tempo que passamos ali, quando nos encontrassem, seriamos mortos. Devo estar pensando nisso por causa do tempo que tenho durante o dia na floresta. Não é fácil sobreviver numa vegetação desconhecida, mas as pessoas mais velhas cuidam das mais novas, ou seja, eu não tenho com o que me preocupar no momento. Mesmo assim, eu tenho medo. Sou traumatizada por tudo acontecer de uma maneira tão rápida e nem sequer receber auxílio de alguém. Isso só me faz lembrar do sangue de Kuat, que sempre me defendia em todas as situações. Kuat era parte de mim. Acho que lamentei mais pela morte dela do que a morte de papai Zaci. Talvez a minha vida não fosse realmente uma desgraça, e sim eu não fosse grata pelas mínimas coisas boas que raramente acontecem comigo. Nem sei mais o que pensar. Talvez seja melhor nem pensar, às vezes é bom deixar a mente limpa.
Algumas pessoas estão a procura de um animal para matar para comemorar o tempo que já estamos aqui. Por enquanto, a nossa vida está sendo boa. Em breve, vamos acender uma fogueira para preparar a carne. Eu nem lembro a última vez que comi carne. Nem o sabor. Eu achei que carne era para ricos, portugueses no caso. Todos eles eram ricos,cheios de livros.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando!



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